Capítulo 5

Francielle…

Ontem, eu não saí mais de casa e meu pai veio falar comigo, planejando saber que história era aquela que havia contado. Expliquei-lhe tudo e ainda mostrei tudo o que havia encontrado no site. Meu pai pareceu ficar visivelmente surpreso e abalado. Ele disse que posso contar com ele para encontrar a minha família biológica, mas pediu para não comentarmos com ninguém, apenas nós dois saberemos.

Quando todos já estavam nos quartos, ouvi uma discussão vindo do quarto dos nossos pais, então fui até lá e ouvi parte da conversa.

— Pare de ficar me cobrando, já disse que adotei elas conforme manda a lei! Vai mesmo acreditar nessas coisas de internet? 

— Como não vou acreditar, Cassandra? Francielle me mostrou as pulseiras que você escondeu! Nem eu soube da existência dessas pulseiras!

— Eu só queria protegê-las!

— Não, isso não é proteção, é egoísmo! Elas têm todo o direito de saber das suas origens! O que está escondendo, Cassandra? Se tem algo que queira falar, fale agora!

— Não estou escondendo nada, sou um livro aberto! Tudo o que faço é por amor a vocês… eu me dediquei muito todos esses anos ao nosso casamento e às nossas filhas, mas pareço nunca ser o suficiente! — diz fazendo drama. — Francielle vive atrás do passado e você… parece ainda viver no passado! Será que nunca vai me amar, na mesma medida que eu te amo?

… Como assim? Do que ela está falando?…

Meu pai não responde ao seu questionamento, um silêncio se instala naquele quarto.

— Acho melhor eu dormir no quarto de hóspedes! Precisa de repouso!

Volto rapidamente para o quarto e me pergunto se papai não ama a nossa mãe. Eles sempre pareceram viver bem, claro que acreditei que com os anos o casamento tivesse caído na rotina, mas, pela maneira que ela falou, meu pai tem alguém do passado que ainda ama e seu silêncio apenas confirmou isso.

Quase não dormi a noite, tive vários pesadelos. Uma mulher que não via o rosto gritava, chorava e implorava por suas filhas, seu pranto doía o mais profundo da minha alma.

Acordei bem cedo, me troquei, tomei café da manhã e subi para ver como nossa mãe estava. 

— Bom dia, mãe! — digo entrando no quarto. 

— Bom dia, minha filha! — diz estendendo a mão para eu me aproximar.

Assim que chego, ela segura firme a minha mão e me puxa para um abraço.

— Desculpa, mãe! Juro que…

— Esquece isso, meu amor! Já está tudo bem, agora! Queria te pedir uma coisa…

— O quê?

— Hoje é a primeira prova do vestido de noiva da sua irmã, queria que a acompanhasse, o médico pediu para eu fazer repouso!

— Tudo, menos isso, mãe!

— Por favor, Francielle! Sua irmã precisa de você nesse momento, é a única em quem confio para estar nesse momento tão especial e importante da vida dela!

— Por que ela não pode esperar a senhora melhorar?

— Não quero ser um peso para ninguém! Sua irmã não pode deixar as coisas do casamento de lado! Por favor, Francielle!

Solto o ar pela boca, imaginando o tédio que seria e concordo em acompanhá-la.

— Onde está o papai? — pergunto, notando que ele não dormiu ali.

— Seu pai dormiu no outro quarto! Tivemos uma discussão, mas não se preocupe, logo tudo irá se resolver.

O amor dela pelo meu pai é fora do comum, às vezes chega a parecer uma obsessão. Já o meu pai não parece corresponder aos seus sentimentos na mesma medida, percebo que ele tem um carinho enorme por ela, a respeita, mas tenho por mim que não seja amor.

Minha mãe pousa um beijo na minha testa.

Deixo ela no quarto e saio para correr no condomínio.

Uma hora de corrida e volto para a mansão…

Meu pai e Gisele tomavam o café da manhã, deixo um beijo no alto da cabeça deles e subo para o meu quarto. Eu e a minha irmã brigamos, mas minutos depois já voltamos a conversar e está tudo bem, acredito que sejam coisas de irmã.

Tomei um longo banho e desci para esperar Gisele.

Logo ela desceu toda linda e elegante…

— Vamos logo, que estou muito ansiosa para provar o meu vestido! — diz batendo palminhas.

Ela segura no meu braço e seguimos para o meu carro. Faço sinal para o meu segurança particular e ele nos segue.

Devido à minha profissão e ao que aconteceu com meu ex-namorado, optei em aceitar os seguranças. Já Gisele odeia ter alguém a seguindo o tempo todo, então não aceitou nenhum segurança.

Durante o caminho, ela retocava sua maquiagem e ajeitava seu cabelo olhando pelo espelho portátil.

Gisele é vaidosa ao extremo.

— E então, Gi? Onde vocês vão passar a lua de mel? — tento puxar um assunto que é do seu interesse. 

— Ainda não sabemos, mas quero ir para o Caribe!

— Então, você irá! Esse será o meu presente de casamento para vocês!

— Aí, mana, obrigada! — comemora. 

Ela pega o celular e tenta ligar para Luidi, mas o mesmo não atende.

— Ele deve estar ocupado!

— Já decidiram quem será o meu par?

Eu quase entro em surto, quando ela diz que será o meu ex-namorado, o advogado que foi meu rival ontem no julgamento. 

Luidi e ele são melhores amigos.

Chegamos ao ateliê e na porta encontramos com um rosto conhecido.

— Aquele não é o Davi? Filho dos caseiros da nossa fazenda? — pergunto, fechando a porta do carro.

Gisele está paralisada, com seu semblante pálido.

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