— E você vai ligar? — perguntou Roberto.
— Não sei, irei pensar.
— Pode ser uma ótima oportunidades para você. Quem sabe pode ser uma oportunidade de emprego, você viu como ele estava bem vestido?
— Não sei as intenções dele, me pareceu estranho.
— Rafael… Não seja assim. Eu entendo que pode parecer estranho, mas pense bem. — continuou Roberto. — Um cara como aquele não se aproxima de qualquer um. Ele viu algo em você, Rafael. Pode ser uma chance de mudar sua vida!
— Roberto, você sabe como as coisas funcionam. Quando alguém assim aparece na sua vida, não é porque quer fazer caridade. Eu não confio nele.
Roberto deu de ombros, mas não desistiu.
— Talvez você esteja certo, mas você sabe como é a vida por aqui. E agora, com a Camila nos Estados Unidos, tudo depende de você. Vai recusar até ouvir o que ele tem a dizer?
Rafael cruzou os braços, pensativo. Ele sabia que Roberto tinha razão em parte. A vida estava difícil, e as oportunidades eram raras. Mas algo sobre aquele homem o incomodava profundamente. Havia uma frieza em seus olhos, uma autoridade que parecia esmagadora.
— E se for uma armadilha? Eu nem sei o que ele quer comigo. Sou só um garçom, Roberto. Não tenho nada a oferecer.
— Você não sabe disso. Às vezes, as pessoas veem algo em nós que nem nós mesmos conseguimos enxergar. E olha só, você pode ir, ouvir o que ele tem a dizer e, se não gostar, levanta e vai embora. Simples.
Rafael ficou em silêncio por um momento, encarando o telefone. A oferta era tentadora.
— Talvez você tenha razão. Talvez eu deva ouvir.
Roberto sorriu.
— Isso! Ouça, Rafael. Não estou dizendo para você confiar cegamente, mas oportunidades como essa não aparecem todo dia. Vai que isso muda tudo?
Rafael pegou o telefone novamente, hesitando por alguns segundos antes de discar o número que Bellucci havia deixado em sua mensagem.
Do outro lado, a ligação foi atendida após o terceiro toque.
— Rafael? — a voz de Bellucci soou calma e controlada, mas carregada de autoridade.
— Sim. É... é Rafael. — respondeu ele, tentando manter a voz firme.
— Fico feliz que tenha ligado. Como disse, apenas quero conversar. Podemos nos encontrar amanhã à tarde?
Rafael respirou fundo, trocando um olhar com Roberto, que o incentivava com um gesto.
— Está bem. Onde nos encontramos?
— Café Porto Antigo, às três. É um lugar discreto, ideal para conversas importantes.
— Tudo bem. Eu estarei lá.
— Ótimo. Não se atrase, Rafael. Odeio perder tempo.
— Bellucci desligou antes que ele pudesse responder.
Rafael colocou o telefone na mesa novamente, sentindo um misto de ansiedade e apreensão.
— Pronto. Está feito. Amanhã vou descobrir o que esse homem quer comigo.
Roberto sorriu, mas o olhar de preocupação não passou despercebido.
— Vai dar tudo certo. Apenas mantenha a calma e ouça com atenção. Não aceite nada que não pareça certo.
Rafael assentiu, mas a sensação de que estava entrando em algo perigoso não o abandonou.
O ônibus alançava suavemente enquanto cruzava as ruas movimentadas da cidade portuária. Rafael, sentado próximo à janela, observava o mundo passar lá fora. Estava vestido com um terno simples que havia comprado às pressas em uma loja barata, mas o tecido mal ajustado o fazia se sentir deslocado. Ele puxou nervosamente a manga do blazer, tentando parecer mais apresentável.
Seu coração estava acelerado, uma mistura de ansiedade e curiosidade sobre o que o aguardava no Café Porto Antigo. A cada ponto que o ônibus parava, ele questionava se deveria simplesmente descer e voltar para casa. Algo sobre Giovanni Bellucci não parecia certo. O homem exalava poder e perigo em igual medida, mas Rafael sabia que fugir não resolveria nada.
— Seja o que for, vou descobrir hoje. — pensou ele, tentando reunir coragem.
O ônibus parou em um ponto próximo ao café. Rafael desceu, ajeitando o blazer mais uma vez enquanto seus olhos buscavam o lugar. Era um estabelecimento discreto, com mesas externas e uma fachada de madeira elegante, destoando da simplicidade do bairro ao redor.
Ao entrar, Rafael sentiu o cheiro de café fresco misturado ao leve aroma de baunilha. O ambiente era aconchegante, mas havia algo formal na decoração, como se tudo ali fosse calculado para impressionar. Seus olhos rapidamente localizaram com o homem de antes, sentado em uma mesa no canto mais reservado.
Vestia um terno vermelho impecável, e sua postura era de alguém que estava completamente no controle. Ele mexia lentamente em uma xícara de café, como se cada movimento fosse ensaiado. Ao perceber Rafael, ergueu os olhos e esboçou um sorriso que não alcanava os olhos.
— Rafael. Fico feliz que tenha vindo. Por favor, sente-se.
— o homem levantou e puxou um pouco a cadeira para Rafael se sentar.
Rafael caminhou até a mesa, tentando esconder seu nervosismo. Ele parou ao lado da cadeira, hesitando por um momento antes de sentar, mas mesmo assim, sentou.
— Obrigado pela gentileza! — sorriu.
O homem voltou se sentar. Logo percebeu o nervosismo de Rafael.
— Não farei nada com você, apenas vamos conversar.
— desviou o olhar para o terno barato e deu um sorriso aberto.
— Desculpe, não estou acostumado com isso.
— respondeu Rafael, com um sorriso tenso.
Bellucci riu suavemente, inclinando-se para frente e apoiando os cotovelos na mesa.
— Situações como esta são raras para todos. Mas acredite, você se acostuma. Quando perceber que tem mais a ganhar do que a perder, vai entender o que estou oferecendo.
Ele gesticulou com a mão para um garçom próximo.
— Café, Rafael? Ou prefere algo mais forte?
— Café está bom. Obrigado!
O garçom fez um leve aceno e se afastou para buscar a bebida. Enquanto isso, Bellucci continuava analisando cada movimento de Rafael, que tentava manter uma postura firme, mesmo sentindo-se como um peixe fora d’água.
— Vejo que você se preparou para este encontro.
— Bellucci comentou, seus olhos avaliando o terno de Rafael mais uma vez. — Um homem que cuida de sua apresentação é alguém que entende o valor das aparências. Admirável.
— Bem, eu não queria parecer desleixado. Mas, para ser honesto, não tenho ideia do que você espera de mim.
— Rafael respondeu, sua voz com uma leve nota de frustração.
Bellucci sorriu novamente, um brilho de diversão passando por seus olhos.
— Direto ao ponto. Isso é bom. Eu gosto disso. Então, vamos ao que interessa.
Ele cruzou os braços, mantendo a postura impecável, e continuou.
— Eu sou um homem de negócios, Rafael. Meu mundo é diferente do seu, mas há algo que nós dois compartilhamos: a capacidade de enxergar oportunidades. Quando eu olho para você, vejo alguém com coragem e determinação, alguém que ainda não foi moldado pelo sistema. E, sinceramente, isso é uma qualidade rara. O que acha de nos conhecermos melhor?
— Eu sou só um garçom. Não vejo o que poderia oferecer a alguém como você.
Bellucci ergueu uma sobrancelha, claramente divertido com a resposta.
— Só um garçom? Rafael, nunca subestime o valor de quem você é. Você é uma página em branco, alguém que pode ser lapidado, moldado para coisas maiores. Eu vejo potencial em você. Talvez mais do que você mesmo enxerga.
Rafael franziu o cenho, sua desconfiança aumentando.
— Potencial para o quê? Não me leve a mal, mas não quero me envolver em coisas que vão me trazer problemas. Minha vida já é complicada o suficiente.
Bellucci inclinou-se para frente, seu tom ficando mais sério.
— Problemas, Rafael, não são uma questão de escolha. Eles chegam até você, goste ou não. O que estou oferecendo é uma oportunidade de estar no controle. De proteger quem você ama. De não ser mais apenas um espectador.
Antes que Rafael pudesse responder, o garçom voltou com sua xícara de café. Ele a colocou na mesa, em um toque sem querer, a xícara caiu sobre a mesa. Dentro do movimento rápido, o homem levantou rapidamente fazendo a camisa social por baixo do terno levantar um pouco. Por baixo, Rafael avistou um pedaço de metal que parecia uma arma, o brilho metálico sob a camisa de Bellucci congelou Rafael por um instante. Ele tentou disfarçar, mas sua reação foi óbvia. Bellucci notou, e um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios enquanto ele ajeitava a camisa com movimentos calculados, cobrindo novamente a arma.
— Parece que você viu algo que te incomodou. — Bellucci comentou, sua voz baixa, quase casual, enquanto pegava um guardanapo e limpava a mesa onde o café havia derramado.
Rafael desviou o olhar, tentando controlar a respiração.
— Não estou incomodado, apenas não me acostumei.
— Como assim não se acostumou?
Bellucci inclinou-se para trás, cruzando os braços. Seu olhar permaneceu fixo em Rafael.
— O senhor viu onde trabalho, certo? Pessoas de qualquer tipo entram e saem daquele lugar, diversos fatos, acontecimentos diariamente. Não importa quem seja ou o que esteja fazendo, apenas faço o meu trabalho. Eu sou esse tipo de pessoa, não sei qual intenção veio aqui, mas acho que realmente não sou a pessoa certa.
Bellucci ouviu as palavras de Rafael com atenção, o sorriso ligeiro desaparecendo, substituído por uma expressão de ponderação. Ele girou o anel no dedo, um gesto lento e deliberado, enquanto seus olhos permaneciam fixos no jovem à sua frente.
— Você acredita que é apenas mais um. Alguém que faz o que precisa e segue a vida. — Ele inclinou-se ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— Mas você não percebe o que isso significa. Alguém que continua apesar de tudo, que observa, que mantém a compostura em meio ao caos... Esse tipo de pessoa é raro, Rafael.
Rafael cruzou os braços, tentando esconder o desconforto que sentia sob o olhar intenso de Bellucci.
— Com todo respeito, senhor, isso soa mais como romantização do que realidade. Eu só faço o meu trabalho. Não tenho tempo ou recursos para me envolver em coisas maiores.
Bellucci soltou uma risada baixa, inclinando a cabeça como se estivesse impressionado.
— Você é honesto. Gosto disso. Mas veja bem, Rafael, o que você chama de "não querer" é apenas uma ilusão de controle. Você acha que pode escolher, mas o mundo vai te arrastar para decisões, quer você queira ou não. Estou aqui para te oferecer algo que poucos têm: a chance de estar no controle do que vem pela frente.
Rafael estreitou os olhos, sua desconfiança crescendo.
— E o que exatamente você quer de mim? Qual seria o meu papel nesse "controle"?
Bellucci inclinou-se para trás novamente, os dedos tamborilando na borda da mesa.
— Vamos nos conhecer melhor, o que acha?
Prestes Rafael falar, um homem parecido com um dos seguranças que viu no aeroporto aproximou do ouvido do homem, nesse momento, percebeu que o homem a sua frente era o que esbarrou anteriormente. Não o reconheceu, por está bem mais arrumado do que aquele dia. Em seguida, uma mulher de salto correu em direção ao homem.
— Bellucci Bellucci! — o chamou diversas vezes. — Quando chegou de viagem? Voltou tão rápido! — abraçou o homem.
— Bellucci? É o nome dele? — pensou.
— Senhor, vejo que está muito ocupado. Talvez, pudéssemos nos encontrar outro dia. — levantou da cadeira.
— Foi muito interessante nosso encontro, gostei muito de você. Levem ele conosco. — fez um sinal com a cabeça para os seguranças segurarem Rafael.
Rafael ficou paralisado por um momento, seu cérebro tentando processar as palavras de Bellucci. "Levem ele conosco." O tom era frio, autoritário, e os dois seguranças que até então estavam discretos começaram a se mover na direção de Rafael.
— Espere! — Rafael levantou as mãos instintivamente, tentando apaziguar a situação. — Eu pensei que fosse apenas uma conversa. Não tem necessidade disso! O que está acontecendo? Não tenho nada a lhe oferecer, senhor.
Bellucci, ainda sentado, observava calmamente, seu rosto inexpressivo. Ele afastou a mulher que o abraçava, fazendo um leve gesto com a mão para que ela saísse, como se tudo ao redor fosse irrelevante.
— E foi uma conversa, Rafael. Muito produtiva, aliás.
Rafael recuou um passo, mas os seguranças bloquearam sua saída. Ele olhou ao redor do café, esperando encontrar ajuda ou até mesmo testemunhas que intervissem, mas o lugar parecia congelado. As poucas pessoas presentes estavam distraídas ou fingiam não perceber o que estava acontecendo.
— Eu prefiro ir por conta própria, senhor. Não acho necessário me forçar a nada. Vamos ter uma conversa amigável, se quiser dinheiro, posso lhe dar. — disse Rafael, tentando manter a voz firme, mas sua respiração acelerada denunciava seu nervosismo.
Bellucci se levantou lentamente, ajeitando o terno vermelho com movimentos calculados. Ele olhou para Rafael como quem observa um quebra-cabeça incompleto.
— Você tem uma escolha aqui, Rafael. Pode vir de boa vontade, ouvir o que tenho a dizer e sair dessa conversa com algo valioso. Ou pode resistir e transformar isso em algo desagradável para todos nós. Mas quero deixar algo muito claro: quando faço um convite, é porque vejo potencial. Não me faça mudar de ideia.
Rafael hesitou, o coração batendo como um tambor. Ele sabia que não tinha chances contra os seguranças, mas também não queria entrar mais fundo naquele mundo sombrio.
— Tudo bem. Eu vou. — Bellucci sorriu, satisfeito.
— Excelente escolha. Agora, vamos. Não gosto de perder tempo.
Os seguranças relaxaram, mas ficaram próximos de Rafael enquanto ele seguia Bellucci para fora do café. Do lado de fora, um carro preto de luxo os aguardava. Bellucci entrou no banco traseiro, enquanto um dos seguranças abriu a porta para Rafael.
— Entre, Rafael. — Bellucci ordenou, já acomodado.
Sem outra opção, Rafael entrou no carro, sentindo o estofado macio contrastar com a rigidez da situação. O veículo começou a se mover, e Bellucci virou-se para ele, com um sorriso enigmático.
— Agora sim, vamos nos conhecer de verdade.
Rafael não respondeu, apenas encarou a paisagem pela janela, sentindo que sua vida acabara de tomar um rumo irreversível.
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Atualizado até capítulo 123
Comments
Carla Santos
esse Bellucci é muito arrogante e controlador
2024-12-27
0
★𝕺𝖘𝖈𝖆𝖗 𝕬𝖑𝖍𝖔★
Shiu Roberto! Você é um velho, já deveria tá ligado nas maldades das pessoas. Só tá aí falando no ouvido do Rafael.
2025-03-06
1
Maryan Carla Matos Pinto
o que ele quer com o Rafael
2025-02-12
0