Mundo cruel

Não demorou muito para voltar a rotina de sempre. No período da noite, trabalhava em um restaurante luxuoso como garçom.

— O meu pedido veio errado. — falou um homem.

— Desculpa, senhor. Irei trocar. — falou de forma simpática.

— Como um restaurante desse porte comete esse tipo de erro. Isso é inadmissível! — o homem falou nervoso.

— Desculpa por isso, senhor. Há muitos pedidos hoje, pode ser por isso que teve a troca, mas irei trazer o pedido correto. Peço que mantenha a calma. — falou Rafael.

— Quem é você para me mandar manter a calma? — o homem levantou furioso e deu um tapa forte no rosto de Rafael fazendo cair no chão

O impacto foi brutal, e Rafael caiu no chão, o som da queda ecoando pelo salão do restaurante. Por um momento, o ambiente ficou em silêncio absoluto, todos os olhares voltados para a cena que acabara de acontecer. Os clientes nas mesas próximas pareciam chocados, e alguns garçons pararam de trabalhar, sem saber como reagir.

Rafael levou a mão ao rosto, sentindo a ardência do tapa. Sua visão ficou turva por alguns segundos, mas ele se obrigou a levantar. Ele precisava manter a compostura, mesmo diante da humilhação.

— Senhor, por favor, eu entendo que está frustrado, mas isso não é necessário.

— disse Rafael, sua voz firme, mas controlada, enquanto se levantava.

O homem, ainda furioso, deu um passo à frente, como se estivesse pronto para outra explosão.

— Você entende? Você não entende nada! Eu pago caro para comer aqui e sou tratado dessa forma?

Antes que a situação pudesse escalar ainda mais, uma figura emergiu do fundo do restaurante. Era o gerente, um homem mais velho, vestido impecavelmente, mas com uma expressão severa no rosto.

— O que está acontecendo aqui?

— perguntou ele, aproximando-se com passos rápidos.

O homem furioso virou-se para o gerente, apontando para Rafael.

— O que está acontecendo? É isso o que acontece! Um incompetente que erra meu pedido e ainda tem a audácia de me mandar ficar calmo! Quero que algo seja feito sobre isso agora.

O gerente olhou para Rafael, seus olhos avaliando a situação rapidamente. Rafael manteve a postura, mas a vergonha e a raiva por dentro eram difíceis de esconder.

— Senhor, peço desculpas por qualquer inconveniente. Posso garantir que resolveremos isso imediatamente. Por favor, volte para sua mesa enquanto ajustamos seu pedido.

O homem hesitou por um momento, resmungando algo inaudível, antes de se virar e sentar-se de volta à mesa.

O gerente esperou até que o homem estivesse fora de ouvido antes de olhar para Rafael.

— Venha comigo.

Sem outra opção, Rafael seguiu o gerente até uma pequena sala nos fundos do restaurante. Assim que a porta se fechou, o gerente virou-se para ele.

— O que foi aquilo?

— Senhor, eu estava tentando resolver a situação. Ele ficou agressivo e me bateu.

— Rafael explicou, tentando manter a calma.

O gerente suspirou, passando a mão pela testa.

— Eu sei que não foi sua culpa, mas você precisa aprender a evitar essas situações. Esse tipo de cliente sempre vai existir, Rafael. E, para o bem do restaurante e do seu trabalho você precisa ser mais cuidadoso.

— Mais cuidadoso? Ele me bateu! E eu sou o culpado por isso? — Rafael respondeu, sua raiva finalmente transbordando.

O gerente ergueu uma sobrancelha, surpreso com o tom de Rafael, mas não respondeu imediatamente. Após um momento de silêncio, ele suspirou novamente.

— Vou deixar isso passar, Rafael. Volte ao trabalho e tente não causar mais problemas esta noite. E, pelo amor de Deus, evite aquele cliente.

Rafael queria protestar, mas sabia que seria inútil. Ele apenas assentiu, apertando os punhos enquanto saía da sala.

De volta ao salão, ele evitou olhar para a mesa do homem que havia causado tudo aquilo. Em vez disso, focou nos outros clientes, tentando manter o profissionalismo. Mas, por dentro, ele estava em chamas.

O tapa, a humilhação, a falta de apoio do gerente, tudo isso acumulava-se como uma tempestade dentro dele. Enquanto carregava bandejas e sorria para os clientes, uma única frase ecoava em sua mente: Talvez Bellucci tenha razão. Esse mundo é injusto.