— Irmão, faça um desejo. — Camila pediu antes de Rafael apagar as velas do pequeno bolo.
— Eu desejo que… — falou de olhos fechados.
— Não pode falar em voz alta, Rafael. Tem que falar apenas para si, se não, não realiza o desejo.
— Que tanta enrolação, tá bom… Tá bom…
A luz fraca do pequeno apartamento iluminava o rosto sorridente de Camila que olhava com expectativa para Rafael. O bolo era simples, com cobertura de chocolate improvisada e velas que mal se equilibravam no topo, mas o brilho nos olhos dela fazia parecer um banquete luxuoso.
Rafael, sentado à mesa pequena, fechou os olhos novamente, tentando ignorar o som de carros buzinando na rua lá fora ou o ranger da janela mal vedada. Ele sabia o que desejava — algo que desejava há muito tempo. Mas sabia que não bastava apenas desejar; precisava lutar por isso.
Camila, impaciente, inclinou-se sobre a mesa.
— Anda, Rafael! Já tá demorando mais que o normal. Apaga logo, antes que as velas derretam todas!
Ele riu, abrindo um olho para olhá-la.
— Lá vai. — Com um sopro rápido, apagou as velas.
Camila bateu palmas e soltou uma pequena risada de vitória, como se aquilo fosse o clíma da noite. Para ela, talvez fosse. Naquele mundo cheio de desafios, momentos simples como esses eram preciosos. Rafael sabia disso e fazia o possível para manter esse sorriso no rosto dela, mesmo quando tudo parecia desmoronar ao seu redor.
Ela pegou uma faca de plástico para cortar o bolo e começou a servir.
— Vai, fala o que desejou.
— Você mesma disse que não pode falar, ou não realizar! — Rafael respondeu com um tom divertido.
Camila revirou os olhos.
— Ai, Rafael. Você leva essas coisas a sério demais. Mas deixa eu adivinhar... É sobre fugir dessa cidade, não é?
Ele hesitou por um segundo, mas logo deu de ombros.
— Você sabe que sim. Não vejo outra saída. Não com o jeito que as coisas estão.
O sorriso de Camila diminuiu um pouco, mas ela tentou escondê-lo, focando em cortar mais um pedaço do bolo.
— A gente vai conseguir, Rafael. Eu sei que vai. Você é teimoso demais para não conseguir.
— Teimoso? Eu prefiro "persistente".
Os dois riram, mas o peso não saiu da sala. Mesmo naquele momento de descontração, a realidade permanecia ali, como uma sombra. A cidade portuária onde viviam era perigosa, cheia de armadilhas, e Rafael sabia que cada dia que passavam ali era um risco. Ele não tinha dúvidas de que precisava tirar Camila dali, a única dúvida era como.
Enquanto Camila dividia o bolo, Rafael voltou do quarto com um envelope na mão e ergueu o braço para que pegasse.
— Abra!
Camila pegou. — O que é isso? — começou abrir o envelope.
— Um presente.
Camila apertou o envelope contra o peito enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. Dentro dele estava a confirmação do que ela jamais esperava, o dinheiro necessário para sua viagem aos Estados Unidos e para cobrir as despesas iniciais do estágio. Era o sonho dela, algo que parecia impossível diante das circunstâncias em que viviam.
Rafael, com um sorriso suave, retribuiu o abraço, passando a mão nos cabelos da irmã. Ele sabia que aquele momento era tudo o que ela precisava, e tudo o que ele sempre quis proporcionar.
— Você merece isso, Camila. Mais do que ninguém.
Ela se afastou levemente, ainda segurando o envelope com cuidado, como se fosse algo frágil e precioso.
— Mas como você conseguiu esse dinheiro, Rafael? Você já trabalha tanto… Não quero que se sacrifique por mim.
Ele suspirou e desviou o olhar por um momento, tentando esconder a luta interna que travava. O dinheiro havia vindo de meses de economias e pequenos trabalhos extras que ele fazia quando podia.
— Não se preocupe com isso, Camila. O importante é que você vai. Esse estágio é a sua chance de sair daqui, de construir uma vida melhor. Quero que você faça isso por você... E por nós.
Camila balançou a cabeça, ainda incrédula.
— Mas... E você? Não posso simplesmente te deixar aqui, sozinho. Nós sempre fizemos tudo juntos.
— E sempre faremos. Mas agora é a sua vez de dar o próximo passo. Eu ficarei bem. Prometo. — Rafael forçou um sorriso para acalmá-la.
Camila enxugou as lágrimas com as costas das mãos e respirou fundo, tentando controlar a emoção.
— Eu vou fazer isso, irmão. Vou dar o meu melhor. E vou voltar por nós dois. Só que… Promessas de que vai se cuidar enquanto eu estiver fora, tá?
Rafael riu baixo, bagunçando o cabelo dela como costumava fazer quando eram mais novos.
— Prometo. Só... não me faça chorar na minha própria festa, está bem?
Os dois riram juntos, um momento raro de leveza em meio a tantas dificuldades. Camila sabia que seu irmão estava se sacrificando por ela de formas que ela talvez nunca compreendesse totalmente, e Rafael sabia que estava entregando mais do que dinheiro: estava entregando uma chance para ela escapar da vida que ele tanto temia.
Enquanto ela guardava cuidadosamente o envelope, Rafael olhou para o bolo meio comido na mesa e sorriu para si mesmo. Por mais difícil que fosse, aquele momento fazia tudo valer a pena.
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Atualizado até capítulo 123
Comments
Maryan Carla Matos Pinto
lindos os amor dos irmãos
2025-02-12
0
★𝕺𝖘𝖈𝖆𝖗 𝕬𝖑𝖍𝖔★
Que lindos mano 😭❤️
2025-03-06
0
😝(/Stefany Hatake/)😝
que fofo tô chorado
2025-01-08
0