A noite caía no bordel, e o ambiente era marcado por risadas altas, o tilintar de copos e a melodia dissonante de uma música distante. No quarto, Alys se preparava, ajustando a maquiagem e o vestido. Seu olhar, no entanto, estava vazio, refletindo no espelho o peso de uma vida que não desejava.
De repente, a porta foi aberta com força, e Evelina entrou como uma tempestade.
— Por que tanta demora? Os homens estão à sua espera! — disse ela, com um tom impaciente.
Alys suspirou, desviando o olhar do espelho.
— Estou me aprontando — respondeu com calma, mas sem convicção.
Evelina a observou com atenção, algo raro vindo dela.
— O que está acontecendo? — perguntou Evelina, suavizando a voz, mas ainda carregada de autoridade.
— Por que está perguntando isso? — retrucou Alys, tentando esconder sua inquietação.
— Porque você está estranha. Acho bom me obedecer como sempre fez. Agora desça imediatamente! — ordenou Evelina, com uma dureza que não admitia contestação.
Alys passou um batom vermelho, ajustou o decote do vestido e desceu. Atraiu imediatamente os olhares dos homens, que a cobiçavam como se fosse uma joia rara. No entanto, por dentro, sentia-se cada vez mais deslocada, como uma peça quebrada em um mundo que não fazia sentido.
De repente, as conversas cessaram por um momento, e um homem misterioso adentrou o local. Ele era alto, envolto em uma capa escura, com traços marcantes e um olhar que parecia carregar segredos. Os homens começaram a murmurar entre si.
— É ele de novo... — um deles comentou. — O homem misterioso.
Wulfric, como era chamado, caminhou até uma mesa no canto, sentando-se em silêncio, como uma sombra entre as luzes do bordel.
Evelina se aproximou de Alys e, com um sorriso quase debochado, disse:
— Olhe só quem apareceu novamente. O homem misterioso. Vá servi-lo.
Alys assentiu, sem discutir, e foi até Wulfric.
— Boa noite, meu senhor — disse, tentando manter a compostura.
Wulfric, que estava com a cabeça baixa, ergueu o olhar lentamente, seus olhos fixando-se nos de Alys. Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, como se a estudasse, antes de responder com a voz baixa e grave:
— Me traga vinho.
Alys acenou com a cabeça, servindo-o rapidamente. Após encher o copo, perguntou:
— Deseja mais alguma coisa?
Wulfric tomou um gole do vinho antes de perguntar:
— Sempre esteve aqui?
Alys ficou surpresa pela pergunta.
— Por que pergunta isso?
Wulfric estreitou os olhos e, com um leve sorriso enigmático, respondeu:
— Só quero que me responda.
— Sabe algo sobre o bordel? — questionou Alys, um pouco mais ousada.
Wulfric arqueou uma sobrancelha.
— Curiosa demais para uma meretriz — respondeu, sem alterar o tom de voz.
Alys tentou disfarçar o constrangimento.
— Apenas me perguntou algo, e eu gostaria de saber.
Ele apoiou o cotovelo na mesa, inclinando-se um pouco mais na direção dela.
— Eu sei muito mais do que você pensa, Alys.
Ela ficou paralisada ao ouvir seu nome, sem lembrar de tê-lo mencionado. Sentindo-se desconfortável, recolheu alguns copos das mesas próximas e se afastou, mas não conseguia tirar as palavras dele da cabeça.
Wulfric continuou sentado, observando o salão com seu olhar penetrante, enquanto Alys refletia sobre o significado daquela breve, mas marcante, conversa. Quem era ele realmente? E por que parecia saber tanto sobre ela?
Henry cavalgava sozinho pela escuridão da noite, os cascos de seu cavalo ecoando contra o chão frio. A lua iluminava parcialmente o caminho, mas seus pensamentos estavam longe, perdidos em Alys. Subitamente, ele se assustou ao ouvir uma voz emergindo da escuridão.
— Aonde está indo, senhor?
Era Hebert, surgindo como uma sombra.
— Hebert! Que susto me deu! — exclamou Henry, puxando as rédeas do cavalo para desacelerar.
— Aonde pretende ir nessa calada da noite? — perguntou Hebert, desconfiado.
Henry hesitou por um momento, mas não podia esconder seus sentimentos.
— Só de imaginar que, nesta hora, Alys está sendo tocada por outros homens... Isso parte a minha alma! Quero ir até ela, ficar a noite inteira, protegê-la de toda essa opressão!
Hebert o olhou com seriedade.
— Meu senhor, está exagerando com isso.
Henry balançou a cabeça, seu olhar cheio de determinação.
— Não, Hebert. Você não entende! Estou completamente apaixonado por Alys, e esse sentimento só cresce dentro de mim.
— Mas ela é uma meretriz, senhor. Precisa aceitar isso.
— Meretriz ou não, ela é quem faz meu coração pulsar. Preciso vê-la!
Sem mais palavras, Henry acelerou o cavalo, deixando Hebert sem escolha a não ser segui-lo.
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O bordel estava movimentado como de costume, com risadas altas, música e vozes misturando-se no ar carregado. Quando Henry desceu do cavalo e adentrou o local, os murmurinhos começaram imediatamente.
— Lá está o príncipe novamente — disse um homem, enquanto outros olhavam com curiosidade e reverência.
Conforme Henry avançava pelo salão, alguns dos presentes inclinavam-se em um gesto respeitoso.
— Meu senhor — sussurravam, em tom de reverência, embora o ambiente não fosse o mais adequado para a presença da realeza.
Evelina, ao perceber a chegada de Henry, abriu um sorriso sarcástico, encantada com a possibilidade de atrair mais atenção ao bordel.
— Nosso bordel está se tornando importante — comentou, em tom de provocação. — O príncipe retorna novamente!
Alys, que estava servindo uma mesa próxima, congelou ao ver Henry entrar. Seus olhos arregalaram-se de surpresa, mas também de preocupação. Ela sabia que sua presença ali só aumentaria os problemas.
— Henry... — sussurrou para si mesma, sem acreditar no que via.
Enquanto Evelina parecia aproveitar a cena, Alys sentia o coração apertado. Ela precisava decidir como lidar com a presença insistente de um príncipe em um mundo que não o pertencia.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Claudia
Ai que capítulo foi esse quem será o homem mistério?????🤔🤔♾🧿
2024-12-23
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