Alys deu alguns passos pelo quarto, tentando processar a conversa incomum que estava tendo. Ela nunca conhecera alguém como Henry, alguém que não a via apenas como um objeto.
— Eu não mereço ser tratada assim, — disse ela, com a voz baixa, quase como se falasse consigo mesma.
Henry, sentado em uma cadeira, inclinou-se ligeiramente para a frente, seus olhos fixos nos dela.
— Por que acha isso?
— Porque sou uma meretriz, — respondeu Alys, sua voz agora embargada. — Sempre vendi meu corpo para os homens. É só isso que conheço, é só isso que sei fazer.
Henry permaneceu em silêncio por um momento, antes de se levantar. Ele caminhou até ela e falou com a mesma suavidade de antes:
— Você pode ter vendido seu corpo, mas nunca vendeu sua alma. Há algo em você que ninguém conseguiu tocar, e isso é precioso.
Os olhos de Alys se arregalaram, suas emoções transbordando. Henry continuou:
— Não precisa fazer nada comigo essa noite. Apenas me conte o que sente.
Alys, surpresa e sem saber como reagir, foi até a porta e a trancou. Pela primeira vez, aquele quarto não seria um lugar de dor ou submissão, mas um refúgio. Ela virou-se para Henry, seu olhar era agora mais vulnerável do que nunca.
— Por que você me trata assim? — perguntou, sua voz carregada de curiosidade e desconfiança.
— Não estranhe por eu agir dessa maneira. Eu não julgo seu passado, porque não é o que você foi que importa, mas o que você pode ser.
Alys deu um leve sorriso, mas ainda parecia incrédula.
— Você parece até que não existe. Como se fosse um homem de contos de fadas, algo bom demais para ser verdade.
Henry riu de leve, sem sarcasmo, apenas com gentileza.
— Eu não sou um homem de contos de fadas. Sou apenas alguém que acredita no amor, alguém que é romântico.
O quarto, que tantas vezes foi cenário de amargura, agora estava impregnado de algo raro para Alys: esperança.
A noite avançava, e o quarto, iluminado apenas pela luz bruxuleante de uma vela, tornou-se um santuário inesperado para Henry e Alys. Sentados no chão, próximos à cama, eles compartilharam palavras, não carícias.
Alys, com um misto de coragem e hesitação, começou a contar sua história. Falou sobre o abandono quando ainda era um bebê, deixada na porta do bordel. Contou como Evelina a criou e lhe ensinou a sobreviver em um mundo cruel. Revelou como, desde cedo, foi tratada como algo descartável, como se seu destino fosse inevitavelmente marcado pela dor.
Henry ouvia atentamente, seu olhar fixo nela, sua expressão cheia de compaixão. A cada palavra, ele sentia o peso da vida que Alys carregava, algo que contrastava profundamente com a proteção e o privilégio que ele conhecia.
— E você? — perguntou Alys, depois de algum tempo. — Qual é a sua história, Henry?
Henry desviou o olhar por um instante, mexendo nervosamente nas mangas de sua camisa.
— Minha vida não é tão interessante assim, — disse ele, com um sorriso contido. — Fui criado em um castelo, cercado por tudo o que alguém poderia desejar. Mas isso não significa que não existam lutas internas.
Alys percebeu que ele evitava se aprofundar, mas não o pressionou. Apesar de sua curiosidade, havia algo em Henry que parecia frágil, algo que ela não queria quebrar.
— Você é diferente de tudo o que imaginei sobre príncipes, — comentou ela, observando-o. — Você escuta, e não julga. Isso é raro.
Henry deu um leve sorriso e, após um momento de silêncio, respondeu:
— Talvez porque eu também me sinta preso em um papel que não escolhi.
A conversa continuou até que o céu começou a clarear. Ambos perceberam que, naquela noite, haviam encontrado algo que não esperavam: um momento de conexão genuína em meio a vidas tão diferentes. Quando o primeiro raio de sol invadiu o quarto, Alys olhou para Henry e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que alguém a enxergava de verdade.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Claudia
Sessão terapia ativado com sucesso 🤭🤭🤭🤭♾🧿
2024-12-18
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