Com o capuz da capa escondendo parte de seu rosto, Alys caminhava pelas ruas escuras com passos apressados e olhar desconfiado. O bordel estava localizado, parecia sufocá-la ainda mais naquela noite. A cada esquina, ela se perguntava se algum nobre do reino a reconheceria e a condenaria por sua vida. Seus pensamentos eram um misto de medo e resignação, mas sua determinação a conduziu até a igreja.
Ao entrar, o silêncio acolhedor a envolveu, e Alys caminhou até o altar, onde deixou metade do dinheiro que havia ganhado como meretriz. O padre a aguardava para sua confissão, e ela se ajoelhou diante do pequeno confessionário. Lá, suas palavras saíram entre lágrimas.
— Padre, eu me sinto suja... Às vezes, penso que seria melhor não viver do que continuar levando essa vida. Não quero isso para mim... — sua voz tremia com a emoção contida.
O padre permaneceu em silêncio por um instante antes de responder com um tom grave e distante.
— Arrependa-se de seus pecados, minha filha. Somente assim encontrará o perdão e a redenção.
Alys assentiu, ainda chorando, antes de se retirar do confessionário e se ajoelhar em um dos bancos da igreja. Ela juntou as mãos e começou suas orações diárias, buscando um pouco de alívio para a dor que sentia em seu coração. Contudo, foi interrompida por uma presença inesperada. Ao levantar os olhos, um soldado estava ao seu lado. Ela arregalou os olhos ao reconhecê-lo.
— Hebert? O que faz aqui? — perguntou, surpresa.
— Vim a pedido de Henry — respondeu ele, com a postura ereta de um soldado em missão.
Alys baixou os olhos, ainda assustada.
— O que ele deseja? — perguntou em um tom hesitante.
— Ele quer que se encontre com ele no campo.
Alys franziu a testa.
— Nunca fui a esse campo, e tenho muitas coisas para fazer.
Hebert manteve o olhar firme e respondeu:
— Não pode rejeitar o convite do príncipe, Alys.
Ela permaneceu em silêncio por alguns instantes, a cabeça baixa, enquanto processava as palavras do soldado. Não era apenas um convite, era uma ordem velada. Por fim, respirou fundo e assentiu, sem dizer mais nada.
Sem demora, Hebert a conduziu até um cavalo que esperava do lado de fora da igreja. Alys hesitou por um instante antes de aceitar sua ajuda para subir na sela. O soldado tomou as rédeas e os guiou pelas trilhas que levavam ao campo, onde o príncipe Henry os aguardava.
A lua iluminava o vasto campo verde, criando um cenário quase mágico. No horizonte, Henry estava de pé, próximo a uma árvore solitária. Ele olhou para eles assim que o cavalo se aproximou, e um sorriso discreto surgiu em seus lábios ao ver Alys.
— Obrigado, Hebert. Pode nos deixar agora — disse Henry, enquanto caminhava até eles.
Hebert obedeceu com um breve aceno, entregando as rédeas para Henry antes de se afastar, deixando o príncipe e Alys a sós. Henry estendeu a mão para ajudá-la a descer do cavalo, seus olhos fixos nos dela.
— Estou feliz que tenha vindo — disse ele, com sinceridade na voz.
Alys, ainda incerta, cruzou os braços e desviou o olhar.
— Não poderia recusar, meu senhor.
Henry deu um pequeno sorriso.
— Aqui, ninguém vai te julgar ou te machucar. Quero que sinta paz quando estiver comigo, Alys.
Ela o encarou, surpresa pela ternura em suas palavras. Por um instante, o peso do mundo parecia menor, e aquele campo parecia um refúgio longe de tudo que a atormentava.
O campo estava silencioso, exceto pelo som do vento suave que balançava as folhas das árvores. Henry abriu um sorriso ao ver Alys se aproximar, sua presença iluminando o ambiente mais do que a própria lua. Hebert, cumprindo sua função de guarda, se afastou discretamente, mas permaneceu atento, observando de longe.
Henry caminhou até Alys, segurando suas mãos com delicadeza.
— Estou feliz porque veio — disse ele, com uma sinceridade que fez Alys corar levemente.
Ela o encarou, um misto de nervosismo e curiosidade em seus olhos.
— Queria tanto me ver?
— Mais do que tudo — respondeu Henry, com um sorriso tímido. — Pensei em você todos esses dias, o tempo todo.
Alys baixou os olhos por um momento, mas logo os levantou, permitindo-se ser honesta.
— Confesso que também não consegui esquecer você.
Henry, com um gesto repentino, puxou uma rosa de dentro de sua capa e a estendeu para ela.
— Me lembrei de você — disse, seus olhos brilhando com intensidade.
Alys abriu um sorriso genuíno, pegando a rosa com cuidado.
— É linda. Nunca recebi uma antes.
Eles se olharam por alguns instantes, o silêncio carregado de emoções que ambos ainda não sabiam nomear. Então, como se o momento os empurrasse, Henry se inclinou e a beijou. O beijo foi doce e cheio de desejo contido, como se ambos estivessem esperando por aquilo desde o primeiro encontro.
Sem perceber, eles caíram no gramado, rindo como crianças enquanto olhavam para o céu estrelado. Alys girou a cabeça para encará-lo, e a realidade voltou a pesar sobre seus pensamentos.
— Soube que irá se casar — disse ela, sua voz carregada de tristeza.
Henry suspirou, virando-se para encará-la.
— Não quero isso. É o desejo do meu pai, mas não o meu.
— Você se casará com a filha de um nobre — respondeu Alys, tentando manter o tom racional.
— Estou prometido a ela desde criança.
Alys desviou o olhar, seu coração apertado.
— Por isso não podemos estender isso, Henry.
Ele franziu o cenho, confuso.
— Por que não?
Ela respirou fundo, segurando a rosa que ele havia lhe dado.
— Porque eu sou uma meretriz, e você se casará em breve.
Henry segurou seu rosto com as mãos, forçando-a a encará-lo.
— Eu não sei o que farei. Mas confesso, Alys, que quando te vejo, meu coração parece que vai sair pela boca. Minhas mãos tremem, e é como se o mundo ao nosso redor desaparecesse.
Alys soltou uma risada leve, tentando mascarar a angústia que sentia.
— Você fala como um poeta.
— Não sou poeta, mas você me inspira a ser um — respondeu Henry, com um sorriso brincalhão.
A tensão do momento foi substituída por uma risada compartilhada. Apesar das dificuldades que ambos enfrentavam, naquele instante sob o céu estrelado, era como se o tempo tivesse parado, permitindo que apenas o sentimento entre eles existisse.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Claudia
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2024-12-23
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