Daniel se afastou lentamente da figura de sua mãe, as palavras dela ainda reverberando em sua mente. A revelação de que Ethan não existia o deixara atordoado, mas ele sabia que não podia ficar parado. Algo dentro dele, uma força silenciosa, o impulsionava para frente. Ele não sabia ao certo o que era, mas sentia como se algo o estivesse chamando, algo que não podia mais ignorar.
Fechou os olhos por um momento, tentando se concentrar. A escuridão ao seu redor parecia consumir cada pensamento que ele tinha, mas então, como se tivesse sido puxado por algo invisível, ele foi transportado para um lugar completamente diferente, um lugar familiar e ao mesmo tempo distante. Não era a casa de espelhos que ele estava deixando para trás, mas sim a casa de sua infância.
A imagem era vívida, clara como se ele estivesse realmente lá. O cheiro de madeira polida e café recém-passado, a luz suave filtrada pelas cortinas, as paredes decoradas com fotos antigas de sua família. Ele se via sentado na sala de estar, uma criança ainda pequena, mas com um olhar intenso e curioso sobre o mundo ao seu redor. O som da risada de sua mãe vinha de algum lugar perto, uma sensação de segurança, de pertencimento.
Era como se estivesse revivendo um momento perdido no tempo, e em meio a essa nostalgia, Daniel começou a entender o que o motivava a continuar. O que o impulsionava não era apenas a busca pela verdade, mas a necessidade de entender quem ele era, de onde vinha, e qual o papel que sua família havia desempenhado em tudo isso. Ele sempre soubera que havia mais por trás da fachada tranquila de sua vida, mas agora ele via que havia algo em sua história, algo que ele precisaria desenterrar.
Ele recordou os primeiros anos de sua infância. A infância dele fora repleta de momentos simples, mas carregados de significado. Sua mãe sempre estava ao seu lado, com um sorriso caloroso, como se fosse impossível ela esconder qualquer dor. Ela sempre parecia estar protegendo Daniel de algo, como se houvesse um peso sobre seus ombros que ela não queria que ele carregasse. Mas Daniel sentia que havia algo mais, algo que ela estava tentando esconder dele, algo que ele precisava entender para finalmente se libertar.
Mas o que ele não sabia na época era que tudo o que ele achava ser normal e seguro tinha uma camada de segredos que ele nunca conseguira perceber. À medida que crescia, ele começava a notar coisas pequenas: olhares furtivos entre seus pais, conversas interrompidas quando ele entrava na sala, e um silêncio pesado que pairava no ar após certos nomes serem mencionados. No entanto, quando ele tentava perguntar sobre isso, suas perguntas eram sempre respondidas com evasivas, com uma troca rápida de assunto ou um sorriso que não chegava aos olhos.
E então, como se fosse uma memória distorcida, ele lembrou-se de uma noite específica, uma noite em que algo aconteceu que alteraria para sempre o rumo de sua vida. Ele tinha apenas dez anos na época. Ele estava na cama, tentando dormir, quando ouviu uma conversa baixa entre sua mãe e seu pai. Não podia ouvir as palavras claramente, mas o tom de sua mãe, baixo e ansioso, fez com que ele ficasse em silêncio, sem se mexer. Ele não queria ser pego ouvindo algo que não deveria, mas a curiosidade falou mais alto. O que ele escutou, mesmo que incompleto, ainda ecoava em sua mente até hoje.
“... não podemos deixar ele saber disso agora... ele não está pronto... será que devemos continuar escondendo?”
Foi isso que ele ouviu. E por mais que tentasse entender o que aquelas palavras significavam, algo dentro de si dizia que ele estava sendo protegido de algo muito grande, algo que sua mãe achava que ele não poderia compreender ainda. E talvez ela estivesse certa, mas Daniel sabia, em seu coração, que as respostas estavam em algum lugar, e ele não descansaria até encontrá-las.
A perda de sua mãe foi a virada definitiva em sua vida. A morte dela, a ausência inexplicável e devastadora, deixou um vazio profundo dentro de Daniel. Ele tentava lidar com isso da melhor forma possível, mas quanto mais ele tentava entender o que tinha acontecido, mais ele se sentia perdido. A morte de sua mãe não foi apenas uma perda física; foi a perda de algo muito maior. Foi a perda da verdade, da compreensão de quem ela realmente era, e o que ela havia tentado esconder de Daniel por todos esses anos.
Ele sempre se lembraria da última vez que a viu, quando ela lhe disse, em um suspiro quase inaudível, que a vida dele iria tomar um rumo inesperado. Ela parecia saber que ele precisaria de respostas, mas aquelas respostas nunca viriam diretamente dela. Isso sempre o deixara com uma sensação de vazio, um vazio que ele tentava preencher de diversas maneiras, mas nada parecia o satisfazer. Até que os espelhos apareceram.
E então, a busca por respostas começou. Ele procurou por qualquer pista, qualquer fragmento que pudesse fazer sentido, mas quanto mais procurava, mais ele se deparava com enigmas. Os espelhos, as imagens distorcidas, tudo o que ele descobriu estava sempre envolto em mistério. Ele sabia que algo maior estava em jogo, mas o que exatamente ele não conseguia ainda entender.
“Eu preciso saber o que aconteceu,” Daniel murmurou para si mesmo, sentindo o peso daquelas lembranças. Ele se viu de volta àquela sala de estar, o rosto de sua mãe ainda claramente visível em sua mente. “Eu preciso entender, para poder seguir em frente.”
A verdade não se limitava apenas aos espelhos ou à busca por Alice. Havia algo mais profundo que ele precisava entender, e ele sabia que não poderia seguir em frente sem desvendar isso. O que ele precisava agora era encontrar o elo que conectava todos esses eventos, entender o papel de sua família, e mais importante, entender a verdade sobre ele mesmo.
Ele não poderia mais ignorar o fato de que sua família, especialmente sua mãe, sabia de algo que ele não podia compreender por completo. Ela tinha feito escolhas por ele, decisões que o mantiveram longe de certos conhecimentos, mas agora ele não podia mais permanecer na escuridão.
Ele lembrou-se de uma conversa que tivera com sua mãe, anos antes de tudo isso começar, quando ela lhe dissera algo que ele nunca conseguira esquecer.
“Daniel,” ela dissera em um tom suave, “a verdade pode ser dolorosa, mas ela sempre estará esperando por você. Não importa o quanto você tente se esconder dela, ela vai te encontrar. E quando isso acontecer, você terá que estar pronto para aceitá-la.”
Essas palavras, embora ditas com carinho, agora ressoavam em sua mente com uma intensidade diferente. Elas não eram apenas um aviso, mas uma preparação. Daniel sabia que não podia mais fugir do que estava à sua frente.
Ele não sabia qual era a próxima etapa da sua jornada, mas havia algo dentro de si que agora estava mais claro. Ele não podia mais viver com a incerteza sobre sua vida, sobre sua família. A busca pela verdade não era apenas sobre encontrar Alice ou entender o que estava acontecendo com os espelhos. Era uma busca pela verdade sobre ele mesmo, sobre sua própria identidade, sobre o legado de sua mãe e o segredo que ela havia tentado esconder.
Ele sabia que as respostas estavam ali, escondidas em seu passado, esperando para serem desenterradas. Ele se lembrava do olhar de sua mãe, de como ela sempre parecia protegê-lo. Agora, ele entendia que era essa proteção que o havia mantido longe da verdade por tanto tempo.
Mas ele estava pronto. Ele estava pronto para enfrentar o que quer que fosse.
Com um último olhar para a sala de sua infância, Daniel se levantou e deu um passo à frente. Ele estava pronto para enfrentar tudo, pronto para descobrir quem ele realmente era. E, com isso, dar o próximo passo em sua jornada.
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Atualizado até capítulo 33
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