Então Era o Tão Amor

Então Era o Tão Amor

01

Dedicatória

À Raina Cailane, minha eterna estrela,

Este livro é para você, que sempre iluminou minha vida com seu sorriso e sua força. Mesmo que a distância entre nós agora pareça infinita, sinto que sua essência permanece viva em cada palavra que escrevo. Você foi, e sempre será, uma fonte inesgotável de inspiração e amor.

Raina, este livro é minha maneira de eternizar sua memória, de transformar saudade em gratidão e dor em arte. Obrigado por cada momento que compartilhamos, por cada lição que você me deixou e por ser a alma que continua a guiar meus passos.

Para sempre, em meu coração,

Com todo o amor,

Vitor Cauã❤️

Capítulo 16_1

Era início de noite, e o som das ondas quebrando na areia parecia acompanhar a melodia melancólica que tocava no coração de Cecy. Sentada em uma pequena rocha à beira da praia, ela olhava para o horizonte, onde o céu beijava o mar em tons de azul-escuro e cinza. Ali, envolta pela solidão que parecia ser sua única companhia fiel, Cecy começou a falar – não com alguém em especial, mas talvez com o vazio que sempre carregou.

"Eu não sei exatamente quando comecei a me sentir assim... tão pequena, tão insignificante diante de um mundo tão grande. Talvez tenha sido quando descobri que as pessoas que prometiam ficar sempre iam embora. Ou talvez tenha sido quando percebi que a felicidade não é algo que se pode alcançar, mas algo que você observa de longe, sempre nas mãos de outra pessoa."

Ela fechou os olhos por um instante, sentindo a brisa fria acariciar seu rosto como se tentasse consolar seu coração. Mas, mesmo naquele toque suave da natureza, ela não encontrava conforto.

"Eu cresci acreditando em contos de fadas, sabe? Acreditei que um dia alguém viria e me salvaria. Acreditei que o amor era a resposta para tudo, mas agora... Agora eu sei que o amor, se é que existe, não é para pessoas como eu. Eu sou explosiva, imperfeita, e parece que cada defeito meu assusta quem se aproxima. No final, todos acabam indo embora, e eu fico aqui, sozinha, conversando com o vento."

Uma lágrima solitária escapou de seus olhos, caindo na areia. O peso da solidão, das desilusões, parecia insuportável naquela noite. E ainda assim, ela continuava respirando, como se estivesse presa a uma vida que não sabia como mudar.

"Mas sabe o que é pior?" – sua voz vacilou, quase se quebrando. – "É esse vazio... Esse buraco aqui dentro. Eu tento preenchê-lo de tantas maneiras, mas nada parece suficiente. Às vezes, penso que estou condenada a viver assim, com um sorriso que engana o mundo e um coração que grita por socorro."

Cecy olhou para as estrelas, agora surgindo timidamente no céu. Por um momento, desejou que alguma delas caísse, como nos filmes, para que pudesse fazer um pedido. Mas elas permaneceram imóveis, apenas observando sua dor.

"Se ao menos eu pudesse recomeçar... Encontrar uma razão, um propósito, algo que me desse um motivo para acreditar que não estou sozinha neste mundo. Talvez, só talvez, eu pudesse ser salva."

O vento soprou novamente, mas desta vez parecia mais forte, como se quisesse empurrá-la de volta para a realidade. Cecy suspirou, abraçando o próprio corpo, enquanto as ondas continuavam seu vaivém interminável. No fundo, ela sabia que ninguém viria. E talvez, era hora de aceitar isso.

Cecy estava perdida em seus pensamentos, quando ouviu passos na areia. Não precisou se virar para saber quem eram. O som da risada suave de Felm e a voz decidida de Jeny eram inconfundíveis. Logo, as duas surgiram, carregando sacolas com comida e algumas latas de cerveja.

– Cecy, aí está você! – Jeny exclamou, caminhando até ela com passos firmes. – Achei que ia te encontrar chorando aqui, olhando para o mar como se fosse o final de um filme triste.

Felm, mais delicada, sentou-se ao lado de Cecy e a envolveu em um abraço caloroso. – A gente trouxe comida e cerveja. Sei que você precisa de conforto agora.

Cecy suspirou, um pequeno sorriso surgindo apesar de si mesma. – Vocês são demais... Mas não sei se comida e bebida vão consertar o estrago que o Jhon fez.

Jeny soltou uma risada curta, quase cínica, enquanto abria uma das latas. – Ah, Cecy, o Jhon é um babaca. Sempre foi. Se ele não conseguiu enxergar o que tinha com você, então ele não merece nem um segundo a mais do seu tempo.

– Concordo – disse Felm, segurando uma das mãos de Cecy. – Você merece alguém que veja o quão incrível você é. Não alguém que só te machuca com palavras duras e depois age como se nada tivesse acontecido.

– É sério, Cecy – continuou Jeny, pegando um pedaço de pão de uma das sacolas. – Você fica remoendo isso, mas no fundo sabe que ele fez um favor. A gente estava só esperando o momento em que ele ia mostrar a verdadeira cara dele. E adivinha? Mostrou.

Cecy deu uma risada curta, mais amarga do que alegre. – É fácil para vocês falarem. Não foram vocês que acreditaram nas mentiras dele. Não foram vocês que ouviram que ‘é culpa sua que as coisas não dão certo’.

Felm apertou a mão de Cecy com mais força, seus olhos se enchendo de ternura. – Não é culpa sua. Nunca foi. Ele só não estava à altura de tudo que você tem para oferecer. Você é maravilhosa, Cecy. Só precisa acreditar nisso também.

Jeny, sempre a prática, abriu mais uma lata e deu um gole. – E é por isso que estamos aqui. Para te lembrar que você é muito melhor sem ele. Vamos beber, comer e colocar esse idiota no lugar que ele merece: no esquecimento.

Cecy olhou para as duas, sentindo um calor inesperado preencher seu peito. Ainda havia um vazio, mas naquele momento ele parecia um pouco menor. Talvez, só talvez, com elas ao seu lado, ela pudesse começar a se reconstruir.

Cecy sentiu o peso no peito começar a diminuir à medida que o riso suave de Felm e o tom sarcástico de Jeny preenchiam o ar ao seu redor. Ela pegou uma das latas de cerveja que Jeny lhe ofereceu e tomou um gole, sentindo a bebida gelada acalmar sua garganta. De repente, algo dentro dela mudou. Era como se, por um breve instante, ela quisesse esquecer toda a dor e se permitir viver – mesmo que fosse só por aquela noite.

Sem aviso, Cecy levantou-se de um salto, tirando os sapatos e correndo em direção à água. – Vamos, lerdas! – gritou, a voz carregada de uma alegria que as amigas raramente viam. – Quem chegar por último paga a próxima rodada!

Felm arregalou os olhos, surpresa, e começou a rir. – Cecy, você está maluca! Está frio! – Mas isso não a impediu de largar a sacola e correr atrás dela.

Jeny balançou a cabeça, já rindo. – Vocês duas vão acabar pegando um resfriado, mas, quer saber? Por que não? – E saiu correndo atrás delas, com a cerveja ainda na mão.

As três dispararam pela areia, os pés afundando no chão macio enquanto o som do mar ficava mais alto. Cecy foi a primeira a alcançar a água, mergulhando os pés na espuma fria das ondas. Ela riu alto, girando em círculos, e acabou espirrando água em Felm, que vinha logo atrás.

– Cecy! – Felm gritou, fingindo estar indignada, mas rindo enquanto jogava água de volta nela.

Jeny chegou logo depois, molhando a barra das calças. – Ah, é assim? Quer guerra de água? – Ela jogou um punhado em Cecy e Felm, provocando gritos e risadas ainda mais altas.

A brisa da noite parecia carregar o som das gargalhadas das três, espalhando uma energia leve e contagiante pela praia. Cecy corria de um lado para o outro, tentando escapar dos respingos, mas tropeçou na areia e caiu de joelhos, rindo tanto que mal conseguia respirar.

Felm correu para ajudá-la a se levantar, mas Cecy, com uma risada maliciosa, puxou a amiga para baixo, derrubando-a ao seu lado. – Se eu vou cair, você vem comigo!

Jeny parou, ofegante, observando as duas se embolando na areia e rindo como crianças. – Vocês são inacreditáveis – disse, ainda rindo. – Eu não sei se estou pronta para isso.

Cecy, ainda sentada na areia, olhou para as duas com um brilho nos olhos que parecia ter desaparecido há muito tempo. – Sabe... eu acho que não lembro da última vez que me diverti assim. Obrigada, meninas. De verdade.

Felm sorriu, estendendo a mão cheia de areia para Cecy. – É para isso que estamos aqui, Cecy. Sempre estaremos.

Jeny se aproximou, estendendo uma lata de cerveja. – E é só o começo. Agora, vamos brindar. Ao esquecimento de todos os babacas e à Cecy que, finalmente, está começando a voltar a viver.

As três brindaram ali, na praia, com os pés na água gelada e os corações aquecidos por uma amizade que parecia inquebrável. E, naquele momento, Cecy sentiu algo diferente: não era o vazio preenchido, mas uma fagulha de esperança de que, talvez, ainda houvesse algo belo esperando por ela.

O sol ainda nem tinha nascido completamente quando Cecy despertou, atrasada como sempre. O barulho ensurdecedor do despertador ecoava pelo pequeno quarto enquanto ela corria de um lado para o outro, tentando se arrumar. Em sua mente, a noite anterior, cheia de risos na praia, parecia um sonho distante. Agora, a realidade pesada da K.E.M. a puxava de volta ao mundo frio e calculista em que vivia.

Cecy chegou à empresa ofegante, os cabelos levemente bagunçados pelo vento e a bolsa pendendo perigosamente no ombro. Assim que passou pela porta giratória de vidro, o ambiente a engoliu: escritórios amplos, paredes impecavelmente brancas, pessoas andando rapidamente de um lado para o outro com olhares fixos em suas metas do dia.

– Você está atrasada novamente, Forrm – a voz cortante do chefe do departamento a atingiu antes mesmo que pudesse colocar a bolsa na mesa. O homem, um senhor de cabelos grisalhos e expressão eternamente irritada, a olhava por cima dos óculos com desprezo. – Quero que revise tudo isso antes do meio-dia. Seu trabalho está cheio de erros, como sempre.

Cecy mordeu o lábio, segurando a vontade de retrucar. Ela sabia que, por mais cuidadosa que fosse, qualquer coisa que entregasse nunca seria suficiente para ele.

– Sim, senhor – respondeu em um tom submisso, pegando a pilha de papéis que ele havia jogado em sua mesa.

Enquanto se sentava, os olhares de seus colegas de equipe a atravessavam. Não eram olhares de apoio ou compreensão, mas de julgamento. Alguns sussurravam, outros riam baixinho. Cecy sabia que não era bem-vinda ali.

As horas passaram lentamente. Cecy estava tão concentrada em revisar o relatório que quase não percebeu quando o relógio marcou meio-dia. Levantou os olhos a tempo de ver seus colegas saindo em grupo, rindo e conversando como se ela não existisse. Ninguém a chamou, ninguém sequer olhou para trás.

Ela suspirou, tentando engolir o nó na garganta. Pegou sua marmita da bolsa e caminhou até a pequena copa vazia. Enquanto aquecia a comida no micro-ondas, as vozes animadas do grupo chegavam abafadas pela porta. Eles estavam juntos, e ela estava sozinha – como sempre.

De volta à mesa, Cecy tentou se concentrar novamente no trabalho. Mas a sensação de exclusão e os olhares de desprezo a acompanhavam como uma sombra.

No fim do expediente, Cecy sentia os olhos pesados de tanto encarar a tela do computador e a pilha de relatórios que parecia não diminuir. Ela revisara cada detalhe com o máximo de atenção, mas o nervosismo e o cansaço começavam a pesar. Finalmente, ela juntou tudo em uma pasta e caminhou até a sala do chefe de departamento, o coração batendo acelerado.

– Aqui estão os relatórios revisados, senhor – disse com a voz baixa, enquanto colocava os papéis sobre a mesa dele.

O homem pegou a pasta com desdém, folheando rapidamente os documentos. Um silêncio incômodo preencheu a sala, e Cecy quase acreditou que tudo estava bem. Mas, então, ele soltou uma risada seca, carregada de desprezo.

– Isso é sério, Forrm? – Ele ergueu os papéis como se fossem lixo, sacudindo-os no ar. – Você revisou isso? Porque, sinceramente, parece que piorou.

Cecy sentiu o estômago revirar, mas manteve a postura. – Eu... eu revisei, senhor. Segui todas as suas orientações.

– Minhas orientações? – Ele bufou, jogando os papéis na mesa com força. – Se isso é o melhor que você pode fazer, então não sei como ainda tem um emprego aqui. Talvez seja por pena. Afinal, você é uma mulher, não é? Sempre emocionais, sempre deixando os sentimentos atrapalharem o trabalho.

As palavras dele eram como facas, cortando a pouca confiança que Cecy ainda tinha. Ela tentou se segurar, mas sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Uma delas escorreu silenciosamente, traindo sua determinação.

Ele notou imediatamente, e sua expressão mudou para um sorriso cruel. – Ah, pronto. Lá vem o choro. É sempre assim com vocês. Um pouco de pressão, e começam a se desmontar. – Ele cruzou os braços, observando-a com desdém. – Sabe o que falta em você, Forrm? Competência. Profissionalismo. Talvez, se gastasse menos tempo choramingando e mais tempo aprendendo a fazer seu trabalho direito, não precisaria estar aqui sendo repreendida.

Cecy tentou limpar as lágrimas rapidamente, mas elas não paravam de cair. Sua voz saiu trêmula, quase inaudível. – Eu... eu vou refazer, senhor.

Ele riu novamente, balançando a cabeça. – Claro que vai. Porque, do jeito que está, isso não serve nem para rascunho. E faça um favor a todos nós: tente não deixar sua sensibilidade feminina interferir desta vez. Isso aqui é um trabalho sério, não um clube de apoio emocional.

Ela saiu da sala o mais rápido que pôde, segurando as lágrimas até estar longe o suficiente para que ninguém visse. Quando finalmente se sentou em sua mesa, sentiu a onda de humilhação e impotência a atingir como um tsunami. Mais uma vez, ela estava sozinha – perdida em um ambiente que parecia destinado a esmagá-la.

Mas, no fundo de sua dor, algo começava a se formar. Uma faísca de resistência, um desejo de provar que ele estava errado. Ela não sabia como ou quando, mas prometeu a si mesma que um dia ele engoliria cada palavra. E, naquele momento, enquanto as lágrimas escorriam, ela começou a plantar as sementes de sua vingança silenciosa.

Cecy estava sentada em sua mesa, encarando a tela do celular. Depois de passar o dia inteiro se sentindo humilhada e excluída, tudo o que queria era estar com suas amigas novamente. Elas sempre conseguiam arrancar um sorriso dela, mesmo nos momentos mais sombrios. Com os dedos trêmulos, ela digitou uma mensagem no grupo:

"Meninas, vamos nos encontrar hoje? Preciso muito de vocês."

O tempo parecia se arrastar enquanto esperava uma resposta. Primeiro veio Felm:

"Ah, Cecy... Eu queria muito, mas estou atolada com trabalho atrasado. Me desculpa!"

Logo depois, Jeny respondeu:

"Hoje não dá, Cecy. Estou resolvendo umas coisas importantes, mas amanhã a gente pode combinar."

Ela suspirou, lendo as mensagens com o coração apertado. Não queria pressionar as amigas, mas a sensação de solidão só crescia. Guardando o celular de volta na bolsa, Cecy esperou o horário para sair. Quando finalmente o relógio marcou o fim do expediente, ela recolheu suas coisas e caminhou lentamente para fora da empresa.

A noite estava fria, e o ar parecia ainda mais pesado do que de costume. O dia havia sido uma sucessão de pequenas derrotas, e tudo o que ela queria agora era entorpecer a mente, esquecer o peso que carregava. Sem pensar muito, mudou o caminho para um bar pequeno e discreto que conhecia. Era um lugar onde podia se perder entre desconhecidos, onde ninguém faria perguntas ou esperaria algo dela.

Cecy entrou, sentindo o cheiro familiar de álcool e fumaça de cigarro. Escolheu um canto mais isolado e pediu uma bebida forte – algo que queimasse na garganta, mas aliviasse o aperto no peito.

Enquanto tomava o primeiro gole, sentiu as lágrimas ameaçarem voltar. Não queria chorar ali, não em público, mas a combinação de cansaço, solidão e humilhação parecia ser mais forte do que sua força de vontade. Ela olhou para o copo e soltou um riso amargo.

"Que clichê, Cecy", murmurou para si mesma. "Chorando sozinha em um bar... Quase uma cena de novela barata."

Mas ninguém estava ali para responder ou rir da sua ironia. O barulho ao redor era uma trilha sonora distante para sua dor, e, por um momento, ela se perguntou se alguém realmente se importava. O vazio parecia se expandir dentro dela, preenchendo todos os espaços.

Ela pediu outra bebida, e depois outra. O calor do álcool começou a subir, trazendo um conforto artificial. Talvez fosse o suficiente para esquecer – pelo menos por aquela noite.

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