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Capítulo 16_12

Cecy abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes enquanto tentava entender onde estava. O ambiente branco do quarto do hospital parecia confuso, e sua cabeça doía, como se algo estivesse fora do lugar. Ela se mexeu levemente, e seus olhos se fixaram na figura de uma mulher sentada ao lado da cama, com a cabeça baixa.

– Quem é você? – perguntou Cecy, com a voz fraca, mas carregada de confusão. – Aonde eu estou?

A mulher levantou a cabeça imediatamente, revelando Jeny com os olhos inchados de tanto chorar. Ela tentou sorrir, mas as lágrimas começaram a cair novamente.

– Cecy... sou eu, sua amiga – disse Jeny, sua voz tremendo. – Você está no hospital. Você desmaiou, mas agora está tudo bem.

Cecy franziu a testa, olhando para ela com desconfiança. – Eu não te conheço. Eu não tenho amigas. Onde está a Madre? Preciso voltar para o orfanato. Ela vai brigar comigo se eu me atrasar.

As palavras de Cecy foram como um golpe para Jeny, que levou a mão à boca para conter o soluço que ameaçava escapar. Ela deu alguns passos para trás, os olhos cheios de lágrimas, balançando a cabeça em negação. – Cecy, sou eu! – implorou ela, sua voz embargada. – Tenta lembrar, por favor! Nós somos melhores amigas. Por favor, lembra de mim!

Cecy pressionou a cabeça com as mãos quando uma pontada forte atravessou sua mente. Ela soltou um pequeno gemido de dor, mas, aos poucos, uma vaga memória de Jeny começou a surgir. – Você... é minha amiga? – perguntou ela, ainda incerta. – Eu acho que lembro disso... mas... por quê? Por que somos amigas?

Jeny desabou no chão, incapaz de conter o choro, enquanto Cecy continuava tentando entender a situação. Foi então que a porta se abriu, e Felm entrou, acompanhada de Arthur. Cecy olhou para os dois com o mesmo olhar confuso.

– E quem são eles? – perguntou ela, apontando.

Jeny limpou as lágrimas rapidamente, tentando recuperar a compostura. – Aquela ali é sua outra melhor amiga, Felm – disse, apontando para a garota que também já estava chorando. – E ele... ele é seu namorado.

Cecy franziu a testa novamente, mas dessa vez com um leve sorriso. – Ele é meu namorado? – perguntou, olhando para Arthur. – Nossa, como ele é lindo.

Arthur deu um passo à frente, tentando controlar a emoção que claramente transbordava em seus olhos. Ele segurou a mão de Cecy gentilmente, ajoelhando-se ao lado dela. – Lindo são seus olhos, meu girassol – disse ele, a voz baixa e carregada de emoção.

Cecy o olhou atentamente, inclinando a cabeça. – Seus olhos... – começou ela, com um pequeno sorriso.

Arthur tentou continuar. – São lindos como o azul do céu...

Mas Cecy o interrompeu. – Seus olhos estão tão vermelhos – disse ela suavemente. – Por que você está chorando? Vai ficar tudo bem.

Ela o puxou para um abraço, suas mãos pequenas dando tapinhas leves em suas costas. Arthur desabou em lágrimas, sua dor finalmente escapando, enquanto Cecy o segurava, sem entender completamente a gravidade da situação.

– Por favor, Cecy – sussurrou ele entre os soluços. – Fica bem... só fica bem.

Cecy, ainda confusa, apenas acariciou as costas dele, como se instintivamente soubesse que ele precisava daquele momento. No entanto, no fundo de seus próprios pensamentos, uma parte dela sentia que algo estava faltando – um pedaço de sua memória, de sua vida, que havia sido arrancado sem explicação.

Cecy estava deitada, os olhos fechados, enquanto Arthur ainda segurava sua mão com força. Do lado de fora, as amigas dela se mantinham em silêncio, as lágrimas escorrendo sem que pudessem controlar. Mas, dentro da mente de Cecy, ela não estava ali, naquele hospital. Não, ela havia voltado no tempo.

Naquele instante, Cecy tinha 12 anos novamente, sentada em um balanço no pequeno parque do orfanato. O céu era azul, e a brisa morna acariciava seu rosto. Ela olhava para o horizonte com os olhos cheios de esperança, falando consigo mesma, como fazia tantas vezes.

– Quando eu crescer, vou me casar – disse ela em voz alta, o tom leve e sonhador. – Vou encontrar alguém que me ame de verdade. Alguém que me faça sentir especial, como nos livros que eu leio.

Ela balançava os pés no ar, os sapatos quase tocando a areia abaixo. – Quero ter filhos também... três, talvez. Não, quatro. E vou ser a melhor mãe do mundo. Vou fazer bolos para eles, ensinar lições de casa, contar histórias antes de dormir... – Ela sorriu, o rosto iluminado pela inocência da juventude. – Eles vão saber o que é amor de verdade.

Cecy parou por um momento, olhando para o céu. – E, quando eu estiver bem velhinha, vou sentar na varanda de casa com o meu marido. Vamos olhar o pôr do sol juntos, lembrar de todos os momentos bons e rir das coisas bobas que fizemos. Vou morrer assim, em paz, sabendo que vivi uma vida completa e feliz.

De repente, o parque começou a escurecer. O céu azul foi substituído por nuvens cinzentas, e o som dos balanços desapareceu. Cecy olhou ao redor, confusa. – O que está acontecendo? – perguntou, mas não havia ninguém para responder.

As imagens dos sonhos começaram a se desfazer, como fumaça ao vento. A visão de uma casa acolhedora, dos filhos correndo no quintal, do marido ao seu lado... tudo começou a desaparecer, deixando Cecy sozinha no vazio.

– Não! – gritou ela, sua voz ecoando no nada. – Eu não quero que isso acabe! Por favor, não tirem isso de mim! Eu ainda quero viver! Eu ainda quero...

A Cecy adulta, deitada no hospital, começou a murmurar em seu sono. Arthur e as amigas a ouviram, e seus corações apertaram.

– Quero viver... – murmurava ela, as lágrimas escorrendo de seus olhos fechados. – Quero ter filhos... quero... quero envelhecer...

Arthur apertou a mão dela com força, sua própria dor transbordando. – Cecy, você vai viver – sussurrou ele, com a voz embargada. – Eu não vou deixar nada acontecer com você. Eu prometo.

Mas, dentro da mente dela, Cecy estava sozinha no vazio, tentando agarrar as memórias e os sonhos que pareciam escorrer entre seus dedos. – Por favor, não – chorava ela, caindo de joelhos no chão escuro de sua mente. – Eu quero casar. Quero ser mãe. Quero viver até ficar bem velhinha... não pode acabar assim. Não pode.

Do lado de fora, Arthur e as amigas de Cecy choravam silenciosamente, incapazes de conter a dor de vê-la presa em um sofrimento tão profundo, tanto dentro quanto fora de sua mente. A sala estava mergulhada em tristeza, enquanto o monitor cardíaco de Cecy continuava a emitir seu som constante, mas fraco, como se estivesse lutando para acompanhar os últimos fragmentos de esperança que ela ainda mantinha.

Os corredores do hospital pareciam congelados no tempo, como se o mundo tivesse parado de girar. O som do aviso ecoava novamente, cruel e implacável:

"Emergência no quarto 1703, paciente Cecy. Emergência!"

Arthur estava do lado de fora, com as mãos nos bolsos, tentando acalmar a mente que insistia em projetar o pior. Quando ouviu o chamado, sentiu o coração parar. Ele virou para a porta e viu os médicos correrem para dentro do quarto, suas expressões dizendo o que ninguém tinha coragem de verbalizar.

Ele quis entrar, quis fazer alguma coisa, mas não conseguiu se mover. Seus pés estavam enraizados no chão, enquanto sua mente gritava para que ele entrasse, para que não deixasse Cecy sozinha.

– Não... não pode ser – murmurou ele, a voz trêmula.

Jeny, que estava sentada em um banco próximo, levou as mãos ao rosto enquanto soluçava. Mas logo o choro silencioso se transformou em um grito rasgado, cheio de dor. Ela caiu de joelhos, segurando o chão como se pudesse arrancar dali a solução que salvasse Cecy.

– Cecy, por favor, não! Não nos deixe! – gritou ela, a voz ecoando pelo corredor.

Felm, ao lado, segurou o braço de Jeny, mas ao ouvir o som constante dos alarmes vindo do quarto de Cecy, seus joelhos fraquejaram. Ela não conseguiu se manter de pé. Sua visão escureceu, e ela desmaiou no chão, o corpo sendo amparado por uma enfermeira que passava.

Dentro do quarto, o som dos monitores era incessante. Os médicos trabalhavam freneticamente, tentando reanimar Cecy. As compressões torácicas, os choques elétricos, os medicamentos... cada movimento era feito com urgência, mas também com um ar de desespero. Eles sabiam que o tempo estava acabando.

E então, silêncio.

O monitor que antes bipava lentamente agora emitia um som contínuo e agudo. Uma linha reta na tela confirmava o que ninguém queria aceitar. Um dos médicos desligou o desfibrilador e olhou para o relógio antes de anunciar, com a voz pesada:

– Hora da morte: 5h37.

Do lado de fora, a porta se abriu, e o médico saiu, tirando as luvas lentamente. Ele olhou para Arthur, Jeny e Felm, agora sendo acordada por outra enfermeira. Havia um peso insuportável em seus olhos.

– Sinto muito – disse ele, a voz quase um sussurro. – Fizemos tudo o que podíamos, mas ela se foi.

Arthur não respondeu. Ele apenas ficou ali, parado, como se tivesse sido atingido por um raio. O mundo ao seu redor parecia um borrão. Aquelas palavras ecoavam em sua mente: "Ela se foi."

Jeny gritou novamente, dessa vez tão alto que parecia querer alcançar Cecy onde quer que ela estivesse. – Não! Cecy, não! Por favor, volta! Volta pra gente! – Ela socou o chão, seus soluços misturando-se com o eco de seus gritos.

Felm, agora consciente, começou a chorar descontroladamente, abraçando os próprios joelhos enquanto balançava o corpo para frente e para trás. – Isso não é justo. Isso não é justo... – repetia ela, como se dizer isso pudesse mudar algo.

Arthur, por sua vez, deu alguns passos para trás, encostando-se na parede. Ele deslizou até o chão, o olhar vazio, as lágrimas caindo silenciosamente. Seu coração parecia estar sendo esmagado dentro do peito. Ele tentou respirar, mas o ar não vinha.

E então, outro chamado ecoou pelos corredores, cruelmente semelhante ao anterior:

"Emergência no quarto 2020, paciente Miguel."

Jeny, Felm e Arthur ficaram em silêncio por um momento, o peso daquele novo anúncio caindo sobre eles como uma segunda onda de desespero. Arthur fechou os olhos, incapaz de processar a gravidade do que estava acontecendo.

A enfermeira que cuidava de Miguel estava no corredor. Quando ouviu o anúncio, ela parou. Suas mãos tremiam, e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela tirou o jaleco com cuidado e sentou-se em um banco próximo, colocando a mão sobre a cabeça. As lágrimas escorriam livremente pelo rosto enquanto ela murmurava para si mesma: – Isso não é justo. Não é justo.

Naquele instante, o hospital inteiro parecia mergulhado em um manto de tristeza. Duas vidas tão preciosas, tão cheias de esperança, haviam partido quase ao mesmo tempo. Os corredores estavam cheios de soluços, gritos e um silêncio opressor, como se o próprio ar tivesse sido arrancado.

Arthur finalmente soltou um soluço que estava segurando. Ele cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar descontroladamente, o corpo tremendo com a intensidade da dor. Ele sussurrou repetidamente, como uma prece desesperada: – Cecy, volta... por favor, volta...

Do lado de fora, o sol brilhava indiferente, alheio ao sofrimento que consumia todos ali. Dentro do hospital, o mundo parecia ter perdido sua luz. Cecy e Miguel haviam partido, levando consigo os sonhos, as esperanças e o amor de todos que os conheciam. E para aqueles que ficaram, tudo o que restava era o vazio insuportável da perda.

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Comments

Marisa Longhi Becegatto

Marisa Longhi Becegatto

muito triste e chocante p favor ameniza eu sei q é tåo somente uma história

2024-12-17

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