Capítulo 16_10
Na manhã seguinte, o aroma de café fresco, panquecas e frutas enchia a casa. Cecy desceu as escadas, ainda sentindo o peso do cansaço, mas foi recebida por uma visão inesperada: a mesa da cozinha estava repleta de todas as comidas que ela adorava. Pães artesanais, geleias, omeletes, bolos caseiros e até suco de frutas frescas. Era como se fosse um café da manhã de hotel de luxo.
Ela parou no meio da cozinha, olhando para a mesa e para as amigas que estavam ocupadas organizando os últimos detalhes. – Vocês fizeram muita comida hoje – disse, com um sorriso confuso. – É um dia especial?
Jeny, com um sorriso forçado, foi a primeira a responder: – Nós vamos te tratar como uma princesa hoje. Depois de ontem, percebemos que não passamos tempo suficiente com você.
Felm, ao lado, olhou para Cecy com um misto de emoção nos olhos, mas não disse nada.
Cecy franziu a testa, intrigada. – Depois de ontem? – perguntou, com um tom de dúvida. – O que aconteceu ontem? Eu... não me lembro.
As duas trocaram olhares nervosos, mas Jeny respondeu com calma: – Não importa, já passou. O importante é que hoje vamos passar o dia juntas.
Cecy continuou olhando para elas, ainda tentando entender. – E vocês pediram demissão? Como assim? E o futuro de vocês? O que vão fazer agora?
Nesse momento, Felm começou a chorar, sem conseguir se conter. Ela caminhou até Cecy e a abraçou, apertando-a com força. Jeny logo fez o mesmo, e as duas começaram a soluçar baixinho enquanto Cecy, confusa, tentava entender o que estava acontecendo.
– Já passou – disse Jeny, com a voz embargada. – Já pedimos demissão. Isso ficou no passado. Não se preocupe com isso.
Cecy olhou para elas, ainda mais intrigada. – Então... por que vocês estão chorando? – perguntou, olhando de uma para a outra. – Isso é tão estranho.
As amigas tentaram disfarçar, mas seus olhos ainda estavam marejados. – Nada não – disse Felm, forçando um sorriso. – Apenas coma. É tudo que você gosta.
Cecy olhou para a comida na mesa e depois de volta para as amigas. – Vocês têm certeza que são minhas comidas preferidas? – perguntou, franzindo a testa. – Não me lembro disso... que estranho.
As lágrimas começaram a escorrer pelos rostos de Jeny e Felm, mas elas mantiveram os sorrisos, tentando fingir que tudo estava normal. – Só coma, Cecy – disse Jeny, a voz trêmula. – Hoje nós vamos passar o dia juntas. Sem preocupações, tá bom?
Cecy assentiu lentamente, mas não conseguiu ignorar o peso emocional que pairava no ar. Ela se sentou e começou a comer, enquanto suas amigas observavam, fazendo o possível para manter a aparência de normalidade. Embora as palavras não fossem ditas, todas sabiam que aquele momento, aquela mesa cheia de amor e dor, era a tentativa delas de fazer com que o tempo que tinham juntas fosse o mais significativo possível.
Enquanto Cecy e suas amigas estavam saindo, um carro preto e luxuoso parou suavemente na frente da casa. Arthur desceu, elegante como sempre, e caminhou em direção a Cecy. Seu rosto trazia um misto de determinação e ternura.
– Vamos – disse ele, com um tom calmo, mas firme.
As amigas de Cecy começaram a colocar as malas no porta-malas do carro, mas Cecy ficou parada, observando Arthur com olhos cheios de confusão. – Quem é você? – perguntou ela, a voz carregada de dúvida.
Todos pararam o que estavam fazendo. As amigas se entreolharam antes de Jeny responder, com um sorriso nervoso: – Ele é o seu namorado, Cecy.
Cecy franziu a testa, claramente desconectada da situação. – Meu namorado? – repetiu, olhando para Arthur com mais atenção. – Que estranho... eu não me lembro de você.
Arthur não hesitou. Ele se aproximou e, com um sorriso suave, a envolveu em um abraço. – Está tudo bem – disse ele, com a voz baixa e reconfortante. – Eu estou aqui.
Mas Cecy permaneceu rígida, sem retribuir o abraço, enquanto tentava desesperadamente lembrar quem ele era. Seu olhar permanecia distante, e Arthur percebeu isso. Ele a soltou gentilmente, mas não se afastou.
Felm interrompeu o momento, tentando aliviar a tensão. – Vamos, gente, ou vamos chegar tarde lá.
Arthur assentiu, voltando a olhar para Cecy. Ele inclinou-se e deixou um beijo suave em sua testa, como se quisesse transmitir segurança. – Vamos – repetiu, estendendo a mão para ela.
Cecy hesitou, mas depois de olhar nos olhos dele por alguns segundos, sentiu uma familiaridade inexplicável. Relutantemente, pegou na mão dele. Enquanto caminhavam em direção ao carro, ela o observou mais de perto, e algo a fez parar por um instante.
– Você... – começou Cecy, com um leve sorriso. – Alguém já lhe disse que seus olhos são lindos? É como o azul do céu, brilhando como bilhões de estrelas... ou talvez trilhões de estrelas.
Arthur riu baixinho, seus olhos brilhando com ternura. – Já sim – respondeu ele, sem hesitar. – Você.
Cecy corou, surpresa pela resposta dele. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ele continuou, com um tom levemente brincalhão: – Mas... só meus olhos são lindos?
Ela balançou a cabeça, sorrindo timidamente. – Não, sua boca... – começou, mas foi interrompida por Arthur.
Ele inclinou-se rapidamente e a beijou, com firmeza e suavidade, cortando qualquer dúvida que pudesse existir. O beijo foi breve, mas intenso o suficiente para fazer Cecy sentir algo despertar dentro dela. Quando ele se afastou, ela estava vermelha, o coração disparado.
– Como você sabia o que eu ia dizer? – perguntou ela, confusa e envergonhada.
Arthur sorriu, acariciando levemente o rosto dela. – Eu sou seu namorado – disse ele, com um tom divertido e carinhoso. – Eu sei tudo sobre você.
Cecy ficou ainda mais corada, desviando o olhar, enquanto uma sensação de calor se espalhava pelo peito dela. Apesar da confusão em sua mente, havia algo nele que a fazia sentir-se, de alguma forma, segura. Mesmo que ela não conseguisse lembrar, algo em Arthur parecia ser exatamente o que ela precisava naquele momento.
Arthur dirigiu até uma praia isolada, onde o som das ondas parecia ser a única melodia presente. O céu estava azul, e a brisa fresca trazia o cheiro do mar. Assim que desceram do carro, Cecy hesitou, olhando para a paisagem. Ela parecia desconcertada, mas Arthur segurou sua mão, dando um pequeno sorriso.
– Confia em mim – disse ele suavemente.
Ela assentiu, e eles começaram a caminhar pela areia. A princípio, Cecy estava quieta, mas Arthur, determinado a mudar o clima, tirou os sapatos e começou a correr em direção à água.
– Vem, Cecy! – gritou, rindo, enquanto a água tocava seus pés.
Ela o observou por um momento, tentando não sorrir, mas não conseguiu se segurar. Cecy tirou os sapatos e correu atrás dele, sentindo a areia quente sob os pés. Quando alcançou Arthur, ele já estava com as calças arregaçadas, chutando a água como uma criança.
– Você parece uma criança! – disse ela, rindo.
– E você parece uma princesa séria demais – respondeu ele, com um brilho nos olhos. – Precisamos mudar isso.
Antes que ela pudesse responder, Arthur espirrou um pouco de água nela, e Cecy gritou em surpresa. – Arthur! Você não fez isso!
– Fiz, sim – respondeu ele, com um sorriso travesso.
Ela se abaixou e espirrou água de volta nele, e logo os dois estavam rindo e brincando como se o mundo inteiro tivesse desaparecido. Cecy começou a correr pela beira da praia, e Arthur a seguiu, tentando alcançá-la. Quando finalmente a pegou, a levantou no ar e girou, enquanto Cecy ria sem parar.
– Me coloca no chão, Arthur! – disse ela, ainda rindo.
– Só se você prometer que vai sorrir assim para sempre – respondeu ele, colocando-a de volta na areia.
Eles se sentaram na beira do mar depois de um tempo, observando as ondas e deixando o silêncio confortável falar por eles. Arthur pegou um punhado de areia e deixou escorrer pelos dedos.
– Sabia que a areia da praia é feita de bilhões de pedacinhos de conchas quebradas? – disse ele, olhando para Cecy.
– Não fazia ideia – respondeu ela, sorrindo. – Você sempre sabe dessas coisas?
Arthur deu de ombros. – Só queria te impressionar. Funcionou?
– Talvez – respondeu Cecy, dando um pequeno empurrão nele.
Depois de um tempo, ele se levantou e começou a desenhar algo na areia com um pedaço de galho. Cecy, curiosa, se aproximou e viu que ele estava desenhando um coração com o nome dela dentro. Ela riu, cobrindo a boca.
– Isso é tão brega! – disse ela, mas seus olhos brilhavam.
– Brega, mas funciona – respondeu ele, dando de ombros. – Olha só, você está sorrindo.
Cecy balançou a cabeça, mas não conseguiu evitar o sorriso que se alargava em seu rosto. Enquanto o sol começava a se pôr, os dois continuaram andando, sentindo o conforto de estar um ao lado do outro, compartilhando momentos que, de alguma forma, pareciam mágicos.
Arthur parou de repente, segurando a mão dela. – Sabe, Cecy, eu faria qualquer coisa para ver você assim. Feliz.
Ela olhou para ele, surpresa pela sinceridade em sua voz, e sentiu algo se aquecer dentro de si. Sem dizer nada, ela apertou a mão dele, e juntos continuaram caminhando, com o som das ondas acompanhando cada passo.
Enquanto Cecy e Arthur caminhavam pela praia, aproveitando a brisa do mar e o silêncio confortável entre eles, o som de risadas familiares veio à tona. Cecy virou a cabeça e viu Jeny e Felm correndo em direção a eles, ambas descalças e rindo como crianças.
– Achamos vocês! – gritou Jeny, com um sorriso travesso.
– Isso aqui é uma viagem em grupo, não um encontro romântico! – brincou Felm, enquanto corria até Cecy e a abraçava por trás.
Arthur riu e balançou a cabeça, cruzando os braços enquanto as duas amigas se aproximavam. – Vocês não sabem o significado de "dar espaço", sabem? – disse ele, em um tom brincalhão.
Jeny piscou para ele. – Espaço? Com Cecy? Nem pensar. Onde ela vai, a gente vai junto.
Felm assentiu com entusiasmo. – Além disso, temos que garantir que você está tratando nossa amiga como ela merece. Não pense que vai escapar das nossas avaliações!
Cecy riu, sentindo-se cercada por amor e energia positiva. – Vocês são impossíveis – disse ela, sacudindo a cabeça enquanto olhava para Arthur, que sorria para ela, claramente se divertindo.
– Bem, já que estamos todos aqui – disse Arthur, pegando uma pedra lisa do chão e a jogando na água para fazer um "pulo" na superfície –, vamos ver quem consegue fazer a melhor pedra quicar na água.
Jeny arqueou uma sobrancelha, pegando uma pedra para si. – Desafio aceito, Sr. Ricaço.
Felm riu e também se juntou à brincadeira. Logo, todos estavam competindo, rindo de forma despreocupada enquanto tentavam superar uns aos outros. Cecy, que a princípio hesitou, acabou participando também, rindo alto toda vez que uma pedra afundava imediatamente ou fazia um salto desajeitado.
– Vocês são péssimos nisso – disse Arthur, rindo, depois de um arremesso perfeito.
– Você é péssimo! – retrucou Jeny, atirando areia nele como vingança.
O grupo acabou caindo na areia, rindo tanto que seus estômagos doíam. Cecy se sentiu tão leve, tão feliz naquele momento, que quase esqueceu tudo o que a preocupava. Felm, ainda deitada na areia, virou-se para Cecy.
– Você deveria sorrir assim mais vezes – disse ela suavemente. – Esse sorriso te faz brilhar.
Jeny assentiu, apoiando-se nos cotovelos. – É verdade. Estamos tão felizes de ver você assim. Já estava na hora, né?
Cecy olhou para as amigas, sentindo as lágrimas ameaçarem cair, mas desta vez de gratidão. – Vocês... – começou, mas não conseguiu terminar. Apenas sorriu, balançando a cabeça.
Arthur observava tudo de perto, com um sorriso satisfeito. – E agora, o que acham de um mergulho? – sugeriu ele, já se levantando.
Jeny e Felm gritaram de animação e correram em direção ao mar, enquanto Cecy ficou parada por um momento, observando o trio com um misto de amor e admiração. Arthur se virou e estendeu a mão para ela.
– Vamos? – perguntou, com aquele sorriso caloroso.
Cecy pegou a mão dele, sentindo o calor do toque, e respondeu: – Vamos.
E, juntos, correram em direção à água, rindo e gritando como crianças, deixando que o som das ondas e a alegria do momento apagassem qualquer dor ou preocupação, ainda que apenas por algumas horas.
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