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Capítulo 16_13

Cecy estava sozinha no quarto, cercada pelos aparelhos que monitoravam cada instante de sua luta silenciosa. A luz fraca da lua entrava pela janela, iluminando seu rosto pálido e magro. Apesar de todo o peso que carregava, ela tinha um pequeno sorriso nos lábios. Ela sabia que o fim estava próximo, mas, naquele momento, as memórias a inundavam como uma onda suave.

Sua mente voltou ao dia em que conheceu Arthur. Ela estava em um bar, tentando afogar a tristeza com um copo na mão. Ele apareceu de repente, com seu jeito arrogante e uma confiança irritante. Ela lembrou de como ele insistiu em fazer brigadeiro para animá-la e de como isso a fez rir, mesmo contra sua vontade.

– Arthur... – sussurrou, olhando para o teto. – Você me fez acreditar no amor... mesmo que eu tenha tentado negar.

Ela fechou os olhos, permitindo que a memória mudasse. Lembrou-se de Jeny e Felm, de como sempre estiveram ao seu lado. As risadas compartilhadas durante as madrugadas, os conselhos cheios de amor, as brigas bobas que sempre terminavam em abraços.

– Minhas irmãs... – murmurou, com um sorriso fraco. – Vocês me deram uma família. Vocês me deram tudo.

Ela respirou fundo, sentindo o cansaço se espalhar por cada fibra de seu corpo. As imagens felizes continuaram a passar pela sua mente: as brincadeiras na praia, o brilho nos olhos de Miguel quando ganhou o urso, o dia em que Arthur a beijou pela primeira vez. Cada memória parecia um tesouro que ela guardava no coração.

– Obrigada... – disse, a voz quase um sussurro. – Obrigada por me darem tantos momentos lindos... por me amarem.

Uma única lágrima escorreu pelo canto de seu olho enquanto ela olhava para o teto, sentindo a escuridão começar a se aproximar. Seu corpo estava fraco, mas sua mente ainda resistia, tentando se agarrar à luz que restava.

– Eu só queria... mais tempo – murmurou, com um sorriso triste. – Mas... está tudo bem. Eu tive vocês.

Seus olhos começaram a se fechar lentamente, e a luz ao seu redor parecia diminuir. O som do bip dos aparelhos começou a desacelerar, como uma melodia que chegava ao fim.

– Obrigada... – foi a última coisa que disse antes que o silêncio tomasse conta do quarto.

A escuridão a envolveu suavemente, como um cobertor, enquanto as vozes nos corredores e os bips dos aparelhos pareciam desaparecer. Cecy partiu com um sorriso nos lábios, deixando para trás apenas o som do monitor emitindo sua linha reta – um som que ecoava a despedida de uma alma que havia amado e sido amada.

Alguns meses haviam se passado desde a morte de Cecy, mas o vazio que ela deixou continuava presente. Em uma tarde chuvosa, enquanto Jeny e Felm estavam organizando os pertences de Cecy, encontraram uma pequena caixa, trancada com uma fita amarela. Dentro dela, havia um pen drive. Curiosas e com o coração pesado, elas conectaram o dispositivo a um computador e encontraram um único arquivo de vídeo com o título: "Para vocês."

As duas começaram a chorar imediatamente, mas sabiam que não poderiam assistir aquilo sozinhas. Elas ligaram para Arthur, que chegou em poucos minutos, ansioso e temeroso ao mesmo tempo.

Quando ele entrou, Jeny explicou: – Achamos isso entre as coisas dela. É... para nós. Você precisa ver.

Com o coração acelerado, Arthur se sentou entre elas. Jeny apertou o play, e o rosto de Cecy apareceu na tela, sorrindo com aquele brilho que todos eles conheciam tão bem. Ela estava sentada em um banco de madeira, provavelmente no jardim de casa, com flores amarelas ao fundo. Sua aparência era mais saudável, de antes da doença ter consumido sua força.

– Então... esse é o tão falado amor – começou Cecy, com um sorriso tímido, seus olhos brilhando com ternura. – Sempre achei que o amor fosse algo complicado, algo que talvez nunca encontrasse. Mas eu encontrei. Em vocês.

Ela fez uma pausa, olhando diretamente para a câmera, como se pudesse ver seus rostos.

– Jeny, você sempre foi a líder do grupo. A que sabia o que dizer, o que fazer, e sempre nos guiava quando estávamos perdidas. Eu sei que às vezes fui teimosa, que não segui seus conselhos, mas quero que saiba que eu te admirava. Eu te amava como uma irmã mais velha que eu nunca tive. Obrigada por tudo... por sempre estar lá. Me perdoa por não ter dito isso o suficiente.

Jeny levou as mãos à boca, soluçando baixinho enquanto Felm a segurava. Na tela, Cecy continuou.

– Felm... minha Felm. Você sempre foi o coração do nosso trio. Sempre doce, sempre cheia de carinho. Quantas vezes me fez rir quando eu estava prestes a chorar? Quantas vezes seu abraço foi tudo que eu precisava? Eu espero que você nunca perca essa luz que tem dentro de você, mesmo nos dias mais difíceis. Obrigada por tudo... e me perdoa por ter te deixado tão cedo.

Felm começou a chorar descontroladamente, enquanto Arthur permanecia em silêncio, com os olhos fixos na tela. Cecy olhou diretamente para a câmera, e seu tom mudou, ficando mais suave.

– Arthur... – disse ela, respirando fundo, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado. – Desde o dia em que você apareceu na minha vida, tudo mudou. Eu lembro do seu olhar, tão sério, tão cheio de orgulho. Eu pensei: 'Quem é esse cara? Ele acha que pode entrar no meu mundo?' E, bem... você entrou. E ficou.

Ela sorriu, com os olhos brilhando de emoção. – Eu sempre te amei, Arthur. Sempre. Mesmo quando tentei negar, mesmo quando fui teimosa e difícil. Você foi o meu porto seguro, minha alegria nos momentos mais sombrios. Você foi tudo para mim.

Arthur segurava as lágrimas, mas elas escapavam lentamente. Cecy fez uma pausa, olhando para baixo antes de voltar a encarar a câmera.

– Eu quero que você viva, Arthur. Quero que seja feliz, que encontre alegria novamente, mesmo que eu não esteja ao seu lado. Quero que vocês três – Arthur, Jeny, Felm – se lembrem de mim com amor, com sorrisos, não com tristeza.

Ela respirou fundo novamente, como se quisesse gravar aquelas palavras na alma deles.

– Obrigada... por tudo. Por me amarem, por me darem os melhores momentos da minha vida. Eu amo vocês. E sempre vou amar.

O vídeo terminou com Cecy olhando para a câmera, sorrindo, enquanto uma lágrima escorria pelo seu rosto. A tela ficou escura, mas o impacto de suas palavras permaneceu no ar.

Arthur finalmente desabou, chorando de forma descontrolada, enquanto Jeny e Felm o abraçavam. Todos estavam unidos novamente, como Cecy queria, enquanto suas palavras ecoavam em seus corações, trazendo tanto dor quanto um consolo inesperado. Cecy havia partido, mas, naquele momento, ela parecia tão presente quanto sempre esteve.

Depois de assistirem ao vídeo, o silêncio dominou a sala por longos minutos. As lágrimas ainda marcavam o rosto de todos, mas havia também um sentimento de conexão, como se Cecy, de alguma forma, os tivesse reunido novamente.

Arthur, com a voz rouca e baixa, quebrou o silêncio. – E vocês? – perguntou, olhando para Jeny e Felm. – O que vão fazer agora? Quero dizer... da vida.

Jeny olhou para ele, enxugando as lágrimas e tentando compor um sorriso. – Eu recebi uma bolsa de estudos para estudar fora do país. Sempre foi meu sonho, e... eu sinto que Cecy gostaria que eu aceitasse.

Arthur assentiu lentamente, apertando os lábios enquanto tentava processar a informação. – Isso é... incrível, Jeny. Ela ficaria muito orgulhosa de você.

Felm, que até então permanecia em silêncio, respirou fundo antes de falar. – Eu vou voltar para o interior, para a casa dos meus pais. Acho que preciso de um tempo para me recuperar, para me encontrar de novo. Tudo aqui me lembra dela, e isso está me destruindo.

Arthur olhou para ela, sua expressão suavizando. – Cecy entenderia. Ela só quer que você fique bem.

Felm assentiu, os olhos marejados, enquanto Jeny colocava a mão no ombro dela. – E você, Arthur? – perguntou Felm, com a voz baixa. – O que você vai fazer?

Arthur hesitou por um momento, olhando para o chão. – Não sei – admitiu. – Eu sinto que não tenho nada. Cecy era... tudo.

As amigas de Cecy trocaram olhares preocupados, mas sabiam que, por mais que quisessem ajudar, Arthur teria que encontrar seu caminho sozinho. Depois de um longo silêncio, ele se levantou, murmurou algo sobre precisar de ar e saiu.

Horas mais tarde, Arthur estava sentado no fundo de um bar, em um canto escuro e solitário. Uma garrafa de uísque estava pela metade em sua frente, e ele segurava um copo quase vazio com as mãos trêmulas. O ambiente ao redor era barulhento, mas para Arthur, tudo parecia abafado, como se ele estivesse preso em uma bolha de dor.

Ele olhava para o copo, as lágrimas escorrendo silenciosamente pelo rosto. Cada gole parecia um esforço para anestesiar o que sentia, mas a dor nunca ia embora. A imagem de Cecy, seu sorriso, suas últimas palavras no vídeo, continuavam presentes, como se estivessem gravadas em sua mente.

– Por que você me deixou? – sussurrou para si mesmo, a voz cheia de desespero. – Por que você teve que ir?

Um garçom passou perto dele e hesitou, observando o estado de Arthur. – Tudo bem, senhor? Quer que eu chame alguém?

Arthur balançou a cabeça, sem olhar para o homem. – Só... mais uma dose – murmurou.

O garçom suspirou, mas trouxe o pedido. Arthur continuou ali, perdido em sua dor, os pensamentos cada vez mais sombrios. Ele lembrou-se de como Cecy costumava segurá-lo, de como ela o fazia sentir que o mundo era um lugar melhor. Agora, sem ela, tudo parecia vazio.

Ele fechou os olhos, tentando apagar as imagens que sua mente insistia em projetar. Mas, mesmo na escuridão de seus pensamentos, o sorriso de Cecy ainda estava lá, como um farol em meio à tempestade. – Eu não sei como viver sem você – murmurou, antes de terminar mais um copo.

A noite continuou, e Arthur permaneceu no bar, preso entre o passado e um futuro que ele não conseguia imaginar.

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Comments

Roseli Bossa Galante Ferreira

Roseli Bossa Galante Ferreira

autora....não consigo parar de chorar...nossa!!!

2024-12-16

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