Capítulo 16_15
Arthur tinha se tornado uma lenda viva. Aos 70 anos, ele era conhecido como o maior cientista do mundo, um homem que havia dedicado sua vida à cura de doenças incuráveis. Seu trabalho havia salvado milhões de vidas, mas, por trás de todo o reconhecimento, ele ainda carregava um vazio profundo no peito.
Naquele dia, ele estava sentado em sua sala de aula na universidade onde lecionava, explicando para uma turma de jovens cientistas a importância de nunca desistirem, mesmo diante das maiores adversidades. Suas palavras tinham peso, porque vinham de alguém que conhecia o significado de lutar contra a dor.
Após a aula, uma jovem estudante se aproximou dele. Ela era tímida, mas havia algo em seus olhos que lembrava Arthur de Cecy.
– Professor – começou ela, com hesitação. – Posso fazer uma pergunta pessoal?
Arthur ergueu os olhos, tirando os óculos e limpando-os com calma. – Claro, minha jovem. Pergunte o que quiser.
– É verdade que o senhor ainda ama aquela mulher de quem sempre fala? – disse ela, com um tom curioso, mas respeitoso. – Depois de tantos anos, ainda pensa nela?
Arthur parou por um momento, olhando para o nada, como se estivesse mergulhando em suas memórias. Um sorriso melancólico apareceu em seu rosto.
– Sim – respondeu ele, com a voz baixa, mas firme. – Nunca consegui superar Cecy.
A garota pareceu intrigada. – Mas... já se passaram 40 anos. O senhor nunca se apaixonou novamente por ninguém?
Arthur riu suavemente, um som cheio de tristeza e aceitação. Ele olhou para a garota, seus olhos azuis ainda brilhando com o mesmo brilho que Cecy havia admirado tanto.
– Não – respondeu ele, balançando a cabeça. – Nunca me apaixonei por mais ninguém. E sabe por quê? Porque, talvez, esse seja o amor que tantos livros de romance falam. Um amor que não acaba, que permanece vivo, mesmo quando a pessoa que você ama não está mais ao seu lado.
A jovem estudante ficou em silêncio, tocada pela profundidade das palavras de Arthur. Ele continuou, olhando para o horizonte como se pudesse ver Cecy ali.
– Cecy foi, e sempre será, a luz da minha vida. Cada descoberta, cada remédio, cada aula que dou... tudo é para ela, de certa forma. É minha maneira de mantê-la viva, mesmo depois de todos esses anos.
Arthur voltou a colocar os óculos, levantou-se com um pouco de dificuldade e sorriu para a aluna.
– Agora vá, minha jovem – disse ele gentilmente. – O mundo precisa de mais pessoas como você, curiosas e cheias de vida. E, quem sabe, um dia você encontrará um amor que a inspire tanto quanto Cecy me inspirou.
A garota assentiu, emocionada, e deixou a sala.
Arthur estava sentado em sua sala, revisando algumas anotações após a aula, quando ouviu uma batida leve na porta. Ele ergueu os olhos e viu um jovem estudante, nervoso, com as mãos nos bolsos e os olhos fixos no chão. Arthur gesticulou para que ele entrasse.
– Entre, meu rapaz. O que posso fazer por você? – perguntou Arthur, com sua voz calma e acolhedora.
O estudante hesitou por um momento antes de falar. – Professor... posso falar com o senhor sobre algo pessoal?
Arthur sorriu gentilmente e indicou a cadeira à frente de sua mesa. – Claro. Fique à vontade.
O jovem se sentou e começou a mexer nos dedos, claramente ansioso. – É que... há uma garota. Eu gosto muito dela. Muito mesmo. Mas... – Ele suspirou profundamente. – Eu não consigo dizer isso a ela. Tenho medo de ser rejeitado, de estragar tudo.
Arthur ficou em silêncio por um momento, observando o garoto. Ele viu algo familiar nele – a insegurança, o medo de arriscar. Era como se estivesse olhando para si mesmo, décadas atrás.
– Deixe-me te contar uma história, meu jovem – começou Arthur, tirando os óculos e olhando para o nada, como se revivesse memórias distantes. – Quando eu tinha a sua idade, conheci uma mulher chamada Cecy. Ela era tudo para mim: inteligente, gentil, cheia de vida. Mas, por algum motivo, eu nunca tive coragem de dizer a ela o que sentia.
O garoto ficou intrigado e perguntou: – Por que, professor? Por que o senhor não disse?
Arthur riu baixinho, mas havia tristeza em sua voz. – Medo. Medo de não ser suficiente para ela, medo de estragar o que tínhamos. Eu ficava preso nas minhas inseguranças, esperando pelo momento perfeito. Só que o momento perfeito nunca chega.
Ele fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar. – Quando finalmente tive coragem, ela já estava partindo... e eu percebi que havia perdido tanto tempo precioso com ela. Cecy me amava, sabe? Mesmo sem eu dizer, ela sabia. Mas eu nunca disse isso antes de ser tarde demais.
Arthur olhou diretamente para o garoto, seus olhos azuis brilhando com intensidade. – Não cometa o mesmo erro que eu. A vida é curta, meu rapaz. Muito mais curta do que pensamos. Se você gosta dela, diga. Se ela aceitar, ótimo. Se não, pelo menos você saberá que tentou. O arrependimento de não tentar é muito pior do que o medo de uma rejeição.
O estudante ficou em silêncio, absorvendo as palavras do professor. Depois de um tempo, ele assentiu. – Obrigado, professor. Eu acho que... eu precisava ouvir isso.
Arthur sorriu suavemente. – Vá, meu jovem. A coragem é a única coisa que separa um desejo de uma realidade.
O garoto se levantou e saiu da sala, com mais determinação no olhar. Arthur permaneceu sentado, perdido em pensamentos. Ele sabia que o passado não podia ser mudado, mas, ao ajudar aquele estudante, sentiu como se estivesse dando um pequeno passo para redimir seus próprios arrependimentos.
Enquanto olhava para a janela, ele murmurou para si mesmo: – Cecy, se eu pudesse voltar no tempo... Mas sei que você me perdoaria por ser o tolo que fui.
E, com um sorriso melancólico, ele voltou ao trabalho, mais uma vez tentando usar as lições de sua vida para iluminar o caminho de outros.
Arthur saía da universidade ao final de mais um longo dia. O céu estava tingido por tons de laranja e rosa enquanto ele caminhava lentamente pelos corredores até a saída. Ao passar pelo jardim, ele viu uma cena que o fez parar. Ali, sob a sombra de uma árvore, estava o jovem estudante que havia pedido seu conselho mais cedo. Ele segurava a mão de uma garota, ambos sorrindo timidamente antes de ele se inclinar e beijá-la.
Arthur não pôde evitar um sorriso sincero. – Então ele conseguiu – murmurou para si mesmo, balançando a cabeça com uma mistura de orgulho e nostalgia. Ele continuou andando, as mãos nos bolsos, sentindo o peso de suas próprias memórias.
Quando chegou perto de casa, seu telefone tocou. Ele olhou para a tela e viu um nome que trouxe uma onda de sentimentos mistos: Jeny. Ele atendeu com a voz calma de sempre.
– Jeny, que surpresa. Como você está? – perguntou, enquanto diminuía o passo.
– Estou bem, Arthur. E você? – respondeu ela, com o tom animado de sempre. – Na verdade, liguei porque queria te convidar para o meu aniversário. Vai ser uma coisa simples, só para alguns amigos e a família. Acho que seria bom termos um tempo juntos, como antigamente.
Arthur sorriu, embora soubesse que Jeny não podia vê-lo. – É claro que estarei lá. É sempre bom ver você, Jeny. E Felm vai?
Houve uma pequena pausa antes de ela responder. – Felm está morando no interior, como você sabe, mas disse que vai tentar vir. Seria incrível se todos nós pudéssemos nos reunir novamente.
Arthur concordou, a nostalgia começando a crescer em seu peito. – Seria mesmo. Me mande os detalhes, e eu estarei lá.
Depois de desligar, ele ficou parado por um momento, olhando para o horizonte. Era raro ele ser convidado para algo social. Desde a morte de Cecy, ele havia se afastado de muitas coisas, preferindo a companhia de suas memórias. Mas talvez fosse hora de revisitar o passado de outra maneira – celebrando a vida e as conexões que ainda tinha.
Ele continuou andando em direção a casa, pensando em Cecy e em como ela teria ficado feliz em vê-los juntos, compartilhando risadas e histórias. Embora o vazio ainda estivesse ali, naquela noite, Arthur sentiu um pequeno calor no coração. Talvez ele não pudesse mudar o passado, mas poderia valorizar o presente, mesmo que fosse carregado de saudade.
A reunião do trio aconteceu em um ambiente mais tranquilo e acolhedor, longe das celebrações animadas de antigamente. Os gêmeos, Miguel e Cecy, agora adultos, estavam na sala conversando com outros familiares, enquanto Jeny, Felm e Arthur se sentaram em um canto da varanda iluminada pelas luzes suaves da noite. A conversa entre eles fluía com nostalgia, mas também com o peso da ausência de Cecy.
Jeny, já acostumada ao papel de anfitriã, começou com um sorriso leve, embora melancólico. – É estranho... ver Miguel e Cecy tão crescidos. Às vezes, sinto como se ela estivesse aqui, vendo tudo isso acontecer. Acho que ela estaria tão orgulhosa.
Arthur assentiu, olhando para a sala onde os gêmeos conversavam animadamente. – Eles têm algo dela, não têm? Miguel tem aquele brilho nos olhos que me lembra as piadas dela. E Cecy... bem, só o nome já é uma homenagem perfeita.
Felm, mais reservada, mexia na borda de sua taça. – Toda vez que ouço o nome dela... é como uma pequena facada no coração. Não de dor, mas de saudade. Ela faz tanta falta. Mesmo depois de todos esses anos.
Arthur suspirou profundamente, os olhos fixos no horizonte. – Felm, a falta que ela faz nunca vai desaparecer. Eu sei disso mais do que ninguém. – Ele fez uma pausa, e sua voz ficou mais grave. – Ainda penso nela todos os dias. Não há um momento em que não me pergunte como teria sido se eu tivesse tido coragem naquele tempo. Se eu tivesse dito o que sentia mais cedo, talvez... talvez tivéssemos vivido mil maravilhas.
Jeny inclinou-se para frente, colocando a mão no ombro dele. – Arthur, você sabe que Cecy sempre soube. Mesmo que você não tenha dito desde o começo, ela sentia isso. O amor de vocês... não precisava de tantas palavras. Estava lá, nos gestos, nos olhares.
Arthur deu um sorriso triste. – Sim, mas eu aprendi tarde demais. Eu me declarei quando ela já estava partindo... quando o tempo já não era mais nosso amigo.
Felm olhou para Arthur, seus olhos marejados. – Você não foi o único a sentir que não fez o suficiente. Eu me arrependo todos os dias de não ter estado mais presente. De não ter dito o quanto ela significava para mim enquanto ainda havia tempo.
Jeny interveio, a voz cheia de emoção, mas firme. – E ainda assim, nós estamos aqui. Estamos juntos, porque ela nos uniu. Porque Cecy nunca deixou que a dor nos afastasse. Ela sabia que o amor dela seria a força que nos manteria conectados, mesmo depois que ela partisse.
Os três ficaram em silêncio por um momento, olhando para os gêmeos na sala. Miguel estava rindo de algo que Cecy havia dito, e a semelhança com a mãe deles era inegável.
Arthur finalmente quebrou o silêncio. – Ela estaria tão orgulhosa. Miguel e Cecy... eles são o legado dela. E vocês duas... vocês são a razão pela qual ainda consigo encontrar paz, mesmo nos dias mais difíceis.
Jeny sorriu, enxugando uma lágrima. – Cecy nunca foi apenas uma amiga. Ela era nossa família. E, de certa forma, ainda é.
Felm assentiu, sua voz suave. – Sim. Ela ainda é.
Eles brindaram silenciosamente, em homenagem a Cecy, enquanto uma leve brisa atravessava a varanda, como se ela estivesse ali, compartilhando aquele momento com eles. E naquele instante, todos sentiram que, apesar do tempo e da distância, o amor que Cecy havia cultivado ainda florescia em cada um deles, nas histórias que contavam e nas vidas que seguiam em frente.
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