Capítulo 16_16
Arthur se levantou lentamente da cadeira, ajustando o casaco enquanto olhava para Jeny e Felm. Seu semblante estava sério, mas havia um brilho sutil em seus olhos, uma mistura de nostalgia e determinação.
– Vamos até o túmulo de Cecy – disse ele, com a voz firme, mas carregada de emoção.
Jeny e Felm trocaram olhares, ambas sentindo o peso do momento. Felm pegou sua bolsa enquanto Jeny buscava as chaves do carro. Nenhuma delas falou muito, mas o silêncio não era vazio – estava cheio de memórias compartilhadas, risos e lágrimas do passado.
Todos entraram no carro, com Arthur ao volante. Ele colocou as mãos no volante e suspirou antes de ligar o motor. O som do carro quebrava o silêncio da noite, enquanto a estrada à frente parecia mais longa do que nunca.
Jeny, sentada no banco do passageiro, olhou para Arthur. – Você está bem para dirigir, Arthur? – perguntou, preocupada.
Ele apenas assentiu, sem tirar os olhos da estrada. – Estou bem. Quero fazer isso. Quero levar vocês até ela.
Felm, no banco de trás, olhava pela janela, observando as luzes da cidade que começavam a desaparecer enquanto entravam em uma estrada mais tranquila. – Lembra quando fizemos aquela viagem com Cecy para o interior? Ela insistiu em parar em cada campo de flores que via – disse, rindo suavemente, mas com lágrimas nos olhos.
Jeny sorriu, olhando para trás. – Como esquecer? Ela nos fez tirar tantas fotos que passamos horas tentando escolher as melhores. E no final, Cecy dizia que todas eram perfeitas porque estávamos juntas.
Arthur ouviu em silêncio, um sorriso melancólico nos lábios. Ele apertou um botão no rádio e, por coincidência ou destino, a música preferida de Cecy começou a tocar. Todos ficaram em silêncio por um momento, absorvendo a melodia que parecia trazer Cecy de volta, mesmo que por um instante.
– Essa música... – começou Jeny, a voz tremendo. – Essa era a música que Cecy amava! – disse Jeny, rindo enquanto aumentava o volume. – Vamos cantar com força, como ela faria.
Arthur sorriu, balançando a cabeça, mas começou a cantar junto com elas. A intensidade da música, os risos e a alegria momentânea eram como um refúgio da saudade. Parecia que, por um breve instante, Cecy estava ali com eles.
Mas, de repente, a estrada foi tomada por uma luz ofuscante. Os faróis de um caminhão apareceram do nada, vindo na direção deles. Arthur tentou virar o volante, mas tudo aconteceu rápido demais. Um som estrondoso e o impacto silenciaram a música, os risos e as vozes.
Arthur abriu os olhos lentamente. O que ele viu o deixou sem fôlego: um campo infinito de flores amarelas se estendia até onde a vista alcançava. O céu era de um azul cristalino, e a brisa suave carregava o perfume das flores. Ele olhou para o lado e viu Jeny e Felm, mas algo estava diferente. Elas estavam jovens novamente, suas aparências radiantes como eram décadas atrás. Ambas tinham expressões de surpresa e alegria, como se soubessem exatamente onde estavam.
– Onde... onde estamos? – murmurou Arthur, levantando-se com dificuldade.
Antes que pudessem responder, eles ouviram uma risada suave ao longe. Uma figura vestida de branco caminhava lentamente em sua direção. O cabelo dela brilhava sob a luz dourada, e seu sorriso era inconfundível.
– Cecy... – sussurrou Felm, com lágrimas nos olhos, antes de começar a correr em direção à figura.
– Cecy! – gritou Jeny, seguindo Felm com a mesma emoção.
Arthur ficou parado por um momento, incapaz de processar o que via. Então, com as pernas trêmulas, começou a caminhar em direção à figura. A cada passo, seu coração parecia mais leve, como se todo o peso que carregara por anos estivesse desaparecendo.
Cecy parou, esperando por eles, com os braços abertos e o mesmo sorriso que Arthur havia guardado em sua memória por tanto tempo. Quando ele finalmente chegou perto dela, ela disse, com uma voz suave e calorosa:
– Vocês demoraram.
Arthur sorriu, com lágrimas nos olhos. – Não podíamos nos apressar... sabíamos que você estaria esperando.
Cecy riu e estendeu a mão para ele. Quando ele a segurou, todo o vazio, a dor e a saudade desapareceram. Eles estavam juntos novamente, e naquele lugar de flores amarelas, o tempo não existia mais. Era o fim de uma longa jornada, mas também o começo de algo eterno.
Se você está lendo isso, talvez seja porque minha história tocou seu coração de alguma forma. E, se for esse o caso, sinto que ainda tenho algo a dizer. Algo que não pude compartilhar em vida, mas que sempre esteve dentro de mim, pulsando como um segredo sussurrado pelo vento.
Eu passei pela vida carregando sonhos como estrelas em um céu escuro. Sonhos de amor, de alegria, de família, de amizades que fossem eternas. Mas a vida tem uma maneira peculiar de nos lembrar de que o tempo é precioso, de que cada segundo é uma chance única que nunca voltará. A doença roubou o meu futuro, mas não roubou a essência do que vivi. Cada momento que tive, cada sorriso que dei ou recebi, foi uma vitória contra o esquecimento.
Muitas vezes, estamos tão ocupados planejando o amanhã que esquecemos de viver o hoje. Nos preocupamos com o que as pessoas pensam, com os erros que cometemos, com o medo de nos expor, e acabamos nos fechando para as coisas mais simples e belas que a vida nos oferece.
Eu aprendi da forma mais dura que a vida não nos dá garantias. Não sabemos quanto tempo temos, mas sabemos que temos o agora. É por isso que, se pudesse deixar um único conselho, seria este: ame. Ame com todas as forças. Ame seus amigos, sua família, as pessoas que cruzam o seu caminho. Ame, mesmo quando estiver com medo, mesmo quando houver dúvidas. Porque o amor é a única coisa que deixamos para trás, e a única coisa que nos mantém vivos na memória daqueles que ficam.
Eu amei, mesmo quando a dor parecia insuportável. Amei as pequenas coisas – o cheiro das flores amarelas, o som das risadas dos meus amigos, o brilho dos olhos de Arthur quando ele olhava para mim, mesmo que ele não dissesse nada. Amei, mesmo sabendo que meu tempo estava acabando. Porque o amor não é sobre quanto tempo você tem; é sobre como você usa esse tempo para deixar marcas em quem você ama.
E agora, onde quer que eu esteja, sei que meu amor ainda vive. Em cada lembrança, em cada sorriso que vocês compartilham, em cada vez que vocês escolhem viver intensamente, como se cada momento fosse o último.
Não espere. Não espere para dizer a alguém que o ama. Não espere para realizar um sonho. Não espere para sorrir, para perdoar, para se perdoar. A vida não espera por ninguém, e é isso que a torna tão preciosa.
Se eu pudesse, abraçaria cada um de vocês e diria o quanto a vida é bela, mesmo nas dores, mesmo nas perdas. Porque viver é um ato de coragem, e amar é o maior presente que podemos nos dar.
Então, vá. Viva. Ame. Faça a vida valer a pena, por você e por aqueles que, como eu, já partiram, mas nunca deixaram de acreditar no poder do amor.
Com todo o meu coração,
Cecy. ❤️_09_12_1998
✝️_17_03_2020
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Comments
Roseli Bossa Galante Ferreira
Lindo demais!!!! Sem palavras....aliás, uma só palavra....Obrigada!!
2024-12-16
1
Ivone Fabro
triste e lindo amei cada capítulo um grande aprndisado
2024-12-17
2