Capítulo 16_5
Os dias passaram devagar para Cecy, cada um mais pesado que o anterior. O dia da primeira sessão de fisioterapia chegou, e ela sentia o coração apertado de medo enquanto caminhava para a clínica. O ambiente era frio, impessoal, com cheiros que só aumentavam sua ansiedade. Assim que foi chamada, o médico a conduziu a uma sala e a olhou com uma expressão neutra.
– Você tem algum acompanhante, senhorita Forrm? – perguntou ele, ajustando alguns papéis.
Cecy hesitou por um momento, sentindo o nó na garganta apertar. – Não – respondeu, a voz baixa. – Estou sozinha.
O médico pareceu surpreso, mas continuou. – Nesse caso, preciso de um número de emergência. Alguém que possamos contatar, caso necessário.
Ela ficou em silêncio por um momento, então inventou um número qualquer, entregando-o ao médico. Ele anotou sem questionar, e logo a sessão começou. Deitada na maca, Cecy olhava fixamente para o teto. A dor física não era tão ruim quanto ela temia, mas o peso emocional era esmagador. Lágrimas começaram a escorrer silenciosamente pelo rosto enquanto a realidade de sua situação batia mais forte do que nunca.
Ela estava perdida em seus pensamentos quando o celular vibrou ao lado dela. A enfermeira permitiu que ela verificasse a mensagem. Era de Arthur.
"Preciso ver você imediatamente. É importante."
Cecy fechou os olhos, tentando controlar a irritação que sentiu ao ler aquelas palavras. Ela respondeu rapidamente:
"Não posso. Estou ocupada."
A resposta veio quase que imediatamente.
"Eu estou lhe pagando para isso."
Ela largou o celular sobre a maca, o peito apertado de frustração. Não respondeu mais nada, mas as palavras dele ecoaram em sua mente como um lembrete cruel da realidade em que estava presa. Ela murmurou baixinho, para ninguém além de si mesma:
– Maldito acordo. Maldito tumor. Maldita vida.
As lágrimas continuaram escorrendo, silenciosas e persistentes, enquanto o tratamento prosseguia. Cecy sabia que não tinha escolha além de seguir em frente, mas, naquele momento, tudo parecia um ciclo interminável de dor e sacrifício.
Cecy estava perdida em seus pensamentos quando sentiu uma mãozinha tocar suavemente o seu braço. Virou a cabeça e viu um garotinho de aproximadamente cinco anos, com olhos brilhantes e um sorriso doce.
– Por que você está chorando? – perguntou ele, com a inocência de quem ainda não entende o peso do mundo. – Minha mãe disse que, se você fizer os tratamentos direitinho, já já vai ficar curada. Então não chora, tá bom?
O pequeno sorriu para ela, e Cecy sentiu algo se quebrar dentro de si. Era uma mistura de ternura e tristeza ao ver a confiança e a esperança no rosto do menino.
– Eu cuido de você aqui, tá? Vou ser seu amigo – acrescentou ele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Antes que Cecy pudesse responder, uma enfermeira entrou na sala, sorrindo gentilmente para ela. – Senhorita Forrm, você já pode ir. Por favor, descanse o resto do dia e evite fazer esforço.
Cecy se sentou devagar, ainda sentindo os efeitos do tratamento. Mas antes de sair, olhou para o garotinho novamente e perguntou: – Quem é ele?
A expressão da enfermeira mudou. Seu sorriso desapareceu, substituído por um olhar triste e resignado. – Ele é o Miguel. Está aqui há três anos fazendo fisioterapia. Ele tem tanta esperança de que vai ser curado um dia. – A enfermeira tentou sorrir novamente, mas seus olhos ficaram marejados.
Cecy franziu o cenho. – E por que você não tem a mesma esperança? – perguntou, quase sem perceber.
A enfermeira respirou fundo, segurando as lágrimas que insistiam em cair. – Se eu pudesse, trocaria de lugar com ele. Deve doer muito o que ele sente, mas mesmo assim ele continua cheio de fé e esperança. Ele traz alegria para todos aqui. – Sua voz falhou por um momento antes de continuar: – Mas o estado dele não tem melhorado durante esses meses. Apesar disso, ele não desiste. Continua acreditando, como se soubesse algo que nós não sabemos. Às vezes... – ela desviou o olhar, enxugando uma lágrima que escorreu. – Às vezes me pergunto onde está Deus nesse momento. Como Ele pode deixar uma criança tão pequena passar por isso?
Cecy olhou para Miguel novamente. Ele brincava com um carrinho de plástico, rindo sozinho enquanto imaginava alguma aventura. A visão dele, tão cheio de vida apesar da gravidade de sua situação, fez algo se agitar dentro dela. Talvez fosse culpa, talvez fosse inspiração. Não tinha certeza.
Ela respirou fundo, segurando sua própria tristeza por um momento. – Talvez... – murmurou, quase para si mesma. – Talvez Ele esteja justamente ali, naquela esperança que ele tem. Porque, se nem ele desistiu, quem sou eu para desistir?
A enfermeira ficou em silêncio, ponderando as palavras de Cecy. Ambas olharam para Miguel, cuja risada ecoava pela sala, como se desafiasse a própria realidade. E, naquele momento, Cecy sentiu um pequeno fio de força começar a se formar em seu interior. Talvez, se Miguel podia continuar, ela também pudesse tentar.
Cecy respirou fundo, secando rapidamente os olhos antes de se aproximar do pequeno Miguel, que brincava despreocupadamente com seu carrinho de plástico. A inocência dele parecia iluminar o ambiente de uma maneira que ela não entendia, mas que sentia profundamente.
– Oi, amiguinho – disse Cecy, com um sorriso que tentou fazer parecer genuíno. – Eu sou a Cecy, mas você pode me chamar de Forrm. Até a próxima semana, então?
Miguel ergueu o olhar, os olhos brilhando de alegria. Ele deixou o carrinho de lado por um momento e respondeu com um entusiasmo que fez o coração dela apertar:
– Eu sou o Miguel! Tenho quatro aninhos! – Ele sorriu para ela, aquele sorriso puro e cheio de esperança que parecia dizer que tudo ficaria bem. – Até o próximo dia, Forrm!
Cecy segurou as lágrimas, retribuindo o sorriso da melhor maneira que conseguia. – Até o próximo dia, Miguel. Cuide-se.
Ela se levantou devagar, dando as costas a ele antes que as lágrimas finalmente começassem a cair. Saindo do quarto, percorreu os corredores com passos rápidos, sentindo-se consumida pela dor e pela culpa. As lágrimas escorriam silenciosamente enquanto ela andava, tentando conter os soluços que ameaçavam escapar.
A imagem de Miguel, tão cheio de vida apesar de tudo, ficava gravada em sua mente. Ela não entendia como uma criança tão pequena podia ser tão forte. E, ao mesmo tempo, sentia-se ainda mais fraca por não conseguir carregar o peso de sua própria situação.
Cecy finalmente parou em um canto isolado do corredor, encostando-se na parede fria enquanto deixava o choro escapar. Aquele encontro tinha mudado algo dentro dela, mas ainda era difícil identificar o que exatamente. Por ora, tudo o que ela conseguia fazer era deixar as emoções fluírem enquanto tentava encontrar uma maneira de seguir em frente.
Cecy entrou no café com passos lentos, o peso do dia refletido em sua expressão cansada. Arthur já estava sentado, com um café em mãos, olhando para o celular. Assim que a viu, ele colocou o aparelho de lado, ajustou a postura e observou enquanto ela se aproximava. Sem dizer nada, ela se sentou à frente dele, pedindo um café ao garçom antes de suspirar profundamente.
– Desculpe o atraso – disse ela, evitando olhar diretamente para ele.
Arthur inclinou a cabeça, observando-a com aquele olhar que parecia enxergar além do que ela estava disposta a mostrar. – Sem problema. Mas estou curioso – começou ele, o tom levemente provocativo. – Onde você estava? O que estava fazendo?
Cecy apertou o copo de café que acabara de chegar, tomando um gole antes de responder. – Estava ocupada com alguns assuntos pessoais. Nada que precise te interessar.
Arthur arqueou uma sobrancelha, apoiando o queixo na mão. – Assuntos pessoais? Certo. Mas me diga, você ainda está chorando por causa daquele babaca do Jhon?
Cecy levantou os olhos para ele, surpresa pela pergunta direta. – O quê?
Arthur deu um pequeno sorriso, mas havia um toque de seriedade em sua expressão. – Se não é por ele, é por quê então? Porque, pelo que vejo, você não está bem.
Ela respirou fundo, cruzando os braços. – Você não precisa saber. Esqueceu do nosso acordo? Vida pessoal é vida pessoal. Agora, diga logo o que você quer.
Arthur ficou em silêncio por um momento, olhando-a como se estivesse considerando suas próximas palavras. Então, com um sorriso mais leve, respondeu: – Vamos sair para um encontro. Amanhã à noite.
Cecy piscou, claramente pega de surpresa. – Um encontro? Por quê?
Ele deu de ombros. – Faz parte do acordo. E, além disso, é uma boa oportunidade para praticarmos. Somos um casal agora, lembra?
Ela bufou, balançando a cabeça, mas acabou concordando. – Certo. Ok. Amanhã à noite, então.
Arthur sorriu, satisfeito. – Me encontre aqui. Vou te levar a um lugar muito bonito. Você não vai se arrepender.
Cecy apenas assentiu, terminando seu café em silêncio. Por mais que não quisesse admitir, algo na ideia daquele encontro fez sua mente se distrair – ainda que por um breve momento – do caos que era sua vida. E, talvez, isso fosse o que ela mais precisava agora.
Arthur se levantou do assento com calma e colocou o paletó sobre os ombros. Cecy o observava, intrigada com sua postura sempre tão confiante. Ele olhou para ela e disse:
– Vamos, vou te levar para casa.
Cecy balançou a cabeça imediatamente, erguendo as mãos. – Não precisa, Arthur. Eu consigo ir sozinha.
Ele sorriu de lado, com aquele ar convencido que ela já estava começando a reconhecer. – Se vamos ser um casal, o mínimo que devo fazer é te acompanhar, certo?
Ela suspirou, sabendo que discutir com ele era inútil. Relutantemente, pegou sua bolsa e o seguiu até a porta do café. Quando saíram para a rua, Cecy olhou ao redor, esperando ver um carro estacionado próximo.
– E o seu carro? – perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Arthur pegou um pequeno controle remoto do bolso e apertou o botão. Um carro preto, elegante e claramente caro, apitou a poucos metros de distância, as luzes piscando suavemente. Cecy ficou parada por um momento, observando o veículo enquanto a realidade de quem ele era começava a se consolidar em sua mente.
Ela olhou para Arthur, que mantinha um sorriso discreto no rosto. Ele não é qualquer um, pensou. Esse carro, essa postura... Ele é alguém de alta classe, claramente acostumado a um mundo que eu nunca conheci.
Enquanto ela se aproximava do carro, um pensamento desconfortável passou por sua mente. De milhares de mulheres, por que ele escolheu a mim?
Cecy entrou no carro em silêncio, sentindo o estofado macio e o cheiro inconfundível de algo que era absurdamente caro. Arthur entrou logo depois, ligando o motor com facilidade. Por um momento, ela o observou de canto de olho. Ele parecia relaxado, mas havia algo em seu olhar que a incomodava. Não era o típico olhar confiante de quem sabia que tinha o controle. Não dessa vez.
Ele está me olhando de um jeito estranho, pensou. Como um cachorro abandonado que encontrou alguém disposto a levá-lo para casa, mas não sabe se pode confiar.
Ela desviou o olhar rapidamente, tentando entender o que estava acontecendo ali. Arthur era um mistério que ela não sabia se queria resolver, mas, de alguma forma, parecia que ele também estava tentando decifrá-la.
Cecy entrou em casa, a porta se fechando suavemente atrás dela. Ela respirou fundo, tentando deixar para trás o peso do dia, mas mal teve tempo de se ajeitar, porque suas amigas já estavam ali, esperando ansiosamente. Jeny e Felm estavam no sofá, ambas com expressões curiosas, e logo começaram a bombardear perguntas.
– Quem era aquele cara do carrão que te trouxe? – perguntou Jeny, levantando uma sobrancelha. – Ele é super bonito!
Felm, com um brilho nos olhos, também se aproximou. – Eu vi o carro, Cecy. Super caro, você se deu bem, hein?
Cecy sorriu fraco, tentando manter a compostura, e se sentou no sofá, mais exausta do que estava disposta a admitir. – É só um cara que eu conheci no café. Estamos saindo.
As perguntas começaram a vir em rápida sucessão, com Felm e Jeny perguntando mais sobre ele. Onde ele trabalhava, o que fazia, de onde ele era, como era a família, e Cecy tentava responder o mínimo possível, mas as perguntas não paravam.
Felm, mais animada, insistiu: – E ele é super rico, né? Então você se deu bem, garota! Como você conheceu ele?
Cecy esfregou os olhos, sentindo o peso da conversa aumentar. Ela olhou para as duas, tentando encontrar uma forma de se esquivar. – Eu estou cansada, meninas. Preciso descansar. – Ela se levantou lentamente, não querendo mais continuar com a conversa.
Ela subiu as escadas, sentindo a fadiga invadir seu corpo, mas, no meio do caminho, ouviu um fragmento da conversa das amigas lá embaixo.
– A Cecy está estranha desde aquele dia, não está? – a voz de Jeny ressoou, preocupada. – Ela chegou super cedo do trabalho, parece que algo está acontecendo. Será que está tudo bem com ela?
Felm respondeu em tom tranquilo, tentando acalmar a amiga. – Deve ser o trabalho. Não se preocupa, Jeny. Se tivesse acontecendo alguma coisa, nós seríamos as primeiras a saber. Você conhece a Cecy, ela sempre conta tudo para a gente.
Cecy parou um momento no topo das escadas, sentindo um aperto no peito. Ela não queria mentir para suas amigas, mas sabia que não estava pronta para contar a verdade ainda. Ela precisava de tempo para processar tudo o que estava acontecendo, especialmente com o tratamento, o acordo com Arthur e tudo mais que estava consumindo sua mente. Então, respirou fundo, tentou esconder as lágrimas que estavam prestes a cair, e subiu rapidamente para o seu quarto, fechando a porta atrás de si.
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