Dedicatória
À Raina Cailane, minha eterna estrela,
Este livro é para você, que sempre iluminou minha vida com seu sorriso e sua força. Mesmo que a distância entre nós agora pareça infinita, sinto que sua essência permanece viva em cada palavra que escrevo. Você foi, e sempre será, uma fonte inesgotável de inspiração e amor.
Raina, este livro é minha maneira de eternizar sua memória, de transformar saudade em gratidão e dor em arte. Obrigado por cada momento que compartilhamos, por cada lição que você me deixou e por ser a alma que continua a guiar meus passos.
Para sempre, em meu coração,
Com todo o amor,
Vitor Cauã❤️
Capítulo 16_1
Era início de noite, e o som das ondas quebrando na areia parecia acompanhar a melodia melancólica que tocava no coração de Cecy. Sentada em uma pequena rocha à beira da praia, ela olhava para o horizonte, onde o céu beijava o mar em tons de azul-escuro e cinza. Ali, envolta pela solidão que parecia ser sua única companhia fiel, Cecy começou a falar – não com alguém em especial, mas talvez com o vazio que sempre carregou.
"Eu não sei exatamente quando comecei a me sentir assim... tão pequena, tão insignificante diante de um mundo tão grande. Talvez tenha sido quando descobri que as pessoas que prometiam ficar sempre iam embora. Ou talvez tenha sido quando percebi que a felicidade não é algo que se pode alcançar, mas algo que você observa de longe, sempre nas mãos de outra pessoa."
Ela fechou os olhos por um instante, sentindo a brisa fria acariciar seu rosto como se tentasse consolar seu coração. Mas, mesmo naquele toque suave da natureza, ela não encontrava conforto.
"Eu cresci acreditando em contos de fadas, sabe? Acreditei que um dia alguém viria e me salvaria. Acreditei que o amor era a resposta para tudo, mas agora... Agora eu sei que o amor, se é que existe, não é para pessoas como eu. Eu sou explosiva, imperfeita, e parece que cada defeito meu assusta quem se aproxima. No final, todos acabam indo embora, e eu fico aqui, sozinha, conversando com o vento."
Uma lágrima solitária escapou de seus olhos, caindo na areia. O peso da solidão, das desilusões, parecia insuportável naquela noite. E ainda assim, ela continuava respirando, como se estivesse presa a uma vida que não sabia como mudar.
"Mas sabe o que é pior?" – sua voz vacilou, quase se quebrando. – "É esse vazio... Esse buraco aqui dentro. Eu tento preenchê-lo de tantas maneiras, mas nada parece suficiente. Às vezes, penso que estou condenada a viver assim, com um sorriso que engana o mundo e um coração que grita por socorro."
Cecy olhou para as estrelas, agora surgindo timidamente no céu. Por um momento, desejou que alguma delas caísse, como nos filmes, para que pudesse fazer um pedido. Mas elas permaneceram imóveis, apenas observando sua dor.
"Se ao menos eu pudesse recomeçar... Encontrar uma razão, um propósito, algo que me desse um motivo para acreditar que não estou sozinha neste mundo. Talvez, só talvez, eu pudesse ser salva."
O vento soprou novamente, mas desta vez parecia mais forte, como se quisesse empurrá-la de volta para a realidade. Cecy suspirou, abraçando o próprio corpo, enquanto as ondas continuavam seu vaivém interminável. No fundo, ela sabia que ninguém viria. E talvez, era hora de aceitar isso.
Cecy estava perdida em seus pensamentos, quando ouviu passos na areia. Não precisou se virar para saber quem eram. O som da risada suave de Felm e a voz decidida de Jeny eram inconfundíveis. Logo, as duas surgiram, carregando sacolas com comida e algumas latas de cerveja.
– Cecy, aí está você! – Jeny exclamou, caminhando até ela com passos firmes. – Achei que ia te encontrar chorando aqui, olhando para o mar como se fosse o final de um filme triste.
Felm, mais delicada, sentou-se ao lado de Cecy e a envolveu em um abraço caloroso. – A gente trouxe comida e cerveja. Sei que você precisa de conforto agora.
Cecy suspirou, um pequeno sorriso surgindo apesar de si mesma. – Vocês são demais... Mas não sei se comida e bebida vão consertar o estrago que o Jhon fez.
Jeny soltou uma risada curta, quase cínica, enquanto abria uma das latas. – Ah, Cecy, o Jhon é um babaca. Sempre foi. Se ele não conseguiu enxergar o que tinha com você, então ele não merece nem um segundo a mais do seu tempo.
– Concordo – disse Felm, segurando uma das mãos de Cecy. – Você merece alguém que veja o quão incrível você é. Não alguém que só te machuca com palavras duras e depois age como se nada tivesse acontecido.
– É sério, Cecy – continuou Jeny, pegando um pedaço de pão de uma das sacolas. – Você fica remoendo isso, mas no fundo sabe que ele fez um favor. A gente estava só esperando o momento em que ele ia mostrar a verdadeira cara dele. E adivinha? Mostrou.
Cecy deu uma risada curta, mais amarga do que alegre. – É fácil para vocês falarem. Não foram vocês que acreditaram nas mentiras dele. Não foram vocês que ouviram que ‘é culpa sua que as coisas não dão certo’.
Felm apertou a mão de Cecy com mais força, seus olhos se enchendo de ternura. – Não é culpa sua. Nunca foi. Ele só não estava à altura de tudo que você tem para oferecer. Você é maravilhosa, Cecy. Só precisa acreditar nisso também.
Jeny, sempre a prática, abriu mais uma lata e deu um gole. – E é por isso que estamos aqui. Para te lembrar que você é muito melhor sem ele. Vamos beber, comer e colocar esse idiota no lugar que ele merece: no esquecimento.
Cecy olhou para as duas, sentindo um calor inesperado preencher seu peito. Ainda havia um vazio, mas naquele momento ele parecia um pouco menor. Talvez, só talvez, com elas ao seu lado, ela pudesse começar a se reconstruir.
Cecy sentiu o peso no peito começar a diminuir à medida que o riso suave de Felm e o tom sarcástico de Jeny preenchiam o ar ao seu redor. Ela pegou uma das latas de cerveja que Jeny lhe ofereceu e tomou um gole, sentindo a bebida gelada acalmar sua garganta. De repente, algo dentro dela mudou. Era como se, por um breve instante, ela quisesse esquecer toda a dor e se permitir viver – mesmo que fosse só por aquela noite.
Sem aviso, Cecy levantou-se de um salto, tirando os sapatos e correndo em direção à água. – Vamos, lerdas! – gritou, a voz carregada de uma alegria que as amigas raramente viam. – Quem chegar por último paga a próxima rodada!
Felm arregalou os olhos, surpresa, e começou a rir. – Cecy, você está maluca! Está frio! – Mas isso não a impediu de largar a sacola e correr atrás dela.
Jeny balançou a cabeça, já rindo. – Vocês duas vão acabar pegando um resfriado, mas, quer saber? Por que não? – E saiu correndo atrás delas, com a cerveja ainda na mão.
As três dispararam pela areia, os pés afundando no chão macio enquanto o som do mar ficava mais alto. Cecy foi a primeira a alcançar a água, mergulhando os pés na espuma fria das ondas. Ela riu alto, girando em círculos, e acabou espirrando água em Felm, que vinha logo atrás.
– Cecy! – Felm gritou, fingindo estar indignada, mas rindo enquanto jogava água de volta nela.
Jeny chegou logo depois, molhando a barra das calças. – Ah, é assim? Quer guerra de água? – Ela jogou um punhado em Cecy e Felm, provocando gritos e risadas ainda mais altas.
A brisa da noite parecia carregar o som das gargalhadas das três, espalhando uma energia leve e contagiante pela praia. Cecy corria de um lado para o outro, tentando escapar dos respingos, mas tropeçou na areia e caiu de joelhos, rindo tanto que mal conseguia respirar.
Felm correu para ajudá-la a se levantar, mas Cecy, com uma risada maliciosa, puxou a amiga para baixo, derrubando-a ao seu lado. – Se eu vou cair, você vem comigo!
Jeny parou, ofegante, observando as duas se embolando na areia e rindo como crianças. – Vocês são inacreditáveis – disse, ainda rindo. – Eu não sei se estou pronta para isso.
Cecy, ainda sentada na areia, olhou para as duas com um brilho nos olhos que parecia ter desaparecido há muito tempo. – Sabe... eu acho que não lembro da última vez que me diverti assim. Obrigada, meninas. De verdade.
Felm sorriu, estendendo a mão cheia de areia para Cecy. – É para isso que estamos aqui, Cecy. Sempre estaremos.
Jeny se aproximou, estendendo uma lata de cerveja. – E é só o começo. Agora, vamos brindar. Ao esquecimento de todos os babacas e à Cecy que, finalmente, está começando a voltar a viver.
As três brindaram ali, na praia, com os pés na água gelada e os corações aquecidos por uma amizade que parecia inquebrável. E, naquele momento, Cecy sentiu algo diferente: não era o vazio preenchido, mas uma fagulha de esperança de que, talvez, ainda houvesse algo belo esperando por ela.
O sol ainda nem tinha nascido completamente quando Cecy despertou, atrasada como sempre. O barulho ensurdecedor do despertador ecoava pelo pequeno quarto enquanto ela corria de um lado para o outro, tentando se arrumar. Em sua mente, a noite anterior, cheia de risos na praia, parecia um sonho distante. Agora, a realidade pesada da K.E.M. a puxava de volta ao mundo frio e calculista em que vivia.
Cecy chegou à empresa ofegante, os cabelos levemente bagunçados pelo vento e a bolsa pendendo perigosamente no ombro. Assim que passou pela porta giratória de vidro, o ambiente a engoliu: escritórios amplos, paredes impecavelmente brancas, pessoas andando rapidamente de um lado para o outro com olhares fixos em suas metas do dia.
– Você está atrasada novamente, Forrm – a voz cortante do chefe do departamento a atingiu antes mesmo que pudesse colocar a bolsa na mesa. O homem, um senhor de cabelos grisalhos e expressão eternamente irritada, a olhava por cima dos óculos com desprezo. – Quero que revise tudo isso antes do meio-dia. Seu trabalho está cheio de erros, como sempre.
Cecy mordeu o lábio, segurando a vontade de retrucar. Ela sabia que, por mais cuidadosa que fosse, qualquer coisa que entregasse nunca seria suficiente para ele.
– Sim, senhor – respondeu em um tom submisso, pegando a pilha de papéis que ele havia jogado em sua mesa.
Enquanto se sentava, os olhares de seus colegas de equipe a atravessavam. Não eram olhares de apoio ou compreensão, mas de julgamento. Alguns sussurravam, outros riam baixinho. Cecy sabia que não era bem-vinda ali.
As horas passaram lentamente. Cecy estava tão concentrada em revisar o relatório que quase não percebeu quando o relógio marcou meio-dia. Levantou os olhos a tempo de ver seus colegas saindo em grupo, rindo e conversando como se ela não existisse. Ninguém a chamou, ninguém sequer olhou para trás.
Ela suspirou, tentando engolir o nó na garganta. Pegou sua marmita da bolsa e caminhou até a pequena copa vazia. Enquanto aquecia a comida no micro-ondas, as vozes animadas do grupo chegavam abafadas pela porta. Eles estavam juntos, e ela estava sozinha – como sempre.
De volta à mesa, Cecy tentou se concentrar novamente no trabalho. Mas a sensação de exclusão e os olhares de desprezo a acompanhavam como uma sombra.
No fim do expediente, Cecy sentia os olhos pesados de tanto encarar a tela do computador e a pilha de relatórios que parecia não diminuir. Ela revisara cada detalhe com o máximo de atenção, mas o nervosismo e o cansaço começavam a pesar. Finalmente, ela juntou tudo em uma pasta e caminhou até a sala do chefe de departamento, o coração batendo acelerado.
– Aqui estão os relatórios revisados, senhor – disse com a voz baixa, enquanto colocava os papéis sobre a mesa dele.
O homem pegou a pasta com desdém, folheando rapidamente os documentos. Um silêncio incômodo preencheu a sala, e Cecy quase acreditou que tudo estava bem. Mas, então, ele soltou uma risada seca, carregada de desprezo.
– Isso é sério, Forrm? – Ele ergueu os papéis como se fossem lixo, sacudindo-os no ar. – Você revisou isso? Porque, sinceramente, parece que piorou.
Cecy sentiu o estômago revirar, mas manteve a postura. – Eu... eu revisei, senhor. Segui todas as suas orientações.
– Minhas orientações? – Ele bufou, jogando os papéis na mesa com força. – Se isso é o melhor que você pode fazer, então não sei como ainda tem um emprego aqui. Talvez seja por pena. Afinal, você é uma mulher, não é? Sempre emocionais, sempre deixando os sentimentos atrapalharem o trabalho.
As palavras dele eram como facas, cortando a pouca confiança que Cecy ainda tinha. Ela tentou se segurar, mas sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Uma delas escorreu silenciosamente, traindo sua determinação.
Ele notou imediatamente, e sua expressão mudou para um sorriso cruel. – Ah, pronto. Lá vem o choro. É sempre assim com vocês. Um pouco de pressão, e começam a se desmontar. – Ele cruzou os braços, observando-a com desdém. – Sabe o que falta em você, Forrm? Competência. Profissionalismo. Talvez, se gastasse menos tempo choramingando e mais tempo aprendendo a fazer seu trabalho direito, não precisaria estar aqui sendo repreendida.
Cecy tentou limpar as lágrimas rapidamente, mas elas não paravam de cair. Sua voz saiu trêmula, quase inaudível. – Eu... eu vou refazer, senhor.
Ele riu novamente, balançando a cabeça. – Claro que vai. Porque, do jeito que está, isso não serve nem para rascunho. E faça um favor a todos nós: tente não deixar sua sensibilidade feminina interferir desta vez. Isso aqui é um trabalho sério, não um clube de apoio emocional.
Ela saiu da sala o mais rápido que pôde, segurando as lágrimas até estar longe o suficiente para que ninguém visse. Quando finalmente se sentou em sua mesa, sentiu a onda de humilhação e impotência a atingir como um tsunami. Mais uma vez, ela estava sozinha – perdida em um ambiente que parecia destinado a esmagá-la.
Mas, no fundo de sua dor, algo começava a se formar. Uma faísca de resistência, um desejo de provar que ele estava errado. Ela não sabia como ou quando, mas prometeu a si mesma que um dia ele engoliria cada palavra. E, naquele momento, enquanto as lágrimas escorriam, ela começou a plantar as sementes de sua vingança silenciosa.
Cecy estava sentada em sua mesa, encarando a tela do celular. Depois de passar o dia inteiro se sentindo humilhada e excluída, tudo o que queria era estar com suas amigas novamente. Elas sempre conseguiam arrancar um sorriso dela, mesmo nos momentos mais sombrios. Com os dedos trêmulos, ela digitou uma mensagem no grupo:
"Meninas, vamos nos encontrar hoje? Preciso muito de vocês."
O tempo parecia se arrastar enquanto esperava uma resposta. Primeiro veio Felm:
"Ah, Cecy... Eu queria muito, mas estou atolada com trabalho atrasado. Me desculpa!"
Logo depois, Jeny respondeu:
"Hoje não dá, Cecy. Estou resolvendo umas coisas importantes, mas amanhã a gente pode combinar."
Ela suspirou, lendo as mensagens com o coração apertado. Não queria pressionar as amigas, mas a sensação de solidão só crescia. Guardando o celular de volta na bolsa, Cecy esperou o horário para sair. Quando finalmente o relógio marcou o fim do expediente, ela recolheu suas coisas e caminhou lentamente para fora da empresa.
A noite estava fria, e o ar parecia ainda mais pesado do que de costume. O dia havia sido uma sucessão de pequenas derrotas, e tudo o que ela queria agora era entorpecer a mente, esquecer o peso que carregava. Sem pensar muito, mudou o caminho para um bar pequeno e discreto que conhecia. Era um lugar onde podia se perder entre desconhecidos, onde ninguém faria perguntas ou esperaria algo dela.
Cecy entrou, sentindo o cheiro familiar de álcool e fumaça de cigarro. Escolheu um canto mais isolado e pediu uma bebida forte – algo que queimasse na garganta, mas aliviasse o aperto no peito.
Enquanto tomava o primeiro gole, sentiu as lágrimas ameaçarem voltar. Não queria chorar ali, não em público, mas a combinação de cansaço, solidão e humilhação parecia ser mais forte do que sua força de vontade. Ela olhou para o copo e soltou um riso amargo.
"Que clichê, Cecy", murmurou para si mesma. "Chorando sozinha em um bar... Quase uma cena de novela barata."
Mas ninguém estava ali para responder ou rir da sua ironia. O barulho ao redor era uma trilha sonora distante para sua dor, e, por um momento, ela se perguntou se alguém realmente se importava. O vazio parecia se expandir dentro dela, preenchendo todos os espaços.
Ela pediu outra bebida, e depois outra. O calor do álcool começou a subir, trazendo um conforto artificial. Talvez fosse o suficiente para esquecer – pelo menos por aquela noite.
Capítulo 16_2
Cecy estava no terceiro copo de algo forte e amargo quando percebeu que o bar, antes vazio e tranquilo, ganhava uma nova presença. Um homem elegante, de terno impecável, entrou. Ele parecia deslocado naquele ambiente. Seus passos eram firmes, e seus olhos vasculharam o lugar até pousarem sobre ela. Cecy olhou de volta, confusa, enquanto ele se aproximava.
– Posso me sentar? – perguntou, com uma voz baixa e firme.
Cecy piscou, ainda surpresa. – É... claro, eu acho.
Arthur puxou a cadeira e sentou-se de frente para ela. O ar em volta parecia mais leve, ou talvez fosse o efeito do álcool, mas a presença dele parecia intimidante e, ao mesmo tempo, reconfortante.
– Não pude deixar de notar que você está aqui sozinha – ele comentou, observando-a com atenção. – E... chorando.
Cecy tentou limpar os olhos rapidamente, embaraçada. – Não é nada. Só um dia ruim.
Arthur não parecia convencido. Ele olhou para o balcão e fez um sinal para o garçom. – Vamos precisar de alguns ingredientes. Chocolate, leite condensado, manteiga... e uma panela, se possível.
Cecy franziu o cenho. – O que você está fazendo?
Arthur olhou para ela, o canto da boca se curvando em um sorriso discreto. – Fazendo brigadeiro. Algo me diz que é exatamente o que você precisa agora.
Antes que Cecy pudesse protestar, os ingredientes começaram a chegar. Arthur tirou o paletó e arregaçou as mangas da camisa, o que fez Cecy arquear uma sobrancelha. Ele parecia completamente fora de lugar, mas agia como se estivesse no comando da situação.
Ele colocou os ingredientes na panela improvisada que o garçom trouxe e começou a mexer com habilidade surpreendente. – Minha mãe sempre disse que brigadeiro cura tudo – ele comentou. – Não sei se é verdade, mas nunca conheci alguém que não se sentisse melhor depois de comer um.
Cecy, intrigada e ainda levemente confusa, não conseguiu evitar um pequeno sorriso. – Você faz isso sempre? Invade bares e começa a cozinhar para estranhos?
– Só para pessoas que parecem precisar – respondeu ele, sem tirar os olhos da panela. – E você claramente precisa.
Enquanto mexia a mistura, o cheiro doce de chocolate começou a preencher o ar, abafando o cheiro de álcool e cigarro. Arthur desligou o fogo, pegou uma colher e ofereceu a Cecy.
– Aqui. Prove.
Cecy hesitou, mas acabou aceitando. Quando o sabor doce e quente derreteu em sua boca, ela soltou um suspiro involuntário. – Ok... Isso é realmente muito bom.
Arthur sorriu, satisfeito, antes de pegar uma colher para si mesmo. – Agora que estamos um pouco mais leves, talvez você possa me dizer o que aconteceu. Por que você estava chorando?
Cecy abaixou o olhar, brincando com a colher na mão. O doce acalmava, mas as lembranças ainda estavam frescas. – Foi só... trabalho. Meu chefe é um idiota, meus colegas me odeiam, e às vezes parece que não importa o quanto eu tente, nunca sou boa o suficiente.
Arthur a observou com atenção, sem interrompê-la.
– Hoje foi especialmente ruim – continuou Cecy. – Meu chefe me humilhou na frente de todos, e depois meus colegas saíram para almoçar sem mim. É como se eu fosse invisível... ou pior, como se eu não pertencesse a lugar nenhum.
Arthur ficou em silêncio por um momento, como se estivesse processando tudo. Então, finalmente falou:
– Sabe, Cecy... Às vezes, as pessoas tentam te derrubar porque sentem medo do que você pode alcançar. Talvez você não perceba agora, mas sua força está no fato de que, mesmo com tudo isso, você continua tentando. Isso é raro.
Cecy olhou para ele, surpresa com as palavras inesperadamente reconfortantes. – E como você sabe disso? Não me conhece.
Arthur deu um meio sorriso. – Talvez eu veja mais de mim em você do que gostaria de admitir.
Cecy colocou a colher de lado, ainda sentindo o doce sabor do brigadeiro na boca, mas o peso no peito parecia voltar. Ela olhou para Arthur, que ainda a observava com aquele olhar intenso, como se estivesse tentando decifrá-la. Depois de alguns segundos, suspirou.
– Olha, eu agradeço o brigadeiro e tudo, mas... se você acha que isso é algum tipo de estratégia para me impressionar, sinto muito. Não estou afim de ficar com ninguém agora. Faz pouco tempo que terminei um relacionamento, e eu... – ela fez uma pausa, sua voz ficando mais frágil. – Eu não perguntei nada sobre você ou sua opinião, então talvez seja melhor você ir.
Arthur arqueou uma sobrancelha, surpreso pela resposta direta. Sua postura mudou, e um leve sorriso, quase sarcástico, surgiu em seus lábios.
– Interessante – disse ele, cruzando os braços. – Então você prefere ficar aqui, sozinha, chorando por alguém que claramente não te valorizava. É isso?
Cecy sentiu o impacto da pergunta, mas tentou manter a compostura. – Eu não estou chorando por ele. Estou lidando com as coisas do meu jeito, o que não te dá o direito de julgar.
Arthur inclinou-se ligeiramente para frente, seus olhos fixos nela. – E qual é exatamente o seu jeito? Afundar na própria tristeza e se isolar do mundo? Parece uma ótima estratégia, Cecy.
Ela sentiu o nó na garganta apertar, mas não queria ceder. – Você não me conhece, Arthur. Não sabe o que eu passei. E, sinceramente, não preciso que alguém que acabei de conhecer venha me dizer como devo lidar com a minha vida.
Arthur sorriu novamente, mas desta vez havia algo mais frio em sua expressão. – Você está certa. Não te conheço. Mas, pelo que vi até agora, você parece ter uma tendência a se apegar às pessoas erradas e a carregar o peso de tudo sozinha. Estou errado?
Cecy apertou os punhos sob a mesa, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair novamente. As palavras dele eram duras, mas havia uma verdade cruel nelas que ela não queria admitir.
– Talvez seja isso mesmo – respondeu ela, sua voz quase um sussurro. – Mas não é da sua conta.
Arthur inclinou-se para trás na cadeira, soltando um suspiro pesado. – Talvez não seja. Mas alguém precisava te dizer que a autopiedade não vai te levar a lugar nenhum. Você é melhor do que isso, Cecy. Só não parece acreditar nisso.
As palavras atingiram Cecy como um golpe final. Ela levantou-se abruptamente, pegando sua bolsa. – Sabe de uma coisa? Você pode ser inteligente, Arthur, mas não tem o direito de falar assim comigo. Boa noite.
Sem esperar por uma resposta, Cecy saiu do bar, o coração batendo acelerado. Lá fora, a noite estava fria, mas a raiva e a dor queimavam dentro dela. Arthur ficara ali, imóvel, observando-a sair, mas as palavras dele ecoavam em sua mente, provocando uma tempestade de emoções que ela não sabia como controlar.
Cecy caminhava pela calçada deserta, seus passos rápidos acompanhados pelo som abafado dos próprios sapatos no asfalto. O ar noturno parecia ainda mais frio, mas o calor da raiva fervia dentro dela, misturado com a dor que Arthur conseguira desenterrar com suas palavras afiadas.
– Quem ele pensa que é? – murmurou para si mesma, chutando uma pedrinha no caminho. – Acha que pode simplesmente aparecer, fazer brigadeiro e jogar verdades na minha cara como se fosse algum tipo de herói?
Ela apertou a bolsa contra o corpo, tentando se aquecer, mas os pensamentos continuavam a atormentá-la. Havia algo que não fazia sentido. Ela parou de andar por um momento, franzindo a testa.
– Espera... como ele sabia meu nome? – A pergunta ecoou em sua mente, fazendo seu coração disparar. – Eu não disse meu nome.
Lembrando-se rapidamente, tentou conectar os pontos. O nome dele ela havia lido no crachá bordado no bolso do terno: Arthur Stosy. Mas o dela... Então, seus olhos se arregalaram quando algo lhe veio à mente. Instintivamente, olhou para baixo e viu o crachá da empresa ainda preso à gola de sua blusa.
– Droga – murmurou, puxando o crachá e encarando o pequeno pedaço de plástico como se fosse culpado por tudo. – Então ele sabia porque viu isso. Ótimo. É claro que minha humilhação tinha que ser completa.
Ela jogou a cabeça para trás, olhando para a lua que brilhava solitária no céu. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas desta vez havia algo diferente. Não era apenas tristeza – era frustração, exaustão, um cansaço profundo de tudo o que a vida parecia jogar contra ela.
– Você está se divertindo, não é? – disse, apontando para a lua, como se ela pudesse responder. – Fica aí, brilhando sozinha no céu, olhando para mim, rindo da minha miséria! É isso que você faz?
Cecy puxou os próprios cabelos, sentindo o calor subir ao rosto. – Eu nem sei por que eu falo com você. Você não me ajuda, só me observa, assim como todo mundo.
Ela soltou um suspiro longo e abaixou a cabeça, sentindo o peso do dia cair novamente sobre seus ombros. Depois de alguns segundos, voltou a andar, agora mais devagar. O barulho da cidade parecia distante, e ela queria apenas chegar em casa, trancar a porta e deixar o mundo lá fora, onde não pudesse atingi-la mais.
Cecy abriu a porta de casa, jogando a bolsa no chão com um suspiro pesado. Tudo o que queria era se jogar na cama e esquecer o dia. Mas, assim que entrou na sala, foi surpreendida pelas vozes familiares.
– Finalmente! – exclamou Jeny, sentada no sofá com os braços cruzados. – Onde você estava, Cecy? A gente saiu mais cedo do trabalho para te encontrar!
Felm, ao lado, com um olhar preocupado, completou: – Estávamos tão preocupadas com você! Mandamos mensagem, mas você não respondeu.
Cecy parou no meio da sala, olhando para as duas com uma expressão cansada. – Vocês saíram mais cedo? Mas vocês disseram que não podiam...
– Mudamos os planos – disse Jeny, impaciente. – Porque você parecia precisar de nós. Agora conta: onde você estava?
Cecy deixou o corpo cair no sofá, soltando um suspiro derrotado. – Eu fui a um bar. Precisava esfriar a cabeça.
Felm arregalou os olhos. – Sozinha? Cecy, isso não é seguro!
– Foi uma péssima ideia, eu sei – respondeu Cecy, passando as mãos pelos cabelos. – Especialmente porque, enquanto eu estava lá, um idiota apareceu, fez brigadeiro e começou a jogar verdades na minha cara como se fosse meu terapeuta.
Jeny, intrigada, inclinou-se para frente. – Brigadeiro? Peraí... Quem faz brigadeiro em um bar? Quem é esse cara?
Cecy balançou a cabeça, ainda tentando entender o que havia acontecido. – Eu não sei. Só sei que ele era lindo, forte, tinha um olhar daqueles que fazem você querer acreditar que ele é perfeito... – Ela bufou, irritada. – E com uma cara de herdeiro. Mas, deixa eu te dizer, ele é um babaca. Um babaca de terno caro.
Felm colocou as mãos na boca, contendo um sorriso. – E você deixou ele fazer brigadeiro pra você?
Cecy olhou para ela com uma mistura de exasperação e vergonha. – Eu não sabia o que fazer! Ele simplesmente começou a mexer a panela como se fosse a coisa mais normal do mundo. E eu, sei lá... estava vulnerável, ok?
Jeny riu, balançando a cabeça. – Cecy, você atrai cada figura estranha... Mas, fala sério, o que ele disse que te deixou tão irritada?
Cecy desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. – Ele... disse algumas coisas sobre como eu me trato e como eu lido com meus problemas. Coisas que... – Ela hesitou, sua voz ficando mais baixa. – Que talvez sejam verdade.
Felm segurou a mão de Cecy, olhando para ela com ternura. – Mas, mesmo assim, ele não tinha o direito de te machucar, Cecy. Não importa se ele é bonito ou herdeiro ou sei lá o quê.
Jeny concordou com um aceno firme. – Exato. Se ele aparecer de novo, me avisa. Eu mesma vou dar umas boas verdades na cara dele. E sem brigadeiro.
Cecy soltou uma risada curta, pela primeira vez sentindo-se um pouco melhor. – Vocês são demais, sabia? Obrigada por estarem aqui.
Felm abraçou Cecy, enquanto Jeny balançava a cabeça com um sorriso. – Estamos sempre aqui, Cecy. Agora vai tomar um banho e descansar. Amanhã é outro dia... E, quem sabe, sem babacas.
Cecy assentiu, sentindo o peso do dia começar a se dissipar.
Cecy jogou-se na cama, ainda sentindo o peso do dia nos ombros. O teto branco acima dela parecia mais interessante do que nunca, enquanto sua mente vagava para o que havia acontecido naquela noite. Apesar do cansaço, o sono parecia distante, e seus pensamentos insistiam em voltar para ele: Arthur.
– Por que ele se sentou ao meu lado? – murmurou para si mesma, franzindo a testa. – O bar estava praticamente vazio. Ele podia ter escolhido qualquer outro lugar.
Fechou os olhos, mas a imagem dele, elegante e confiante, surgiu em sua mente como um intruso. A forma como ele mexia a panela com tanta naturalidade, o jeito que as palavras dele a atingiram como se ele pudesse ver através dela. Era irritante, mas, ao mesmo tempo, intrigante.
– E o brigadeiro? – Cecy abriu os olhos novamente, encarando o teto como se ele tivesse respostas. – Quem faz brigadeiro em um bar? É como se ele tivesse planejado tudo. Mas por quê?
Ela respirou fundo, lembrando das palavras dele, aquelas que ainda ecoavam em sua mente, cortando mais fundo do que ela queria admitir. "Você é melhor do que isso, Cecy. Só não parece acreditar nisso."
– Quem ele pensa que é para dizer essas coisas? – perguntou em voz alta, puxando o travesseiro para cobrir o rosto. – Ele nem me conhece!
Mas, mesmo enquanto se irritava, não conseguia ignorar o desconfortável pedaço de verdade nas palavras dele. Era como se ele tivesse enxergado algo que nem ela queria admitir. Algo que ela escondia até de si mesma.
Cecy suspirou, jogando o travesseiro para o lado e olhando novamente para o teto. – E por que ele se importa, afinal? Não faz sentido. Ele nem sabe quem eu sou.
Ela se virou para o lado, abraçando o travesseiro, enquanto sua mente continuava a girar. Talvez nunca tivesse uma resposta. Talvez ele fosse apenas um estranho excêntrico com palavras afiadas e um terno caro. Mas, por mais que tentasse se convencer disso, algo em seu instinto dizia que havia mais por trás daquela noite.
Capítulo 16_3
A manhã estava fria e úmida, o tipo de clima que Cecy geralmente gostava. Ela havia decidido sair de casa mais cedo para evitar a correria usual, mas o destino parecia ter outros planos para ela. Enquanto atravessava a pequena praça perto do trabalho, algo chamou sua atenção.
Lá estava ele. Jhon, seu ex, de pé sob uma árvore, com o sorriso fácil que ela conhecia tão bem. Só que, desta vez, ele não estava sozinho. Ele segurava uma garota pela cintura, inclinando-se para beijá-la com tanta naturalidade que parecia uma cena de filme romântico. A mão dele acariciava suavemente a cabeça da garota, exatamente como fazia com Cecy nos momentos em que ela acreditava que ele a amava.
O coração de Cecy apertou, e uma onda avassaladora de tristeza e humilhação a atingiu. Ela ficou ali, parada, incapaz de se mover ou desviar o olhar. Era como se o tempo tivesse parado, e ela estivesse presa naquela visão que parecia arrancar dela qualquer vestígio de força.
Seus joelhos começaram a fraquejar, e ela cambaleou ligeiramente. De repente, uma mão firme e delicada segurou seu braço, impedindo-a de cair. Ela se virou, surpresa, e encontrou Arthur ao seu lado. Ele estava vestido com roupas de academia, um contraste gritante com o homem elegante que ela havia conhecido na noite anterior.
– Senta-se – disse ele, com a voz firme mas gentil, conduzindo-a até um banco próximo. Ele puxou uma garrafa de água da mochila e a entregou a ela. – Beba um pouco. Você está pálida. O que aconteceu? Parece que viu um fantasma.
Cecy aceitou a garrafa, mas suas mãos tremiam enquanto a segurava. Ela olhou para Arthur, ainda tentando processar sua presença ali. – O que você está fazendo aqui? – perguntou, desconfiada. – Por acaso está me seguindo?
Arthur ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto a observava com uma expressão que misturava preocupação e irritação. – Seguindo você? – Ele balançou a cabeça, soltando um suspiro. – Eu corro por aqui todas as manhãs. Parece que o destino insiste em nos colocar no mesmo caminho.
Cecy desviou o olhar, ainda segurando a garrafa. Seus olhos voltaram para o local onde Jhon estava, mas ele já havia desaparecido. Apenas a garota permanecia ali, sorrindo enquanto mexia no celular. Aquilo a fez apertar a garrafa com mais força, tentando esconder a lágrima solitária que ameaçava escapar.
Arthur percebeu a direção do olhar dela e franziu a testa. – É isso, não é? – disse ele, mais como uma afirmação do que uma pergunta. – Você viu alguém que não queria ver.
Cecy mordeu o lábio, tentando recuperar o controle. – Não é da sua conta, Arthur.
– Talvez não seja – respondeu ele, seu tom ficando mais firme. – Mas, a julgar pelo seu estado, alguém precisa cuidar de você, porque claramente você não está fazendo um bom trabalho nisso.
Ela o encarou, dividida entre a irritação e o alívio de não estar completamente sozinha naquele momento. Arthur suspirou e se sentou ao lado dela no banco, mais relaxado agora. – Escuta, Cecy. Eu não sei o que você viu ou quem está te machucando, mas posso te garantir uma coisa: ninguém, absolutamente ninguém, merece destruir você dessa forma.
Cecy olhou para ele, os olhos brilhando de emoção reprimida. Apesar do jeito arrogante e direto, havia algo na voz dele que parecia genuíno. Pela primeira vez, ela sentiu que talvez não precisasse carregar tudo sozinha. Mas isso não significava que estava pronta para deixar Arthur entrar.
– Você não entende nada sobre mim – respondeu, finalmente bebendo um gole de água. – E eu não pedi a sua ajuda.
Arthur deu de ombros, um pequeno sorriso surgindo no canto dos lábios. – Talvez eu não entenda agora. Mas isso não significa que vou parar de tentar.
Cecy desviou os olhos de Arthur, ainda sentindo a mistura de raiva e confusão que ele sempre parecia despertar nela. Ela sabia que ele era direto, mas estar ali, naquela manhã, parecendo tão preocupado, a deixava desconfortável. Depois de um momento de silêncio tenso, ela decidiu confrontá-lo.
– Arthur – começou, a voz ainda um pouco trêmula. – Por que você está tão interessado em mim? Se você está aqui por acaso ou não, o que realmente quer?
Ele inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos, o olhar fixo no chão à sua frente. Por um momento, parecia que ele estava pensando cuidadosamente na resposta, o que a surpreendeu. Afinal, ele sempre parecia saber exatamente o que dizer.
– Eu quero fazer um acordo – disse ele, finalmente, sua voz firme e sem hesitação.
Cecy piscou, confusa. – Um acordo? Que tipo de acordo?
Arthur a olhou nos olhos, a intensidade de seu olhar a deixando desconcertada. – Um acordo que vai nos beneficiar. Você precisa de algo, e eu também. Podemos ser úteis um ao outro.
Ela franziu a testa, cruzando os braços como se estivesse se protegendo. – Não estou entendendo. Seja mais claro, Arthur.
Ele respirou fundo, o tom sério. – Minha família quer que eu me case. Eles acham que é a única forma de eu me tornar o que eles consideram um homem completo. Mas eu não acredito no amor, e, sinceramente, não quero perder meu tempo tentando provar algo que não faz sentido para mim.
Cecy continuou olhando para ele, ainda mais confusa. – E o que isso tem a ver comigo?
– Simples – respondeu ele. – Quero que você finja ser minha namorada. Apenas isso. Vai me ajudar a manter minha família fora do meu caminho. E, em troca, eu cuido de você. Financeiramente, emocionalmente, o que você precisar.
Ela piscou, completamente atordoada com a proposta. – Isso... Isso é insano, Arthur. Você mal me conhece. Por que eu?
Ele deu de ombros, o tom prático voltando à sua voz. – Porque você é perfeita para isso. Você não está interessada em se envolver emocionalmente agora, e eu também não. Nós dois temos nossos motivos para querer evitar complicações.
Cecy soltou uma risada incrédula. – E você acha que é tão simples assim? E se um de nós quebrar essa regra? Se alguém se apaixonar?
Arthur sorriu de lado, mas não havia humor em sua expressão. – Essa é a parte mais importante do acordo, Cecy. Se algum de nós se apaixonar, o acordo termina imediatamente. E quem quebrar a regra deve desaparecer completamente da vida do outro. Sem perguntas, sem ressentimentos.
Ela ficou em silêncio, as palavras ecoando em sua mente. Era absurdo, mas, ao mesmo tempo, havia algo tentador na ideia de fugir de sua própria realidade por um tempo. Ainda assim, ela não conseguia entender por que ele achava que isso poderia funcionar.
– Você está falando sério? – perguntou, finalmente.
Arthur assentiu. – Nunca falei tão sério. Pense nisso, Cecy. Você não tem nada a perder.
Ela mordeu o lábio, o coração acelerado. Por mais que soubesse que aceitar um acordo como aquele era insano, uma pequena parte dela não conseguia ignorar a proposta. Afinal, o que mais poderia dar errado?
Enquanto Cecy ainda estava processando tudo o que Arthur havia acabado de dizer, uma voz familiar e cruel surgiu atrás dela.
– Cecy, é você? – Era Jhon, vindo na direção dela com um sorriso presunçoso e a garota que ela vira antes caminhando logo atrás.
Ela congelou no lugar, o peito apertando de raiva e humilhação. Arthur virou-se para encarar o homem, mas manteve-se em silêncio, apenas observando. Jhon parou a poucos passos de distância, com as mãos nos bolsos, o sorriso se ampliando.
– Não esperava te encontrar aqui. – Ele olhou para Cecy com um olhar provocativo. – A propósito, você já conheceu minha namorada? Estamos juntos há quase seis meses agora.
O impacto das palavras atingiu Cecy como um soco. Ela sentiu o ar escapar dos pulmões e as lágrimas ameaçarem cair novamente. – Seis meses? – Sua voz saiu fraca, quase um sussurro. – Mas... nós terminamos há poucos dias. Isso significa que você estava me traindo?
A garota ao lado de Jhon riu, um som irritante e desdenhoso que fez o estômago de Cecy revirar. – Ele não te contou? Que descuido, amor – disse ela, lançando um olhar falso para Jhon.
Cecy sentiu as pernas fraquejarem novamente, mas, antes que pudesse vacilar, Arthur deu um passo à frente. Seu rosto estava impassível, mas havia um brilho frio em seus olhos.
– Vamos, amor – disse ele, estendendo a mão para Cecy. – O carro já está esperando. Não temos tempo para isso.
Cecy olhou para ele, surpresa, mas, antes que pudesse protestar, Arthur pegou sua mão e a guiou para longe, ignorando completamente Jhon e sua namorada. Ela sentiu as lágrimas começarem a cair enquanto andava ao lado dele, como se todo o controle que ainda tinha estivesse se desmanchando.
Arthur parou quando chegaram a um ponto mais afastado, longe dos olhares de Jhon e sua provocação. Ele se virou para ela, segurando delicadamente seu rosto com uma das mãos, passando o polegar sobre sua bochecha para enxugar as lágrimas.
– Não chore por ele, Cecy – disse, a voz surpreendentemente suave. – Ele não merece nem uma única lágrima sua.
Cecy soluçou, tentando recuperar o fôlego. – Eu... eu não sei como isso aconteceu. Ele me destruiu e, ainda assim, continua a me machucar.
Arthur segurou seu olhar, seus dedos ainda acariciando seu rosto com delicadeza. – Ele não vai mais te machucar. Eu não vou deixar isso acontecer.
Cecy, ainda confusa e fragilizada, finalmente conseguiu murmurar: – Arthur... Sobre o acordo... Eu preciso de um tempo. Uns dias para pensar.
Ele assentiu, sem tirar os olhos dela. – Tome o tempo que precisar, Cecy. Só não se torture por causa de alguém que não vale nada. Você é melhor que isso.
Ela apenas balançou a cabeça, sentindo o calor reconfortante da mão dele no rosto.
Cecy respirou fundo, tentando se recompor antes de se despedir de Arthur. Apesar de tudo, a firmeza dele a tinha ajudado a superar aquele encontro humilhante com Jhon. Ela agradeceu brevemente, sem encontrar as palavras certas, e seguiu para o trabalho. Mas, enquanto caminhava, uma dor de cabeça começou a latejar em sua têmpora, como se os eventos da manhã estivessem pesando fisicamente sobre ela.
Ao chegar à K.E.M., Cecy se sentia ainda pior, mas tentou ignorar. Entrou rapidamente, ajustando a postura para parecer mais forte do que realmente estava. Assim que se sentou em sua mesa, o chefe apareceu, a expressão dura como sempre.
– Forrm! – ele chamou, a voz cortando o ar como uma lâmina. – Você entregou aquele relatório ontem, mas, como sempre, estava cheio de erros. Francamente, não sei por que ainda te mantemos aqui.
Cecy cerrou os dentes, apertando as mãos sobre o teclado. A dor de cabeça parecia piorar a cada palavra.
– Você é completamente inútil – continuou ele, sem piedade. – Um peso morto para esta equipe. Talvez se você parasse de viver no mundo da lua e focasse no trabalho, não seria tão desastrosa.
Ela tentou se defender, mas a dor em sua cabeça era tão intensa que mal conseguiu formular uma resposta. As palavras ficaram presas na garganta, e tudo o que ela conseguiu fazer foi abaixar a cabeça e murmurar um "sim, senhor".
Ele bufou, claramente irritado com a falta de reação, e virou-se para sair, deixando Cecy ali, sozinha com suas emoções e a dor latejante que agora dominava todo o seu corpo. Sentindo-se à beira do colapso, ela se levantou da mesa, tentando caminhar em direção ao banheiro para se recompor.
Assim que entrou no banheiro, o mundo começou a girar. A dor na cabeça tornou-se insuportável, e o ar parecia ficar pesado. Cecy tentou segurar na pia, mas seus joelhos fraquejaram, e tudo ficou escuro.
Quando finalmente desmaiou, o som de seu corpo caindo ecoou pelo banheiro vazio. Ali, no chão frio, Cecy estava sozinha, enquanto o mundo ao seu redor continuava indiferente.
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