Capítulo 4

Ayla

Quando o senhor Nulman volta para sua sala pergunta como estou, não estou acostumada com alguém se preocupando comigo.

— Não se preocupe comigo, senhor Nulman. Espero não ter lhe trazido nenhum problema com o senhor Storn.

— Não se preocupe com ele, o Dev tende a ser temperamental às vezes. Ele não gosta de ser contrariado mesmo quando está errado. Meu conselho é que você o evite o máximo possível.

— Vou evitar sair da sua sala, a menos que seja realmente necessário.

— Eu já pedi para colocarem uma mesa para você na sala ao lado da minha, creio que amanhã já terá sua sala. Não é muito grande, mas poderá trabalhar tranquilamente.

— Obrigada, senhor Nulman.

— Outra coisa importante, me chame de Gaab, quando me chamam de senhor Nulman me lembra o meu pai que foi embora quando eu tinha quinze anos.

— Ah, sim, desculpe senhor... Gaab. Vou me esforçar para chamá-lo assim.

— Espero que não se importe que eu a chame pelo nome. Não sou fã de certas cordialidades.

— Por mim tudo bem.

Me sento e volto a prestar atenção no notebook. Preciso conhecer a empresa e parece que tudo o que preciso saber está ali. É fascinante, essa empresa está no mercado há quase vinte anos e sempre foi um sucesso.

— Ayla, vá até a sala do gestor pegar um pacote que entregaram na sala dele por engano, por favor.

— Claro, Gaab.

Ele me diz onde fica e eu vou, quando estou voltando aquele homem irritante esbarra em mim e exige desculpa. Mas porque eu pediria desculpa se foi ele quem esbarrou em mim?

O que ele faz a seguir me deixa sem ar. Me coloca contra a parede, apoia suas mãos ao lado da minha cabeça encostando na parede e aproxima seu rosto do meu quase me beijando.

Mas eu não recuo o olhar, o encaro decidida a acertar suas jóias caso avance o sinal comigo. Não importa se ele é o dono, isso se qualifica como assédio e não vou ficar calada.

Só que ele me surpreende ao respirar fundo e se afastar. Eu respiro aliviada, como vou evitar o dono da empresa trabalhando no mesmo andar que ele?

Volto para a sala de Gaab e rezo para aquele dia acabar. Na hora de ir embora me certifico que não vou encontrar com Devon Storn. Ao chegar no térreo, Gaab me oferece uma carona.

— Não sei se devo aceitar. As pessoas podem entender errado.

— Aqui não tem esse tipo de fofoca entre os funcionários. São bem profissionais, estou lhe oferecendo essa carona porque estou vendo que está cansada.

— De qualquer jeito não vou para casa, vou para o hospital que fica a poucos minutos daqui.

— O que aconteceu? Está passando mal?

— Vou visitar meu irmão e contar que consegui o emprego aqui!

— Ah, sim. Posso te levar até lá?

— Se insiste, tudo bem!

Ele me leva até o hospital e no carro ele acaba perguntando sobre mim e minha vida. E numa conversa tão leve acabo contando tudo.

— Seu irmão é tão jovem para morar em um hospital por tanto tempo... Me sinto mal por ele.

— Depois da cirurgia ele vai poder voltar para casa após umas semanas e exames. Não que a vida dele possa ser totalmente normal, mas será um pouco melhor do que é agora.

— Se precisar de ajuda, seja o que for, fale comigo.

— Já fez muito em me contratar sem fazer a entrevista antes. Me sinto com sorte e muito grata. — olho para fora da janela — Olha, já chegamos. Obrigada, Gaab.

Me despeço dele, que me entrega um cartão com seu número caso eu precise de ajuda com algo. Ao lado do hospital tem uma floricultura compro tulipas e levo para o meu irmão, ele adora.

— Ayla? Pensei que não viria hoje. — sua voz quase falha ao falar comigo.

— Evite falar, pensou mesmo que eu não viria te ver?

— Mamãe disse que você foi numa entrevista de trabalho!

— Sim, eu fui. E olha quem é a nova funcionária do grupo Storn. — mostro meu crachá para ele que sorri para mim.

Fico ali com ele até que adormece, volto para casa e acabo chegando junto com meus pais.

— Minha filha, que susto você me deu ao não mandar mensagem dizendo que estava tudo bem com você.

— Calma, mãe, é que foi tudo muito corrido no trabalho. Mas sou a mais nova assistente de Gaab Nulman na Storn Tecnológica.

— Nossa filha conseguiu um emprego bom. — meu pai fala ao me abraçar.

— E não é só isso, o senhor Nulman é um chefe incrível. Me ensinou o que eu precisava saber com muita paciência. Acho que dessa vez estou com sorte.

— Minha filha... — minha mãe se senta, exausta — O médico adicionou mais dois remédios a lista do seu irmão. Acho que esse mês vamos passar aperto, eu tive que comprar.

— Droga! Calma, mãe, vai dar tudo certo... Eu prometo.

— Não é só isso... — meu pai fala — O doutor disse que a cada dia que passa menos tempo ele tem com a gente. A cirurgia se faz necessária a cada segundo do James.

— Vocês dois passaram o horário de almoço no hospital mais uma vez?

— É o único horário que podemos ficar com ele mais tempo! — minha mãe responde.

— Mas vocês já passam as noites lá também.

— Sim, minha filha. Mas quando chegamos lá ele já está dormindo. Queremos passar um tempo com ele acordado. — meu pai explica.

— Faz o seguinte, vou tomar banho, jantar e depois vou para lá ficar com ele essa noite. Vocês podem tirar essa noite para dormirem tranquilos.

— Mas você acabou de começar nesse trabalho, vai ficar cansada demais. — minha mãe se preocupa.

— Não tem problema, sou jovem e aguento. Quero que essa noite vocês tirem para descansar.

Foi difícil convencer os dois de que precisavam dormir mais que duas horas por noite. Então combinei de noite sim, noite não ficar com James para que eles possam descansar.

James precisa dessa cirurgia para que nossa vida volte ao máximo de normal possível e a dele também. Deus, nos dê uma luz, por favor.

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