coincidências

A festa de casamento estava em pleno andamento no salão principal da mansão Arezzo. A decoração luxuosa, com cristais, flores exuberantes e iluminação delicada, criava um ambiente deslumbrante, refletindo o exagero de Sofia. Quando Leonardo e Sofia entraram, de braços dados, foram recebidos com aplausos calorosos. Os convidados estavam em pé, alguns levantando taças de champanhe em um brinde ao novo casal.

Leonardo sorriu discretamente, mas sentia o peso da noite mais do que nunca. Ele tinha a sensação de que estava representando um papel que não era seu, enquanto Sofia, ao seu lado, parecia absolutamente radiante, como se tudo estivesse indo exatamente como ela sonhara.

Assim que chegaram à mesa principal, Leonardo se inclinou discretamente para falar com um de seus seguranças de confiança.

— Quero que os paparazzis sejam retirados da festa. Sem alarde, faça isso discretamente.

O segurança assentiu, afastando-se para cumprir a ordem. Minutos depois, Sofia percebeu que os flashes incessantes haviam parado. Ela franziu a testa, claramente irritada, e se aproximou de Leonardo.

— Por que você mandou tirá-los daqui? — Perguntou ela, com o tom levemente ríspido.

Leonardo deu um gole no champanhe antes de responder.

— Porque eu gosto de descrição. Não precisamos de câmeras registrando cada detalhe do nosso casamento.

Sofia revirou os olhos, frustrada.

— Mas essa era a ideia, Leonardo! É assim que se constrói uma imagem pública.

Leonardo olhou para ela com calma, mas firmeza.

— Sofia, eu já construí minha imagem pública com meu trabalho. Não preciso que meu casamento seja um evento de marketing.

Sofia bufou, balançando a cabeça, mas decidiu não prolongar o assunto.

Enquanto Sofia olhava ao redor para localizar seus amigos, Leonardo aproveitou a oportunidade para levantar uma questão que o incomodava.

— A propósito, sobre a aliança...

Sofia virou-se para ele, ainda com um sorriso, mas arqueou as sobrancelhas ao ouvir o tom dele.

— O que tem a aliança?

— É linda, mas... você realmente precisava escolher algo tão extravagante? — Perguntou ele, tentando manter o tom neutro.

Sofia deu de ombros, como se a pergunta fosse irrelevante.

— Leonardo, o preço da aliança não é incômodo para você. Você tem condições de pagar por isso sem nem sentir.

Leonardo balançou a cabeça.

— Não é sobre o preço, Sofia. É sobre a extravagância. Eu queria algo mais simples, mais significativo.

Sofia suspirou, claramente desinteressada no assunto.

— Simples não combina comigo, Leo. Você sabe disso.

Antes que ele pudesse responder, ela sorriu novamente, com uma expressão que beirava o desdém.

— Mas tudo bem. Se isso te incomoda tanto, podemos discutir depois.

Ela se afastou, indo em direção a um grupo de amigas, deixando Leonardo sozinho, observando-a desaparecer na multidão de convidados.

Leonardo desviou o olhar para o salão e viu seu pai, Arlindo, conversando animadamente com um homem mais velho, de postura elegante e expressão afável. Reconhecendo Romeu, um amigo de longa data da família, Leonardo decidiu se aproximar.

— Romeu! — Cumprimentou Leonardo, estendendo a mão.

Romeu virou-se com um sorriso caloroso, apertando a mão de Leonardo com firmeza.

— Leonardo! Parabéns pelo casamento, meu rapaz. Sua esposa está radiante.

Leonardo forçou um sorriso, agradecendo educadamente.

— Obrigado, Romeu. É sempre bom tê-lo por perto.

Arlindo colocou uma mão no ombro do filho, gesticulando para Romeu.

— Leonardo, estava justamente conversando com Romeu sobre uma ideia que tive.

Leonardo arqueou as sobrancelhas, interessado.

— E que ideia seria essa?

Romeu sorriu, balançando a cabeça antes de responder.

— Seu pai sugeriu que eu me tornasse sócio da construtora. Disse que seria um grande reforço para a empresa, mas...

— Mas ele recusou. — Interrompeu Arlindo, com um sorriso compreensivo. — Romeu está enfrentando alguns desafios em sua empresa agora.

Leonardo olhou para Romeu, que parecia desconfortável em discutir a situação.

— Não é nada grave, mas prefiro não assumir novas responsabilidades no momento. Ainda assim, fico honrado pela oferta.

Leonardo assentiu, respeitando a decisão.

— Compreendo. E saiba que, quando estiver pronto, as portas estarão sempre abertas para você.

Romeu agradeceu com um sorriso, claramente emocionado pelo gesto.

— A amizade da sua família sempre foi algo que eu valorizei, Arlindo. E ver Leonardo seguir seus passos é um grande orgulho.

Leonardo sorriu discretamente, mas não pôde deixar de sentir uma pontada de desconforto. Ele não fazia ideia de que Romeu era chefe de Clara, e Romeu, por sua vez, não sabia que Leonardo era o pai do filho dela.

Enquanto a conversa fluía, Leonardo sentiu sua mente se distanciar. O casamento, a aliança, as câmeras, as expectativas... tudo parecia um teatro cuidadosamente ensaiado. Mas o que ele não sabia era que, a quilômetros dali, sua vida havia mudado de uma forma que ele nem imaginava.

Romeu, por outro lado, pensava em sua própria empresa e nos desafios que enfrentava, sem imaginar que a jovem funcionária por quem ele tinha tanto apreço acabara de trazer uma nova vida ao mundo — uma vida que estava ligada diretamente ao homem que ele estava parabenizando.

E assim, enquanto a festa de casamento continuava, cada personagem seguia em seu papel, sem saber o quão entrelaçadas suas histórias estavam prestes a se tornar.

A festa de casamento de Leonardo e Sofia seguia em alta energia, com os convidados rindo, dançando e brindando ao novo casal. Leonardo, no entanto, continuava sentindo o peso das interações sociais impostas pela ocasião. Enquanto vagava pelo salão, cumprimentando algumas pessoas que reconhecia, seus olhos se fixaram em um homem que lhe era familiar: Jonas Monteiro, um dos empresários que havia sido prejudicado pelas ações do ex-sócio corrupto da construtora.

Leonardo decidiu se aproximar.

— Jonas, que surpresa vê-lo aqui. — Disse Leonardo, apertando a mão do homem com firmeza.

Jonas sorriu de forma contida, embora houvesse uma certa tensão em seus olhos.

— Leonardo. Não poderia deixar de vir ao casamento do herdeiro dos Arezzo. Parabéns.

Leonardo percebeu o tom sutilmente irônico, mas manteve a compostura.

— Obrigado. E como você está, Jonas?

Jonas deu um pequeno gole no champanhe antes de responder.

— Bem, considerando tudo. O episódio com o Roberto foi... desastroso, mas sua família lidou com a situação de maneira exemplar.

Leonardo assentiu lentamente, ciente do impacto que o caso havia causado.

— Lamento profundamente o que aconteceu. Não era o que esperávamos ao trazer Roberto como sócio. Foi uma falha de julgamento, e estamos trabalhando para compensar todos os envolvidos.

Jonas observou Leonardo por um momento antes de dar um leve sorriso.

— Você é diferente, Leonardo. Direto e honesto. Espero que sua gestão continue assim. Talvez isso recupere a confiança que foi abalada.

Leonardo ficou pensativo, mas agradeceu.

— É exatamente o que estamos tentando fazer. Se houver algo que possamos fazer por você, não hesite em me procurar.

Jonas balançou a cabeça em concordância antes de se afastar, deixando Leonardo imerso em seus pensamentos.

Enquanto isso, Sofia estava do outro lado do salão, cercada por um grupo de amigas que riam alto e faziam comentários sobre a extravagância da festa. Ela sorria, mas seus olhos vagavam pelo ambiente até que algo, ou melhor, alguém, chamou sua atenção.

Entre os garçons que circulavam com bandejas de petiscos e champanhe, Sofia viu um rosto que conhecia bem. Rose. Ela estava lá, vestindo o uniforme padrão dos funcionários, caminhando com uma bandeja nas mãos e evitando olhares diretos.

Sofia sentiu o sangue gelar por um momento, mas rapidamente recuperou a compostura. Discretamente, ela se desculpou do grupo e seguiu Rose pelo salão. Quando teve a oportunidade, segurou o braço dela firmemente e a conduziu para um canto isolado, longe dos olhares curiosos.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Sussurrou Sofia, com os olhos brilhando de indignação.

Rose sorriu de forma contida, mas seus olhos estavam cheios de provocação.

— Trabalhando. Não é óbvio?

Sofia olhou ao redor para garantir que ninguém as observava antes de apertar mais o braço de Rose.

— Não brinque comigo, Rose. Por que você está no meu casamento?

Rose soltou uma risada curta, mas amarga.

— Eu queria ver se você teria mesmo coragem de se casar com alguém que não ama.

Sofia sentiu o rosto queimar de raiva e vergonha.

— Isso não é da sua conta.

— Não é? — Rose rebateu, com a voz baixa, mas firme. — Depois de tudo o que vivemos, você acha que pode simplesmente ignorar quem você é e fingir que esse casamento é real?

Sofia respirou fundo, tentando manter a calma.

— Você não entende. Há coisas que vão além de nós.

— Não. Você não entende. — Interrompeu Rose, aproximando-se mais. — Você está vendendo sua alma por algo que não importa.

Sofia desviou o olhar, sentindo-se exposta.

— Vá embora, Rose. Por favor.

Rose segurou o rosto de Sofia por um breve momento, forçando-a a olhar em seus olhos.

— Eu vou embora, Sofia. Mas não porque você quer. Vou embora porque não posso assistir você se destruir assim.

Ela soltou Sofia e se afastou, deixando-a ali, sozinha e tremendo. Sofia respirou fundo várias vezes antes de voltar ao salão, ajustando o vestido e colocando de volta o sorriso impecável no rosto.

Por fora, parecia a noiva perfeita. Por dentro, estava em pedaços.

Sofia tentou voltar ao salão depois da conversa intensa com Rose, mas não conseguiu se concentrar em nada. O som da música, as vozes, as risadas — tudo parecia distante. Sua mente estava fixada em Rose, na dor e na provocação nos olhos dela. Algo dentro de Sofia se recusava a deixá-la ir embora assim.

Ela observou discretamente enquanto Rose caminhava em direção ao fundo do salão, evitando o fluxo de pessoas. Quando percebeu que Rose entrou em um dos banheiros do andar inferior, Sofia decidiu segui-la.

Ao entrar no banheiro, Sofia girou a trava na porta, certificando-se de que ninguém poderia interrompê-las. Rose, que estava de costas, se virou rapidamente ao ouvir o som da fechadura.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntou Rose, cruzando os braços. Seu tom era ríspido, mas seus olhos denunciavam a confusão.

Sofia deu um passo à frente, respirando fundo.

— Eu não posso deixar você sair assim.

Rose riu, mas seu riso era vazio.

— Sofia, já conversamos. Não há mais nada para dizer. Você escolheu isso. — Ela gesticulou, apontando na direção do salão onde a festa continuava. — E eu não quero mais fazer parte da sua vida.

Sofia se aproximou mais, sem desviar o olhar.

— Não diga isso. Você sabe que não é verdade.

Rose deu um passo para trás, encostando-se na parede do banheiro.

— É verdade. Você está casada agora, Sofia. Escolheu outra vida. Eu não vou ficar no meio disso.

Sem dizer mais nada, Sofia atravessou o espaço entre elas, segurando o rosto de Rose com as duas mãos e a beijando com uma intensidade que deixou Rose sem reação. Foi um beijo profundo, carregado de desejo, arrependimento e amor.

Rose tentou resistir por um momento, mas logo se entregou, segurando a cintura de Sofia e puxando-a para mais perto. A paixão reprimida entre elas explodiu, e tudo ao redor desapareceu.

Sofia se afastou brevemente, ofegante, enquanto seus olhos encontravam os de Rose.

— Eu sinto muito. — Disse Sofia, com a voz rouca. — Por tudo isso. Eu não quero te perder.

Rose não respondeu com palavras. Em vez disso, ela a beijou novamente, com a mesma intensidade, como se quisesse capturar cada momento.

Aquele beijo evoluiu para algo mais. Entre sussurros, toques e carícias, as duas se entregaram completamente à paixão que ainda existia entre elas. O banheiro tornou-se o único refúgio em meio à realidade caótica que Sofia havia escolhido para si.

Por um breve momento, nada mais importava: nem o casamento, nem os convidados, nem as expectativas familiares. Apenas elas duas, conectadas de uma forma que nenhuma das duas poderia ignorar.

O banheiro estava silencioso agora, com apenas a respiração de Sofia e Rose preenchendo o espaço. Ambas estavam sentadas no chão frio, ofegantes e ainda tentando processar o que acabara de acontecer. Sofia, com o vestido de noiva todo bagunçado, olhava para Rose, cuja expressão era uma mistura de satisfação e preocupação.

— Eu não posso sair assim. — Disse Sofia, finalmente quebrando o silêncio.

Rose levantou-se, arrumando o uniforme amassado e olhando para Sofia.

— Você devia ter pensado nisso antes de me seguir aqui.

Sofia lançou um olhar rápido para Rose, mas havia mais diversão do que irritação em seu rosto.

— Estou falando sério. Preciso de ajuda.

Rose cruzou os braços, ainda observando Sofia com curiosidade.

— E o que você quer que eu faça?

Sofia suspirou e se levantou lentamente, olhando para o reflexo desastroso no espelho. Seu cabelo estava bagunçado, a maquiagem borrada, e o vestido... bom, aquele vestido claramente não poderia ser usado novamente sem chamar atenção.

— Quero que você chame um estilista e uma cabeleireira que estejam aqui para me arrumar. Discretamente.

Rose hesitou por um momento, mas acabou assentindo.

— Tudo bem. Mas vai ser complicado manter isso em segredo.

Sofia sorriu levemente, arrumando os fios de cabelo que caíam sobre seu rosto.

— Confio em você.

Rose saiu do banheiro, ajustando seu uniforme e caminhando rapidamente para encontrar alguém da equipe que pudesse ajudar Sofia. Depois de algumas idas e vindas pelos corredores, encontrou dois profissionais que foram contratados para eventuais ajustes e correções durante a festa. Explicou rapidamente que a noiva precisava de ajuda e que deveria ser feito com o máximo de discrição.

Os estilistas concordaram e seguiram Rose até um quarto próximo, longe dos olhares dos convidados.

Quando chegaram, Sofia já estava esperando. Eles a levaram para dentro e trancaram a porta.

— Senhora, vamos arrumar tudo. — Disse um dos estilistas, com um tom tranquilo. — Ninguém vai notar nada.

Enquanto um deles ajudava Sofia a trocar o vestido, escolhendo um modelo mais leve e solto que estava disponível entre as opções extras, o outro começou a trabalhar no cabelo dela.

— Quero algo simples, mas elegante. — Disse Sofia, olhando para seu reflexo enquanto retocavam sua maquiagem.

Poucos minutos depois, Sofia estava pronta. O novo vestido era menos volumoso e mais confortável, com um toque de sofisticação que ainda mantinha a aura de noiva. Seu cabelo estava preso em um coque elegante, e sua maquiagem estava impecável novamente.

— Perfeito. — Disse Sofia, ajustando o vestido.

Sofia voltou para a festa com um sorriso confiante, parecendo completamente à vontade, como se nada tivesse acontecido. Ela atravessou o salão, cumprimentando os convidados enquanto sentia os olhares admirados pela nova escolha de roupa.

Leonardo, que estava conversando com um grupo de amigos, notou sua chegada e caminhou até ela.

— Você trocou de vestido? — Perguntou ele, analisando-a de cima a baixo.

Sofia sorriu suavemente, ajeitando o tecido.

— Sim. Achei que aquele vestido estava me prendendo demais. Quero aproveitar a festa com mais conforto.

Leonardo assentiu, aparentemente aceitando a explicação.

— Faz sentido. Só achei estranho você ter sumido por tanto tempo.

Sofia deu uma risada leve, tocando no braço dele.

— Não foi tanto tempo assim, Leo. Só precisava de um momento para mim.

Leonardo não insistiu. Ele sabia que Sofia tinha um jeito teatral e gostava de cuidar de cada detalhe. Voltou a sorrir e ofereceu o braço para ela.

— Vamos, então. É hora de aproveitar a festa.

Sofia o acompanhou, mas seu olhar voltou brevemente para o fundo do salão, onde Rose estava parada com uma bandeja nas mãos. Seus olhos se encontraram por um segundo, antes de Sofia desviar e voltar sua atenção para Leonardo.

Por mais que estivesse de volta à festa, sua mente ainda estava no banheiro, naquele momento que compartilhara com Rose — e no fato de que, por mais que tentasse, ela nunca poderia deixar aquele amor no passado.

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