|T01E08| As memórias de Jeremy - Parte 1

Jeremy corre sem poupar fôlego, pela única saída que encontrava na sua frente, o seu coração doía a cada minuto que passava, a sua mente girava em um ciclo de pensamentos dolorosos, a fazer os seus passos desacelerar, e as suas lágrimas que desciam do rosto, não deixavam ele ver à frente, a luz, a única luz ele que precisava enxergar em meio a escuridão que o cercava:

Os seus passos vacilam e ele cai de joelhos com as mãos no chão de vidro, que começa a congelar, e enquanto derramava ali mesmo as suas lágrimas, cada gota que tocava o solo congelado reluzia, para a surpresa dele que limpava o seu rosto para ver aquilo. De todas as gotas derramadas, apenas duas seguiam um caminho na frente dele, como se tivesse vida própria, ao pararem em um determinado lugar, uma neblina toma todo o ambiente, pela temperatura diminuir consideravelmente.

Uma das lágrimas mistura-se com o gelo ao redor e forma uma estátua da única pessoa que o amava, a sua mãe. Completamente perplexo, os seus olhos arregalados que estavam em azul-escuro, voltam à tonalidade normal, e com um grito: — Mãe! — Ele corre para abraçá-la. Porém, entre eles estava a outra gota reluzente que também forma uma estátua de alguém que o odiava, o seu pai. E ele transforma-se tão rápido que Jeremy até percebeu, mas não, a tempo de conseguir parar, chocando-se com violência.

A batida foi tão grande que Jeremy caiu para trás, com o nariz quebrado, e nisso, o solo dos dois lados afunda apenas a restar um pequeno caminho do seu tamanho, onde estava. Jeremy se levanta com uma expressão de revolta, a olhar para a estátua de gelo do seu pai, que era duas vezes maior que o da sua mãe, e grita: — Sai da minha frente! Deixa eu chegar até ela! — E empurra com força a fazê-lo cair na outra que estava atrás a também derrubar a estátua da sua mãe.

Com a queda das duas estátuas de gelo, aquele caminho onde os mantinham protegidos de cair nas profundezas que havia de baixo do corredor dimensional, cede, das estátuas até Jeremy, que estende a sua mão na direção da estátua da sua mãe e forma um braço com a neblina para segurá-la, não querendo que caísse naquele abismo, e por não procurar sair daquele lugar de risco, para um lugar seguro do corredor, todos iriam cair para a escuridão.

Contudo, vindo com rapidez e agilidade, Pardolome agarra Jeremy no ar, visto que todo o chão havia cedido completamente. Na tentativa de manter a estátua da sua mãe salva, Jeremy insiste em segurar com todas as forças que tinha. Pardolome, ao perceber que não soltaria, grita para ele:

Pardolome — Jeremy! Precisa soltar essa estátua, ela não é real!

Mesmo a não dar ouvidos para o que ele dizia, a estátua começava a derreter aceleradamente, e em segundos, deixa de existir. Pardolome tira ele dali e o coloca num lugar seguro e longe de onde estavam.

Pardolome — Você precisa se controlar! — Diz a pairar na frente dele.

Jeremy que estava de costas, revira em direção a Pardolome e com o seu punho reluzente, acerta um soco nele que o faz recuar, e em resposta ao ataque recebido, Pardolome solta um canto que estoura os tímpanos dele, e faz os seus ouvidos sangrarem. Com a mão nos ouvidos e a tontear, Jeremy forma um punho de vento que o acerta precisamente, mas não o derruba no chão, Pardolome ainda no ar, avança nele com as suas garras, a cravar no seu peitoral e a levá-lo para as alturas.

Porém, dessa vez, não sai sangue onde as garras dele haviam perfurado, em vez disso, começam a congelar lentamente, e numa ação impensada e rápida, Jeremy puxa a venda de Pardolome, e a visão dos olhos como duas nebulosas em constante movimento, são as últimas imagens que o garoto consegue enxergar até apagar.

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[15 de maio — Dia da família — casa de Jeremy — porta dos fundos/sala de jantar — entardecer]

Jeremy — O que aconteceu? — Pergunta ao levantar do gramado do quintal.

Pardolome — Você cometeu um erro ao fazer o que fez. — Responde ao apresentar-se para ele com uma forma espectral, ao lado dele.

Jeremy — O que é isso!? — diz, assustado ao percebê-lo. — É você mesmo, Pardolome?

Pardolome — Essa é a minha forma, quando preciso apresentar-me nas memórias de alguém. — Explica para ele.

Jeremy — Não estávamos brigando há poucos segundos? — Pergunta a estar confuso com o que acorreu. — Onde estamos?... Eu reconheço esse lugar.

Pardolome — Enquanto estávamos a lutar, você puxou a venda amarrada nos meus olhos, a despertar instintivamente a minha anomalia "memórias", o que faz com que o afetado pela anomalia reviva as suas memórias boas ou más, traumáticas ou afetivas, vai depender do estado psicológico em que estiver, podendo ser uma ou mais delas.

Jeremy — E o que isso tudo significa?

Pardolome — Significa que está sob o efeito da minha anomalia, a reviver as memórias mais doloridas do seu passado, pois, era o que estava a combater dentro de si antes mesmo de lutarmos. O que, pelo visto, acabou por ser vencido.

Jeremy — Então, eu estou revivendo a minha memória de dor? — Olha ao redor entristecido.

Pardolome — Não uma das suas memórias, mas quatro delas, as mesmas que feriram a criança interior que há em você.

Jeremy — E qual memória é essa aqui? — Pergunta ao observar todo o ambiente.

Pardolome — Você sabe, porque já viveu isso, eu apenas reproduzi. — Ao dizer isso, a porta dos fundos próximo deles, se abre devagar.

Jeremy — Ah!... Eu lembro bem, estávamos a jantar cedo, antes de viajarmos para o primeiro dia de tratamento da minha mãe, em outro estado. Era para ser só um simples jantar em família... — Abaixa a cabeça brevemente, envergonhado, enquanto vai até à porta e entra na cozinha, a observar logo à frente, a sala de jantar onde ele se vê mais jovem, junto aos seus pais.

Pardolome — Você era muito novo... E muito triste também. — Se aproxima a ir até à sala de jantar, onde eles conversavam.

Gregory — Jeremy! Eu chamei você já faz cinco minutos, a sua comida está a esfriar, o que você estava a fazer, que não ouve quando eu chamo? — bate na mesa com força, a fazê-la tremer. — Responde, quando eu perguntar… — diz enquanto a sua esposa ao seu lado observa em silêncio.

(Ele) — Eu estava no banheiro... — Tenta se explicar com a cabeça baixa.

Gregory — Não! Não estava... — Aumenta o tom de voz. — Eu tranquei o banheiro. Você estava a fazer aquela porcaria de pintura! — Diz para ele, que estava sentado à sua frente. — Olha para mim, quando eu estiver falando com você!... Eu ainda vou destruir todas aquelas pinturas, grave bem as minhas palavras.

Sheila — Não precisa falar assim com ele, Gregory.

Gregory — Cala a boca, Sheila! Eu não me dirigi a palavra a você, não me interrompa quando eu estiver falando com o seu filho!

Sheila — Nosso filho, Gregory, nosso filho!…

Gregory — Eu mandei você calar a boca! — Grita a derrubar com o braço, o prato de comida no chão.

Naquela situação humilhante, ela levanta para sair da sala de jantar, mas ele diz:

Gregory — Eu não disse que podia levantar da mesa. — Ao dizer isso, ela para no caminho. — Não era você que queria um jantar em família?... Em?... Olha para mim! — Grita a fazê-la virar e olhar nos olhos dele. — Agora, volte e sente ao meu lado como uma boa esposa, e coma a sua comida.

(Ele) — Desculpa, papai... — Diz com medo e sem conseguir manter contato visual.

Gregory — Não me chame de pai! — Bate com as mãos na mesa. — E eu não vou aceitar esse seu desrespeito na próxima vez. — Diz a apontar o dedo para ele. — Se eu chamar e não me atender, você vai apanhar muito!

Sheila — Pare de dizer essas coisas, Gregory. — Diz a começar a tossir. — Está a assustar ele. — Diz ao sentar novamente ao lado dele.

Gregory — Está com pena do seu filho? — Torna a olhar para ela. — Em Sheila? — Pergunta a encará-la — Quer apanhar no lugar dele? — Começa a rir de ódio por ela, a pegar mais um prato na mesa e voltar a servir-se. — A sua sorte, é que temos que ir ao hospital para o tratamento dessa sua doença, e eu não quero que os médicos suspeitem mais, das suas marcas, porém... — Coloca o suco da jarra no seu copo. — Se não quiser que eu desconte todo o meu ódio contra essa coisa inútil, que não serve para nada! Só dá trabalho e só traz despesa para minha casa, coma em silêncio!

Sheila — Como pode dizer uma coisa dessas do seu filho?... — Diz com os olhos cheios de lágrimas e com muita tristeza, ao ver o seu filho a chorar calado e com medo.

Gregory — Foi você que escolheu ter uma família, a culpa é sua dele ser assim, dele ter herdado a inutilidade da sua família fracassada! Ele nunca vai ser um "Olsen", está ouvindo? — Aproxima o seu rosto dele. — Você nunca vai ser um "Olsen"!

Tudo acontecia enquanto Pardolome e Jeremy assistiam em silêncio, no canto do cômodo da sala de jantar.

Pardolome — Infelizmente, não posso tirá-lo de uma memória até que ela acabe. Essa anomalia é mais ofensiva, o que ainda pude fazer é impedir que você não fique completamente afetado por ela, caso contrário, estaria a ocupar aquela cadeira e viveria literalmente tudo aquilo que já viveu.

Jeremy — Você não tem culpa de eu ter essas memórias, você nem estava lá... — Diz num tom de tristeza. — A minha mãe se culpava por ser incapaz de fazer alguma coisa, e não a culpo por isso, eu sou igual a ela…

Gregory — Vai ficar a chorar, em vez de comer a sua comida? Em Jeremy?

(Ele) — Eu... Eu não estou com fome... — Diz a esfregar as mãos nos olhos.

Gregory — Não está com fome... — Pega o prato dele e levanta da mesa em direção a cozinha, onde descarta a comida no lixeiro e joga o prato na pia. — Então, não vai mais comer e nem beber nada hoje. — Diz ao voltar para a mesa de jantar.

Após isso, todos os que estão na mesa somem como poeira ao vento, e aquela memória encerra.

Jeremy segue do cômodo da sala de jantar para a sala de estar, que dava para a porta de entrada, onde Gregory estava sentado no sofá a assistir jogo, com os pés em cima de uma mesinha, junto de uma garrafa de vinho e um copo. Enquanto Sheila limpava aquele cômodo e o corredor com um aspirador de pó, cansada e com dores.

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Atualizado até capítulo 37

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