Melinda acordou e não avistou seus companheiros de viagem. Pensou ter ouvido barulhos vindos do banheiro. Tirou os saltos e caminhou lentamente até lá. Parou poucos centímetros da porta, ouvindo gemidos misturarem-se. Reconhecia a voz de ambos, por mais que sussurrassem. O barulho dos corpos em atrito, acelerava. Melinda engoliu em seco, pousando a mão sobre coração. Voltou silenciosamente para sua poltrona. Sentia culpa por espiar e mais ainda pela calcinha molhada.
Assim que voltaram, Melinda fingiu ainda dormir. Não sabia como olharia para eles novamente, depois do que ouviu. Por mais que não tivesse visto, imaginava a cena, involuntariamente. Amanda e Alexandre prosseguiram a viagem em lados opostos do corredor. Ele voltou aos papéis com anotações de trabalho e ela, com seus fones nos ouvidos, provavelmente assistindo sua série favorita. Melinda ainda fingiu dormir por meia hora e ao acordar, pegou seu diário pessoal, escrevendo tudo que não conseguiria dizer em alta voz. Era sua forma de desabafar, secretamente.
Gabriel estava à espera de novas ordens de seu chefe. Durante os dias em que representou o diretor financeiro em seu próprio departamento, nada tinha sido fácil. Alguns funcionários pareciam o desafiar, outros preferiam o ignorar. Gabriel anotou nomes e fez relatórios sobre tais comportamentos. Com o passar dos dias, decidiu que precisava mudar de atitude e provar que merecia a responsabilidade conferida a ele por Alexandre. Ele chegou ao escritório com cartas de demissão preparadas e posicionando-se ao centro do departamento, avisou que suas ordens deviam ser cumpridas, pois vinham de seu superior e quem não colocasse em prática o que ele dissesse, melhor seria pegar uma daquelas cartas para assinar e levar ao RH. Ele olhava em volta estudando cada expressão dos ali presentes, mantendo-se sério. Perguntou novamente se alguém estava interessado em assinar uma, mas ninguém lhe respondeu. Viu um deles sorrir, debochado. Gabriel caminhou até ele, estendendo uma delas, com seu olhar afiado. Perguntou se ele seria o primeiro. O homem levantou-se, o encarando e lhe deu um leve empurrão, questionando quem Gabriel pensava que era, para demiti-lo. Nesse exato momento, ouviram uma voz falar alto e bom som “Ele é o assistente pessoal de nosso diretor financeiro. E o senhor, quem pensa que é para enfrentá-lo dessa maneira? Pegue suas coisas, está fora. Tem cinco minutos para ir ao RH e se demitir, se quiser ter algum direito. Não espere que eu seja testemunha de tuas atitudes antiprofissionais e o demita por justa causa”. Todos ficaram perplexos, Gabriel olhou para aquela jovem mulher e demorou um pouco para reconhecê-la. Era Mirela, a secretária de Alice. Lembrou de ter sido ela a levar seu contrato para o oficializar e que havia ficado feliz com sua conquista, mesmo sem o conhecer ainda. Ela havia demonstrado alegria genuína. Sua voz e atitude transbordavam poder e autoridade, mesmo em um departamento no qual não trabalhava. Ao ver o homem se apressar em obedecê-la, enquanto ela permanecia na porta com as mãos na cintura, Gabriel sentiu algo inesperado.
O funcionário pegou a carta de demissão furioso, praguejando ao passar por todos. Mirela deu um passo para o lado, sem se importar com o que dizia. Em seguida, ela dissera a ele “Senhor Gabriel, se precisar de mais cartas como esta, pode me chamar pelo ramal e as trarei pessoalmente”, então lhe lançou uma piscadela. Ele pigarreou, tentando disfarçar, caminhou até a porta e, voltando-se para os demais, acrescentou “Acredito que o recado foi transmitido com sucesso. Espero relatórios ao fim de cada expediente a partir de hoje, pois nosso chefe está prestes a retornar. O que foi ordenado a vocês, concluam antes que ele volte e não serão demitidos”. Os dois foram até o escritório dele, no fim do corredor. Mirela o seguia, notando que o rapaz estava abalado com toda a situação, mas tentava manter a postura no andar.
— Você está bem? – Perguntou Mirela, assim que adentraram o escritório.
— Sim, estou. E contigo, tudo bem? Desculpe pelo transtorno. – Respondeu Gabriel.
— Não se preocupe, no RH já lidamos com situações piores, acredite.
— Fique à vontade, pode se sentar. – Disse ele, sentando-se em sua própria cadeira.
— Obrigada. Olha, eu não quero me meter, mas você precisa ser mais duro.
— Mais duro? – Questionou ele, sendo pego de surpresa, uma vez que já estava.
— Sim, demonstrar mais autoridade, autoconfiança, liderança. – Respondeu Mirela.
— Ah, claro. Tem razão, eu preciso mesmo. Não sei como, mas vou tentar. Obrigado.
— Você está realmente bem? – Quis saber ela, estranhando o ver tão inquieto.
— Estou, deve ser só a adrenalina. Não me acostumei ainda. – Gabriel ajeitou a gola.
— Acho que você deixa isso muito apertado. Espere, vou te ajudar. – Ela foi até ele.
— Está tudo bem, não precisa se preocupar. – Ele tentou a desencorajar, em vão.
— Relaxa, só há nós dois aqui, não tem que ser tão sério. – Disse ela, abrindo um botão da camisa de Gabriel, folgando a gola. Decidiu que abriria outro, mas ele a segurou pelo pulso. Ela o encarou, surpresa. Ele a encarou de volta, mas a soltou.
— Desculpe, não quis assustá-la. É que não costumo deixar ninguém me tocar.
— Ninguém? Mas você não se relaciona com nenhuma garota? – Perguntou Mirela.
— Sim, eu tenho uma namorada. Mas... é complicado. – Ele desviou o olhar.
— Tudo bem, chega de complicações hoje. Que tal irmos à cafeteria?
— Cafeteria? Agora? – Ele voltou a encará-la, mas agora com expressão confusa.
— Sim, por que não? Será que não mereço, depois de tê-lo defendido? – Ela fez beicinho, fingindo tristeza e o fazendo rir, incrédulo por vê-la agindo assim.
— Está bem, então é por minha conta. – Concordou ele, ainda rindo.
— Claro que é por tua conta! Afinal, você me deve uma. – Respondeu ela, piscando.
— Aposto que irá usar essa cartada várias vezes. – Gabriel já se levantava para ir.
— Tem algum problema se eu o fizer? – Quis saber Mirela, ficando muito perto dele.
— Nenhum problema, na verdade. Só cuidado em como vai usar. – Disse ele.
— Por quê? Posso me arrepender se usá-la indevidamente? – Questionou ela.
— É possível que sim, afinal, essa cartada não é como um passe livre. – Gabriel riu.
— Se uma mulher quiser, pode transformar uma dívida no que desejar. – Disse ela.
Gabriel a viu rebolar propositalmente, indo até a porta. Ele precisou afrouxar um pouco mais a gola de sua camisa e se adiantou para abrir a porta. Ela agradeceu e passou, olhando-o com um sorriso suspeito. Ele estava reconsiderando a ideia de irem sozinhos a algum lugar. Não esperava que ela fosse despertar algo nele. Sabia que seria necessária mais cautela. Ainda assim, foram à cafeteria, conversando.
Nos dias seguintes, Mirela inventava desculpas para ir até o andar de Gabriel e o visitava no escritório, levando o café que descobrira ser seu favorito. Sempre tinha algum assunto de seu interesse para conversar e ele não parecia incomodado. Eles notavam, aos poucos, que tinham mais em comum do que o esperado. Gabriel via o esforço dela em conhecer seus gostos e buscar sua companhia sempre que podia. Isso lhe deixava animado, mas também o fazia tomar cuidado. Não podia fraquejar.
Quando Alexandre chegou de viagem, visitou o apartamento de Gabriel, mesmo sendo à noite. O rapaz levou um susto com a atitude repentina do chefe, mas ficou aliviado por não ter levado Letícia naquele dia. Gabriel foi um bom anfitrião e pediu comida delivery para ambos. Sabia do que Alexandre gostava e lhe serviu com vinho. Os dois conversaram sobre a recente demissão de um funcionário, Alexandre lhe deu os parabéns por finalmente ter uma atitude de liderança e por ter feito amizade com alguém relevante na empresa, que o ajudaria a crescer e amadurecer. Também falaram sobre a viagem de Alexandre e sua importância junto à nova CEO. O chefe não expôs a intimidade entre Amanda e ele, mas lhe contou as partes importantes, concernentes ao trabalho. Gabriel estava impressionado com todas as mudanças em praticamente uma semana. Os dois brindaram a isso, como se fossem velhos amigos. Alexandre notou que seu assistente estava mais seguro de si e ria com uma facilidade que jamais vira antes. Esperava que aquilo fosse permanente. Após as conversas acabarem, assim como o vinho e a comida, Gabriel sugeriu que ficasse ali mesmo, já que o apartamento era dele e havia mais dois quartos de hóspedes. Ele aceitou, mas fez questão de dormir no quarto de hóspedes. Gabriel insistiu, mas precisou concordar para que seu convidado não fosse embora daquele jeito. Ele era muito teimoso, não adiantaria medir forças. Devido ao vinho, Alexandre mal se deu conta de que, em certo momento dissera “Amanda será a minha perdição”, então tomou uma ducha e foi para a cama. No entanto, Gabriel também estava alterado e não lembraria disso no dia seguinte.
Pela manhã, Gabriel e Alexandre foram juntos até a empresa, passando antes na cafeteria, pegando duas porções de pães de queijo, café e capuccino. No escritório, Alexandre mostrou suas anotações feitas durante a viagem, enquanto Gabriel lhe apresentou os relatórios do novo projeto e a respeito dos funcionários. Alexandre aprovou o trabalho feito por ele, lhe deu novos comandos que logo foi repassado aos demais da equipe. Houve uma reunião da equipe com o diretor financeiro, onde ele esclarecia a importância de Gabriel para ele e especialmente para a empresa. Fez questão de citar a lista de funcionários que pareciam não concordar e sugeriu que pedissem demissão, se não estivessem satisfeitos. Gabriel sorria, vitorioso.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Suzana Rodrigues pires
por isso chama se insaciavel
falta leticia e bianca
ele é obsecado por sexos pelo quê entendi /Awkward/
2024-12-23
1
Jaildes Damasceno
Só quero ver no que vai dá.
2025-03-10
1