Gabriel ficou impressionado com a localização e mais ainda quando Alexandre lhe mostrou a vaga de seu apartamento, onde já havia um carro e este, ficaria com ele. O rapaz já tinha a carteira de motorista, mas jamais tivera seu próprio carro, apenas dirigia o carro de seus pais ou pegava emprestado com algum amigo quando queria levar a namorada para um passeio especial. Ele tentou rejeitar a proposta novamente, mas Alexandre usou o argumento de que seu assistente pessoal não poderia chegar de ônibus, táxi, Uber ou esperar uma carona para lhe acompanhar.
Alexandre lhe garantiu que poderia levar visitas até lá, apenas não as poderia deixar morar com ele ou passar dias seguidos com ele no apartamento. Disse que isso servia para amigos, namorada ou quaisquer outras visitas que convidasse. Mas Gabriel não havia cogitado chamar alguém para um apartamento que sequer era realmente dele. Pensou que isso poderia ser constrangedor e não motivo de orgulho. Faria questão de deixar claro que o carro era para trabalho também.
O apartamento era moderno, assim como sua decoração que transparecia pertencer a um homem solteiro, bem-organizado e de posses. Gabriel pensou por um instante que se parecia com o que planejava ter um dia. De repente, percebeu que esquecera de incluir Letícia nesse plano, pois sem dúvidas ela não o decoraria daquela maneira. Enquanto Alexandre citava as regras do condomínio, era com isso que Gabriel se preocupava, apesar de ter anotado mentalmente o que ele dizia.
Apesar de haver três quartos, a suíte era a única com televisão e frigobar, entre outros atributos que fazia o rapaz questionar-se o motivo de Alexandre ainda trabalhar, pois quem tinha tudo aquilo, provavelmente tinha a vida ganha. Mas não ousou perguntar, queria manter uma distância segura e respeitosa. Um dos quartos tinha uma mesa e cadeira de escritório, uma grande estante repleta de livros e dois sofás que Alexandre lhe garantiu servir também como cama. O terceiro tinha sido decorado para uso feminino, contendo penteadeira branca, mobília de cores claras como rosa, branco ou lilás e a roupa de cama era florida. Gabriel notou que tinha um cheiro levemente adocicado, sem saber de onde vinha. Todos possuíam janelas grandes e as cortinas eram diferentes, seguindo a decoração de cada quarto. A cozinha tinha tudo que Gabriel precisaria em sua rotina, exceto por panelas. Pensou que seu chefe talvez não fosse o tipo que cozinhava, afinal, como ele poderia ter uma cafeteira, bebidas diversas, taças, copos, xícaras, até mesmo talheres e pratos, mas nenhuma panela? Tudo era tão moderno e requintado.
Alexandre levou seu assistente por todos os lugares que o prédio disponibilizava para festas sociais ou informais, deixando claro que o rapaz não precisaria viver isolado, podendo promover reuniões particulares e aproveitar as instalações do lugar. Desde que não lhes contasse sobre a quem pertencia o apartamento e o carro. Nesse momento, Gabriel paralisou.
— O que foi agora? – Disse Alexandre, parando também e revirando os olhos.
— Como vou explicar que vim parar aqui? – Perguntou Gabriel.
— Você tem esse costume de dar satisfações sobre tua vida pessoal? – Respondeu Alexandre, cruzando os braços, o encarando.
— Bem, é que eu...
— Eu te disse que precisaria mudar tua postura. Não mude tua essência, mas não se permita ser rebaixado pelas pessoas ou desacreditado. Quem não confia em você e não te admira pelo que conquistou, não merece sequer vir aqui te visitar. Mesmo que seja necessário encontrar novas amizades, o importante é que tenha consigo pessoas que não questionem o motivo de você ter algo grande ou por estar em um lugar melhor que o esperado. Valorize-se e isso obrigará os outros a fazerem o mesmo. Agora venha, estamos atrasados para o almoço.
— Atrasados? Não temos nada marcado na agenda. – Disse Gabriel, surpreso.
— Não seja bobo. É um almoço informal. E não vamos almoçar juntos, fique tranquilo. Deixei duas mesas reservadas no mesmo restaurante, mas em andares diferentes. Você pegará teu carro e buscará tua namorada. A minha companhia já deve estar me esperando, então irei diretamente para lá. Tua reserva está em teu nome, eu não sei o dela.
— Letícia, senhor. É o nome dela. – Respondeu Gabriel, ainda em choque.
— Fique atento ao celular, pois caso eu precise de você em algum momento do dia, devo lhe enviar uma mensagem. Não gosto de ser óbvio com ligações, chama a atenção dos que estão em volta.
— Entendido, senhor. – Assentia Gabriel.
— Aproveite o fim de semana, não deixe de se divertir por se preocupar em me atender. Só chamarei se for urgente. – Acrescentou Alexandre, tentando mudar a expressão assustada de seu assistente.
— Tudo bem, senhor. Mas esse restaurante é muito chique? Eu não trouxe roupas.
— Sim, é um lugar moderno e elegante. No entanto, sempre deixei roupas reservas no guarda-roupas do quarto principal. Pode se apossar delas, pois não precisarei.
— O senhor já me ajudou demais, não posso abusar. – Tentou negar, mas Alexandre já o encarava com olhar afiado. – Quero dizer... Obrigado, eu irei escolher uma então.
— Certo. Melhor assim. Depois marcaremos um horário para fazermos compras, eu também já estou farto do que tenho. Você pode aproveitar para renovar tuas roupas.
Alexandre não o esperou responder, já falava caminhando e Gabriel o seguindo. No estacionamento se despediram gentilmente, Gabriel agradeceu por tudo e viu seu chefe indo embora, ficando apenas ele e seu suposto carro novo. Imaginava o que Letícia diria ao vê-lo dirigindo um carro como aquele. Esperava que ela não fosse uma das pessoas que duvidariam dele, cogitando maneiras inadequadas de ter obtido tamanho favor de Alexandre. Gabriel não era tão ingênuo quanto parecia, ele sabia que muitos maliciavam cada grande conquista dos que começavam de baixo.
Alexandre caminhou tranquilamente para dentro do restaurante, após deixar seu carro com o manobrista. Deu seu nome no balcão da recepção e foi conduzido até o andar superior, onde avistou uma figura de pele clara e cabelos loiros, que olhava através da parede de vidro fumê, sentada de pernas cruzadas, de costas para ele. Avisou para a moça que lhe conduzia, que já encontrara sua mesa e a dispensou com um sorriso gentil.
“Espero não a ter feito esperar muito”, sussurrou ele em seu ouvido. Ele estava atrás dela, mas foi possível ver seu pescoço e ombros arrepiados. Sorriu, satisfeito. Quando ela ergueu os olhos, ele estava de pé a seu lado, com aquele jeito charmoso de sempre. Ela pensou em se levantar para recebê-lo educadamente, mas ele pousou a mão forte em seu ombro, pedindo que não se incomodasse. Ela sentiu o corpo se arrepiar novamente, mas manteve a postura. Alexandre se sentou do outro lado da pequena mesa, fixando seus olhos nos dela.
— Não esperava uma mensagem me chamando para almoçar. Até onde me lembro, você me prometeu um jantar. – Disse Alice, fingindo-se afetada.
— Mantenho a promessa. Sempre cumpro o que prometo. – Garantiu Alexandre.
— Então a que devo este convite inesperado? – Quis saber ela.
— É sábado e notei que precisava de uma bela companhia feminina. – Respondeu.
— Agradeço o elogio, mas me preocupa tuas intenções por trás disso.
— Também não sei quais são as tuas ao propor um jantar depois do expediente. – Ele a encarava com um sorriso sugestivo, o olhar fixo no dela, a fazendo rir baixo.
— Sempre tem uma resposta, não é mesmo? Não muda muito fora do trabalho.
— Achava que seria diferente mesmo? Creio que torcia para ser igual. – Disse ele.
— Por qual motivo eu torceria por isso? – Questionou Alice, inclinando a cabeça.
— Você achou interessante o homem que conheceu na empresa, não outro. Provavelmente ficaria frustrada se fosse apenas um personagem. – Garantiu ele.
— Nada o impede de manter o personagem para me impressionar, fora da empresa. Você pode usar isso para conseguir alguma coisa. – Respondeu ela, o encarando.
— Acha mesmo que preciso mentir para conseguir algo? – Perguntou ele, sério.
— Sinceramente? Não. – Disse Alice, desviando o olhar e abanando-se com a mão.
— Está com calor? Quer que eu peça para mexerem no ar-condicionado? – Ele riu.
Alice pensou em responder, mas por sorte (ou azar) o garçom se apresentou e perguntou qual seria o pedido. Alexandre permitiu que ela escolhesse primeiro, ele não poderia beber porque estaria dirigindo, mas Alice lhe permitira escolher um vinho para ela. Ambos optaram por massa e mesmo enquanto falavam com o garçom, trocavam olhares e sorrisos. O vinho era doce e o jantar estava delicioso.
Gabriel havia buscado Letícia na casa de uma amiga e surpreendeu-a com o carro. Apesar de encantada, a pergunta sobre “de quem era o carro”, partiu de sua amiga. Ele disse que era um dos benefícios de seu novo trabalho. Letícia o abraçou, o parabenizando.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Jaildes Damasceno
Agora que os invejosos vão surtar e as cobras restejarem atrás dele
2025-03-09
1
Andressa Silva
😗😗😗😗😗😗
2024-12-09
1