Cap 07 - A vingança

Gabriel se sentou e tentando manter a calma, olhou atentamente para Alexandre, que estava do outro lado da mesa. Ele receava ter feito algo errado ou que seu chefe tivesse desistido de contratá-lo e por isso estivesse repensando antes de lhe dar o contrato para assinar. Alexandre continuava a revisar cada página.

— Você precisa ler cada detalhe deste contrato antes de assinar, Gabriel.

— Sim, senhor. Apesar de já ter certeza de que aceitarei tudo que está nele.

— É mesmo? E se aqui disser que você aceita de bom grado trabalhar até a madrugada sem receber valores adicionais no salário? – Disse Alexandre, distraído.

— Não posso me dar ao luxo de recusar o trabalho, senhor. Mas prejudicaria minhas obrigações como universitário. Minhas aulas são à noite. – Respondeu Gabriel.

— Preferiria não se formar para manter o emprego? – Ele ainda olhava o papel.

— Senhor, eu acho que esse nível de função não se consegue facilmente, ainda que esteja formado na melhor universidade. Preciso priorizar a oportunidade que me deu. Ainda assim, gostaria de me formar, se possível. – Respondeu o rapaz.

— Você já pensou que haveria a possibilidade de você largar o curso e depois ser dispensado quando menos esperasse, ficando sem estudo e sem emprego? – Ele finalmente levantara os olhos, observando a expressão pensativa de seu assistente.

— Sei que é um risco a se correr, mas também há a possibilidade de crescer na empresa ou mesmo passar anos trabalhando para o senhor e aprender contigo mais do que aprenderia em sala de aula.

— Gosto de você, Gabriel. Acredito que seja de confiança e por isso este contrato.

— Agradeço o voto de confiança, prometo que me tornarei digno dela.

— Se você ainda fosse se tornar digno dela, não estaria aqui agora, rapaz. – Afirmou Alexandre, empurrando gentilmente o contrato de várias páginas sobre a mesa.

— Gabriel, estou te contratando não apenas como auxiliar de escritório, mas também, meu secretário particular. O que significa que nestes papéis consta que tua lealdade e sigilo estende-se à minha pessoa, não apenas à empresa. Eu pedi que descontassem diretamente do meu salário o que diz respeito a esta segunda função. O que acha disso? Diga sinceramente.

— Eu não terei dificuldades quanto a lealdade. Sei que posso confiar no senhor.

— Ok. Isso é bom, pois para isso dar certo, precisamos confiar um no outro. Quero destacar a parte do sigilo, pois como secretário particular, terá acesso à minha vida pessoal e não sei se notou, mas sou discreto e não admito intromissões.

— Sou discreto e sigiloso também, senhor. Não se preocupe. – Garantiu Gabriel.

— O contrato em tuas mãos lhe garante dois empregos praticamente. Tuas funções serão diversas, mas as horas de trabalho irão respeitar teus estudos até a formatura. No entanto, se perder um, perde ambos. Estamos entendidos?

— Sim, eu já imaginava isso. Mas garanto que não irá acontecer. – Afirmou o rapaz.

Alexandre comentou sobre sua preocupação quanto aos estudos de Gabriel, uma vez que poderia ser necessário lhe acompanhar em eventos e viagens, pois sua agenda pessoal e de trabalho estariam sob a responsabilidade dele. O rapaz não desistiu da vaga, ele queria o emprego mais que tudo no mundo. Sabia que seria fácil ser leal a quem lhe deu uma chance, enquanto todos duvidavam de seu potencial. Gabriel queria compensá-lo por isso, mas sabia que ele é quem estava sendo presenteado. Sua ingenuidade o fez esquecer de conferir o valor de seu novo salário. Tamanha era sua alegria. Esforçou-se para não correr pelos corredores quando saiu do escritório com o contrato assinado em mãos, a fim de entregá-lo a Melinda, que concluiria todo o processo no cartório.

Gabriel nunca tinha visto tanta surpresa no rosto de alguém. Ficou sem jeito de perguntar, a moça não havia lhe dito nada, mas de repente o olhava de cima a baixo, mordiscando o lábio inferior, sorrindo. Com a expressão confusa que ele fez, obteve um pequeno spoiler. Melinda disse baixinho “Teu salário será maior que o das secretárias, parabéns. Deve estar trabalhando muito bem. Deveria me dar umas aulas depois”. Ela lhe lançou uma piscadela, antes de ir cumprir sua nova missão. Ele pensou um pouco e notou que não teria outra oportunidade, senão aquela. Correu até Melinda e pediu para verificar algo rapidamente, já tomando o documento de suas mãos. Ela o assistiu, sem entender. Ele engoliu em seco ao ler sobre quanto receberia e confirmou para si mesmo, que não poderia por motivo algum, desistir daquele trabalho. Sabia que seria difícil, mas estava disposto a dar o melhor de si. Pensava como em pouco tempo, poderia ter dinheiro suficiente para pedir sua namorada em casamento e lhe proporcionar conforto. Devolveu a ela, agradecendo a paciência e voltou a seu escritório, de cabeça erguida. Milena se demorou um pouco, a fim de observar o andar confiante do novo contratado. Talvez ele fosse mais interessante do que parecia. Ela decidiu que descobriria em breve.

Alexandre notou uma mudança sutil em Gabriel. O rapaz parecia mais confiante no que fazia, se apresentava diante dele sem receios e temores. Pensou que talvez o contrato tivesse lhe dado a segurança que precisava. Alexandre ainda esperava vê-lo evoluir muito mais e sabia que para isso, Gabriel teria que ser desafiado. Ele lhe entregou uma pilha de documentos e o chamou. Pediu que fosse até a sala do departamento financeiro e encarregasse um funcionário específico de revisá-los até o dia seguinte. Gabriel deveria escolher alguém por conta própria. Alexandre por um momento, procurou sinais de dúvidas ou preocupações no olhar dele, mas pela primeira vez, não encontrou. Sendo assim, aproveitou para pedir que cobrasse dos demais, o resultado dos trabalhos outrora distribuídos por ele. Alexandre queria ver a agilidade de seu departamento em investigar e resolver o que fosse necessário.

Gabriel saiu confiante, com os documentos em mãos. Adentrou a sala dos demais funcionários de seu departamento, chamando a atenção de todos por quem ele passava. Algo estava diferente, ele caminhava com altivez agora. Seu olhar estava fixo em um determinado funcionário, que naquele exato momento, bebia seu café despreocupadamente, conversando com alguém em ligação, quando devia estar trabalhando. Ele aproximou-se do homem que há pouco dias o humilhara ali mesmo e depositou ruidosamente a pilha de documentos sobre sua mesa, o fazendo dar um pulo da cadeira, assustado. O homem lhe encarou com um misto de raiva e confusão. Gabriel disse em tom severo “Revise até o primeiro horário de amanhã. Se eu fosse você, não perderia tempo. Ordens do Diretor Financeiro”. Ele saiu de sua presença e caminhou até o centro da sala, falando em alta voz “Aqueles que já possuem o resultado do que ficaram responsáveis desde a última reunião, por favor, tragam para mim. Os demais terão até o fim do expediente de hoje para dar alguma satisfação a respeito do que estão trabalhando. Se estiverem enrolando serão demitidos muito em breve, pois nessa nova gestão não há espaço para os preguiçosos. E não se enganem, pois tenho autoridade suficiente para apontar ao chefe aqueles que não merecem estar aqui. Sou seu auxiliar no escritório e assistente pessoal a partir de hoje. Então, sugiro que me ouçam atentamente.” Ele olhava em volta, analisando friamente as expressões de todos ali presentes. Notou alguns olhares orgulhosos, outros confusos e alguns raivosos. Por algum motivo, isso lhe encheu de satisfação e orgulho de si mesmo. Rapidamente a sala ficou agitada. Os funcionários juntavam documentos em pastas para entregar a ele, os mais ágeis e organizados já estavam em volta de Gabriel lhe explicando seus resultados e ele ouvia apenas acenando com a cabeça, atento aos detalhes que em breve repassaria ao chefe. Alexandre assistira a tudo através de seu computador, de onde monitorava as câmeras. Sorriu satisfeito, cruzando os braços.

Ao findar aquela semana, Alexandre já possuía todos os resultados de suas investigações e provas concretas para apresentar ao CEO. Ele ligou para o ramal da secretária geral e solicitou o agendamento de uma reunião. Estranhou quando a viu hesitar um pouco, antes de pedir que esperasse um minuto. Ao voltar à ligação, ela garantiu que estava marcado para o dia seguinte. Seria em pleno sábado de manhã. Alexandre não estranhou, pois não seria a primeira vez que um CEO lhe faria perder um fim de semana de folga. Mas estranhara que o local marcado fosse em um clube privado de tênis. Imaginava que pela gravidade da situação, o CEO preferiria que fosse na empresa, em seu escritório, onde teria o máximo de discrição possível.

Quando Alexandre avisou a Gabriel que precisaria dele na reunião, este não ousou questionar, apenas assentindo brevemente com a cabeça. Notou pouco depois, o rapaz saindo do escritório com a desculpa de ir comprar café e capuccino, mas sabia que iria dar a notícia para alguém que provavelmente esperava ter com ele um fim de semana agradável a sós. Aquela seria apenas a primeira de várias renúncias que o trabalho lhe exigiria.

Alexandre e Gabriel se encontraram em frente a empresa uma hora antes da reunião. O assistente apareceu com uma embalagem contendo pães de queijo frescos e na outra mão segurava um suporte para dois copos – de café e capuccino. Eles comeram enquanto repassavam o conteúdo da reunião dentro do carro.

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Comments

Jaildes Damasceno

Jaildes Damasceno

Gostei da declaração e atitude de Gabriel. Espero estar errada, mas vai pegar pro seu lado Gabriel, muito s podres serão descobertos e, você como assistente pessoal, pode vir a ser perseguido pela corja podre

2025-03-09

1

Jacaré

Jacaré

Vingativo o Gabriel, será q ele tbm entrará na safadeza ou vai ser fiel?

2025-02-13

1

Andressa Silva

Andressa Silva

muitas pessoas só precisa de oportunidade para crescer na vida

2024-12-07

2

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