Cap.05 - O envelope

Bianca ainda estava em estado de choque quando voltou para seu escritório. Ela não conseguia acreditar na vergonha que tinha passado no refeitório. Respirou fundo, contou até mil algumas vezes, mas seu coração insistia em bater desesperadamente, como se estivesse numa escola de samba. Perguntava-se o que ia fazer para evitar encontrá-lo pela empresa nos próximos dias. Esperava que com o tempo, ele esquecesse tal ocorrido; Se tivesse sorte, ele poderia esquecer também quem era ela.

Outra coisa que não saía de sua mente, era a maneira como Alice o tratava. Nunca a viu chamando novos funcionários de alto escalão pelo primeiro nome, sem sequer usar o “senhor” antes. Precisaria de pelo menos um ano convivendo com ele para tamanha intimidade. Alice era o tipo de pessoa que se fazia de difícil até quando se tratava de novas amizades. Por que o chamou de Alexandre? Logo, os pensamentos de Bianca se voltaram para o seu nome. Sem se dar conta, estava sorrindo, enquanto repetia mentalmente o nome “Alexandre” com entonações variadas. Por que ele tinha um nome tão bonito? Não poderia ser um nome estranho, para diminuir todo aquele charme? Isso parecia injusto com meras mortais como ela. Divertia-se com seus pensamentos de tal forma, que não notou seu chefe parado diante de sua mesa. Provavelmente esquecera de fechar a porta.

— Senhorita Bianca, você está bem? Não parece me ouvir. – Disse Orlando, confuso.

— Desculpe, senhor! Não percebi que estava aí. – Respondeu ela, levantando-se.

— Tudo bem, não precisa se levantar. Só queria saber se concluiu o relatório.

— Sim, senhor. Eu já ia deixar com tua secretária. – Ela estendeu uma pasta a ele.

— Ok, obrigado. Hoje Helena precisou sair mais cedo, tinha uma consulta.

— Ah sim, entendo. Bem, se precisar de alguma ajuda, conte comigo.

— Posso mesmo? Porque estou realmente precisando de uma ajuda.

— Claro, senhor. Do que precisa? – Prontificou-se Bianca, sorrindo gentilmente.

— Preciso que vá ao departamento financeiro no 14º andar e entregue este envelope. Pode ser entregue ao senhor Alexandre ou seu auxiliar. É a resposta do que havia me pedido durante o almoço. Obrigado. – Ele se retirou rapidamente.

Bianca engoliu em seco. Ela teria que vê-lo novamente? E no mesmo dia de sua vergonha? Olhou no corredor e não avistou nenhum estagiário. Onde haviam se metido? Suspirou. Resolveu que não devia se importar tanto com aquilo e poderia fingir já ter esquecido do ocorrido. Ela era uma mulher confiante e não seria qualquer homem a fazê-la perder a linha desse jeito. Respirou fundo e marchou até o elevador.

Ao entrar no elevador, estava cheio. Ela foi a última a entrar e estava perdida em pensamentos. Ensaiou mentalmente como poderia entregar o envelope, quais frases pareceriam mais convincentes e que tom deveria usar para demonstrar que não se importava com a vergonha que passara outrora. Chegando ao 13º andar, o elevador pareceu esvaziar-se completamente. Acreditou estar sozinha, por isso treinou algumas falas sussurrando. Ela estendia o envelope para o nada, dizendo baixinho “Aqui está o que pediu ao meu chefe. Não sou garota de recados, vá até ele da próxima vez” e ao ver que pareceu prepotente, tentou “Meu chefe mandou lhe entregar, mas não sou sua secretária, estou apenas lhe fazendo um favor”. Bianca bufou e perguntou para si mesma em voz alta “Por que eu deveria dar alguma satisfação a ele sobre quem sou? Quanto menos ele souber quem sou eu na empresa, melhor. Certo?” – O elevador chegou ao 14º andar, ela saiu ajeitando sua postura. Já em frente à sala do departamento financeiro, notou que Gabriel e Alexandre não estavam ali. Logo, caminhou até o fim do corredor e bateu nela suavemente. Esperou um pouco e como ninguém abriu, tentou novamente. Resolveu colocar por baixo da porta, se abaixou e tentou empurrar, mas o envelope não passava. Ergueu-se, bufando. Por que tudo tinha que dar errado no mesmo dia?

— Deseja alguma coisa, senhorita? – Disse uma voz grave, meio rouca, muito familiar. Vinha por trás de Bianca. Ela virou-se de olhos arregalados e lá estava ele com seu auxiliar de escritório a seu lado, que a olhava com expressão confusa.

— Ah! Não, não. Ou melhor, sim. Eu só... – Ela não terminou a frase, apenas virou-se de costas e curvou-se diante da porta, tentando puxar o envelope, mas estava preso. Gabriel fez menção de ajudá-la, mas Alexandre colocou um braço à sua frente, o impedindo de dar mais um passo. Gabriel olhou para Alexandre, intrigado.

A mulher estava literalmente arqueada diante dele, tentando tirar o envelope dali. Ele quis rir, mas outras sensações percorriam seu corpo. Sorriu de canto, pensando mil coisas e cruzou os braços, enquanto aproveitava a vista. Depois de ouvir alguns xingamentos que ela sussurrava achando que ninguém ouviria, ele permitiu que seu assistente a ajudasse. Gabriel pediu licença, Bianca se ergueu, ele abriu a porta com a chave e o papel soltou, lhe permitindo pegá-lo. Ela observou, constrangida.

— Este é o... Quero dizer, meu chefe disse que... Bom, está entregue. – Disse Bianca. Ela pediu licença, fazendo uma breve reverência com a cabeça, não ousando a levantar de novo, até entrar no elevador. Alexandre moveu-se para o lado, permitindo que ela passasse. Ele a observou caminhar timidamente pelo corredor. Gabriel analisava as expressões do chefe, que não tirava os olhos de Bianca.

— Não entendo por que logo ela trouxe os documentos que pedi a Orlando. – Disse Alexandre, a observando esperar pelo elevador, impaciente. Ela apertava o botão várias vezes, como se fosse adiantar algo.

— Esta é a advogada Bianca Diniz. Como a secretária do doutor Orlando está ausente, ela deve ter se prontificado a ajudá-lo. – Respondeu Gabriel.

— Então ela é advogada aqui? Interessante. – Comentou Alexandre, entrando em seu escritório, sendo seguido por seu assistente.

— A empresa tem um departamento jurídico e ela começou trabalhando nele. Hoje faz parte dos três advogados principais da empresa e do próprio CEO. – Informou Gabriel.

— Para quem era um estagiário, você parece muito atualizado sobre os departamentos e funcionários.

— É que minha namorada é estagiária nesse departamento, senhor. Secretárias estão sempre tagarelando sobre vários assuntos. Os estagiários ouvem o que dizem.

— Tudo bem. Pode se manter informado sobre tudo, mas jamais seja o informante.

Gabriel assentiu com um movimento de cabeça. Alexandre lhe passou algumas coordenadas sobre documentos fiscais e lhe ensinou algumas outras funções que lhe seria de grande ajuda no escritório. Ele sabia que tinha pouco tempo para ensinar Gabriel, mas tinha gosto em vê-lo se esforçando para aprender. Via que uma vez dito, o rapaz não precisava perguntar uma segunda vez, pois era atento.

Alexandre estranhava algumas despesas mal explicadas, saídas com altos valores e tantos outros custos que não faziam sentido para ele. Pedia a Gabriel os orçamentos daquilo que via nos documentos, o fazia ligar nos lugares de onde vinham os gastos, refazia orçamentos e cálculos, notando que as contas não batiam. Parecia que finalmente estava prestes a descobrir o real motivo do diretor financeiro ter sido demitido. Naquela semana, ambos deveriam trabalhar dobrado e comeriam no escritório, pois não poderiam perder tempo. O CEO da empresa só poderia aceitar uma reunião com o diretor financeiro para falar sobre este assunto, se houvesse provas concretas. Alexandre tirou seu terno, arregaçou as mangas e focou nos papéis à sua frente. Gabriel estava feliz em fazer parte de uma verdadeira investigação com grande importância para a empresa. Isso poderia alavancar sua carreira. Faria de tudo para ser oficialmente contratado como auxiliar de escritório do diretor financeiro.

Enquanto o elevador descia – levando consigo Bianca e sua humilhação –, parou no 10º andar, onde Alice entrou e a cumprimentou. Ela respondeu, tentando ajeitar sua postura, mas pareceu em vão.

— Está tudo bem, senhorita Bianca? Parece pálida. – Comentou Alice.

— Acho que sim, só preciso de um café. Hoje o dia está difícil. – Respondeu ela.

— Isso tem algo a ver com o novo diretor financeiro? Ou é impressão minha?

— O que? Não, claro que não. – Pigarreou Bianca, se abanando com as mãos.

— Por que está corada então? Não perguntei nada demais. Ele é teu ex-namorado?

— Senhorita Alice, apesar de não devermos expor nossa vida pessoal na empresa, preciso deixar claro que não conheço esse senhor. Apenas nos esbarramos uma vez na rua e ele derrubou meu café. Sequer foi cavalheiro para oferecer outro.

— Então foi isso? Apenas um esbarrão por acaso? Você fez parecer ser mais.

— Como assim? Não entendi o que quer dizer. – Bianca virou-se para Alice.

— Nunca vi alguém ficar tão mexida com a presença de Alexandre, como você fica.

— O que te faz pensar que ele mexe comigo? – Questionou Bianca, perplexa.

— Além de começar a suar subitamente, perde o dom da fala por algum tempo. Não te ouvi gaguejar nem mesmo no dia de sua entrevista para trabalhar aqui.

— Está equivocada, senhorita Alice. Eu apenas estou tendo um dia ruim. – Garantiu.

— Se você diz... Então tudo bem. Sinal de que ele continua livre. – Alice sorriu.

Nesse exato momento, o elevador chegou ao 9º andar, onde ambas saíram. Alice caminhou até a sala de Orlando que já a esperava. Ela andava de nariz empinado e os quadris movimentando-se excessivamente. Por um instante, Bianca teve a impressão de vê-la jogar os cabelos para trás, com desdém. Preferiu espantar tais pensamentos e marchou nervosa até sua sala. Tentou concentrar-se no trabalho.

Na sala de Orlando, Alice discutia sobre o contrato de Gabriel, que Alexandre havia solicitado. Era a primeira vez que um diretor exigia tanto para seu assistente. Ao analisarem a solicitação de uma página adicional, solicitando total sigilo de seu funcionário, ambos concordaram que isso tornava Alexandre confiável. Ele de fato se preocupava com o progresso da empresa e estava cuidando disso nos mínimos detalhes.

Após terem chegado a tal conclusão, resolveram assinar como testemunhas no contrato, para provar que era legítima a aprovação de tais modificações. Alice pediria à sua secretária para autenticar tudo, logo após a assinatura de Alexandre e Gabriel. Esperava que o diretor não pedisse mais nada, pois já era muito oficializar o estagiário como seu auxiliar de escritório e secretário particular, permitindo que fosse retirado de seu salário a parte que lhe dizia respeito, para não colocar mais uma carga sobre a empresa que já estava em situação difícil, graças ao diretor anterior. Alexandre estava tendo tal consideração e ainda era um novo contratado. Isso era admirável, uma vez que não tivera tempo de se apegar àquele lugar. Gabriel receberia três vezes mais, os bônus e horas extras também teriam um aumento considerável. Porém, suas obrigações também aumentaram, dentro e fora da empresa. Com sigilo absoluto.

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Comments

Jacaré

Jacaré

A vista devia tá muito boa, certeza que imaginou safadezas com essa tal Bianca

2025-02-13

1

Jaildes Damasceno

Jaildes Damasceno

Acho que Alexandre está afim de Bianca e a Alice afim dele kkkk babado, e agora?

2025-03-09

0

Andressa Silva

Andressa Silva

quem vai ser o par romântico de Alexandre?

2024-12-03

1

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