Cap.04 - O Café

No dia seguinte, Alexandre resolveu tomar café da manhã próximo à empresa. Pegou o celular e ligou para Gabriel assim que chegou. O rapaz sequer imaginava que seu chefe sabia seu número. Ficou assustado ao reconhecer a voz do outro lado.

— Oi, quem fala? – Perguntou ele ao atender a ligação.

— Bom dia, primeiramente. Aqui é seu chefe. Onde você está agora?

— Ah, bom dia senhor, me desculpe. Não sabia de quem era o número.

— Agora sabe. E então? – Insistiu Alexandre, impaciente.

— Estou em casa, me mudei para perto da empresa, então não saio cedo.

— Você não saía cedo. Agora trabalha para mim. Será o primeiro a entrar e o último a sair. Vai comprar seu café da manhã e meu capuccino, levar para o escritório e organizar os documentos em ordem de urgência. Colocará sobre a minha mesa. Este será o teu ritual todas as manhãs. Quando eu chegar, quero que esteja pronto para receber os próximos comandos. Haverá dias em que fará hora extra e será pago por elas. Também assinará um contrato onde assumirá responsabilidade de manter em sigilo tudo que souber da empresa, pois o que virá para nosso escritório jamais poderá chegar aos ouvidos de qualquer outro funcionário. Se algo vazar, saberei que foi culpa tua e será demitido imediatamente por justa causa, sem direito a absolutamente nada. Estamos entendidos? – Disse Alexandre, sem pausas.

— Claro, senhor. Estou anotando tudo, para não esquecer nenhum detalhe.

— Ótimo. Neste momento estou pedindo meu capuccino e três pães de queijo em uma cafeteria, próximo ao trabalho. É tempo suficiente para você enfiar um pão na boca, vestir um casaco e se apressar para chegar antes de mim no escritório.

— Ok, eu já estou saindo de casa. Obrigado pelo aviso, até logo.

Alexandre mal ouviu as últimas palavras de Gabriel, pois já estava desligando. Olhou em volta enquanto comia sem pressa alguma. Aproveitou para avaliar suas ações e demais investimentos pelo celular, se atualizou sobre as novidades do mercado financeiro e percebeu que Alice o havia adicionado em um grupo no aplicativo de mensagens. Resmungou para si mesmo, pois não era tão sociável.

Ao terminar, caminhou distraidamente, ainda olhando para a tela do celular. De repente, sentiu alguém batendo contra ele com força e olhou feio em sua direção. Foi quando se deparou com uma figura baixinha, ela o encarava com irritação.

— Senhor, seria muito pedir que olhasse para onde anda? – Perguntou a mulher.

— Desculpe?! – Disse Alexandre, incrédulo com tamanha ousadia.

— Claro, posso até desculpar, mas me deve um café. – Respondeu ela, apontando para o copo descartável de café pela metade em sua mão. Estava com as mangas do blazer molhadas, devido o encontrão.

— Mas não foi eu que... – Tentou argumentar, mas desistiu, percebendo que ela era a única afetada na situação.

— Não foi o senhor que andou na rua olhando para o celular? É isso? – Questionou ela, olhando para cima, encarando-o.

— Tem razão. Me desculpe, vou tomar mais cuidado de agora em diante. – Disse ele, guardando o celular no bolso de seu sobretudo. A olhava com curiosidade, tentava não transparecer quão divertido estava sendo receber aquela bronca.

— Ótimo. Pelo menos admitiu o erro. Assim é mais fácil perdoar. Mas não esqueça, me deve um café. – Ela saiu apressada, bebendo o restante que tinha no copo.

— Que mulher esquentadinha. – Disse para si mesmo, baixinho. Ele riu enquanto a observava se afastar. Até a maneira como ela andava era cheia de marra.

Alexandre entrou no carro e dirigiu até a empresa, estacionando na vaga reservada exclusivamente para ele. Ficava próximo às vagas dos demais chefes e diretores. Ele ouviu um de seus colegas o cumprimentando assim que saiu do carro e ativou o alarme. Era Orlando, o mais velho e experiente entre os chefes de departamentos. Eles se encontraram na porta que dava acesso à empresa no estacionamento. O homem era gentil e mantinha uma boa postura no trabalho. Alexandre gostava disso. Orlando não tentou puxar muito assunto, pelo contrário, caminhava a seu lado até o elevador, acenando com a cabeça discretamente a todos por quem passava. Era o tipo de amizade que lhe agradava. Perto de pessoas assim, ele não precisava se esforçar para ser carismático. Ambos se despediram assim que o elevador parou no nonoandar. E Alexandre viu por alguns segundos uma figura baixinha muito familiar, que passava pelo corredor naquele exato instante. Ela havia cumprimentado Orlando e ao avistar Alexandre no elevador que fechava suas portas, arregalou os olhos, assustada. Ele não tinha se dado conta de que sua expressão também era de surpresa ao vê-la ali. Será que trabalhava no nono andar? Não conseguia se lembrar qual o departamento de Orlando.

Alexandre caminhou pelo penúltimo andar (14º) até a sala onde trabalhava sua equipe. Não disse nada inicialmente, mas procurou memorizar quem eram os poucos que estavam ali naquele horário. Logo, os cumprimentou.

Ao chegar em seu escritório, mal estendeu a mão em direção à porta e ela se abriu. Era Gabriel, com um sorriso tenso nos lábios, lhe cumprimentando. Havia aberto a porta para que ele entrasse. Quando Alexandre olhou em volta, notou que tudo estava mais organizado do que deixara no dia anterior. Havia uma pilha de documentos sobre sua mesa e outros sobre a de Gabriel. O rapaz tinha um retrato e um porta-canetas também – o que fez Alexandre se lembrar de que ainda precisava transformar aquele lugar em algo seu -, notou que também tinha uma lixeira discreta que estava vazia, apesar de ter sentido o cheiro de café e muffin no ar, não havia vestígios de alguém ter comido ali.

— Muito bem, Gabriel. Estamos evoluindo. Isso me agrada. – Disse Alexandre, enquanto caminhava até a própria mesa. Mas antes que se sentasse, o rapaz se oferecera para ajudá-lo com o sobretudo. Ele pensou em recusar, mas resolveu ver até onde o rapaz estava disposto a ir, para garantir sua vaga como auxiliar.

— O senhor tem uma reunião marcada com a equipe para ser atualizado de seus trabalhos. Teu antecessor havia dividido entre eles algumas funções e precisam saber se o senhor prosseguirá com a mesma estratégia. – Disse o rapaz, enquanto ajeitava o sobretudo nas costas da cadeira de seu chefe.

— E essa reunião tem horário marcado ou isso caberá a mim?

— O senhor é quem marca o horário. Eles são apenas notificados pelo sistema da empresa.

— Ok, diga que em meia hora teremos esta reunião. Quem chegou pontualmente ou com antecedência poderá participar. Os retardatários devem ser proibidos de entrar. Não quero preguiçosos na minha equipe.

— Sim, senhor. Irei notificar agora mesmo. Algo mais que eu deva fazer?

— Por enquanto é apenas isso. Mas me diga... O que são estes documentos em tua mesa? – Apontou Alexandre com uma caneta nas pontas dos dedos.

— São os documentos menos urgentes, senhor. Como eram muitos, não quis ocupar demais tua mesa, então deixei na minha até que resolvesse os que estão aí.

— Muito bem, obrigado. – Disse Alexandre, dispensando o rapaz. Gabriel usava todas suas forças para não sorrir de orelha a orelha, por ter sido aprovado em tudo.

Naquela manhã, Alexandre pediu a Gabriel para escrever uma ata contendo os nomes de todos os presentes na reunião. Aqueles que não puderam participar, receberam uma lista de regras do novo diretor do departamento, que deixava claro quão importante era a pontualidade durante sua gestão, entre outras obrigações.

Durante o horário de almoço, Alexandre se atrasou para descer e Gabriel só saiu do escritório após ele sair. Tentou disfarçar o fato de estar praticamente o seguindo, afinal, também iria para a área de alimentação. O rapaz assustou-se quando o viu parar e virar-se para ele com semblante sério.

— Por que está atrás de mim? – Perguntou seu chefe.

— É que estamos indo para o mesmo lugar, senhor. – Respondeu Gabriel, tenso.

— Mas por que está atrás de mim?

— Desculpe, acho que não entendi. – Disse o rapaz, confuso.

— Se você é meu auxiliar, é como meu braço direito. Ande ao meu lado.

— Ah, desculpe senhor. – Gabriel apressou os passos até estar a seu lado. A partir dali, nunca mais cometeria o mesmo erro. Por dentro, estava exultante.

Chegando na área de alimentação, Gabriel pediu licença e encaminhou-se até uma jovem morena que o recebeu com um grande sorriso. Alexandre notou que era a mesma do retrato sobre a mesa de seu auxiliar. Concluiu que era namorada dele. Continuou caminhando, em direção aos alimentos até que alguém o parou. A mulher se posicionou em frente a ele, com braços cruzados e olhar furioso. Ele riu baixo e arqueou as sobrancelhas, a encarando de volta com expressão divertida.

— O que pensa que está fazendo? – Questionou ela.

— Você sempre me deixa perdido em tuas conversas. – Respondeu ele.

— Não banque o engraçadinho. Por que está me seguindo? – Ela sussurrou.

— Te seguindo? Acha que entrei na empresa para te procurar? – Ele riu novamente.

— Não é engraçado. Sabe o que é assédio? Está me assediando, senhor.

— Do que está falando, mulher? De onde tirou isso? – Ele estava incrédulo.

— Sempre segue as mulheres que encontra na rua? Esbarrou em mim de propósito?

— Você não acha que está sendo um pouco narcisista? – Perguntou Alexandre.

— Se eu contar aos seguranças da empresa, te colocam para fora rapidinho.

— Por que não tenta? Eu vou adorar a cena constrangedora.

— Então você gosta de passar vergonha? Agora faz todo sentido. – Zombou ela.

— É impressionante... – Disse ele, com um sorriso sarcástico.

— Devo ser mesmo, para ter se dado ao trabalho de vir até aqui. – Ela retrucou.

— Eu quis dizer que é impressionante que tenha espaço para tanta arrogância e prepotência em um corpo tão pequeno. – A mulher quis responder, mas assim que abriu a boca, viu Alice se aproximar deles e os cumprimentar.

— Olá Alexandre. Boa tarde, Bianca. Vejo que já conheceu nosso novo diretor financeiro. Você estava em uma reunião fora da cidade quando o apresentei a todos.

— Diretor financeiro? – Perguntou Bianca, olhando de Alice para Alexandre.

— Então este é o teu nome? Muito prazer, senhorita Bianca. Encantado. – Disse Alexandre, estendendo a mão. Ele sorria, triunfante. Seu olhar era desafiador.

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Comments

Jacaré

Jacaré

Pq toda baixinha é brava? /Grin/

2025-02-13

1

Andressa Silva

Andressa Silva

😄😄😄😄😄😄😄😄

2024-12-02

2

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