Cap.08 - Reunião inesperada

Eles chegaram meia hora antes do horário marcado. Gabriel usava uma camisa azul-claro com mangas curtas, uma calça jeans azul-marinho e um sapatênis preto. Havia levado um casaco preto, para o caso de continuar esfriando. Não entendia os ricos que jogavam tênis em dias frios, logo pela manhã. Alexandre estava com uma blusa de gola polo vermelho-escuro, calça jeans preta, um blazer preto, calçava um sapatênis preto com risca de giz. Olhava seu relógio de tempos em tempos, apesar de sua persistente calma.

Avistaram alguém se aproximando com dois guarda-costas atrás de si. Pensavam ser só mais uma mulher rica que os flertaria e seguiria seu caminho. Ela tinha pele clara, cabelos ruivos nitidamente naturais, que estavam presos. Apesar de ter um rosto angelical, sua expressão combinava com o andar confiante. Era difícil não notar o short saia tenista branco, pois era curto e destacava suas pernas delicadas. Todo seu look de tenista era branco com detalhes rosa, incluindo sua raquete. Ela parou em frente a eles.

— Bom dia, senhores. Espero não estar atrasada para nossa reunião. Desculpem ter marcado aqui e em pleno sábado, mas viajarei na próxima semana.

— Tudo bem, sem problemas. Mas me desculpe a pergunta indiscreta... Onde está o CEO? – Quis saber Alexandre, tentando ser sutil.

— Está diante de vocês. Meu nome é Amanda Roux, esposa de Afonso Roux. Por favor, sentem-se e eu explicarei melhor. – Disse ela, enquanto apertavam as mãos.

Caminharam até a sala ao lado, onde as paredes eram de vidro e havia várias mesas vazias com cadeiras almofadadas. Ela escolheu uma, Alexandre lhe ajudou puxando e ajeitando sua cadeira, antes de sentar-se diante dela. Gabriel se posicionou a seu lado, com duas pastas de documentos em mãos. Foi explicado que ela era esposa do CEO – que também era dono da empresa -, mas este estava acamado, sendo já de idade avançada. Alexandre tentou não parecer surpreso, mas Gabriel deixou seu queixo cair, inconscientemente. Por sorte, ela havia fixado os olhos em Alexandre enquanto discorria o assunto. Amanda não fizera questão de lhes contar toda a história. A resumiu, dizendo que era a única herdeira e iria assumir a empresa em breve. No entanto, estava usando o momento atual para mudar a dinâmica da empresa e trocar funcionários de quem havia descoberto deslealdade. Garantiu firmemente a Alexandre que não deixaria sequer um, que a deixasse insegura quanto a isso. Ele assentia, mantendo os olhos nos dela, como se quisesse lhe passar confiança, mesmo sem usar palavras. Ela pareceu entender.

Após a breve apresentação dela, foi a vez dele se apresentar. Não citou nenhuma de suas referências anteriores, pois achava que seus estudos e competências lhe seriam suficientes. Em seguida, resumiu o conteúdo dos documentos e os entregou.

Alexandre e Gabriel não apenas haviam trabalhado em prol da investigação e descoberto o que havia de errado nas finanças da empresa, como também desenvolveram métodos para solucionar os problemas causados e acrescentaram ideias inovadoras para obter ganhos adicionais que compensassem o valor outrora perdido. Amanda estava impressionada, mas procurava manter a compostura, sem demonstrar sua surpresa para que eles não a vissem como uma líder inexperiente.

Afonso Roux era um dos figurões mais famosos do país, havia ficado viúvo pouco após seus 40 anos, mas não pensava em se casar novamente. No entanto, apesar de ter sempre alguém que aquecesse sua cama, não tinha para quem deixar toda sua herança. Tal preocupação surgiu quando atingiu os 60 anos de idade, por não ter filhos ou sequer uma esposa. Decidiu que quando encontrasse alguém que merecesse tamanho favor, se casaria com ela. Pouco tempo depois, conhecera uma governanta que apesar da idade, era muito bela e lhe agradava em tudo, em especial no caráter. Ela havia levado a própria filha para lhe servir na cozinha, como auxiliar da cozinheira oficial da casa. Afonso se agradou da moça e pagou seus estudos até que se formasse. Não foi difícil a convencer de cursar o Ensino Superior e obter alguns cursos adicionais na área de administração empresarial, pois ela se identificava com o ramo, já estava finalizando o Ensino Médio quando a conhecera. Ele também havia lidado com os custos do tratamento de sua mãe e de seu velório, quando ela não suportou o tratamento intensivo. Amanda era imensamente grata a ele e lhe jurou lealdade eterna. Afonso decidiu que ela era plenamente digna de sua herança, por isso, providenciou um casamento feito na presença de um juiz, tendo como testemunhas seu mordomo, a nova governanta da mansão e os seguranças que eram de sua total confiança. Todos os que foram empregados por Afonso Roux tinham um motivo para estarem ali e haviam demonstrado lealdade em momentos cruciais. Ele não tinha conseguido manter o mesmo padrão em sua empresa por muito tempo. No entanto, quando viu tudo sair de seu controle, contratara Alice para chefiar o departamento de RH, pois ela também havia provado lealdade a ele.

Os funcionários não faziam ideia da história pessoal do CEO Afonso Roux, pois sua vida privada era discreta. Ninguém em sua empresa sabia sobre a nova esposa, exceto pelos acionistas, que precisaram ser informados assim que a transferência da empresa para o nome de Amanda iniciou-se. Por este motivo, Alexandre estava se sentindo perdido. Ele tinha estudado tudo que podia sobre Afonso Roux e até soube da esposa falecida, mas esta era uma surpresa para ele. Ficou aliviado por conseguir controlar seu nervosismo durante a reunião com Amanda, a nova CEO. Ele odiava se sentir perdido, desatualizado, sem informação suficiente para o que estava prestes a enfrentar. Fez uma nota mental de pesquisar sobre Amanda Roux.

Concluindo a reunião, ela se levantou e agradeceu a eles pela presença. Tinha outro compromisso marcado. Precisava jogar com uma dupla de patrocinadores da empresa, para lhes agradar um pouco. Pediu que Alexandre colocasse seus planos em andamento o quanto antes. Ele assentiu e todos se despediram gentilmente.

Chegando em seu carro, Alexandre pediu a Gabriel para pesquisar. Ele já o havia feito. Constatou que seria difícil encontrar algo sobre Amanda, pois as redes sociais estavam bloqueadas para bisbilhoteiros e a mídia não falava nada a respeito dela. Afonso Roux sabia muito bem como guardar um segredo, por mais belo e grandioso que ele fosse, pensou Alexandre. Ele dirigiu seguindo as instruções de Gabriel, fazia questão de saber onde morava. Gabriel tentou persuadi-lo, não queria que seu chefe descobrisse que ele morava em um apartamento simples e o dividia com dois amigos da universidade. Seus esforços foram em vão, pois Alexandre insistiu.

Chegando ao local, o assistente pensava que se despediriam e talvez seria possível aproveitar o restante do sábado com sua namorada. Ficou surpreso ao ver Alexandre descer do carro, olhando em volta. Gabriel torcia para que seus amigos não estivessem em casa ou ao menos tivessem mantido ela limpa dessa vez. No entanto, assim que abriu a porta do apartamento, se deparou com roupas largadas sobre os sofás da sala, louças sujas na mesa da copa e através da porta aberta era possível ver que a cozinha não estava diferente. Um dos rapazes estava de bermuda e sem camisa, jogando no sofá sem tirar os olhos da televisão, enquanto o outro apareceu só de toalhas ao sair do banho, perguntando a eles se tinham alguma roupa limpa para emprestar a ele. Gabriel paralisou na entrada e Alexandre ao olhar por cima dos ombros dele, o puxou pelos ombros para trás e fechou a porta atrás de si, o conduzindo de volta ao elevador. O rapaz apenas se permitiu ser guiado, ele não sabia o que dizer ou como se desculpar pelo que tinham visto.

— Você não mora mais aqui. – Afirmou Alexandre.

— Senhor, eu não posso alugar outro lugar por enquanto. – Respondeu Gabriel.

— Eu sei. Você não precisará pagar nada. Morará em um apartamento meu, que está desocupado.

— O que? Senhor, eu não posso aceitar isso. Seria o mesmo que tirar proveito...

— Não perguntei o que acha ou prefere. Estou avisando que agora morará nele.

— Mas minhas coisas estão todas aqui. – Argumentou Gabriel.

— Algo insubstituível? De valor emocional? – Quis saber Alexandre.

— Bem, eu acho que não. Mas coisas básicas necessárias, sim.

— Coisas básicas insubstituíveis? – Perguntou seu chefe.

— Não, senhor. Meus materiais estão comigo, na mochila. O que há de valor emocional, também levo comigo para onde vou. Alguns itens estão no escritório. Eu não confio de deixar em casa o que é importante para mim. – Respondeu ele.

— Então está resolvido. Você não mora mais neste lugar. – Concluiu Alexandre.

— Tem certeza de que não é muito inconveniente que eu more no teu apartamento?

— Eu comprei alguns aqui, como investimento. Este é um dos que mantive sem inquilinos, pois não levo qualquer pessoa onde moro. Assim, mantenho discrição.

— Senhor, eu não tenho móveis para levar. – Disse Gabriel, constrangido.

— Está mobiliado, não se preocupe. Terá tudo o que precisa nesse lugar.

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Comments

Andressa Silva

Andressa Silva

Alexandre è um ótimo patrão 😘😘😘

2024-12-07

1

Jaildes Damasceno

Jaildes Damasceno

Um chefe desse que se preocupa com o subordinado, é raríssimo de se vê. Então Gabriel aproveite e faça merecer tal confiança

2025-03-09

1

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