Dias depois, a conversa que tive com Ramón continuava ecoando na minha cabeça. Era como se cada palavra dele estivesse gravada em mim, insistindo para que eu as encarasse.
Conversei com Mateus sobre isso, tentando organizar meus pensamentos, e ele, com aquele jeito descontraído e sábio, me deu conselhos que abriram minha mente de um jeito que eu não esperava.
Foi então que finalmente entendi: eu estava completamente apaixonada por Ramón.
A realização veio como um choque e, ao mesmo tempo, como um alívio. Não fazia sentido negar mais o que eu sentia. Decidi que não podia adiar isso, precisava falar com ele, colocar tudo para fora.
Enquanto me preparava para sair, percebi que minhas mãos estavam suando. Estava tão nervosa que mal conseguia pensar direito. Olhei para fora e vi que uma chuva torrencial começava a cair, mas isso não me faria mudar de ideia.
Fui até Luca, que brincava com seus carrinhos no tapete da sala. Ajoelhei-me ao lado dele e dei um beijo suave em sua testa.
AURORA: Filho, a mamãe vai sair rapidinho, tá bom? O Mateus vai ficar com você. Seja bonzinho.
Luca levantou o olhar curioso, mas sorriu e assentiu, voltando a brincar.
Fui até Mateus, que estava na cozinha mexendo no celular. Ele levantou os olhos para mim, notando minha expressão.
MATEUS: Vai mesmo, hein? Parece que você está indo para uma entrevista de emprego, não para declarar o seu amor.
Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um sorriso nervoso.
AURORA: Mateus, só... fique de olho no Luca, por favor.
Ele se aproximou, segurando meus ombros com firmeza.
MATEUS: Aurora, vai dar tudo certo. Você sabe o que quer. E sabe que ele também quer você. Agora respira, segura a onda e vai logo.
Assenti, tentando absorver a confiança que ele parecia ter por mim.
Peguei as chaves do carro e olhei mais uma vez para Luca, que agora estava concentrado em montar uma pista para seus carrinhos.
AURORA: (murmurando para mim mesma) É agora ou nunca.
E com isso, saí de casa e entrei no carro, enquanto a chuva continuava a cair com força. Meu coração batia acelerado, mas, pela primeira vez em muito tempo, eu sabia exatamente para onde estava indo – e por quê.
A estrada estava quase deserta, envolta por uma névoa fina que a chuva insistente criava. O som dos pingos no para-brisa acompanhava o ritmo acelerado do meu coração. Segurava o volante com força, como se aquilo pudesse acalmar o turbilhão de sentimentos dentro de mim.
Cada curva parecia me aproximar mais de Ramón, mas também do momento que poderia mudar tudo.
Você consegue, Aurora, murmurei para mim mesma. "Só diga o que sente e aceite o que vier.
Quando finalmente avistei a entrada da fazenda de Ramón, respirei fundo. As luzes da varanda estavam acesas, lançando um brilho quente na noite chuvosa. Estacionei o carro e fiquei parada por alguns segundos, tentando reunir coragem.
Com o coração na garganta, desci do carro e corri até a porta, protegendo-me como podia da chuva. Bati com firmeza, sentindo a ansiedade crescer a cada segundo de espera.
Quando a porta se abriu, Ramón apareceu, vestido com uma camisa de flanela aberta sobre uma camiseta branca. Seus olhos se arregalaram ao me ver ali, encharcada e visivelmente nervosa.
RAMÓN: Aurora? O que você está fazendo aqui nessa chuva? Está tudo bem?
Sua preocupação era evidente, e algo no tom caloroso da voz dele me deu força.
AURORA: Não, Ramón. Eu não estou bem. Não enquanto não disser tudo o que eu preciso dizer.
Ele franziu a testa, dando um passo para o lado e abrindo espaço para que eu entrasse.
RAMÓN: Entra, você vai pegar um resfriado. Vamos conversar.
Entrei, sentindo o calor da casa contrastar com o frio úmido da chuva. Ele pegou uma toalha e me entregou, mas não tirou os olhos de mim.
RAMÓN: O que aconteceu, Aurora? Por que você está aqui assim?
Enxuguei o rosto e soltei um suspiro, finalmente reunindo a coragem que havia me trazido até ali.
AURORA: Eu precisava te ver. Precisava dizer que... que você significa muito mais para mim do que eu queria admitir. Ramón, eu acho que estou apaixonada por você.
O silêncio que se seguiu foi tão pesado que quase me fez querer sair correndo. Seus olhos me analisavam, como se processassem cada palavra.
Por um momento, pensei que talvez tivesse cometido um erro ao vir até ali. Mas então Ramón deu um passo à frente, segurando meu rosto com aquelas mãos fortes, mas incrivelmente gentis.
RAMÓN: Aurora... você não faz ideia de como esperei ouvir isso.
E, antes que eu pudesse responder, ele me beijou.
Foi um beijo que carregava tudo — a tensão, o desejo, a ternura. O mundo lá fora desapareceu, e pela primeira vez em muito tempo, senti que estava exatamente onde deveria estar.
Quando Aurora disse aquelas palavras, foi como se o tempo parasse. Eu a observei, tão vulnerável e ao mesmo tempo tão determinada, e algo dentro de mim simplesmente cedeu. A resistência, as dúvidas, tudo desapareceu no momento em que nossos lábios se encontraram.
Beijá-la foi como voltar para casa depois de anos perdido. Sua boca tinha o gosto doce de coragem e o calor de alguém que, mesmo com medo, escolheu o amor. Quando nos separamos, apenas o suficiente para olharmos nos olhos um do outro, percebi o brilho em seu olhar, uma mistura de alívio e nervosismo que a fazia ainda mais linda.
RAMÓN: Você sabe o quanto eu esperei por isso, Aurora?
Ela sorriu, tímida, e desviou o olhar por um segundo antes de me encarar novamente.
AURORA: Achei que estivesse sendo louca vindo até aqui na chuva... mas eu não aguentava mais guardar isso para mim.
Toquei seu rosto, sentindo a maciez de sua pele contra minha palma. Ela estava encharcada, e algumas gotas de chuva ainda escorriam por seus cabelos. Peguei a toalha novamente e comecei a secá-la com cuidado, aproveitando qualquer desculpa para prolongar o momento.
RAMÓN: Você não é louca. Você é a mulher mais corajosa que eu já conheci.
Ela riu, aquele riso suave que fazia meu peito apertar.
AURORA: E você é o homem mais teimoso que eu já conheci. Podia ter dito algo antes.
Sorri, passando os dedos pelo cabelo dela, agora bagunçado pela chuva e pelo meu toque.
RAMÓN: Achei que você precisava de tempo. Achei que talvez eu fosse uma complicação que você não queria.
Ela balançou a cabeça com força, me interrompendo antes que eu pudesse dizer mais.
AURORA: Você nunca foi uma complicação, Ramón. Você é... segurança. É calma. É o que eu nem sabia que estava procurando.
Aquelas palavras me atingiram como um raio. Ela tinha a habilidade de expor sentimentos com uma clareza que me desarmava completamente.
Puxei-a para perto, abraçando-a com força, como se quisesse garantir que ela nunca escaparia novamente.
RAMÓN: Eu não vou a lugar nenhum, Aurora. Não enquanto você quiser que eu fique.
Ela suspirou contra meu peito, e ficamos ali, no meio da sala, enquanto a chuva batia nas janelas e o fogo crepitava na lareira.
Naquele momento, tive certeza de que tudo o que eu havia passado até agora tinha me levado até ela. Aurora e Luca eram o meu futuro. E eu faria de tudo para proteger e cuidar deles.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Marisa Sampaio
Até que fim se resolveram!
2024-12-15
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