°•Capítulo 7•`

Enquanto caminhava ao lado de Aurora e Luca pelos corredores do supermercado, algo parecia diferente. Eu não conseguia parar de notar como a simples presença de Aurora mudava tudo ao meu redor. Eu a observava discretamente, como ela tentava se concentrar nas prateleiras, enquanto, ao mesmo tempo, um sorriso involuntário surgia em meu rosto sempre que Luca corria animado.

A verdade era que, mesmo sabendo que o tempo entre nós ainda era curto, algo em mim estava sendo despertado de uma forma que eu não sabia como explicar. Eu sabia que não era apenas a beleza de Aurora, embora ela fosse indiscutivelmente atraente. Era algo mais profundo, algo que ia além da aparência.

Quando ela se aproximou rapidamente para cuidar de Luca depois que ele caiu, vi uma preocupação genuína nos olhos dela. A forma como ela o abraçou com tanto carinho, e como ela tentou manter a calma mesmo em momentos de estresse, me fez admirá-la ainda mais.

Aurora parecia ser feita de uma mistura de força e vulnerabilidade. Era como se o mundo tivesse tentado derrubá-la, mas ela continuava se levantando, sempre pensando primeiro no bem-estar do filho.

Eu me vi desejando estar mais perto dela. E não apenas por uma questão de atração, mas porque sentia que havia algo genuíno entre nós, algo que não podia ser ignorado.

Quando ela me agradeceu, tentando disfarçar a tensão no ar, eu só pude sorrir. Estava começando a perceber que aquele momento não era uma coincidência. Aurora e Luca estavam de alguma forma me tocando mais profundamente do que eu imaginava. O que o futuro reservava para nós, eu não sabia, mas não conseguia evitar o desejo de descobrir.

Enquanto seguimos pelo supermercado, o silêncio entre nós parecia confortável, como se nossas presenças já tivessem se integrado de uma forma que não precisávamos de palavras para preencher os espaços. Eu a observava com mais atenção agora, os pequenos gestos de Aurora, como ela ajeitava as coisas no carrinho, tomava cuidado com cada item que escolhia, sempre atenta a Luca, que, por sua vez, se movia pelo supermercado como uma bola de energia.

Aurora parecia ser alguém que sabia exatamente o que queria, mas também estava cheia de uma vulnerabilidade que eu não conseguia deixar de notar. Eu queria entender mais sobre ela, o que a fazia tão forte, mas ao mesmo tempo tão cautelosa. E Luca, esse pequeno furacão de alegria, era um reflexo claro dessa força, mas também da ternura de sua mãe.

Depois de alguns minutos, finalmente chegamos à seção de frutas. Eu peguei um cacho de bananas e coloquei no carrinho, observando Aurora escolher algumas maçãs com uma precisão que me fez sorrir, inconscientemente.

RAMÓN: (brincando) Se algum dia você quiser fazer uma troca, posso cuidar do Luca enquanto você escolhe as frutas.

Aurora olhou para mim por um instante, um leve sorriso se formando em seus lábios, mas rapidamente ela desviou o olhar, como se estivesse tentando esconder algo.

AURORA: (brincando) Eu diria que você ia precisar de mais do que apenas uma maçã para aguentar o ritmo dele.

Luca, sempre curioso, apareceu ao meu lado, olhando para as bananas com grande interesse.

LUCA: (olhando para mim) Posso pegar uma?

Eu olhei para Aurora, que assentiu com um sorriso.

RAMÓN: Claro, campeão, pode pegar uma.

Luca, então, pegou uma banana com suas mãozinhas pequenas e a olhou com satisfação, como se tivesse conquistado o mundo. Eu ri, me sentindo cada vez mais à vontade naquela situação.

Aurora parecia relaxar um pouco também, como se a tensão que estava presente quando a conheci tivesse diminuído, e eu sabia que algo estava mudando entre nós. Talvez fosse cedo demais para afirmar, mas havia algo mais profundo ali. Algo mais real do que eu esperava.

RAMÓN: (sorrindo) Parece que ele já sabe o que quer. Acho que ele vai ser bem difícil de lidar quando crescer.

AURORA: (rindo) Ele já é. Mas sou eu quem o ensino a ser assim.

Nos olhamos por um momento, e novamente, como nas vezes anteriores, a conexão parecia ser mais forte do que simples palavras poderiam descrever.

Eu sabia que a vida de Aurora era mais complexa do que parecia, mas naquele momento, era como se nada mais importasse. Estar ali com ela, com Luca, sentindo que havia algo mais começando a nascer entre nós, fazia o tempo desacelerar de uma maneira agradável.

No fundo, sabia que estava apenas começando a entender essa nova fase da minha vida — e talvez, só talvez, Aurora fosse uma parte importante disso.

LUCA: Mamma, sovete! Você pometeu.

AURORA: (sorrindo) Claro que lembro, meu amor.

Ela levantou os olhos para mim, um pouco hesitante, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.

AURORA: Ramón, por acaso você sabe onde tem uma boa sorveteria por aqui?

Seu olhar tinha uma mistura de timidez e simpatia, e eu não pude deixar de sorrir ao perceber isso.

RAMÓN: (brincando) Sei sim, mas vou te avisar que só tem uma regra: ninguém sai de lá sem experimentar o sorvete de doce de leite. É quase uma tradição por aqui.

Aurora riu suavemente, relaxando um pouco.

AURORA: Parece que temos um guia oficial, então.

LUCA: (empolgado) Sovete! Quelo de cocolate!

RAMÓN: Chocolate é uma ótima escolha, campeão. Mas vou te convencer a provar um pouquinho do de doce de leite também.

Luca riu, e Aurora balançou a cabeça, divertida.

AURORA: Parece que você já ganhou a confiança dele.

RAMÓN: (olhando para Luca) E você, Luca, promete que vai me contar qual é o melhor no final?

LUCA: Pometo!

Havia algo reconfortante naquele momento. A naturalidade da conversa e o entusiasmo de Luca tornavam tudo leve. Sem pensar muito, ofereci:

RAMÓN: Se quiser, posso levar vocês lá agora. Não é muito longe, e seria um bom jeito de encerrar o dia.

Aurora hesitou por um instante, mas o sorriso de Luca parecia resposta suficiente.

AURORA: Acho que não vamos recusar um bom sorvete, certo, Luca?