Enquanto dirigia de volta para a casa dos meus pais, Luca dormia profundamente no banco de trás, ainda segurando o sorvete que não terminou. O ritmo suave do carro na estrada era quase hipnótico, mas minha mente estava longe de descansar.
Ramón.
Havia algo nele que ficava comigo, mesmo depois que nos despedíamos. Não era apenas o jeito como ele interagia com Luca ou como parecia tão genuinamente interessado em ajudar. Era o que eu sentia quando estava perto dele. Um misto de segurança e nervosismo que eu não sabia bem como processar.
Chegando à fazenda, estacionei o carro e, com cuidado, tirei Luca de sua cadeirinha. Ele se aninhou contra meu ombro, murmurando algo incompreensível em seu sono. Entrei em casa, colocando-o delicadamente no sofá, e me sentei por um momento para respirar.
A casa estava silenciosa, exceto pelo som distante dos grilos e pelo vento soprando lá fora. O entardecer se filtrava pelas janelas, lançando sombras suaves pelos móveis.
Me peguei olhando para o vazio, repassando os últimos dias. Ramón era diferente de qualquer pessoa que eu tinha conhecido antes. Ele era autêntico, gentil e, acima de tudo, parecia realmente se importar, não apenas comigo, mas com Luca também.
Eu deveria ficar feliz com isso, mas algo me impedia de relaxar completamente. Talvez fossem os fantasmas do meu passado, as feridas deixadas pelo pai do Luca, que ainda não cicatrizaram.
Levantei-me, afastando os pensamentos. Ajeitei Luca e o levei para a cama, cobrindo-o com cuidado. Ele murmurou algo em seu sono, e um sorriso involuntário apareceu no meu rosto. Luca era a razão de tudo. Ele merecia o melhor.
Mais tarde, de pé junto à janela do meu quarto, olhei para os campos que se estendiam sob o céu noturno. O ar estava calmo, mas dentro de mim havia um turbilhão de emoções.
Eu não sabia o que fazer com Ramón. Ele parecia ser uma boa pessoa, mas... e se tudo isso fosse passageiro? E se eu me permitisse sentir algo por ele, apenas para descobrir que estava errada novamente?
Suspirei profundamente, afastando a cortina e me virando para a cama. O amanhã traria respostas — ou pelo menos, mais perguntas. E talvez, com o tempo, eu pudesse aprender a confiar novamente.
O sol já havia se posto quando cheguei em casa. Tornado estava no estábulo, já acomodado para a noite, e o silêncio ao redor era quase reconfortante. Mas minha mente estava longe de estar em paz.
Aurora.
Desde que a conheci, tem sido difícil tirá-la da cabeça. Não era apenas sua beleza, que, sem dúvida, era marcante. Era algo mais. O jeito como ela olhava para Luca, com tanto amor, mas também com um cansaço que denunciava o peso que carregava sozinha.
Eu sabia como era carregar fantasmas do passado. Já tinha os meus, e, às vezes, parecia que viver aqui no campo era a única forma de lidar com eles. Mas Aurora era diferente. Ela tinha uma força que a fazia seguir em frente, mesmo que estivesse machucada.
Enquanto tirava as botas e acendia a luz da sala, me perguntei o que mais havia por trás daquela fachada cuidadosa. Não sabia toda a história dela, mas também não podia negar que queria saber.
Peguei um copo d’água e me sentei na varanda, deixando a brisa noturna esfriar os pensamentos que ferviam na minha cabeça. Aurora mencionou que era modelo, algo que eu jamais teria imaginado se não tivesse ouvido da boca dela. Mas a maneira como ela falou sobre isso, como se fosse algo de um passado distante, me intrigou.
Ela não parecia sentir falta da fama ou do glamour. Tudo nela agora parecia girar em torno de Luca. E era isso que me pegava. O amor incondicional que ela tinha pelo filho, a prioridade que ela dava a ele. Eu respeitava isso. Admirava isso.
Mas não pude deixar de me perguntar: será que havia espaço na vida dela para algo mais?
Passei a mão pelo rosto, frustrado com meus próprios pensamentos. Fazia muito tempo que eu não me permitia pensar assim sobre alguém. E talvez fosse justamente isso que me deixava inquieto. Aurora era diferente, e eu não queria estragar isso.
Por outro lado, não podia ignorar a conexão que sentia quando estávamos juntos. Não era só atração, era algo mais profundo, mais real. Talvez fosse o jeito como ela falava comigo, ou o fato de que, quando estava perto dela e de Luca, a casa vazia parecia menos vazia.
Dei um longo gole no copo d’água e me levantei, decidido a não me deixar levar por esses pensamentos. Era cedo demais para qualquer coisa. Aurora claramente tinha suas barreiras, e eu não queria pressioná-la.
Mas, enquanto entrava de volta em casa, uma coisa era certa: eu queria estar por perto. Queria conhecê-la melhor, entender suas dores e, se ela permitisse, mostrar que talvez recomeços não precisem ser tão solitários.
Enquanto terminava de arrumar a cozinha, meu celular vibrou sobre a mesa. Olhei para a tela e vi o nome de Santiago, meu braço direito nos negócios. Atendi, já antecipando que algo importante estava por vir.
RAMÓN: Santiago, o que aconteceu?
Do outro lado da linha, a voz dele era tensa, direta.
SANTIAGO: Ramón, temos um problema. Preciso que você venha para os Estados Unidos o quanto antes.
Minha expressão se fechou imediatamente. Não era comum Santiago soar tão preocupado.
RAMÓN: Que tipo de problema?
SANTIAGO: Uma das entregas foi comprometida. O cliente está ameaçando romper o contrato, e precisamos da sua presença para resolver isso.
Passei a mão pela nuca, sentindo a tensão subir.
RAMÓN: Droga... Quando aconteceu isso?
SANTIAGO: Hoje de manhã. Estamos fazendo o possível para contornar a situação, mas você sabe como é. Sem você aqui, as coisas podem sair do controle.
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. A última coisa que eu queria era deixar tudo aqui de lado, mas isso parecia ser urgente demais para ignorar.
RAMÓN: Entendido. Vou entrar em contato com o piloto agora mesmo e organizo o voo. Estarei aí o mais rápido possível.
Minha voz era firme, mas internamente eu já sentia o peso da decisão. Não era só a urgência do problema, mas o que significava deixar tudo aqui, mesmo que temporariamente.
SANTIAGO: Perfeito. Vou garantir que tudo esteja pronto para a sua chegada. Qualquer atualização, eu aviso.
RAMÓN: Ótimo. Fique no comando até eu chegar.
SANTIAGO: Claro. E, Ramón... desculpe ter que te tirar daí, mas só você pode resolver isso.
RAMÓN: Não se preocupe, Santiago. Fique de olho em tudo até eu chegar.
Desliguei o telefone e fiquei olhando para a tela por alguns segundos, processando a mudança abrupta nos meus planos.
Estados Unidos. Não tinha como evitar.
E, de repente, uma pontada de incômodo surgiu. O pensamento de deixar Aurora e Luca por tempo indeterminado era mais difícil do que eu esperava.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Thaliaa Vieira
Ai autora, já tá na hora de juntar eles né 👀
2024-12-06
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