Estava no meio de um relatório importante quando meu celular vibrou. Normalmente, eu ignoraria qualquer mensagem até terminar o trabalho, mas quando vi o nome de Aurora na tela, não consegui resistir.
Abri a mensagem, e meu coração deu um salto involuntário. Era algo simples:
"Oi, Ramón. Só queria saber se está tudo bem por aí."
Tão simples, mas ao mesmo tempo tão inesperado. Aurora não era do tipo que se abria facilmente, e eu sabia que receber uma mensagem dela significava algo.
Não demorei a responder:
"Aurora. Está tudo bem, mas muito melhor agora que recebi sua mensagem. E vocês, como estão?"
Enquanto esperava pela resposta, me permiti relaxar por um instante.
Quando a resposta chegou, li devagar, saboreando cada palavra.
"Estamos bem. Luca ainda fala de você todos os dias. Ele sente sua falta."
Sorri, imaginando o pequeno falando de mim com sua energia contagiante. Mas foi a última frase que me fez hesitar antes de digitar a próxima mensagem.
"E você? Também sente minha falta?"
Eu sabia que estava arriscando. Aurora era uma mulher cautelosa, e algo me dizia que ela não estava acostumada com perguntas tão diretas. Mas não conseguia evitar. Eu precisava saber.
Quando a resposta veio, era exatamente o que eu esperava dela.
"Talvez..."
Uma palavra. Uma palavra que dizia tanto e, ao mesmo tempo, quase nada. Era uma pequena brecha, mas para mim, era o suficiente.
"Eu espero que esse 'talvez' um dia se transforme em um 'sim'."
Enviei antes que pudesse pensar demais. Era isso. Eu não tinha tempo para joguinhos, nem paciência para esperar que a vida decidisse por mim. Eu queria Aurora, queria Luca em minha vida, e precisava deixar isso claro, mesmo que de maneira sutil.
Respirei fundo, guardando o celular no bolso. Agora era esperar. Seja o que for que Aurora quisesse me dizer a seguir, eu estava disposto a ouvir. Afinal, ela já era muito mais do que uma possibilidade. Aurora era minha certeza.
O resto do dia passou em um ritmo estranho. Depois de responder à mensagem de Aurora, minha concentração evaporou. Tudo que eu fazia parecia mecânico, como se minha mente estivesse presa no som imaginário da risada dela, no jeito que Luca me chamava ou na expressão suave no rosto dela quando pensava que ninguém estava olhando.
Meu celular vibrou de novo. O coração disparou ao ver o nome dela na tela.
"Eu espero que sim também."
Apenas cinco palavras, mas elas foram suficientes para virar meu mundo de cabeça para baixo. Aurora não era alguém que jogava palavras fora. Se tinha dito isso, significava que estava começando a abrir uma porta. Uma porta que, até pouco tempo atrás, parecia completamente fechada para mim.
Uma parte de mim estava nervoso. E se eu estivesse interpretando errado? E se Aurora não estivesse pronta para algo mais?
Mas então me lembrei do jeito que ela me olhava, da suavidade na sua voz quando dizia meu nome. Não era coisa da minha cabeça. Havia algo ali, algo que valia a pena arriscar.
Desta vez, não deixaria dúvidas sobre o que eu sentia. Aurora precisava saber.
Os dias seguintes foram um misto de rotina e inquietação.
Cuidar de Luca, e lidar com as tarefas da fazenda mantinham minha mente ocupada — ou pelo menos eu tentava acreditar nisso. Mas, nos momentos de silêncio, Ramón sempre voltava aos meus pensamentos.
Mateus passou por aqui algumas vezes, sempre trazendo sua energia leve e descontraída. Ele tentava me distrair, contar histórias engraçadas sobre sua vida com Gabriel, mas mesmo ele sabia que não adiantava muito.
MATEUS: Você está obcecada, Aurora. Devia mandar uma mensagem pra ele.
AURORA: Não quero parecer carente.
MATEUS: (sorrindo) Ah, claro. Porque ficar olhando para o celular como se ele fosse te ligar do além não é nada carente.
Revirei os olhos, mas ele estava certo. Eu sentia falta de Ramón. Sentia falta do jeito que ele fazia tudo parecer mais seguro, mais possível. Mas não sabia se era justo esperar algo dele. Afinal, ele tinha suas próprias responsabilidades, seu próprio mundo, e eu não queria ser mais um peso.
Naquela tarde, enquanto pendurava roupas no varal, ouvi o som de um carro se aproximando. Meu coração acelerou automaticamente, mesmo antes de confirmar quem era. Soltei a camisa que estava segurando e me virei, tentando parecer casual, mas por dentro sentia uma tempestade.
Era ele.
Ramón desceu do carro com aquele jeito calmo que fazia parecer que o mundo estava sob controle. Vestia jeans, botas e uma camisa que realçava os músculos que eu insistia em tentar não notar. Ele tirou os óculos de sol e me olhou com um pequeno sorriso, aquele sorriso que parecia capaz de desmontar todas as minhas defesas.
RAMÓN: Oi, Aurora.
Minha voz ficou presa na garganta por um segundo antes de eu conseguir responder.
AURORA: Oi.
Luca apareceu correndo de dentro da casa, gritando animado quando viu Ramón. Ele se jogou nos braços dele, como se semanas, e não dias, tivessem se passado desde a última vez que se viram.
LUCA: Voxê votou!
RAMÓN: (abraçando-o) Voltei. E trouxe algo para você.
Ele tirou um pequeno avião de madeira do bolso, entregando a Luca, que imediatamente começou a correr pela grama, imitando o som de motores.
Eu fiquei parada ali, observando-os, enquanto Ramón me lançava um olhar. Havia algo não dito entre nós, algo que ele parecia prestes a dizer, mas não tinha certeza de como começar.
RAMÓN: (baixando a voz) Podemos conversar, Aurora? Sozinhos?
O pedido era simples, mas carregado de peso. Assenti, indicando a varanda, enquanto Luca continuava brincando. Meu coração batia rápido enquanto o seguia, sabendo que aquela conversa poderia mudar tudo. Ou talvez, apenas confirmar o que eu já sabia, mas tinha medo de admitir.
Subimos para a varanda, e eu me encostei no parapeito, cruzando os braços enquanto Ramón se sentava em uma das cadeiras de madeira. Ele parecia nervoso, algo raro para ele. Sempre o via tão seguro, tão no controle, mas naquele momento, havia uma vulnerabilidade em seus olhos que me desarmou.
RAMÓN: (respirando fundo) Aurora, eu não sei exatamente por onde começar, mas... sinto que não posso mais ficar em silêncio.
Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar. Não sabia o que ele ia dizer, mas a intensidade em sua voz já fazia meu estômago dar voltas.
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Atualizado até capítulo 60
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