AURORA: Ramón, se for sobre Luca ou—
RAMÓN: (interrompendo) Não é só sobre Luca. Claro, eu me importo muito com ele, mas isso... isso é sobre você. Sobre nós.
Meu corpo ficou tenso, como se estivesse me preparando para uma tempestade. Eu quis desviar o olhar, mas a profundidade no olhar dele me prendeu ali.
RAMÓN: (mais firme) Desde o dia em que nos conhecemos, Aurora, algo em você me fez querer ser diferente. Melhor. Não sei explicar direito, mas você tem um jeito de fazer as coisas parecerem mais simples, mesmo quando tudo está complicado. E... nesses últimos dias, longe daqui, tudo o que eu conseguia pensar era que eu queria estar de volta. Queria estar perto de você.
As palavras dele me atingiram como uma onda. Eu abri a boca para falar, mas nada saiu. Ele continuou, como se precisasse colocar tudo para fora de uma vez.
RAMÓN: Eu sei que você já passou por muita coisa. Sei que não é fácil confiar em alguém. Mas quero que você saiba que eu estou aqui, Aurora. Não importa o que aconteça, não vou a lugar nenhum. Só... precisava dizer isso.
O silêncio que se seguiu parecia pesado, mas não desconfortável. Fiquei olhando para ele, tentando processar o que tinha acabado de ouvir. Ramón estava colocando o coração na mesa, e eu não sabia como responder. Não porque não sentia o mesmo, mas porque tinha medo de admitir. Medo do que isso significava para nós.
Respirei fundo, tentando encontrar minha voz.
AURORA: Ramón, eu... Não sei o que dizer. Você é... incrível. Tudo o que você faz por mim, pelo Luca... eu não sei se mereço isso.
Ele franziu o cenho, claramente irritado com a minha resposta.
RAMÓN: (balançando a cabeça) Não diga isso, Aurora. Você merece mais do que eu poderia oferecer, e eu estou disposto a tentar ser esse mais, se você me deixar.
Meu coração quase parou. Aquilo era mais do que eu esperava ouvir. Ele não estava apenas dizendo que sentia algo; estava dizendo que queria tentar, que queria construir algo comigo.
Mas, mesmo assim, meu medo falou mais alto.
AURORA: Eu só... preciso de tempo, Ramón. Não quero apressar nada. Luca é minha prioridade, e ele já está tão ligado a você. Tenho medo de que... se algo der errado, ele acabe sofrendo.
Ele assentiu lentamente, os olhos ainda presos nos meus.
RAMÓN: Eu entendo. E vou respeitar o seu tempo. Mas só quero que saiba... estou aqui. E não vou desistir de você. De vocês.
Houve algo em sua voz, na certeza de suas palavras, que me deu uma sensação de segurança que eu não sentia há anos. Ramón não era só alguém passando pela minha vida. Ele era alguém disposto a ficar.
AURORA: (baixinho)Obrigada, Ramón.
Ele sorriu, um sorriso que parecia trazer uma promessa silenciosa. Então, antes que as coisas ficassem ainda mais intensas, Luca apareceu na varanda, o avião de madeira na mão, e correu para Ramón com a energia de sempre.
Por enquanto, aquilo era o suficiente. Mas no fundo, eu sabia que essa conversa era apenas o começo.
Ramón se abaixou para pegar Luca nos braços, girando-o no ar e arrancando uma gargalhada contagiante dele. Eu fiquei observando os dois, sentindo meu coração se aquecer com aquela cena. Era quase impossível imaginar Ramón fora de nossas vidas depois de tudo o que ele já significava para Luca – e, eu tinha que admitir, para mim também.
Enquanto os dois brincavam, minha mente voltou à conversa que tínhamos acabado de ter. Ramón tinha sido tão honesto, tão direto sobre o que sentia. E eu? Minha resposta parecia tão pequena comparada à coragem dele.
Mas, ao mesmo tempo, meu medo era real. Construir algo com ele significava colocar meu coração em jogo novamente, arriscar não apenas por mim, mas por Luca também.
LUCA: (interrompendo meus pensamentos) Mamma! Olha o avião! Lamón me ajudou a coseta!
Sorri, caminhando até eles e me abaixando ao lado de Luca. Ele segurava o avião com tanto orgulho, como se fosse o brinquedo mais especial do mundo.
AURORA: Está incrível, meu amor. Você teve ajuda de um ótimo mecânico.
Ramón riu, bagunçando o cabelo de Luca.
RAMÓN: Ele é o verdadeiro engenheiro aqui. Eu só segui as instruções.
Luca deu mais uma risada antes de correr de volta para o quintal, onde estava improvisando uma pista de pouso para seu avião. Ramón e eu ficamos ali, de pé, observando-o.
RAMÓN: (baixinho) Ele é uma criança incrível, Aurora. Você está criando um menino cheio de luz.
Olhei para ele, surpresa com a ternura em sua voz.
AURORA: Obrigada. Mas você tem feito parte disso, Ramón. Desde que chegou... Luca está mais feliz. Mais confiante.
Ele virou o rosto para mim, seus olhos me prendendo de novo.
RAMÓN: E você? Está mais feliz?
A pergunta me pegou de surpresa. Por um instante, eu quis desviar o olhar, mas não consegui.
AURORA: (sincera) Sim. Estou.
Ramón abriu um sorriso suave, mas não disse mais nada. O silêncio entre nós não era desconfortável; na verdade, parecia cheio de significados que ainda não sabíamos como expressar.
Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e dourado, Ramón se levantou e limpou as mãos na calça.
RAMÓN: Eu vou voltar para a fazenda. Preciso verificar umas coisas por lá.
Senti uma pontada de decepção ao ouvi-lo dizer isso, mas assenti.
AURORA: Claro. Obrigada por tudo hoje.
Ele inclinou a cabeça, hesitando por um momento antes de dar um passo à frente. Para minha surpresa, ele segurou minha mão brevemente, seus dedos firmes, mas gentis.
RAMÓN: (sussurrando) Não importa quanto tempo leve, Aurora. Eu vou estar aqui.
E com isso, ele se afastou, indo até o carro. Fiquei ali, observando enquanto ele se afastava novamente, sentindo uma mistura de emoções que não conseguia descrever.
Enquanto Luca corria até mim, com o avião em mãos, eu o peguei no colo e beijei sua bochecha.
AURORA: (para mim mesma) Um dia de cada vez.
E naquele momento, isso parecia o suficiente.
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Atualizado até capítulo 60
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