°• Capítulo 12•°

As horas seguintes passaram lentamente. Após colocar Luca para dormir, a casa mergulhou em um silêncio que normalmente seria reconfortante, mas que agora parecia sufocante. Caminhei até a varanda, levando uma xícara de chá comigo, e me sentei na cadeira de balanço que rangeu levemente sob meu peso.

Olhei para o céu, onde as estrelas começavam a surgir, uma a uma. Era um espetáculo simples, mas de uma beleza que nunca deixava de me tocar. Ainda assim, hoje, parecia incompleto.

Minha mente insistia em voltar para Ramón. O jeito como ele parecia se encaixar tão facilmente na minha vida e na de Luca, como se sempre tivesse feito parte dela. Não era algo que eu esperava ou planejava, mas agora que havia acontecido, era difícil imaginar nossa rotina sem ele.

Passei a mão pelo cabelo, frustrada com meus próprios pensamentos. “Você está se deixando levar, Aurora. É só uma pessoa que foi gentil, nada mais.” Mas isso não era verdade, e eu sabia. Ramón não era apenas gentil. Ele era presente, atento, e havia algo em seu olhar que fazia meu coração disparar.

Voltei para dentro da casa, determinada a ocupar minha mente. Peguei um livro, mas as palavras não faziam sentido. Liguei a TV, mas o som parecia distante. Cada tentativa de distração falhava miseravelmente.

Por fim, desisti e me deitei, mas o sono também me escapava. Peguei o celular na mesa de cabeceira e hesitei. Talvez ele já tivesse chegado, talvez não. Queria saber, mas não queria parecer ansiosa.

Ainda assim, digitei rapidamente uma mensagem antes que pudesse mudar de ideia.

“Espero que tenha tido uma boa viagem. Avise quando chegar. Boa noite.”

Fiquei olhando para a tela por alguns segundos, mas nenhuma resposta chegou. Coloquei o telefone de volta na mesa, sentindo-me tola por ter enviado algo tão simples, mas que revelava tanto.

Fechei os olhos, mas não consegui afastar a sensação de que essa ausência de Ramón, por mais breve que fosse, estava me mostrando algo. Talvez, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse pronta para abrir espaço para alguém na minha vida novamente.

E isso era tão emocionante quanto assustador.

AURORA

Acordei no meio da noite com o som do vento batendo contra as janelas. Espreguicei-me, mas meu primeiro instinto foi pegar o celular. Olhei para a tela, sentindo uma pontada de decepção ao perceber que não havia nenhuma mensagem de Ramón.

Balancei a cabeça, tentando afastar a sensação boba de estar esperando por algo que ele não tinha obrigação de fazer. Eu me forcei a colocar o celular de volta na mesa e fechei os olhos novamente, mas o sono demorou a voltar.

Na manhã seguinte, acordei com Luca pulando na cama.

LUCA: Mamma, vamo blincar lá fora?

Sorri para ele, afastando as dúvidas da noite anterior. Luca era o motivo de eu estar ali, meu foco, minha prioridade.

AURORA: Claro, meu amor. Só me deixa tomar um café primeiro, ok?

LUCA: (fazendo um biquinho) Tá bom...

Levantei-me e o acompanhei até a cozinha, preparando algo rápido enquanto ele já pegava seus brinquedos. Estávamos na varanda, observando o campo, quando meu celular vibrou. Meu coração deu um salto, e eu me senti ridícula por isso.

Peguei o telefone e desbloqueei a tela. Era uma mensagem de Ramón.

"Cheguei bem. Resolvi algumas coisas, mas vai levar um pouco mais de tempo do que pensei. Espero que você e Luca estejam bem. Mande um abraço para ele por mim."

Não consegui evitar o sorriso que surgiu no meu rosto. A resposta era simples, mas tinha um calor que me confortava.

AURORA: (respondi) "Que bom saber que chegou bem. Luca e eu estamos bem, ele já perguntou por você. Espero que tudo se resolva logo."

Enviei a mensagem e guardei o celular no bolso, tentando não ficar pensando nisso. Mas, claro, falhei.

LUCA: Mamma, o lamón vota hoje?

Ajoelhei-me ao lado dele, bagunçando seus cabelos.

AURORA: Não, meu amor. Ele vai demorar um pouco, mas prometeu que volta.

Luca parecia aceitar a resposta, mas algo em seu olhar me fez perceber que ele também sentia falta de Ramón, mesmo que não entendesse completamente por quê.

Enquanto Luca brincava com seus carrinhos, olhei para o horizonte. Eu não sabia quando Ramón voltaria, mas sabia que a espera já começava a pesar.

E isso me assustava mais do que eu estava disposta a admitir.

Cheguei ao hotel, joguei minha mala no canto do quarto e me joguei na poltrona perto da janela. A vista para o skyline de Nova York estava lá, impressionante como sempre, mas desta vez parecia sem vida, quase sufocante.

Minha cabeça estava cheia, e o motivo não era apenas o problema que tinha me trazido de volta aos Estados Unidos. Era ela. Aurora.

Peguei meu celular, reli a mensagem dela que havia chegado há algumas horas. Simples, direta, mas com aquele toque de gentileza que parecia tão característico dela.

"Que bom saber que chegou bem. Luca e eu estamos bem, ele já perguntou por você. Espero que tudo se resolva logo."

Sorri. Luca já perguntando por mim... Isso mexia comigo de um jeito inesperado. Aquela criança tinha um jeito único de se infiltrar na vida de alguém, e Aurora... Ela fazia isso sem nem perceber.

Suspirei e passei as mãos pelo rosto. Tinha vindo para cá com a cabeça cheia de compromissos e responsabilidades, mas, de alguma forma, ela continuava me puxando. E isso era perigoso.

Levantei-me, tirei o casaco e fui até a cozinha improvisada do quarto para pegar uma garrafa de água. Enquanto bebia, ouvi meu celular vibrar. Uma notificação do meu braço direito.

"Temos uma reunião importante amanhã às 10h. Preciso que revise os documentos antes de dormir."

Ótimo. Trabalho. Era disso que eu precisava, algo para me distrair. Mas quando sentei na mesa com o laptop, a concentração não veio.

Minha mente insistia em voltar àquela tarde na sorveteria. Ao jeito como Aurora ria enquanto Luca fazia perguntas sem fim. Ao brilho nos olhos dela quando falava sobre sua nova vida no campo, ainda cheia de incertezas, mas com uma determinação que eu admirava profundamente.

Fechei o laptop com força e me levantei.

RAMÓN: (baixinho) Que droga, Saidi. Concentre-se.

Caminhei até a janela, olhando para as luzes da cidade. Eu precisava resolver minhas questões aqui o mais rápido possível. Não era apenas pelo trabalho. Eu queria voltar.

Queria ver Aurora e Luca novamente.

E, mais do que isso, queria entender por que essa ideia estava começando a parecer mais urgente do que qualquer coisa que eu tinha deixado para trás no campo.

A madrugada passou em um ritmo lento e implacável. Entre uma reunião e outra no fuso horário local, eu revisava contratos e fazia chamadas intermináveis. Cada vez que olhava para o relógio, sentia o peso da distância, algo que há muito tempo não me incomodava.

Quando finalmente terminei tudo, o sol já estava nascendo sobre a cidade. Encostei-me à janela, observando os primeiros raios refletirem nos prédios, criando um contraste entre luz e sombra. Respirei fundo, tentando clarear a mente.

Peguei o celular. Tinha prometido a Aurora que enviaria uma mensagem quando tivesse um tempo. Digitar algo parecia simples, mas as palavras não saíam. Depois de alguns minutos de hesitação, escrevi algo curto e direto.

"Bom dia, Aurora. Como estão você e Luca? Espero que tudo esteja tranquilo por aí."

Apertei enviar antes de repensar.

Logo depois, o telefone tocou. Era meu braço direito.

SANTIAGO: “Ramón, precisamos sair daqui a 20 minutos. A reunião foi antecipada.”

Suspirei. Claro que foi.

RAMÓN: “Estou pronto. Te encontro no saguão.”

Troquei de roupa rapidamente, vestindo meu terno, e desci. Na reunião, minha mente estava no automático, respondendo perguntas, negociando cláusulas, mas uma parte de mim continuava presa naqueles dias na fazenda.

No fim da tarde, enquanto eu voltava ao hotel, o celular vibrou com uma mensagem. Era Aurora.

"Bom dia para você também. Estamos bem, e Luca insistiu em cuidar das galinhas hoje cedo. Disse que você ia gostar de ouvir isso."

Ri baixinho, imaginando Luca correndo atrás das galinhas com toda a energia que ele tinha. Respondi de imediato, sem hesitar dessa vez.

"Aposto que elas não tiveram sossego. Ele tem jeito para liderar, isso é certo."

A troca foi breve, mas suficiente para me trazer um conforto inesperado.

Enquanto a noite caía, sentei-me na poltrona do hotel, cansado, mas com a mente inquieta. Eu já sabia que resolveria o problema aqui em poucos dias. Tudo estava encaminhado, e a equipe podia assumir o resto.

A questão era: o que eu faria quando voltasse?

Afastar Aurora e Luca de minha vida parecia impossível agora. Mas me envolver mais significava complicar a vida deles — e a minha.

Pela primeira vez em anos, eu não tinha todas as respostas. E isso me deixava... vulnerável.

Mas, por alguma razão, essa vulnerabilidade não parecia tão ruim assim.

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Marisa Sampaio

Marisa Sampaio

É bom se decidir logo Ramón
não perde tempo ñ.

2024-12-07

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