°•Capítulo 3•°

Enquanto Ramón terminava de trocar o pneu, ele se levantou e limpou as mãos na calça jeans, olhando de relance para o carro. Ele franziu o cenho ao perceber algo.

RAMÓN: (em tom sério) O estepe não está em boas condições. Você pode até andar por um curto trajeto, mas não acho seguro viajar assim, ainda mais com o pequeno no banco de trás.

Eu olhei para o pneu reserva e percebi que ele tinha razão. Um misto de frustração e preocupação tomou conta de mim. Luca ainda dormia, alheio a toda situação, e eu não podia arriscar sua segurança.

AURORA: (suspirando) É... você tem razão. Mas não sei o que fazer agora. Estou a caminho da fazenda dos meus pais.

Ramón pareceu pensar por um momento, passando a mão pela barba curta. Então, ele me encarou com aquele olhar confiante e tranquilizador.

RAMÓN: Eu posso te levar. Minha caminhonete tem espaço, e não é longe para mim. Além disso, posso pedir para alguém consertar o carro e levá-lo até lá depois.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, surpresa com a gentileza inesperada. Era raro encontrar alguém disposto a ajudar tanto, especialmente um completo estranho. Mas a preocupação com Luca e a segurança falou mais alto.

AURORA: (um pouco hesitante) Tem certeza? Não quero atrapalhar seu dia...

Ele abriu um pequeno sorriso, que parecia desarmar qualquer desconfiança.

RAMÓN: Tenho certeza. E, honestamente, eu ficaria mais tranquilo sabendo que vocês chegaram em segurança.

Olhei para Luca, ainda profundamente adormecido, e então para Ramón. Algo em seu tom e postura me fazia confiar nele, mesmo que a lógica me dissesse para ser cautelosa.

AURORA: (cedendo) Tá bom. Obrigada, de verdade.

Ele acenou, como se fosse a coisa mais natural do mundo, e caminhou até a caminhonete para abrir a porta do passageiro.

RAMÓN: Vamos colocar o pequeno lá dentro. Eu ajudo com a cadeirinha.

Com cuidado, ele ajudou a desinstalar a cadeirinha do meu carro e a fixá-la na caminhonete, certificando-se de que tudo estava seguro. Depois, me deu espaço para ajeitar Luca no assento.

Enquanto Ramón ajustava a cadeirinha de Luca na caminhonete, seus movimentos eram firmes e cuidadosos, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. Ele parecia confortável naquele papel, e isso me surpreendeu. Assim que terminou, ele se voltou para mim.

RAMÓN: (apontando para o porta-malas) E quanto às bagagens? Tem muita coisa no carro?

Assenti, ainda me sentindo um pouco constrangida pela situação, mas grata por sua ajuda.

AURORA: Tem duas malas grandes e uma bolsa. Eu posso pegar—

Ele levantou a mão, interrompendo minha oferta com um gesto calmo.

RAMÓN: Não se preocupe. Eu cuido disso.

Antes que eu pudesse protestar, Ramón caminhou até o carro e abriu o porta-malas. Ele pegou as malas com facilidade, como se não pesassem quase nada, e as colocou cuidadosamente na parte traseira da caminhonete. Quando voltou para pegar a bolsa, me lançou um olhar rápido.

RAMÓN: Isso é tudo?

AURORA: (um pouco sem jeito) Sim, é tudo. Obrigada por... tudo isso. De verdade.

Ele sorriu, aquele sorriso de canto que parecia sempre estar à beira de algo mais profundo.

RAMÓN: Não tem de quê. Agora vamos sair daqui antes que fique tarde.

Assim que terminou de acomodar as malas, Ramón voltou para o lado do motorista e entrou na caminhonete. Sentei-me no banco ao lado dele, ajeitando meu cinto enquanto olhava para Luca, ainda dormindo na cadeirinha.

O motor ronronou suavemente quando ele ligou o carro, e começamos a nos afastar da estrada onde meu carro ficara para trás. Ramón parecia saber o caminho, mas ainda me lançou um olhar de confirmação.

RAMÓN: Me avise se eu pegar a estrada errada.

AURORA: Não, está certo. É só seguir reto por mais alguns quilômetros e virar à direita na bifurcação.

Ele assentiu e focou na estrada. O silêncio que se seguiu era confortável, mas senti a necessidade de dizer algo.

AURORA: (baixinho) Você é... sempre tão prestativo com estranhos?

Ele riu, um som grave e baixo que me pegou desprevenida.

RAMÓN: (brincando) Só quando o estranho parece estar realmente precisando de ajuda.

Eu não pude evitar um pequeno sorriso. Era difícil decifrá-lo, mas algo em Ramón parecia genuíno, como se ele realmente quisesse ajudar sem esperar nada em troca.

Quando nos aproximamos da bifurcação, ele diminuiu a velocidade e olhou para mim, como se buscasse confirmação.

RAMÓN: Direita, certo?

AURORA: Isso mesmo. A fazenda dos meus pais é a próxima à direita.

Enquanto ele fazia a curva, senti um misto de alívio e algo mais indefinido. Naquele momento, percebi que o que começara como um contratempo no meio da estrada poderia se transformar em algo inesperado.

Ramón ajustou o retrovisor e olhou brevemente para Luca, que ainda dormia.

RAMÓN: Ele parece tranquilo.

AURORA: (com um sorriso) Ele é. É a melhor parte da minha vida.

Ele não respondeu, mas pude perceber um lampejo de algo em seu olhar, uma mistura de admiração e curiosidade. E, assim, seguimos em direção à fazenda, cada quilômetro parecendo nos aproximar um pouco mais — não apenas do destino, mas um do outro.

Ramón dirigia pela estrada com a confiança de quem conhecia cada curva e desvio. A caminhonete balançava suavemente, e eu me pegava observando as mãos dele no volante. Eram firmes, mas os movimentos eram calmos, quase metódicos. Tentei me concentrar na paisagem lá fora, mas a presença dele preenchia o ambiente de uma forma que eu não conseguia ignorar.

RAMÓN: (quebrando o silêncio) Então, faz muito tempo que você não vem para o Brasil?

Balancei a cabeça, tentando parecer mais tranquila do que me sentia.

AURORA: Sim, faz alguns anos. Eu era criança na última vez.

Ele assentiu, olhando brevemente para mim antes de voltar os olhos para a estrada.

RAMÓN: E por que decidiu voltar agora?

O peso daquela pergunta me atingiu, mas eu respirei fundo antes de responder.

AURORA: (com um sorriso triste) Às vezes, a gente precisa de um recomeço. E o Brasil... me pareceu um bom lugar.

Ele não pressionou, apenas assentiu novamente, respeitando o espaço que eu precisava para não me aprofundar.

RAMÓN: (suavemente) Recomeços são bons. E, pelo que parece, você está fazendo isso por alguém muito especial.

Olhei para o retrovisor, onde Luca ainda dormia tranquilamente na cadeirinha. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.

AURORA: (baixinho) Ele é tudo para mim.

RAMÓN: Dá para ver. (pausa breve) Ele tem sorte de ter você como mãe.

Olhei para ele, surpresa pela declaração. Havia sinceridade em seu tom, e não parecia algo dito apenas para agradar.

AURORA: (sem jeito) Obrigada... Não é fácil, mas a gente faz o que pode.

Ramón deu um pequeno sorriso de canto, mas não disse nada, deixando o silêncio confortável se instalar novamente.

Depois de alguns minutos, ele diminuiu a velocidade, apontando para uma bifurcação à frente.

RAMÓN: Para onde estamos indo exatamente?

AURORA: (indicando com a mão) Siga pela direita. A fazenda dos meus pais é mais uns 15 minutos por essa estrada.

Ele assentiu e virou o volante com habilidade. Eu sentia que estava chegando perto, mas ao mesmo tempo, uma parte de mim não queria que aquela viagem terminasse tão rápido. Ramón tinha algo diferente — uma calma que eu não estava acostumada, mas que, de alguma forma, me fazia sentir segura.

Finalmente, a fazenda dos meus pais surgiu à vista. Os campos abertos, a casa grande e acolhedora... Tudo parecia exatamente como eu lembrava. Senti um nó na garganta ao perceber o quanto aquele lugar significava para mim.

RAMÓN: (estacionando a caminhonete) É aqui?

Assenti, tentando esconder a emoção que transbordava.

AURORA: (com um sorriso tímido) Sim, é aqui.

Ele desligou o motor e desceu para me ajudar com Luca. Com cuidado, tiramos a cadeirinha e colocamos no chão enquanto eu pegava meu filho, ainda sonolento, nos braços.

RAMÓN: (segurando a cadeirinha) Quer ajuda para levar isso até lá?

Hesitei, mas acabei sorrindo e aceitando.

AURORA: Acho que seria ótimo.

Depois de me despedir dele, agradecendo mais uma vez pela ajuda, ele voltou para sua caminhonete, mas não sem antes lançar um último olhar na minha direção.

RAMÓN: (com um sorriso de canto) Bem-vinda ao Brasil, Aurora.

E assim, ele foi embora, deixando algo mais do que apenas sua ajuda prática naquele dia. Ele deixou uma sensação de que, talvez, minha nova vida estivesse começando de uma forma que eu nunca imaginei.

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