RAMÓN: (sorrindo suavemente) Às vezes, a solidão nos ensina mais sobre nós mesmos do que qualquer outra coisa. Mas confesso que é bom ter companhia, mesmo que seja por uma tarde.
AURORA: (brincando, mas com sinceridade) Então espero que nossa presença tenha aliviado sua solidão um pouco hoje.
Olhei para ela, surpreso pela forma como suas palavras, simples e diretas, tinham um impacto maior do que eu esperava.
RAMÓN: (calmo) Aliviou mais do que imagina.
Ela desviou o olhar por um momento, mexendo distraidamente no guardanapo sobre a mesa. Havia algo nela que me intrigava, um misto de força e cautela que parecia conter histórias não contadas.
LUCA: (empolgado) Mamãe, já posso ir lá fora?
AURORA: (rindo) Tudo bem, mas fique por perto e nada de se sujar demais, entendeu?
Luca pulou da cadeira, sua energia inesgotável iluminando o ambiente. Ele correu para a área externa, deixando Aurora e eu sozinhos novamente.
O momento parecia mais íntimo agora, a ausência de Luca dando espaço para conversas que talvez nenhum de nós soubesse por onde começar. Resolvi quebrar o gelo.
RAMÓN: Você é diferente, Aurora. Não digo só pelo que já viveu, mas pela forma como encara as coisas. Parece que está sempre equilibrando o peso do mundo com um sorriso.
Ela ergueu as sobrancelhas, claramente surpresa com meu comentário, mas não fugiu.
AURORA: (suavemente) Acho que é o que fazemos quando somos mães. Aprendemos a carregar tudo e ainda encontrar tempo para sorrir, mesmo que nem sempre seja fácil.
RAMÓN: (sério) E você faz isso muito bem. É admirável, sabe?
Aurora corou levemente, algo que eu achava encantador, mas tentou esconder desviando o olhar.
AURORA: (tentando mudar o foco) E você, Ramón? Parece que tem uma vida tranquila, mas sei que todo mundo tem suas complicações. O que te mantém aqui, nesse lugar?
Parei por um momento, refletindo sobre como responder. Não era uma pergunta fácil, mas algo no olhar dela me incentivava a ser honesto.
RAMÓN: (pensativo) Meu pai costumava dizer que essas terras eram mais do que um lugar. Para ele, era um legado, algo que ele queria deixar para mim. Quando voltei, foi mais por lealdade a ele do que por mim mesmo. Mas, com o tempo, percebi que esse lugar também me dá algo. Raízes. E talvez, agora, esteja começando a me dar outra coisa.
AURORA: (curiosa) E o que seria?
Olhei para ela, sabendo que talvez fosse cedo para dizer o que realmente estava pensando. Em vez disso, apenas sorri.
RAMÓN: Acho que ainda estou descobrindo.
Aurora pareceu satisfeita com a resposta, embora houvesse uma faísca de curiosidade em seus olhos. A conversa foi interrompida por Luca, que voltou correndo para dentro com um sorriso enorme e as bochechas coradas.
LUCA: Mamãe, tem um cachorrinho lá fora! Posso brincar com ele?
Aurora olhou para mim, como se pedisse permissão.
RAMÓN: (rindo) Claro, ele é manso. Chama-se Max. Aposto que ele vai adorar a companhia.
Enquanto Luca corria de volta para fora, Aurora me lançou um sorriso que parecia tão natural quanto o vento que entrava pela janela. Naquele instante, percebi que cada momento com ela — mesmo os mais simples — parecia mais significativo do que qualquer outro que eu tinha vivido recentemente.
E por mais que tentasse, não conseguia evitar o pensamento de que talvez o destino estivesse, de fato, tentando me mostrar algo maior do que eu poderia imaginar.
Enquanto assistia Luca correr para brincar com o cachorro, não consegui evitar um sorriso. Ele parecia tão feliz, tão à vontade. Era exatamente o que eu queria para ele quando decidimos deixar a cidade e recomeçar aqui. Mas havia algo mais — algo inesperado.
Ramón.
Eu o observei enquanto ele se inclinava na cadeira, relaxado, mas atento ao meu filho. Havia algo nele que me deixava inquieta, mas de um jeito bom. Sua presença era como uma âncora, firme e confiável, mas ao mesmo tempo, havia uma leveza nele, uma sensação de que eu podia respirar com mais facilidade quando ele estava por perto.
Essa sensação era perigosa. Não porque Ramón não fosse confiável, mas porque eu já tinha me machucado antes.
Eu balancei a cabeça, afastando os pensamentos antes que me consumissem. Era melhor manter os pés no chão, focar no que realmente importava: Luca e a nossa nova vida.
AURORA: (tentando desviar o foco) Então, Max é seu cachorro?
RAMÓN: (sorrindo) É sim. Ele chegou aqui como um filhote perdido há uns dois anos. Desde então, virou parte da família.
Havia tanto carinho em sua voz ao falar do cachorro que quase senti inveja. Não por Max, claro, mas por aquela simplicidade, aquela capacidade de se conectar tão naturalmente com tudo ao seu redor.
AURORA: (brincando) Parece que Max já conquistou o Luca. Ele adora animais, mas é difícil termos espaço para isso na casa dos meus pais.
Ramón inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando algo.
RAMÓN: Bom, a fazenda tem espaço de sobra. Sempre que ele quiser, pode vir brincar com Max.
Fiquei surpresa com a oferta, embora ela fosse típica dele. Ramón parecia ser o tipo de pessoa que se importava sem pedir nada em troca. Isso era raro.
AURORA: (sorrindo) Obrigada. Tenho certeza de que Luca vai adorar a ideia.
Houve um momento de silêncio confortável entre nós. Lá fora, Luca estava rindo, e Max corria ao seu redor, latindo alegremente. A cena era tão simples e perfeita que meu coração quase doeu.
Ramón virou o rosto na direção da janela, observando Luca, mas depois seus olhos encontraram os meus.
RAMÓN: (baixo, quase hesitante) Sabe, Aurora, acho que você fez a coisa certa vindo para cá. Parece que esse lugar combina com você.
Fiquei sem palavras por um instante. Não sabia se era a sinceridade em sua voz ou o olhar profundo que ele me lançava. Mas, de alguma forma, aquilo me tocou mais do que eu esperava.
AURORA: (suavemente) Ainda estou tentando descobrir se é verdade. Mas... obrigada por dizer isso.
Ramón apenas sorriu, e naquele sorriso, havia algo que me deixava menos perdida.
Luca voltou correndo para dentro, interrompendo o momento com sua energia contagiante.
LUCA: Mamma, Max é o melhor cachorro do mundo! Podemos levá-lo para casa?
Eu ri, enquanto Ramón se inclinava para bagunçar os cabelos dele.
RAMÓN: Acho que Max gosta de ficar aqui, campeão. Mas você pode vir visitá-lo sempre que quiser.
Luca fez um biquinho, mas logo sorriu novamente. Era impossível ele ficar triste por muito tempo.
Enquanto voltávamos para casa mais tarde, não conseguia evitar a sensação de que algo estava mudando. Ramón estava lentamente se tornando parte das nossas vidas de um jeito que eu não esperava.
E o mais assustador? Eu não sabia se queria impedir isso.
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Atualizado até capítulo 60
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