Desliguei o telefone, mas fiquei parado por um momento, encarando a tela, perdido em pensamentos. Organizar a viagem seria simples — contatos, transporte, tudo isso já estava à minha disposição. O difícil era lidar com a ideia de ir embora, ainda que por pouco tempo.
Passei a mão pelos cabelos, tentando organizar meus pensamentos. Antes de tudo, precisava avisar Aurora. Não sabia por quê, mas a ideia de sair sem falar com ela parecia... errada.
Peguei o telefone novamente e disquei o número que ela havia me dado dias atrás, quando mencionei algo sobre visitar Luca na fazenda. O telefone tocou algumas vezes antes de ela atender, sua voz soando doce e um pouco surpresa.
AURORA: Alô? Ramón?
RAMÓN: Oi, Aurora. Tudo bem?
AURORA: Sim, está tudo bem. E você? Aconteceu alguma coisa?
Respirei fundo, tentando manter a conversa leve, mesmo com a urgência que eu sentia.
RAMÓN: Nada grave, mas surgiu um problema nos Estados Unidos. Vou precisar viajar por alguns dias para resolver.
Houve um pequeno silêncio do outro lado da linha, e por um instante temi ter soado brusco demais.
AURORA: Ah... entendo. Espero que não seja nada sério.
RAMÓN: É trabalho, então nada que não possa ser resolvido. Mas queria avisar, caso Luca pergunte por mim.
Ela riu baixinho, o som trazendo um pouco de alívio à tensão que eu não percebia carregar.
AURORA: Ele vai sentir sua falta. Você conquistou um fã, sabia?
Sorri, sentindo o peso diminuir um pouco.
RAMÓN: O sentimento é mútuo. E, bem... espero que vocês dois fiquem bem enquanto eu estiver fora.
AURORA: Nós ficaremos. E você... cuide-se, Ramón.
RAMÓN: Sempre.
Desliguei o telefone com uma sensação estranha. Não era como se fosse uma despedida longa ou definitiva, mas algo na conexão que começávamos a construir me fazia hesitar.
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos. Havia muito a resolver antes de partir.
Depois de desligar, fiquei parado por um momento, encarando o vazio. Aurora tinha essa habilidade de fazer até as conversas mais simples parecerem significativas. Eu sentia o peso de deixar aquele pequeno universo que começava a se formar entre nós — eu, ela, e Luca — mesmo que fosse por poucos dias.
Sacudi a cabeça, forçando-me a voltar ao presente. Precisava ser prático agora. Liguei para meu piloto particular e informei a urgência da viagem. Ele garantiu que o avião estaria pronto em poucas horas.
Enquanto arrumava minha bagagem, a mente continuava voltando a Aurora e Luca. Aquele pequeno garoto tinha conquistado um espaço no meu coração tão rápido quanto a mãe dele. Havia algo neles — na forma como riam, como cuidavam um do outro — que me fazia querer ser parte daquela dinâmica.
Assim que terminei de me preparar, peguei as chaves do carro e saí. Não era um adeus, mas eu sabia que precisava dizer algo a Aurora antes de partir.
Cheguei à fazenda ao entardecer. O céu estava pintado de tons de laranja e rosa, e o som dos pássaros ao longe tornava a cena quase poética. Estacionei na entrada e hesitei antes de descer do carro. Estava sendo impulsivo, talvez até um pouco invasivo, mas algo me dizia que precisava vê-la uma última vez antes de partir.
Aurora apareceu na porta da casa antes mesmo que eu pudesse bater. Estava descalça, segurando uma xícara de chá, os cabelos presos de forma despreocupada. Parecia tão à vontade, tão... real. Por um momento, fiquei sem palavras.
AURORA: (sorrindo) Ramón? O que faz aqui?
RAMÓN: (sem jeito) Eu... precisava te ver antes de ir.
Ela inclinou a cabeça, os olhos curiosos, mas sem julgamento.
AURORA: Entre.
Segui-a para dentro, sentindo o calor acolhedor da casa. Luca estava sentado no tapete da sala, brincando com alguns carrinhos de brinquedo. Ele olhou para mim e abriu um sorriso largo.
LUCA: Ramón! Voxê votou!
Ajoelhei-me ao lado dele, bagunçando seu cabelo.
RAMÓN: Não por muito tempo, campeão. Só vim me despedir.
Ele franziu a testa, claramente não gostando da ideia.
LUCA: Vai embola?
RAMÓN: Por uns dias. Mas prometo que volto logo.
Aurora observava a cena, encostada na porta, os olhos suavemente brilhando.
AURORA: (calma) Ele vai ficar bem. E eu também.
Levantei-me, encarando-a por um instante.
RAMÓN: Obrigado, Aurora. Por... tudo.
Ela sorriu, mas havia algo em seus olhos que parecia mais profundo, algo que eu não conseguia decifrar.
AURORA: Boa viagem, Ramón.
Acenei para os dois antes de sair, sentindo que deixava mais do que apenas um lugar para trás. Enquanto dirigia em direção ao aeroporto, percebi que a verdadeira questão não era apenas quando eu voltaria, mas o que encontraria quando voltasse.
Fiquei parada na porta, observando Ramón se afastar. O motor do carro rugiu suavemente enquanto ele desaparecia pela estrada de terra. Luca voltou a brincar no tapete, mas minha mente estava longe, presa na despedida breve, porém marcante.
Havia algo na maneira como ele se despediu. Um peso, como se quisesse dizer mais, mas não soubesse como. Senti um aperto no peito, e era impossível ignorar o vazio repentino que sua partida deixava. Não era justo. Eu mal o conhecia, mas já parecia que sua presença fazia parte da nossa rotina, da nossa casa.
Olhei para Luca, tão alheio à intensidade que eu sentia. Ele era meu pequeno mundo, meu maior motivo para estar ali. Mas Ramón... Ramón era algo que eu não tinha planejado. E eu não sabia como lidar com isso.
Caminhei até a cozinha, colocando a xícara de chá sobre a bancada. Meu olhar se perdeu na janela, nas árvores balançando ao vento suave do entardecer. Esse lugar, tão tranquilo, tinha sido um refúgio. Mas agora parecia diferente, como se estivesse esperando algo mais.
Peguei meu celular e fiquei encarando a tela por um tempo. Poderia mandar uma mensagem para ele? Algo casual, como "Tenha uma boa viagem" ou "Nos avise quando chegar". Mas desisti. Ramón era direto, prático. Talvez ele não quisesse essa ligação constante.
Suspirei e voltei para a sala, sentando no sofá ao lado de Luca. Ele me olhou por um momento, depois subiu no meu colo, com um de seus carrinhos na mão.
LUCA: Ramón tornerà presto? (Ramón vai voltar logo?)
Engoli em seco, acariciando seu cabelo.
AURORA: Sì, amore mio. È andato solo a sistemare alcune cose, ma ha promesso che tornerà.
(Vai, meu amor. Ele só foi resolver algumas coisas, mas prometeu que volta.)
Luca sorriu, como se isso fosse suficiente para ele. Queria que fosse tão fácil para mim também.
Enquanto segurava Luca, senti uma onda de determinação. Não podia deixar que esse vazio tomasse conta. Ramón tinha sua vida, assim como eu tinha a minha. O que quer que estivesse acontecendo entre nós, teria que esperar.
Mas, no fundo, eu sabia. Sabia que ele já tinha deixado uma marca — em mim e em Luca. E não importava quanto tempo ele ficasse longe, aquela sensação de conexão não iria desaparecer tão cedo.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Marisa Sampaio
Nossa parece que eles não vão mais se encontra vixe até eu fiquei com um vazio!
2024-12-07
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