Capítulo - 20

Azrael

Dia Seguinte...

Depois de tudo o que foi revelado, Jasmim agora dorme profundamente na cama, envolta em um silêncio sereno. Eu, por outro lado, estou prestes a cair da beirada, o corpo pendendo para o lado, como se a própria cama fosse um campo de batalha entre a exaustão e a inquietação.

Minhas mãos ainda tremem levemente, não só pelo cansaço, mas pela tensão que paira no ar, como um peso invisível, uma pressão que se instala em meu peito. Fixo os olhos no teto, perdido em pensamentos, tentando processar tudo o que aconteceu.

Então, lentamente, viro a cabeça para o lado dela. A vejo dormir com um semblante tranquilo, quase intocável. O modo como ela respira, como os fios de cabelo caem suavemente sobre o travesseiro, a forma serena de seu corpo… tudo isso me deixa com um nó crescente no peito, um misto de culpa e amor que me sufoca.

— Desculpe… me desculpe, Jasmim… por tudo. Por ter recusado você, por não ter sido o que você merecia. Mas, o meu amor… será sempre seu… sempre — as palavras saem de mim com uma sinceridade crua, sem esforço, mas com um peso que parece pesar mais que qualquer carga que eu tenha carregado.

E, ao falar, percebo que as palavras são apenas um reflexo do que realmente sinto, mas elas não podem mudar o que já foi feito, o que já aconteceu. A garganta se aperta e eu engulo seco, tentando dissipar o nó, mas ele persiste, firme, como se eu não pudesse escapar dele. Olho então para a janela, onde a luz suave do amanhecer começa a invadir o quarto, colorindo o horizonte de tons dourados e quentes.

O mundo lá fora acorda lentamente, mas eu, deitado aqui, sou consumido pela sensação de que não há descanso para mim, não agora. Não depois de tudo o que revelamos, de tudo o que ela agora sabe. Não há mais volta, não há mais como voltar atrás. A missão, nosso destino, nos arrasta para um fim que é tanto inevitável quanto iminente.

Fecho os olhos por um instante, mas o sono nunca vem. O peso da realidade me impede de encontrar alívio. Agora, mais do que nunca, precisamos seguir até o fim. A única certeza que tenho é que, seja qual for o caminho que se desenrole à nossa frente, Jasmim estará ao meu lado. E isso, por mais difícil que seja, será o único consolo que consigo encontrar em meio ao turbilhão.

(...)

De repente uma batida na porta soa forte e desesperada, cortando o silêncio do quarto e me tirando dos pensamentos. Em um movimento rápido, levanto da cama e corro até a porta. Quando a abro, dou de cara com Gabriel, os olhos arregalados, a respiração rápida.

— Eles chegaram! Estão aqui! — Ele fala com urgência, a voz tensa.

Fico parado por um instante, absorvendo as palavras dele. Sem pensar, me volto para a cama e pego Jasmim nos braços. Ela continua profundamente adormecida, como se nada ao nosso redor importasse. Está tão cansada que nem se move, e isso é esperado, já que passamos a noite toda conversando.

Saio do quarto rapidamente, e Gabriel corre atrás de mim, perguntando:

— Está com a chave da caminhonete?

Eu olho para ele, surpreso, e me dou conta de que não estou com as chaves. Ele percebe na hora e diz, sem hesitar:

— Deixa comigo. Vou lá pegar.

Ele volta correndo até o meu quarto e, em segundos, retorna com as chaves. Continuamos nossa corrida silenciosa pelos corredores do hotel. Não há tempo a perder.

— O que ela tem? — Gabriel pergunta enquanto seguimos pelo corredor, sua voz baixa, mas cheia de preocupação.

Respondo, tentando manter a calma, mesmo sabendo o peso da situação:

— Ela está apenas dormindo. Conversamos tanto que, quando ela foi dormir, já estava quase amanhecendo. Agora ela sabe de tudo. É melhor que ela descanse o máximo possível. Assim, vai conseguir processar melhor, tudo o que descobriu.

Gabriel apenas assente, compreendendo. Quando chegamos à saída, vejo os homens de terno preto e óculos escuros circulando no local. Sua presença é tão imponente que quase consigo sentir o ar ao redor deles se tornando mais pesado. Sem perder tempo, desvio bruscamente e, quase correndo, saio do hotel.

Chegamos à caminhonete. Gabriel abre a porta de trás e, com o máximo de cuidado, coloco Jasmim no banco. Ela ainda não acorda, a cabeça tombando para o lado, em um sono profundo. Prendo o cinto nela, com o coração apertado. Não posso deixar de pensar no que está por vir.

Subimos rapidamente na frente, e Gabriel acelera. Quando olho pelo retrovisor, vejo que eles estão nos seguindo. Gabriel olha para trás, depois para mim, a expressão carregada de incredulidade.

— Como esses demônios chegaram tão rápido até nós? — Ele pergunta, ainda tentando entender como tudo aconteceu.

Olho para o retrovisor, para Jasmim, que dorme sem saber o que está acontecendo. Sinto o peso da situação ainda maior, ao responder:

— Provavelmente pela ativação dela. O poder de Jasmim, já é suficiente para chamar a atenção deles. E, Gabriel, o coração dela… ele realmente brilha.

Gabriel olha para ela no banco de trás e, por um momento, um sorriso ilumina seu rosto. Ele desvia o olhar para mim, ainda sorrindo, e diz, admirado:

— Uau! Então é verdade. O burburinho que circulava pelo cosmos e pelos mundos. Ela realmente é a escolhida.

Suas palavras ressoam no ar e, por um instante, parece que o peso da situação se torna ainda mais claro. Jasmim é a escolhida. E, agora, não há como voltar atrás. Gabriel então acelera a caminhonete, cortando o asfalto com uma força impetuosa.

O som do motor rugindo preenche o silêncio do carro, e a adrenalina nas minhas veias me mantém alerta, apesar do cansaço que pesa sobre mim. Enquanto isso, o sol continua subindo no horizonte, tingindo o céu de tons quentes e dourados, como se o próprio universo estivesse se preparando para o que está por vir.

A luz suave e radiante invade o interior do carro, iluminando o rosto de Jasmim, ainda adormecida no banco de trás. O contraste entre a serenidade dela e o caos que nos cerca é um golpe de realidade, como se ela fosse a única coisa intacta em meio à tempestade que está prestes a nos engolir.

O reflexo da luz nos vidros da caminhonete me faz fechar os olhos por um momento, tentando absorver o que está acontecendo. O calor do sol no meu rosto me dá uma sensação momentânea de calma, mas logo a inquietação toma conta novamente. Não importa o quanto eu tente, sei que não podemos fugir do que nos espera.

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Comments

Dalziza Rocha

Dalziza Rocha

é meu amigo agora não dá mais pra ficar parado

2024-12-11

1

Jarlene Albuquerque

Jarlene Albuquerque

matriz

2025-03-23

0

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