Jasmim
Enquanto seguro o lanche nas minhas mãos, percebo o som suave da chuva batendo contra a janela. O que antes era um ruído distante e quase esquecido, agora se faz presente de forma tranquila, como se quisesse me lembrar de algo. Mas a verdadeira tempestade, essa não vem das nuvens. Ela está aqui, dentro do meu peito.
Azrael está de costas para mim, seu corpo rígido, como uma muralha que eu não consigo atravessar. A minha pergunta ainda ecoa entre as paredes do quarto, como um grito abafado que ele se recusa a ouvir. Cada segundo que passa, cada respiração mais pesada que dou, sinto que estou me afundando um pouco mais em um abismo de incertezas. E ele... ele simplesmente não se move, não diz nada.
Eu respiro fundo, tentando controlar o nó na garganta. Não sei se o aperto é do medo ou da raiva, mas é tudo o que posso sentir agora. Não suporto mais essa dúvida, essa falta de respostas. Tento me concentrar na minha própria respiração para não ser engolida pela ansiedade que está começando a me sufocar.
Com um movimento brusco, deixo o lanche na mesinha e me levanto da cama. As pernas parecem mais pesadas do que o normal, como se estivessem cheias de pedras. Caminho em direção a Azrael, cada passo carregando um peso, uma urgência que não posso mais ignorar.
Fico alguns segundos em silêncio, apenas observando suas costas. Ele não se vira, não faz nenhum sinal de que está prestando atenção em mim. Mas eu sei que ele sente. Ele sente cada segundo de tensão que eu trago.
— Você não pode esconder o que quer que seja de mim para sempre, Azrael — minha voz sai mais baixa do que eu gostaria, mas carregada de uma força que surpreende até a mim mesma. — Você veio atrás de mim. Me arrastou para tudo isso, alegando que é por causa de uma missão, que isso tem a ver comigo. Então, por favor, me diga: do que se trata? Como eu posso estar entrelaçada nisso? O que é que você quer de mim?
Eu fecho os olhos por um instante, tentando controlar o turbilhão dentro de mim. O medo, a frustração, a raiva, tudo misturado. Mas a última parte sai como um suspiro desesperado:
— Me diga... eu já não aguento mais.
O silêncio entre nós dois é ensurdecedor. Cada segundo que passa, eu sinto como se a distância entre nós se alargasse ainda mais, como se o que eu quisesse saber fosse uma fronteira impossível de cruzar. Eu quero entender. Eu preciso entender. Mas, acima de tudo, eu preciso dele. Ou talvez eu precise da verdade. E, por mais que tente, não sei mais qual dos dois eu temo perder.
Eu já não consigo mais controlar as mãos que estão agora apertadas com força ao lado do corpo. Cada segundo parece se arrastar, uma eternidade, e quanto mais o tempo passa, mais eu me pergunto se ele realmente vai me dar uma resposta. Ou se está apenas me deixando afundar na incerteza.
Finalmente, ele se vira. O movimento é lento, quase calculado, como se estivesse decidindo se deveria me encarar ou não. Quando seus olhos encontram os meus, algo passa entre nós, algo denso, quase palpável, como se ele estivesse me vendo por trás da minha fachada, vasculhando cada pedaço da minha alma. Mas, ao mesmo tempo, há uma parede ali, uma barreira que ele construiu ao redor de si mesmo.
Ele suspira, um som baixo, pesado, que parece carregar o peso de tudo o que ele não está dizendo. E então, fala:
— Eu não queria que você se envolvesse nisso. Não queria que soubesse.
Suas palavras caem no ar com uma força inesperada, mas é a forma como ele diz, a dor implícita nelas, que me faz estremecer. Eu não sei se é arrependimento, ou apenas a frustração de ver alguém tentando se livrar de um fardo que nunca pediu.
— Mas você não tem escolha, não é? — digo, minha voz mais firme agora, embora ainda tremendo com a raiva que se mistura ao medo. — Você me puxou para isso. E eu... eu não posso mais ficar no escuro, Azrael. Eu tenho o direito de saber, pelo menos, o que está acontecendo.
Fico sem palavras por um momento, apenas observando como ele parece estar lutando contra algo dentro de si. Algo que ele não quer revelar, mas que está transbordando.
— Você tem razão — ele diz, sua voz tão baixa. — Você tem o direito de saber. Mas a verdade é... não sei nem por onde começar.
Eu dou um passo mais perto, forçando minha respiração a se estabilizar, embora a incerteza dentro de mim só cresça, ao dizer:
— Comece do começo, então. Não sei o que está acontecendo, mas você... você precisa confiar em mim, Azrael. Eu não sou apenas uma estranha para você, não é?
Ele me olha por um instante, como se estivesse medindo minhas palavras, avaliando se eu realmente entendo a gravidade do que ele está prestes a dizer. Mas, finalmente, ele cede. Ou talvez eu tenha percebido que ele já cedeu há muito tempo, e só está tentando se convencer de que ainda tem controle sobre a situação.
— A missão que te falei... — ele começa, os olhos se desviando para um ponto distante, como se as palavras estivessem presas na garganta e ele precisasse de algo para ancorá-las. — Ela não é só sobre o que você pensa. Não é só sobre uma escolha.
Eu me inclino para ele, mais próxima do que nunca, sentindo o calor da sua presença quase como um peso, uma pressão que me atinge. A chuva lá fora se intensifica, mas aqui dentro, o silêncio é absoluto, como se o próprio mundo tivesse parado, aguardando pela próxima palavra.
— Então o que é, Azrael? — eu pergunto, com o coração acelerado. — O que você está tentando me dizer?
Ele fecha os olhos por um momento, respirando profundamente. Quando os abre, vejo a intensidade da dor ali, mas também algo mais. Uma espécie de resolução. E é isso que me faz hesitar, porque sei que algo grande está prestes a ser revelado, algo que vai mudar tudo.
— Você não é apenas parte disso, — ele começa, e suas palavras saem pesadas, como se cada sílaba fosse uma carga difícil de carregar. — Você é a chave. Você sempre foi.
Suas palavras caem no ar como uma bomba silenciosa. Eu fico aqui, paralisada, tentando entender o que ele acabou de dizer, tentando juntar as peças que ele me deu sem saber exatamente o que fazer com elas. Uma chave. Eu sou a chave. Mas para o quê?
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Fátima Ramos
Ainda não percebo do que ele fala, por favor autora, ele que explique rápido que missão é essa e o que ela é
2025-02-06
0
Elenita Ferreira
AUTORA desembucha logo!!!😔Tá ficando muito enrolado e massante!!!🫣🫣
2025-03-05
0
Salome Pereira
tá difícil de entender ainda
2024-12-04
2