Azrael
A noite já está bem avançada quando sinto algo. Não é o som comum do vento ou o estalo das árvores. Não, essa presença é diferente. Uma onda de energia que se infiltra nas minhas veias, fria e urgente. Algo não está certo. Abrindo os olhos abruptamente, encaro o teto escuro. O coração bate forte no meu peito, e a sensação de inquietação se espalha pelo meu corpo.
"O que está acontecendo com ela?" A pergunta se repete, martelando minha mente.
Antes que qualquer pensamento racional tome conta de mim, o instinto já tomou as rédeas do meu corpo. Sem hesitar, levanto da cama, meu corpo em movimento quase mecânico. Corro até a janela, e em um único impulso, pulo para o jardim.
O vento gelado do lado de fora me atinge, mas não há tempo para sentir frio. A transformação acontece sem esforço, e logo estou à minha forma de lobo, com os sentidos ampliados, mais rápidos, prontos para a ação.
Com agilidade, corro para a casa de Jasmim, minhas patas tocando o chão suavemente enquanto sigo o rastro familiar de seu aroma. A noite está calma, mas meu corpo está tenso, repleto de um pressentimento, uma necessidade visceral de garantir que ela está bem.
Chego na casa dela, paro por um momento para avaliar a situação, e então escalo a parede com precisão. Minhas garras se prendem à superfície com facilidade, e subo rapidamente, focado, movendo-me com a leveza de um predador. Não há espaço para hesitação.
Chego até a janela do quarto dela e me posiciono, parando aqui, do lado de fora, com o olhar fixo no interior do quarto. Jasmim está deitada, serena, com a respiração tranquila. O movimento suave de seu corpo ao respirar parece transmitir uma calma que, por um breve momento, apaga as preocupações que me consomem. Mas não é suficiente. A inquietação permanece.
Observo cada movimento dela enquanto meu coração bate forte no peito, e a pressão na minha cabeça só aumenta. Ela está bem... por agora. Eu sei disso, mas não consigo me afastar. Não consigo ignorar o sentimento que cresce dentro de mim, a necessidade de protegê-la, de garantir que nada de mal acontecerá com ela.
Fico, parado, vigiando, até que uma voz baixa e irritada me tira do transe.
— Psiu! Ei, maluco! O que está fazendo aí, Azrael? — a voz sussurra, cheia de exasperação.
Reviro os olhos, reconhecendo imediatamente a voz de Gabriel. Ele está atrás da cerca, esperando que eu tome uma atitude. Não me viro, mas sei exatamente onde ele está.
Com um suspiro profundo, eu respondo, ainda olhando fixamente para o quarto de Jasmim:
— Só vim conferir se ela está bem... Eu senti algo, e precisei vir ver.
Gabriel responde quase instantaneamente, sua voz mais baixa agora, mas carregada de impaciência:
— Pronto. Você já conferiu, ela está bem. Agora, vem, entra aqui, sai dessa janela antes que alguém te veja. Não faz sentido ficar aí, pendurado como um stalker qualquer.
Stalker? A palavra me atinge como um soco. Isso não é o que estou fazendo, não é? Só… só preciso garantir que ela está bem. Mas Gabriel tem razão. Eu não posso me dar ao luxo de ser visto aqui. Não agora.
Fecho os olhos por um momento, forçando a mente a se acalmar. A tensão nos meus músculos diminui, mas a luta interna persiste. A necessidade de estar perto dela, de protegê-la, se choca com a necessidade de manter minha missão.
Com um suspiro, volto à minha forma humana, sentindo ainda as garras do lobo pulsando nas minhas mãos. Relutante, desço pela parede, ainda com os sentidos alertas. Chego ao chão e, sem olhar para trás, pulo a cerca. Gabriel está aqui, me esperando. Ele me olha com uma expressão que mistura cansaço e preocupação.
— Vamos, Azrael. — ele diz, com a voz mais próxima agora. — Não arrisque mais do que o necessário.
Eu não respondo de imediato, mas sigo em silêncio. A tensão no meu peito não diminui. As palavras da missão ecoam na minha mente: Proteja-a. Seja o guia dela. Não falhe. Mas, enquanto ando, um pensamento teima em me distrair: Até quando poderei ignorar o que sinto por ela?
Assim que entro em casa, a porta se fecha atrás de mim com um som abafado. O peso da noite, das emoções conflitantes, cai sobre mim de uma vez só. Caminho até o sofá, me sento e jogo a cabeça para trás, sentindo a pressão tomando conta de cada fibra do meu corpo.
Tento, por um momento, simplesmente respirar, mas a ansiedade, a responsabilidade, tudo isso se mistura em um nó dentro de mim. A missão, o que tenho que fazer, a obrigação de proteger e guiar Jasmim... tudo isso pesa demais.
Então, ouço os passos de Gabriel se aproximando. Ele para ao meu lado e, como sempre, não perde a oportunidade de me confrontar. Com um pigarro, ele fala, a voz carregada de uma leve ironia:
— Você não pode mais adiar isso. Vai ter que chegar nela e falar. Você sabe que precisa fazer isso. Sério, não dá pra acreditar que você, o grande Azrael, que enfrentou várias missões e batalhas, está inseguro de falar com a sua própria companheira.
Eu respiro fundo, mantendo os olhos fechados por um momento, tentando não perder a paciência. Mas, claro, Gabriel não perde a chance de me provocar, sempre com essa facilidade de perceber minhas fraquezas. Ele sabe exatamente onde me cutucar, e essa é uma das coisas que mais me irrita nele.
— Não é assim, Gabriel — digo, sem abrir os olhos, minha voz mais grave do que eu gostaria. — Não é só sobre falar. Eu sei o que precisa ser feito. Sei da minha missão. Só... não é fácil.
Gabriel não parece se incomodar com o tom de irritação na minha voz. Pelo contrário, ele parece até mais animado com a situação.
— Ah, claro, não é fácil — ele diz, imitando minha voz com um tom sarcástico. — Olha, eu entendo, ok? Você passou por várias batalhas, matou incontáveis inimigos, enfrentou a escuridão e sobreviveu, mas... quando se trata de uma mulher, a sua alma gêmea, você congela?
Eu abro os olhos, encarando o teto por um momento. É verdade, o que ele está dizendo. Porque, como um ser que vive com um propósito claro, a ideia de não saber o que fazer... me consome.
— Eu sei o que tenho que fazer — respondo, mais para mim mesmo do que para ele. — Eu sei que preciso me aproximar dela, proteger, guiá-la. Mas... me aproximar dela... falar com ela... Isso não é tão simples quanto parece. Eu sei que ela é a chave, sei da missão, mas há algo... mais, Gabriel. Algo que eu não posso simplesmente ignorar.
Gabriel me observa por um momento em silêncio, sem as brincadeiras de antes. Ele vê a seriedade em meus olhos, percebe a luta interna que estou enfrentando. Eu sei que ele entende, mas também sabe que eu sou o único que posso dar esse próximo passo.
Ele suspira, e, de forma mais calma, diz:
— Eu sei, cara. Mas você precisa ser honesto consigo mesmo. Com ela também. Você está fazendo isso tudo ser mais complicado do que realmente é. Às vezes, o melhor caminho é o mais simples, mesmo que a gente tenha medo de seguir. Vai lá, fala com ela. Ela precisa de você, mas, por mais que você tente, você nunca vai conseguir protegê-la de tudo se não se permitir estar presente de verdade.
As palavras de Gabriel ecoam dentro de mim, e a verdade delas me atinge com força. Como sempre, ele está certo. Eu estou complicando demais algo que pode ser simples. Eu sou Azrael, o protetor, o guia, mas também sou um ser com sentimentos, com uma ligação única com ela. E eu não posso fugir disso.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Nannda Gomess 💋🍀
eu gosto de mistério, mas ele muito inrrolado 🤔
2025-01-21
0
Dalziza Rocha
tomara que que continue assim 🙂
2024-12-05
0
Maria Nice Grudgen
História interessante, com muitos mistérios
2024-12-05
1