Capítulo - 2

Azrael

Enquanto caminho, a caixa pesada em minhas mãos parece ser a única âncora que ainda me mantém distante de tudo o que está por vir. Mas, a cada passo, a conexão magnética com ela, se torna mais forte, mais insustentável.

Eu sabia, sabia que esta missão seria a mais difícil de todas, e que nossa conexão tornaria tudo ainda mais complicado. Mas, ao mesmo tempo, é como se o destino tivesse me traído. Eu sabia que ela estaria aqui, e a missão... bem, ela envolve justamente Jasmim.

É uma contradição dolorosa. Tudo em mim grita para não continuar, para virar as costas e sair dessa dimensão, mas o vínculo, essa força invisível e implacável, me puxa cada vez mais em sua direção. É a maldição do meu trabalho, de quem eu sou, de quem preciso ser.

Eu interrompo o olhar que se conecta involuntariamente ao dela e foco meus olhos à frente, tentando bloquear qualquer resquício de pensamento sobre ela. Não tenho tempo para isso.

A missão é mais importante, sempre foi. Mas, de algum modo, o peso disso tudo me faz sentir como se estivesse atravessando uma linha tênue, um limiar que não posso voltar atrás.

Ouço o barulho apressado de passos atrás de mim, a voz irritante e estridente de Gabriel se aproximando com sua energia juvenil, como sempre fazendo mais barulho do que o necessário.

— Espera, Azrael! Me espera, cara!

Reviro os olhos sem sequer diminuir o ritmo, seguindo em frente com passos firme. Não tenho tempo para discussões, e ele sabe disso.

— Ande mais rápido, seu lerdo. Não tenho culpa se você é devagar — respondo com um tom indiferente, sem olhar para trás.

Sigo em frente e entro na casa. Coloco a caixa no chão com um movimento rápido, como se este pequeno gesto fosse a única coisa capaz de manter minha mente longe do tumulto de emoções conflitantes que ameaçam me dominar.

Me aproximo da janela, me forçando a focar. A cortina está apenas levemente afastada, e por uma fresta pequena, observo a casa dela. A localização é boa, posso vê-la claramente, mas ela não me vê.

— Caraca, maluco, você não me esperou mesmo, não é? Sua frieza é admirável, maninho — diz Gabriel, entrando na sala e colocando sua própria caixa no chão.

Eu o encaro por um breve momento. Gabriel, meu fiel escudeiro, meu irmão de jornada. Às vezes, ele me perturba mais do que deveria, mas eu sei o que ele representa, o que ele é para mim. Ele está comigo há mais tempo do que eu gostaria de admitir.

Em um mundo cheio de sombras e mentiras, ele é a única pessoa em quem posso confiar completamente, e ele sabe disso. Ele sabe qual é a nossa causa, o que servimos e o que temos que fazer. Mas isso não torna as coisas mais fáceis. Nunca é fácil.

Suspirando profundamente, volto a olhar pela fresta da cortina, meu olhar fixo na casa de Jasmim. Ela ainda está lá, sem saber o que a espera, sem sequer imaginar que sua vida está prestes a mudar de maneira irreversível.

— Você sabe que precisamos estar focados na missão, não é, Gabriel? — digo sem desviar os olhos da casa.

Ouço seus passos se aproximando e, em silêncio, ele para ao meu lado, também espiando pela cortina. Por um instante, a tensão entre nós aumenta. Ele respira fundo, como se estivesse medindo suas palavras.

— Relaxa, mano, eu tô ligado. — Ele faz uma pausa e, depois de uma breve risada, solta o comentário que estava segurando. — Será mesmo, Azrael, que o coração dela brilha? Bem, é o que dizem entre os mundos e os cosmos, falam que ele irradia luz...

Eu não posso evitar. Um pequeno sorriso escapa de meus lábios, um sorriso disfarçado, quase irônico, mas também cheio de um tipo de entendimento silencioso. Eu o encaro por um momento, lançando-lhe um olhar divertido.

— E o que você acha? — respondo, o tom desafiador.

A pergunta paira no ar, e por um breve segundo, a tensão cresce ainda mais.

— Eu não sei, mano... — ele começa, a voz mais baixa agora, quase como um sussurro. — Mas ela é a escolhida do cosmos, então quem sabe o coração dela brilhe mesmo. A missão diz que ela é muito importante.

O peso das palavras de Gabriel me atinge, e uma onda de frustração sobe pela minha garganta. Eu fecho os olhos por um momento, mas não posso ignorar o que ele disse. Jasmim. Ela é importante. Ela sempre foi importante, desde o momento em que nossos destinos se cruzaram. Mas eu não posso pensar nisso agora. Não posso deixar que isso me desvie do que tenho que fazer.

Eu dou um pequeno sorriso, forçando uma expressão que não corresponde à tempestade dentro de mim. Olho para a casa dela, a tensão no meu corpo aumentando à medida que a distância entre nós parece diminuir, como se eu estivesse sendo atraído para ela sem controle.

— Pois é... — digo, a voz baixa, quase amarga, enquanto fixo meus olhos na casa. — Tão frágil... mas ao mesmo tempo extremamente valiosa, não é?

Gabriel não desvia o olhar, e sei que ele está me analisando, como se estivesse esperando por uma reação, um deslize. Ele assente lentamente, e então lança um olhar mais penetrante em mim, como se estivesse vendo mais do que eu gostaria de mostrar.

— Verdade. — Ele pausa, e o tom na sua voz muda, fica mais sério, mais carregado. — Eu sei que ela é sua destinada, Azrael, sua companheira. Também sei que você abriu mão desse amor para focar nas missões que realizamos. Sei que entre as suas missões e ela, você escolheu as missões. Mas... que ironia, não é? — Ele dá uma risada baixa, quase sem humor. — Os cosmos te jogaram em uma missão na qual sua companheira, aquela que você rejeitou, é a chave central.

Eu sinto o golpe das palavras de Gabriel como um soco no estômago. Ele tem razão, mais do que eu gostaria de admitir. Eu abandonei Jasmim, joguei tudo fora por uma causa. Eu fui fiel à missão, mas em algum lugar dentro de mim, sei que também trai a mim mesmo. A escolha de seguir meu caminho, sem ela, sem o amor que ela representa... foi uma decisão que agora me aterroriza.

— Não é uma ironia, Gabriel... — respondo, a voz tensa, tentando manter a fachada de controle, mas a emoção trai minha expressão. — Eu fiz o que eu precisava fazer. O que tinha que ser feito. E se ela é a chave, então é minha obrigação lidar com isso da maneira que for necessária. Eu preciso lidar com isso.

Mas, ao dizer isso, percebo que a palavra precisar nunca foi tão vazia para mim. Eu preciso dela, mas também sei que não posso ceder a isso. Eu a afastei, mas agora, o destino está me forçando a enfrentá-la de novo. Só que dessa vez, a missão é maior do que qualquer sentimento pessoal que eu possa ter.

Gabriel não diz mais nada por um momento. Ele apenas me observa com aqueles olhos que veem mais do que qualquer um deveria. Ele sabe o que está se passando na minha cabeça, sabe o que eu estou evitando. Ele não precisa mais de palavras para me confrontar.

E eu sei, mais do que nunca, que essa missão vai me exigir mais do que eu estava preparado para dar. Não se trata apenas de Jasmim. Se trata de mim. Se trata de um destino que nunca pensei que enfrentaria, de uma decisão que fiz no passado, mas que agora está me devorando, me consumindo.

Eu volto a olhar para a casa dela, e algo dentro de mim, algo que tentei esconder, começa a se mover. A tensão se torna mais insuportável, e a única coisa que eu sei com certeza é que não importa o quanto eu tente me afastar, Jasmim estará sempre no centro disso tudo. Ela não sabe ainda. Mas em breve, ela saberá. E quando isso acontecer, nada será o mesmo.

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Comments

Luluzinha

Luluzinha

oi seja vc e alguém poderoso e veio em outro planta pra uma missão e essa missão tem a ver com ela e isso e mais importante que o Olavo que vc sabe que tem nas tem algo que vai dar errado e muito errado tenho certeza

2025-01-04

1

joana Almeida lima

joana Almeida lima

Está parecendo que a missão dele é matá-la e levar seu coração. Será que é isso?

2024-11-28

2

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