Capítulo - 12

Azrael

Enquanto a observo, sinto como se o ar ao redor estivesse carregado de palavras não ditas. Cada gesto de Jasmim, cada olhar que ela lança na minha direção, parece pesar no silêncio entre nós. Tento me concentrar, forçando minha mente a se manter focada, mas a visão dela, envolta apenas na toalha, é como uma distração inevitável.

O movimento dela, a suavidade do tecido em sua pele, tudo me parece uma provocação sutil e difícil de ignorar. Um jogo silencioso, mas palpável, onde os limites entre o que somos e o que podemos ser ficam cada vez mais difusos. De repente, uma batida na porta quebra esse momento.

Respiro fundo, tentando retomar o controle da situação, e caminho até a porta. Ao abri-lá, encontro Gabriel parado no corredor, segurando as sacolas, sua expressão um pouco cansada, mas com aquele olhar satisfeito de quem cumpriu a tarefa.

— Comprou tudo o que pedi? — pergunto, avaliando-o, tentando desviar o foco de minha mente da confusão que Jasmim causou em mim.

Ele balança a cabeça, sorrindo com um certo alívio, ao responder:

— Sim, foi um pouco trabalhoso achar uma loja decente por aqui, mas consegui.

Eu assinto, com um pequeno movimento de cabeça, e o olho por um momento, antes de dar a ordem.

— Ótimo. Pode voltar para o seu quarto. — A voz sai mais firme do que eu pretendia, o que talvez o faça hesitar por um instante.

— Tudo bem, chefia, já estou me retirando. Mas um "obrigado" seria bom, viu? — diz ele, tentando disfarçar a leve provocação em sua voz.

Eu não respondo. Simplesmente fecho a porta com firmeza, o som ecoando no silêncio do quarto. O leve ressoar da madeira ao se fechar parece até um alívio para mim.

Mas assim que olho de volta para Jasmim, ela está parada, com os braços cruzados, me observando com uma expressão que mistura curiosidade, como se estivesse analisando cada movimento meu.

— O que é isso? — ela pergunta, a voz carregada de um tom investigativo.

Sorrio de canto, sem vontade de explicar tudo. Caminho até a mesinha perto da cama, colocando às sacolas ali com uma calma que tenta disfarçar a tensão crescente dentro de mim.

— São algumas roupas que mandei o Gabriel comprar enquanto você estava no banho. Ah, e tem uns lanches aqui também. Afinal, você precisa se alimentar. — A explicação sai com um toque de indiferença, mas as palavras não conseguem esconder a apreensão que sinto.

Ela me olha por um momento, com o olhar de desdém, como se eu fosse alguém querendo dar uma explicação simplista para algo muito mais complexo. Então, com um tom cético, ela fala:

— E como você sabe o tamanho das minhas roupas? Quem garante que vai servir em mim?

Sorrio de leve, tentando manter o controle, mas a provocação em sua voz não passa despercebida. Dou de ombros, sem perder a compostura.

— Eu não garanto nada. Mas acho que é melhor do que ficar nua, não é? — A resposta sai quase sem querer, mais impessoal do que o desejado.

Antes que ela tenha chance de dizer algo, estendo uma das sacolas para ela, forçando-a a tomar a decisão.

— Toma! Entra no banheiro e vê se serve. — A firmeza na minha voz não permite discussão, e ela a pega da minha mão com um gesto brusco, quase desafiador.

Jasmim caminha até o banheiro em passos lentos, como se cada movimento dela fosse uma mensagem, uma resistência ao que está acontecendo. A porta se fecha atrás dela com um som suave, mas eu ainda ouço o eco de seu passo, o peso do silêncio voltando para o quarto.

Eu, por outro lado, solto o ar que estava prendendo, um suspiro profundo, quase aliviado, mas também carregado de uma tensão que não consigo mais ignorar. Pego uma calça da sacola e me visto rapidamente, mas minha mente está distante, atormentada por tudo o que se passou nos últimos minutos.

(...)

A porta do banheiro se abre com um leve ranger, interrompendo o turbilhão de pensamentos que se misturam em minha mente. Jasmim aparece, vestindo a calça de moletom e a camiseta cinza de manga longa que eu pedi para Gabriel comprar.

Ao vê-la, percebo imediatamente que as roupas não caem tão bem quanto eu imaginava. A calça, um pouco larga em sua cintura, e a camiseta, folgada nos ombros e braços, parecem deslocadas em seu corpo.

Ela se posiciona no centro do quarto, os olhos fixos em mim, e eu a avalio sem disfarçar o sorriso. A situação, aparentemente trivial, me diverte de uma forma que eu não consigo controlar.

— Olha só, serviu direitinho. — A minha voz sai de forma tranquila, mas um pouco irônica.

Jasmim revira os olhos, mas há algo de cínico e desafiador em seu olhar. Ela abre os braços em um gesto exagerado, como se a roupa fosse a coisa mais desconfortável do mundo.

— Claro, está justinho, não é mesmo? — Sua voz transborda ironia, como se a situação fosse uma piada entre nós dois.

Sorrio mais ainda, achando graça na forma como ela reage, e dou de ombros, tentando não deixar transparecer o quanto essa troca de olhares e palavras está me afetando. O jogo entre nós não parece simples.

Caminho até a sacola com os lanches e pego um, sentindo a necessidade de quebrar o clima tenso com um gesto qualquer. Vou até ela, estendendo a mão, mas no momento em que nossas mãos se tocam, um choque elétrico percorre meu corpo.

O toque dela é leve, mas o efeito é forte, como se uma conexão silenciosa e inesperada tivesse sido estabelecida. Sinto arrepios que percorrem minha espinha e quase perco o fôlego por um instante.

Ela segura o lanche, ainda me olhando com um misto de curiosidade e desafio, mas logo desvia o olhar, como se recusasse a ceder a alguma emoção que tenha surgido neste momento.

Jasmim se afasta um passo, indo em direção à cama, onde se senta sem pressa, começando a desembrulhar o lanche, em um movimento mecânico. Eu também pego um lanche para mim e, sem pressa, começo a comer.

A cada pedaço, o gosto parece desaparecer na minha boca, como se o ato de mastigar fosse apenas um reflexo de algo mais profundo que eu não consigo identificar. O ambiente parece se encher de um silêncio denso, como se o simples fato de estarmos aqui, sozinhos, consumindo lanches, fosse uma forma de evitar que o que está no ar fosse dito em voz alta.

E é nesse silêncio esmagador que, de repente, sua voz suave surge, quebrando o peso do momento.

— Por que eu tenho a impressão de que você sabe mais sobre mim do que eu mesma, Azrael? — A pergunta é baixa, quase como um sussurro, mas carrega um peso enorme.

Ela não olha diretamente para mim, mas eu sei que a palavra "Azrael" saiu de seus lábios com uma mistura de curiosidade e desconforto. Essa simples frase faz com que um nó se forme na minha garganta.

Engulo em seco, e por um momento, me sinto paralisado. Não consigo mais mastigar, como se a resposta fosse um caminho perigoso demais para ser seguido. Como posso explicar a ela?

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Comments

Taty

Taty

são dois idiotas, o único sensato é o Gabriel

2025-02-28

0

Dalziza Rocha

Dalziza Rocha

blá blá blá blá blá

2024-12-09

1

Maria Nice Grudgen

Maria Nice Grudgen

Eita, explique-se kkkkk

2024-12-05

0

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