Capítulo - 18

Azrael

Após minhas palavras, estendo a mão para Jasmim, e ela engole em seco. Meu coração martela forte no peito, como se cada batida fosse um eco de tudo o que está prestes a acontecer. A mão estendida em sua direção é como uma centelha, atravessando a escuridão de sua alma e iluminando a verdade que ela tentou esconder por tanto tempo.

Jasmim respira fundo, seu olhar fixo no meu, como se, pela primeira vez, ela visse algo além do medo e da dúvida. Então, com uma força inesperada, ela segura minha mão com um aperto firme. Uma corrente elétrica percorre meu corpo, e sinto meu coração aquecer, como se uma chama tivesse sido acesa dentro de mim.

Ela me encara profundamente, seus olhos carregados de determinação, e diz, convicta:

— Eu aceito, Azrael. Aceito despertar para a verdade. Não quero mais viver no medo e na ignorância. Quero lutar ao seu lado, juntos.

Meu sorriso se torna genuíno, e, neste momento, algo extraordinário acontece. Um brilho começa a irradiar de seu peito, uma luz suave e intensa, como se sua essência inteira estivesse se revelando. Seus cabelos flutuam, dançando no ar do quarto, como se uma força invisível os puxasse.

Olho para meu próprio peito e vejo meu coração pulsando de maneira forte e vibrante, como se estivesse se sincronizando com o dela. Ele bate, intenso, cheio de vida.

Ela me olha, seus olhos agora repletos de surpresa e confusão.

— O que é isso? — ela pergunta, a voz carregada de uma curiosidade inquieta.

Eu sorrio ainda mais, e, com uma serenidade que só o conhecimento do que estamos prestes a viver pode trazer, respondo:

— Isso, Jasmim, é a prova de que você é a escolhida. A chave. A destinada a embarcar nessa missão comigo. O seu coração, assim como o meu, agora pulsa em sintonia com algo maior, algo além de nós. Juntos, somos mais fortes do que jamais imaginamos.

O brilho nos seus olhos se intensifica, como se ela começasse a compreender o peso e a beleza disso que está começando a despertar dentro dela. E então, as suas palavras cortam o ar com uma força inesperada. Ela ainda segura minha mão, mas agora seus dedos tremem levemente, como se o peso da revelação tivesse abalado suas fundações.

— Meu Deus! — ela exclama, a voz tensa, cheia de incredulidade. — Como não percebi isso antes? Você... Você é... o anjo... o Anjo Azrael, não é? O das escrituras antigas? Meu Deus! Você é um ser sobrenatural... imortal.

As palavras dela reverberam no ar, ecoando dentro de mim, e eu percebo a profundidade da transformação que está acontecendo. O choque e a confusão são palpáveis em seu rosto, mas, à medida que ela fala, também vejo a centelha de compreensão começando a nascer.

É como se uma cortina estivesse sendo levantada, revelando algo que ela sabia, mas que não queria admitir, como se ela estivesse sendo forçada a confrontar o impossível. Cada palavra dela é uma peça que cai em seu lugar, uma engrenagem que começa a se mover, acionada pela verdade que ela finalmente enxerga.

Eu a observo em silêncio, sentindo a tensão no ar, e percebo que a realidade, para ela, está se reconfigurando, desfazendo todas as certezas que ela tinha até este momento. Jasmim balança a cabeça, como se tentando se recuperar da onda de choque.

A respiração dela fica mais rápida, os olhos perdidos entre o medo e a admiração. Uma mistura complexa de sentimentos a domina, mas acima de tudo, vejo o medo começando a se dissipar, substituído por uma aceitação gradual, quase hesitante.

Eu mantenho a calma, sem pressa, sem palavras. Eu sei que ela precisa desse tempo para processar. Sei que o peso da verdade, quando finalmente é visto, pode ser opressor.

Finalmente, ela respira fundo, como se tentando se ancorar na realidade ao seu redor, e seus olhos voltam a se fixar nos meus, agora mais serenos, mas ainda incrédulos.

— Você... você realmente é ele... o Anjo Azrael? — ela repete, mais para si mesma do que para mim, como se tentando se convencer de que isto é possível.

Eu a observo, e, por um momento, o silêncio entre nós dois é quase sagrado. A grandeza de tudo o que está prestes a acontecer se instala no ar, e a conexão entre nós dois, por mais estranha e improvável que seja, se torna ainda mais palpável.

E, então, com um sorriso suave, respondo, minha voz tranquila, mas carregada de uma gravidade inevitável:

— Sim, Jasmim. Eu sou Azrael. O anjo da morte, mas também da transformação. Não sou imortal da maneira como você pensa, mas, sim, estou além daquilo que você conhece como vida e morte. Tudo isso... é parte do nosso caminho agora. Do seu caminho.

Ela me encara, a mente correndo a mil, tentando decifrar o significado de tudo. A sensação de que algo muito maior do que ela está prestes a acontecer a assola. E eu vejo, nos olhos dela, um misto de temor e fascinação, como se a verdade estivesse finalmente quebrando o silêncio do seu mundo.

E, de uma forma completamente inesperada, ela faz algo que eu jamais imaginei: leva as duas mãos até o meu rosto, seus dedos delicadamente tocando minha pele, e, com um movimento suave, começa a esfregar as palmas contra minha face, como se estivesse tentando provar que sou real.

Como se estivesse testando os limites entre o impossível e a realidade. Seus gestos são impetuosos, quase frenéticos, como se ela quisesse desfazer a distância entre o divino e o humano, e sua expressão é uma mistura de fascínio absoluto e um leve toque de desespero, como se quisesse ver e sentir tudo o que está acontecendo com sua própria pele.

— Meu Deus! — ela exclama, e sua voz é cheia de incredulidade. — Como pode! Você literalmente está aqui diante de mim! Tão físico... tão real! Que loucura! Imagina se eu contasse isso para a turma da igreja? Eles jamais iriam acreditar em mim, que estive cara a cara com o anjo Azrael!

O tom de sua voz, misturado com seus gestos quase impensados, me faz sentir algo que há muito tempo não experimentava: o riso. Um riso alto e solto, que surge de dentro de mim sem que eu consiga impedir. Não é um riso forçado ou nervoso, mas algo genuíno, inesperado, que emerge da surpresa da situação.

Eu me esqueço, por um momento, do peso do que sou, do peso da missão que carrego. Vejo em Jasmim não apenas a incredulidade de quem acaba de descobrir um segredo grandioso, mas a humanidade pura de alguém que está diante do impossível e, ainda assim, tenta encontrar uma maneira de torná-lo real.

As palavras dela, ao mesmo tempo engraçadas e pungentes, me fazem sorrir com mais força. A leveza do meu sorriso, algo tão simples, mas tão profundo, me lembra de como é fácil se perder nas sombras daquilo que carregamos e como é possível, até mesmo nas circunstâncias mais estranhas, encontrar um pouco de humanidade.

Eu fico aqui, diante dela, com seu rosto tão perto do meu, com suas mãos ainda sobre minha pele, e o mundo parece desacelerar. Como se, neste momento, nós dois estivéssemos, finalmente, à beira de algo que, ao mesmo tempo, é assustador e libertador.

Ela me olha, ainda tocando meu rosto, e por um segundo eu vejo a confusão se dissipando, substituída por uma admiração sincera. É como se ela tivesse encontrado, neste toque, a confirmação de que o que está acontecendo não é apenas real, mas também possível. Algo profundo entre nós dois, um vínculo que ela ainda não entende completamente, mas que já se formou, silenciosamente a tempos.

E, enquanto a risada ainda ecoa suavemente nos meus lábios, olho para ela, e sem conseguir conter o sorriso, respondo:

— Se você contasse, Jasmim, ninguém acreditaria mesmo. Mas não se preocupe... o que importa agora é que você está aqui, e nós dois sabemos o que isso significa.

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