Capítulo - 15

Jasmim

Azrael parece um louco, um completo lunático. Eu encaro ele, tentando compreender o que está acontecendo, mas as palavras que saem da sua boca não fazem o menor sentido. Eu, uma bruxa? Uma escolhida? Ele só pode estar brincando comigo, testando meus limites, fazendo uma piada de mal gosto. Não há outra explicação. Não pode haver.

A sensação de que o chão está se abrindo sob meus pés cresce a cada segundo. As lágrimas continuam a escorrer, quentes e amargas, queimando minha pele e me lembrando da realidade cruel que se desenrola à minha frente.

Meus braços ainda estão trêmulos, meus pés instáveis, como se meu corpo não soubesse mais o que fazer com essa avalanche de sentimentos que toma conta de mim. O tremor é físico, mas é também uma sensação de completa desorientação. Como se o mundo que eu conhecia, com todas as suas regras e certezas, estivesse desmoronando ao meu redor.

— Eu não posso ser uma bruxa, Azrael, isso é impossível! — As palavras saem em um grito abafado, como se eu tentasse convencer a mim mesma mais do que a ele.

Minha voz treme, e o nó na garganta dificulta minha fala, como se o simples ato de admitir o que ele disse fosse um erro fatal. Eu não sou nada disso! Não sou nada além de uma garota normal. Eu sempre fui normal, uma humana comum. Minha vida sempre foi simples. Eu não sou... não sou alguém que possa carregar esse tipo de peso.

Ainda tentando processar, eu levanto as mãos, como se quisesse afastar esse pesadelo que ele trouxe. Não tenho forças para brigar com ele, mas não consigo deixar de perguntar, de clamar por uma explicação.

— E por Deus, o que é esse cosmos que você fica dizendo? — Eu respiro fundo, tentando controlar o pânico, tentando encontrar um fio de lógica em tudo isso, mas a razão está fugindo de mim, como água correndo entre os dedos. — O que é essa coisa que me escolheu? Que direito ela tem de me escolher para algo tão... absurdo? O que está acontecendo, Azrael? O que sou eu, afinal?

Azrael suspira fundo, como se o peso da conversa já estivesse sobre seus ombros há muito tempo, e então, com um olhar mais profundo, quase penetrante, ele me encara. Sinto seus olhos como um farol, iluminando uma verdade que eu não consigo compreender.

— O cosmos, o universo, a energia primordial, Deus, chame como quiser, Jasmim. São tudo a mesma coisa. Eu sei que você cresceu no meio religioso, que frequentava aquela igreja, mas Deus não é um ser de corpo carnal. Ele é pura energia, uma consciência suprema, que se fragmentou e então começou a se expandir. Cada ser é uma expressão dessa consciência. E você, Jasmim, é uma dessas expressões desse ser, uma expressão dessa consciência que foi escolhida por ela própria para desempenhar um papel importante.

Suas palavras são como ondas batendo contra as pedras. Eu mal consigo acompanhá-las. Cada frase parece fazer o chão se mover debaixo de mim, e as imagens que surgem em minha mente são tão grandes, tão distantes, que meu cérebro mal consegue processá-las. Energia primordial, consciência suprema… Deus não é um ser, mas uma força, uma presença espalhada pelo universo.

Minha mente tenta agarrar essa nova verdade, mas tudo parece se desintegrar. Escolhida. Expressão dessa consciência. Ele está me dizendo que eu sou… parte de algo maior? Parte de um ser infinito, uma consciência que se fragmentou e que agora está buscando algo? Meu corpo se tensa, os músculos doloridos pela tensão emocional.

Mas a única coisa que sinto é uma crescente sensação de desconexão. Eu, uma garota, que cresceu dentro de um templo, ouvindo falar de um Deus todo-poderoso, onipresente, mas sempre visto como algo distante, quase inacessível. Como eu poderia ser uma expressão dessa consciência? Eu não sou nada além de uma garota perdida, tentando entender quem sou, tentando sobreviver.

— Isso… — minha voz sai trêmula, quase um sussurro, tentando entender o que acabo de ouvir. — Isso não faz sentido. Como eu poderia ser uma expressão dessa... energia? Como algo tão... abstrato, tão... grande, poderia me escolher? Eu sou só uma... uma pessoa comum! Eu sou… humana, Azrael! Como posso ser parte de algo tão... imenso?

Meus olhos se perdem nos seus, buscando uma explicação mais simples, algo que se encaixe no que eu sempre acreditei. Azrael percebe o choque que estou sentindo. Ele vê a luta interna em meu olhar, e sua expressão, embora firme, suaviza um pouco, como se ele soubesse o quanto essa revelação é difícil de engolir.

Ele dá um passo em minha direção, ainda respeitando o espaço entre nós, e a voz dele se torna mais calma, quase compassiva:

— Eu sei que tudo isso é difícil de entender, Jasmim. Eu sei que você foi ensinada a ver Deus de uma maneira específica, mas o que você aprendeu na igreja é apenas uma parte da verdade. O Deus que você imagina não é uma figura com forma humana. Ele é uma força, uma energia, uma consciência que permeia tudo o que existe, e que está em constante expansão. Nós, todos nós, somos uma expressão dessa energia. Você, mais do que ninguém, foi escolhida porque dentro de você existe uma conexão profunda com essa energia, uma chama que foi acesa muito antes de você nascer.

Eu tento falar, mas as palavras se perdem em minha garganta. O que ele diz é como um véu sendo retirado de meus olhos, revelando algo muito maior do que eu jamais imaginei. Minha mente começa a trabalhar a mil, tentando encaixar essas peças, mas tudo é tão grande, tão profundo, que eu me sinto pequena demais para entender.

— Mas eu não… eu não sou especial, Azrael. Não sou nada disso. Não tenho nada de divino em mim. Sou apenas uma garota comum, com minhas fraquezas e erros. Não sou digna de ser... escolhida, de carregar essa responsabilidade. Eu só quero viver uma vida normal, Azrael. Eu só quero ser eu. Não sei o que você espera de mim, mas não posso ser o que você está dizendo.

As palavras saem como um grito abafado, como se eu estivesse implorando para que ele me dissesse que tudo isso é mentira, que ele está brincando comigo. Mas o olhar de Azrael, sério e imutável, me diz o contrário. Ele não está brincando. Ele não está mentindo. Ele acredita nisso. E, de alguma forma, o universo, esse cosmos de que ele fala, também acredita.

Eu não sei como reagir. Minha mente, o que resta dela, está em completo colapso, e o pânico começa a crescer, apertando meu peito como se eu estivesse afundando em um abismo. Eu não posso ser essa chave. Não posso carregar esse peso. Não sou capaz.

Eu olho para ele, a dor e o medo finalmente transbordando, e sussurro, quase para mim mesma:

— Eu não sei o que fazer, Azrael. Eu não sei como ser quem você está dizendo que eu sou.

Azrael fica em silêncio por um longo momento, como se estivesse esperando que eu finalmente aceitasse o que está diante de mim. Mas ele sabe que não é simples. Ele sabe que eu não vou entender tudo de imediato. Ele sabe, talvez melhor do que ninguém, o que isso significa. E é por isso que ele não se afasta. Não me abandona nesse turbilhão.

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Comments

Salome Pereira

Salome Pereira

se ela acha que é fraca , é mais um motivo ,pra ela ir e aceitar essa condição ,de 🧹🧹 bruxa pra ela ficar forte e mostrar que ela também pode ser forte

2024-12-04

3

Edvania Oliveira da Rocha

Edvania Oliveira da Rocha

Não estou gostando desse enredo. Já li uma estória completa dessa escritora e gostei bastante. Tem outra que espero que ela termine, entretanto essa é muito cansativa.

2025-03-13

0

joana Almeida lima

joana Almeida lima

Tem tantas perguntas como: como se deu isso de ser bruxa? Os pais são os verdadeiros pais? E tantas outras , mas ela só sabe falar que não é bruxa? Não pode ser ,é fraca, Aff, pode ser difícil de acreditar mas tem muito pra saber.

2024-11-28

1

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