Capítulo - 9

Jasmim

Enquanto ele estaciona o carro em frente a um hotel de fachada decadente, com a pintura descascada e a luz fraca piscando na entrada, eu me perco na paisagem cinza do local. O que estou fazendo aqui? Meus pensamentos se embaralham, confusos.

Já chorei tanto, e a maior parte das lágrimas não foram pela situação com esses dois idiotas. Foram pela confusão com minha família. As palavras da minha avó, os conselhos que ela me deu, parecem ecoar em minha mente, mas, por mais que eu tente, nada parece se encaixar.

Eu já estou cansada de chorar, cansada de me sentir assim… Vulnerável. Fraca. Meus olhos ardem de tanto que já chorei, e sei que não adianta mais. Ninguém pode devolver o que foi perdido. Eu fico aqui, perdida em meus próprios pensamentos, até que a batida no vidro do carro me faz dar um salto.

Ele. O tal Azrael. O bonitão mais esquisito. O nome me vem à mente como uma sombra, mas não é o nome que me intriga. Algo em seu olhar, na forma como ele me encara, me dá a sensação de que já o vi antes… Mas onde? Não consigo lembrar.

Ele bate no vidro novamente, mais forte, e a porta do carro se abre com um rangido, acompanhado de sua voz irritada.

— Qual é, sua palhaça? Está surda ou o quê? — diz ele, encarando-me com um olhar que mais parece uma ameaça do que uma simples repreensão.

Eu me endireito no banco, irritada com a grosseria dele, e pela primeira vez em muito tempo, algo dentro de mim se agita. O que ele pensa que está fazendo, me tratando assim? Nem que fosse o último homem na Terra, não vou engolir essa. Dou uma risada irônica e, com a mesma frieza com que ele falou, retruco:

— O único palhaço aqui é você.

A tensão no ar parece palpável, e por um momento, fico pensando que talvez tenha sido um erro responder assim. Mas, logo depois, me dou conta de que já estou tão cansada de me anular, tão cansada de deixar as coisas passarem sem dizer nada, que não importa. Não vou mais me calar.

O olhar dele brilha com um fogo peculiar, algo que mistura surpresa e desdém, como se nunca tivesse imaginado que alguém responderia a ele dessa forma. A tensão entre nós parece aumentar, como se a atmosfera estivesse carregada de eletricidade estática prestes a estourar. Ele fica parado por um momento, me estudando, como se tentasse avaliar se minha atitude é só uma fachada ou se realmente tenho coragem de enfrentá-lo.

Mas logo, seu sorriso aparece, um sorriso torto, cínico, quase um aviso de que ele não vai me deixar sair assim tão fácil. Ele entra no carro, fecha a porta com força e vira o corpo em minha direção, com os olhos ainda fixos em mim, como se quisesse me hipnotizar com seu olhar penetrante.

— Você tem coragem, isso eu vou ter que admitir. Mas se acha que pode falar assim comigo e sair ilesa, está muito enganada. — Ele solta um riso baixo, uma mistura de desafio e diversão.

Eu respiro fundo, tentando manter a compostura. Mas o orgulho ferido, a raiva que ainda queima dentro de mim, me impede de me calar. Algo em mim quer desafiar esse cara, não por causa dele, mas por causa de tudo o que me sufoca. Não sou mais a menina quieta e sem voz que todos esperam que eu seja.

— Se acha que vou me calar, está muito enganado. Não preciso de você, nem do seu joguinho — digo, mais firme do que gostaria.

Ele inclina a cabeça para o lado, como se estivesse me analisando de novo, com uma expressão quase divertida. Isso só aumenta a minha irritação. Por que ele tem que agir como se tudo fosse uma piada?

— Não estou jogando nada. Estou só tentando entender por que você age como se fosse uma vítima o tempo todo. Como se o mundo tivesse te feito algo terrível. — Ele diz com uma calmaria assustadora, como se fosse um amigo tentando dar um conselho.

Eu o encaro, irritada, tentando conter o impulso de explodir. A última coisa que eu quero é que ele, um estranho com um nome esquisito, fale sobre mim dessa forma.

— Você está realmente me dizendo isso? Qual é o seu problema? Você me sequestra para Deus sabe lá o quê, e ainda diz que sou eu quem age como uma vítima? Sério, você é algum tipo de psicopata? — digo, furiosa.

Ele solta uma risada baixa, quase uma gargalhada abafada, mas não com a mesma energia de antes. Agora, algo em seu sorriso parece mais calculado, mais frio, como se estivesse tentando segurar uma verdade que não quer revelar.

— Psicopata? — Ele repete, com uma leveza na voz, mas seus olhos escurecem de uma forma que me faz arrepiar. — Não, não sou psicopata. Sou apenas... alguém que entende que a vida não é feita de vitórias fáceis, e você está longe de ser uma exceção.

Eu me sinto como se uma cortina tivesse se fechado entre nós, como se ele estivesse falando um idioma que eu não entendo, mas que me deixa cada vez mais desconfortável. O tom dele é calmo, quase frio, e a maneira como ele disse "você está longe de ser uma exceção" me fez questionar se ele sabe mais sobre mim do que deveria.

A raiva que sentia antes se mistura com algo mais sombrio, uma sensação de que ele está manipulando a situação de uma maneira sutil, que não sei como controlar. Ele não está reagindo como qualquer pessoa normal reagiria. Algo dentro de mim me diz que ele não é só um idiota irritante, mas sim alguém que sabe jogar com as emoções das pessoas, e que talvez eu esteja caindo nessa armadilha sem perceber.

Eu respiro fundo, não posso deixar que ele tenha esse poder sobre mim. Mas, mesmo assim, a pergunta que me assombra continua na minha cabeça: por que ele está fazendo isso?

— Você sequestra pessoas e ainda tem a audácia de se achar no direito de dar lição de moral? — retruco, tentando manter o controle, mesmo sabendo que minhas palavras saem mais afiadas do que eu gostaria.

Ele não se abala, nem sequer se mexe. Fica ali, me olhando com aquela expressão indecifrável, como se estivesse apenas observando o desenrolar do meu sofrimento com uma curiosidade distante. Eu não sei o que ele quer de mim, mas sei que preciso de respostas.

— Eu não estou te dando lição de moral, garota. Só estou tentando te mostrar uma coisa: você não pode se esconder para sempre. Não da vida, não de si mesma. — Ele faz uma pausa e a maneira como ele diz isso faz o ar parecer mais denso. — E, sinceramente, não sou eu quem está te sequestrando. Você mesma se prendeu em um lugar muito mais sombrio do que qualquer lugar físico poderia te aprisionar.

Suas palavras ecoam em minha cabeça como uma explosão silenciosa. Algo na maneira como ele fala, no peso das palavras que usa, faz meu coração acelerar. Ele está falando de algo mais, algo que eu não sei o que é, mas que de alguma forma me toca fundo. O que ele quer dizer com "você mesma se prendeu"?

Mais populares

Comments

Luluzinha

Luluzinha

opa pere aí então quer dizer depôs que ela foi rejeitada ela se fechou apagou a própria memória .as antes se colou naquele lugar a vó dela era alguém que protegia ela da própria família que ela fez questão de entrar e isso mesmo autora ???

2025-01-06

1

Maria Nice Grudgen

Maria Nice Grudgen

História interessante

2024-12-05

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!