Capítulo 09 • Antonella Rossi

– Como está sendo a sua nova vida? – Vittoria questiona, rompendo o silêncio constrangedor que se estabeleceu entre nós, deixando claro que está ciente de todos os acontecimentos que ocorreram comigo, especialmente como cheguei a esta casa.

– Estou me adaptando aos poucos – respondo, selecionando cuidadosamente as palavras. Não quero que você note o quanto me sinto desconfortável na presença delas.

– É normal se sentir um pouco desorientada no começo, Antonella, especialmente porque entendo que Diego, assim como Alessandro, não é uma pessoa fácil de lidar. – ela sorri, como se se lembrasse de algo. – Quero que saiba que estou à sua disposição para auxiliá-la no que for necessário. – ela finaliza com uma voz sincera e, em seguida, olha para a outra garota. – Não apenas eu, mas todas nós estaremos contigo a partir de hoje.

– Agradeço! – respondo, ainda com timidez, apertando os dedos em meu colo. - Isso tem um grande significado para mim.

Ao ouvir suas palavras amáveis, sinto um nó na minha garganta. Não estou habituada a receber suporte ou compaixão, e isso me comove mais do que gostaria de expressar.

Embora uma parte de mim permaneça vigilante, percebo que suas palavras são genuínas. As duas mulheres expressam uma preocupação genuína pela minha condição.

– Como está sendo a convivência com Diego? – Questiona diretamente, causando-me um certo medo.

– Não... frequentemente nos encontramos – digo, desviando o olhar do dela.

– Confie nele, Antonella, ofereci minha casa para que você ficasse conosco, mas ele não aceitou. – Ela relata, deixando-me confusa e simultaneamente grata por Diego ter me mantido aqui. Não consigo imaginar como seria viver em outro lugar. – Tenho certeza de que Diego fará tudo ao seu alcance para garantir a sua segurança, não se preocupe. – Ela sorri e meu coração bate mais forte.

Embora ela não tenha mencionado isso, percebo essa verdade nas atitudes dele. Diego tem sido o meu porto seguro neste mar turbulento, mesmo sem estar completamente convencida do que isso representa.

– Sim, eu entendo. Ele tem sido... amável comigo. – reconheço, retomando a seleção cuidadosa das minhas palavras. Vittoria mantém seu olhar fixo em mim, seus olhos atentos analisam cada detalhe do meu comportamento.

– Pode não parecer, Antonella, mas ele é um homem de bem. No fundo, todos eles são. – Ela pensa consigo mesma – Mesmo com a vida que levam e todas as adversidades que enfrentam, tenho certeza de que Diego a protegerá. Ele está se esforçando para agir corretamente. Sinto que você se tornou extremamente relevante para ele e, acredite, esses homens defendem com a própria vida aqueles que consideram especiais.

Ela sorri suavemente, confirmando suas palavras com um gesto, tornando a expressão quase serena para mim. Sinto-me um pouco mais confortável com elas, mas ainda não estou totalmente receptiva a essa nova realidade.

Passamos algum tempo conversando na sala de estar, Vittoria e Elena compartilham suas vidas e seus filhos, tentando me fazer sentir à vontade em suas presenças. Sinto isso e tento corresponder sendo um pouco mais acolhedora, mesmo que ocasionalmente eu note que sou quase monossilábica em minhas respostas.

É inegável que me sinto vulnerável diante delas, mas, simultaneamente, sua compaixão e entendimento me confortam, fazendo-me sentir menos isolada no mundo.

Conforme a tarde progride, após desfrutarmos de um chá acompanhado de biscoitos caseiros preparados por Rosa, as duas mulheres se arrumam para partir. Em última análise, sou agradecida por terem vindo me visitar, mesmo que ainda esteja enfrentando dificuldades para me ajustar à presença de novos indivíduos na minha vida.

Quero levá-las até a entrada da casa, mas antes que possamos atravessá-la, Diego surge, acompanhado de Alessandro, Mariano, Lucca e Enrico.

Conheço a identidade de cada um desses homens. Eu os vi várias vezes até ser detida por Mário naquele local. São os homens de confiança do nosso líder, os subchefes do clã, reconhecidos pela sua impiedade em todos os aspectos. No entanto, de uma forma meio confusa, sinto-me segura ao seu lado.

Se Diego deposita confiança neles, acredito que eu também possa depositar.

Ao observá-los, as palavras de Vittoria ressoam em minha mente, deixando-me mais inquieto do que satisfeito. O que Diego realmente espera de mim? E qual é o impacto disso no meu futuro? Quanto tempo terei para morar neste local?

Os homens adentram a residência e nos saúdam. Alessandro não consegue esconder o olhar apaixonado que direciona a Vittoria ao enlaçar sua cintura e beijá-la em público. Desvio o olhar, proporcionando-lhes um pouco de privacidade.

Aceno timidamente para todos e noto Diego se aproximando de mim. Os seus olhos azuis cruzam com os meus e, por um instante fugaz, me sinto desorientada pela profundidade do seu olhar.

Sentindo-me um pouco envergonhada por ficar tão perturbada na sua presença, desvio o olhar rapidamente, evitando me mostrar mais do que já estou.

– Antonella, como você se sente? – Diego questiona, com uma voz suave, até um pouco apreensiva.

– Estou bem – respondo, esforçando-me para aparentar segurança, mesmo sabendo que ele pode notar hesitação nos meus movimentos. – Agradeço pela sua pergunta.

Diego concorda, porém, antes que Diego pudesse completar, Alessandro se aproxima de nós, seu olhar frio e penetrante me avalia com uma expressão incompreensível.

– É uma satisfação vê-la novamente – Alessandro se dirige a mim, com uma voz firme e autoritária. – Espero que esteja se recuperando bem.

– Estou sim, senhor. – respondo, sentindo-me desconfortável sob sua vigilância.

Alessandro sempre foi intimidador para mim e, mesmo agora, na minha atual posição de protegida, não consigo não sentir um leve calafrio ao vê-lo.

Lucca, Mariano e Enrico se posicionam um pouco mais atrás, observando a cena com um interesse evidente, como se antecipassem algo significativo a caminho, seus olhos fixos em nossa direção com uma curiosidade silenciosa.

Embora eu desconheça a razão, sinto o ambiente na sala se tornar tenso, noto que todos estão à espera de algo. Diego parece notar uma atmosfera diferente, como se só agora percebesse que existe algo anormal em toda essa circunstância.

Não tenho certeza do que está ocorrendo, mas sinto que algo relevante está a ponto de ser expresso.

– Bem, agora que todos estão reunidos, penso que é o momento de debatermos algumas questões – Alessandro afirma, sua voz ressoando forte na sala.

Diego olha para mim e depois para aqueles que considero serem seus únicos amigos.

– Alessandro! – Diego murmura em tom repreensivo, sua expressão se tornando mais fechada, mas o nosso Boss não demonstra temor.

– Como vocês estão cientes, estamos passando por um período desafiador – Alessandro prossegue, ignorando o protesto de Diego, sua expressão permanece inalterada. – Devido à traição de Mário e aos recentes eventos relacionados à nossa segurança, precisamos adotar ações extremas para salvaguardar o clã e assegurar a segurança de todos.

Sinto um nervosismo ao escutar suas palavras. Sempre tive consciência de que o risco estava escondido, pronto para nos surpreender quando menos esperávamos. Pergunto-me se Alessandro finalmente optou por tirar a minha vida para eliminar definitivamente o sangue maldito de Mário.

Se for isso, estou disposta a acatar sua decisão.

A ação de Mário contra a família de Boss foi inadmissível. Aceitarei a minha penalidade por ter origem no mal.

Alessandro continua olhando diretamente para Diego e, posteriormente, para mim. – Decidi que vocês dois se casarão.

A afirmação de Alessandro me surpreende, olho instintivamente para Diego, tentando compreender o que está ocorrendo. Os seus olhos cruzam os meus, carregados de uma combinação de sentimentos que não consigo entender.

É evidente para mim que ele também desconhecia essa decisão de Alessandro que nos afeta diretamente.

Diego repete: – Casar? – sua voz soa incerta. – Claro que não, porra! – Seus olhos se afastam dos meus e encaram Alessandro com uma ira incontrolável que não consegue esconder.

Alessandro olha para sua esposa, com um sorriso sutil e sutil em seus lábios. Vittoria aparenta surpresa com a proposta do esposo, seus olhos se alargam enquanto o observam em busca de confirmação.

Por outro lado, Elena permanece em silêncio, observando a situação com uma expressão imparcial, porém, ainda assim, surpresa.

Por instantes que parecem eternos, tudo parece paralisado. Mal consigo ouvir as respirações ao meu redor, apenas o ruído constante do meu coração pulsando aceleradamente ressoa nos meus ouvidos.

Diego aparenta estar verdadeiramente atônito com a sugestão, seus olhos se apertam em dúvida enquanto ele assimila as palavras de Alessandro. Ele me olha, como se buscasse uma resposta no meu semblante, mas tenho certeza de que não encontra nada.

– Eu... simplesmente não posso... – Diego inicia e logo interrompe, seus olhos se afastando dos meus, sua voz firme me faz contrair. – No meu escritório... agora.

Diego avança à frente, seguido pelos homens. Posteriormente, as mulheres me alcançam e me emparelham, pois é evidente que o chamado de Diego não incluía nós.

– Calma, Antonella. – Vittoria me acolhe e me guia até o sofá, auxiliando-me a me acomodar. Ainda estou perplexa, não somente com a proposta de Alessandro, mas também com a resposta de Diego. – Alessandro tem conhecimento do que está fazendo, tudo vai se resolver.

Elena me oferece um copo com água, que eu bebo aos poucos. Estava pronta para a sentença de morte, porém, não estava pronta para o desprezo que percebi nas palavras de Diego.

A atmosfera tensa na sala é perceptível, como se tudo estivesse à beira de um colapso. Assim como eu, as mulheres também estão apreensivas, os olhares apreensivos de Vittoria e Elena se alternam entre mim e a porta do escritório, para onde os homens se dirigiram, enquanto eu tento assimilar o que acabei de ouvir.

Casamento? Diego? De fato, a ideia parece absurda, quase ridícula. Contudo, o que mais me surpreende é a reação de Diego.

Ele aparentava estar em conflito consigo mesmo, seu semblante torcido por uma combinação de ira e confusão. Ao observar sua rápida movimentação em direção ao seu escritório, senti um nó se formar em minha garganta.

Será que ele está zangado comigo? Você me culpará por ter entrado na sua vida? Ou talvez seja apenas o impacto da proposta de Alessandro que o deixou dessa maneira?

Sinto o calor acolhedor de Vittoria e Elena junto a mim, suas vozes suaves tentando tranquilizar minha mente inquieta.

Inspiro profundamente, na tentativa de afastar as ideias confusas que ameaçam me controlar. Alessandro tem consciência do que está fazendo, é o que afirmam. Mas será que é verdade?

Ao tentar me concentrar, escuto vozes alteradas provenientes do escritório de Diego. Eles estão em debate. Diego aparenta nervosismo, apesar de não conseguir compreender completamente o que dizem.

Sinto-me aprisionada neste embate de gigantes, incapaz de agir além de observar e aguardar, mais uma vez, que decidam o meu destino.

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