Prólogo • Antonella Rossi

Há quatro anos...

Sinto uma dor intensa em minha cabeça enquanto sou arrastada pelas mãos ásperas do meu pai, Mario Rossi. Os olhos dele, que costumam ser severos e meticulosos, agora irradiam um brilho sinistro, enquanto me arrasta com força pela casa até a cozinha.

Peço desesperadamente por ajuda, mas estou ciente de que ninguém estará disponível para me auxiliar.

Não nesta residência.

Não nessa linhagem familiar.

– ME SOLTA! – Minha voz ressoa, carregada de desespero e ira, porém, ninguém me ajuda, nem mesmo minha mãe ou irmãs.

Ao contrário de mim, elas são excessivamente passivas, obedecem a todas as instruções dele sem questionar, deixam-se guiar pelo medo, poder e riqueza que ele detém.

Apenas eu não sou assim nesta casa.

Nascida na Máfia, aprendi que a força, a resolução e a fidelidade são os instintos mais relevantes a serem adotados. Não vou me calar diante das descobertas que fiz sobre ele.

Mário não liga para os meus berros. Ele me arremessa ao solo com violência e, antes que eu consiga me recompor do impacto, remove algumas partes do revestimento de madeira que cobre o solo e abre uma passagem subterrânea que eu desconhecia a existência.

O ar frio e úmido penetra cada parte do meu corpo, levando-me para o interior da escuridão.

– Eu não vou me calar dessa vez! – Reafirmo, e ele apenas ri, um riso cruel e insípido que me faz tremer até as entranhas.

– Sim, você vai. – Sua voz soa como um sussurro frio no vazio que nos rodeia. – Quando criei esta câmara, nunca pensei que seria você a habitá-la. Contudo, diante de todos os desafios que você me apresenta, Antonella, tenho certeza de que fará um uso proveitoso.

O pavor me invade ao perceber o que está ocorrendo. Ele irá me acorrentar. Mario me manterá confinada em algum recanto oculto sob a casa que um dia denominei como meu lar.

Minha mente batalha para entender o que está ocorrendo, preciso achar uma solução, pois uma coisa é evidente: meu pai não tem boas intenções para mim.

– Alessandro vai descobrir! – exclamo, resistindo ao firme aperto das suas mãos no meu braço. – Mesmo que não seja eu, ele vai descobrir de qualquer maneira.

Mário sorriu mais uma vez, desta vez, um sorriso tão sombrio e perverso que me faz revirar o estômago de pavor.

– Você sempre foi muito falante, filha. – Suas palavras são como espadas afiadas. – No entanto, nunca senti tanto desejo de calá-la para sempre como agora.

Sinto que ele vai me aniquilar, pôr fim à minha breve vida. Sempre percebi que Mário era uma pessoa má, mas nunca pensei que seria capaz de ferir alguém que carregasse seu sangue nas veias.

Ele me arrasta para um compartimento semelhante a uma prisão, uma câmara de tortura disfarçada de sótão. Correntes pendem das paredes e do solo, enquanto uma mesa semelhante à de necrotérios se encontra próxima à parede.

– Isso, me destrua. Mostre quem você realmente é. – Em um ato desesperado de rebeldia, persisto em enfrentá-lo, desejando que tudo isso termine logo. No entanto, minha voz é um sussurro fraco, repleto de desafio e desespero.

– Tragam linha e agulha... – ele sorri, um sorriso que antecipa dor e angústia. – Prometi que a calaria, Antonella, mas não será através da morte.

Assim, ainda que viva, sou lançada no inferno, condenada a padecer nas mãos de quem deveria me proteger. Mário me obrigou a batalhar pela minha existência em um lugar onde a luz e a esperança parecem ter desaparecido para sempre.

A câmara escura ressoa o ruído metálico das correntes vibrando contra o chão, enquanto meu pai me acorrenta sobre a mesa de metal.

Percebo quando os guardas se aproximam, trazendo a agulha e a linha segundo o pedido dele. Ao me dar conta do que está à beira de acontecer, meus olhos se arregalam de puro pavor.

Tenho lutado, mas é em vão.

Eles me agarram fortemente, prendendo meus pés, mãos e cintura com faixas de couro, enquanto Mário se aproxima com um sorriso malicioso nos lábios.

– Isso irá ensiná-la a manter a língua escondida nos lábios, minha querida Antonella – ele murmura, a maldade esvoaçando em seus olhos como chamas de demônio.

A ponta fina resplandece à luz fraca da câmera, enquanto ele a maneja com mãos que há muito perderam a humanidade. Questiono até mesmo se ele realmente foi humano em algum ponto de sua existência.

Ele me obriga a fechar os lábios pressionando um contra o outro, suas mãos ásperas e geladas se agarram firmemente à minha pele.

Percebo a ponta aguçada da agulha penetrando no meu lábio superior, cortando a carne com uma dor quase insuportável. Grito, mas as mãos de Mário sufocam o som, numa tentativa inútil de abafar minha angústia enquanto executa seu trabalho cruel.

A linha corre por minha pele como uma serpente negra, costurando minha boca fechada, ponto por ponto, dor por dor. Cada nova incisão é um tormento, a cada toque da agulha, um pedaço da minha alma se vai.

Os meus olhos ardem com lágrimas caindo incessantemente enquanto combato o desespero que ameaça me devorar. Recuso-me a ceder, a curvar-me perante a crueldade de Mário. No entanto, mesmo com minha determinação inabalável, reconheço que esta é uma luta que não consigo vencer.

Mário está decidido a despedaçar cada parte de mim, desintegrando-me aos poucos até que não sobre nada. Não tenho ideia de quanto tempo vou permanecer neste local, mas estou segura de que existe uma grande possibilidade de eu não sobreviver.

Finalmente concluído após longos minutos. Minha boca está costurada, como o túmulo onde ele me jogou.

Vejo-me espelhada no olhar de Mário. Sim, Mário, pois ele está longe de ser um pai. Percebendo o triunfo em seu olhar, ele se afasta, ordenando que as portas de aço da prisão sejam trancadas, me deixando presa e sozinha na escuridão.

É neste ambiente assustadoramente sombrio que entendo o real sentido do desespero; o frio úmido e a angústia me envolvem como um manto de desespero.

À medida que a escuridão me consome, agarro-me à esperança como a uma tênue luz no final de um túnel sem fim. Asseguro a mim mesma que não permitirei que o desespero me domine, que não permitirei que ele me destrua totalmente.

Não vou resistir!

Embora eu esteja preso fisicamente por correntes e tiras de couro, reconheço que a verdadeira detenção reside na minha mente. No entanto, reconheço que, mesmo estando aqui, mesmo após ser detida por Mário, ainda tenho a possibilidade de ser liberta.

Possibilidade de sonhar com o dia em que finalmente me livrarei deste tormento. Permitido para visualizar um futuro além das barreiras de aço e pedra que me circundam.

Mário silenciou a minha voz, porém não conseguiu silenciar a minha resolução. Mesmo considerando quase impossível, prometo a mim mesmo que vou superar isso, sair desta prisão e fazer com que ele pague por cada gota de sofrimento que me causou até agora e pelas muitas outras que imagino que ainda me causará no futuro.

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Comments

Aline Rocha

Aline Rocha

isso n pode ser chamado de pai tem q paga 91 vezes pior do q fez

2025-01-20

2

Nilvan Coiote

Nilvan Coiote

um pai desses e um monstro

2024-12-23

1

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Capítulos
1 Introdução
2 Prólogo • Antonella Rossi
3 Capítulo 01 • Antonella Rossi
4 Capítulo 02 • Diego Marchese
5 Capítulo 03 • Diego Marchese
6 Capítulo 04 • Antonella Rossi
7 Capítulo 05 • Diego Marchese
8 Capítulo 06 • Antonella Rossi
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Atualizado até capítulo 49

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2
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