A aurora chega, trazendo uma combinação de expectativa e ansiedade.
Terei alta hoje do hospital.
Quando olho para o teto, tentando evitar os olhos azuis intensos de Diego, ainda deitada e imóvel na cama, sinto que meu coração está repleto de dúvidas.
Embora não queira, sinto-me vulnerável e frágil, à mercê de um futuro que não planejei ou optei.
É estranho deixar o hospital, é como se estivesse deixando para trás a parte segura que conheci nos últimos dias, a parte que me resgatou desde o meu resgate, uma parte da qual me habituei a depender.
Essa reflexão é confusa, pois se pude sentir-me amparada e salvaguardada, foi porque Diego esteve ao meu lado, proporcionando todo o suporte necessário para que nada mais me prejudicasse.
Em breve, serei conduzida até a sua residência, onde estarei protegida ao seu lado. Não posso permitir que esse turbilhão de incertezas me controle.
É intrigante como uma simples alteração de ambiente me deixa vulnerável e insegura. Mesmo recordando as palavras de Diego e ciente de que ele estará ao meu lado para me resguardar, é impossível não recear o que está por vir.
Após ser examinada pelo médico encarregado do meu caso e receber todas as diretrizes para o período pós-internação, acompanhada por Diego, deixo o hospital.
Ele me auxilia a entrar no carro, tem cuidado para não me ferir ou tocar em mim além do necessário. Sou agradecida pela sua bondade, apesar do seu toque delicado às vezes me assustar e me manter alerta.
Ainda não estou completamente recuperada e, como disse anteriormente, a perspectiva de ir para um lugar desconhecido, me deixa um tanto quanto nervosa.
– Está pronta? – Diego questiona, seu olhar apreensivo ao observar minhas reações após me auxiliar com o cinto de segurança. Sinto que ele observa minuciosamente minhas reações.
– Acho que sim – murmuro, forçando os lábios trêmulos a formar palavras.
Ele se acomoda ao meu lado no banco do motorista, aciona o carro e, aos poucos, nos distanciamos do hospital. Deixamos para trás os corredores brancos e as faces das enfermeiras e médicos que já me são familiares.
Depois de um tempo, Diego começa a conversar comigo, mas estou tão ansiosa que não consigo responder de forma monossilábica. Minhas mãos estão entrelaçadas no meu colo, e percebo sua atenção constante em mim, mesmo ao volante.
Ao longo do percurso, Diego me informa sobre sua residência nos arredores de San Luca. Ele afirma que é uma região resguardada pelo clã, certamente está me fornecendo essa informação para me fazer sentir um pouco mais segura.
Embora eu não tenha questionado, ele me fornece algumas informações sobre a sua propriedade, o local onde habitarei por um tempo ainda não definido.
– Assim como o pentagrama que define a estrutura do clã, as propriedades de cada subchefe e do Boss são definidas de forma a cobrir todo o território da cidade – ele esclarece, com os olhos fixos na estrada adiante. – Nossas residências formam um pentagrama perfeito, abrangendo cada porção do território que nos é pertencente.
Eu escuto, assimilando suas palavras. A estrutura e a hierarquia do clã são complexas, entendo que vários aspectos são planejados para reforçar o domínio sobre o território. A localização das residências dos subchefes é apenas um exemplo disso.
À medida que atravessamos as ruas, sinto que estamos nos aproximando de sua residência, um misto de ansiedade e expectativa se agita em mim.
Questiono-me se serei capaz de me ajustar a essa nova situação. Será que serei capaz de superar os fantasmas do passado e recomeçar? Será que a promessa de Diego de me resguardar e nunca me ferir é verdadeira?
Admito que tenho receio dele agir como Mário e, num futuro próximo, me prejudicar também, não só fisicamente, mas também psicologicamente.
Pouco tempo depois, Diego atravessa portões de ferro protegidos por homens armados. Ele estaciona o carro diante de uma enorme propriedade, muito maior do que a casa onde morava com minha família. Diego desliga o motor do carro e se volta para mim, com um semblante sereno.
– Chegamos – declara, com uma voz firme.
– Obrigada, Diego – sussurro, sentindo as lágrimas começarem a escorrer pelo meu rosto.
Ele estende a mão e limpa minha lágrima com o polegar, seus olhos azuis são resolutos e ao mesmo tempo suaves.
– Já te disse para não me agradecer, ragazza – ele diz, sua voz soa como um sussurro rouco.
Respiro profundamente, tentando afastar os pensamentos de luto que ameaçam me dominar.
– Vamos lá, Antonella. – Diego abre a porta do carro e se retira, esperando que eu o siga.
Saio do carro com um nó na garganta, me sentindo uma estranha em um mundo que ainda não entendo completamente.
A propriedade é grandiosa, majestosa e bela naturalmente, acredito que qualquer pessoa sã dedicaria um bom tempo apenas a contemplar o local, mas não sou eu. Embora a casa de Diego seja grandiosa e impressionante, sinto-me pequena e desproporcional diante dela.
Diego me conduz até a entrada da residência, onde somos acolhidos por uma governanta, uma senhora simpática que me saúda com um sorriso receptivo. Por um instante, sinto-me serena com a sua presença, ela possui um olhar benevolente, mas logo a sensação de estranhamento e temor voltam.
Como previ ao observar de fora, a residência é ampla e requintada, até mesmo aconchegante, bem distinta do local que um dia denominei como lar e que acabou se transformando na minha prisão.
Acompanho Diego pelos corredores, esforçando-me para recordar cada por menor que ele me apresenta, tentando visualizar cada móvel, como se isso pudesse me proporcionar mais conforto.
Experimentei tanto tempo naquela cela que detalhes simples como um sofá, um abajur e até mesmo tapetes e lustres atraem minha atenção.
– A partir de agora, este será o seu quarto. – Diego me mostra uma porta entreaberta, revelando um quarto espaçoso e aconchegante. – Espero que se sinta à vontade e confortável aqui.
Concordo com um aceno de cabeça, incapaz de formular palavras no momento. Diego fala, meu coração está apertado, repleto de incertezas e inseguranças.
– Solicitei que providenciassem roupas e sapatos, no banheiro há itens de higiene pessoal feminino. Não tenho certeza do que usava, então solicitei que trouxessem algumas alternativas diferentes. – Sigo seus passos até o closet, que está arrumado e repleto de roupas e sapatos com etiquetas penduradas, evidenciando que são peças recém-chegadas.
– Se precisar de mais alguma coisa, basta me comunicar que providenciarei –Diego diz, sua expressão séria, seus olhos demonstrando preocupação, talvez, com o meu silêncio repentino.
Assinto novamente, tentando expressar gratidão através do meu olhar, porém, reconheço que minhas emoções conflituosas são perceptíveis em meu rosto, assim como nas palavras que me escapam da boca.
Ele me apresenta todo o espaço e depois afirma que vai tomar um banho, incentivando-me a fazer o mesmo. Avisa que em breve virá me convidar para jantar antes de ir para o trabalho. Como saímos muito cedo do hospital, não tomamos o café da manhã.
Logo após Diego deixar o quarto, sinto-me só e desorientada.
Observo ao redor, tentando me adaptar ao ambiente, mas tudo me parece tão inusitado e desconhecido, apesar de saber que tudo foi preparado e planejado para mim.
Sento-me na extremidade da cama, sentindo-me pequena e vulnerável. As lágrimas começam a descer pelo meu rosto, silenciosas e solitárias como eu me tornei. Não consigo controlar o receio do desconhecido e meus olhos pronunciam palavras que meus lábios não conseguem pronunciar.
– O que estou fazendo aqui? – falo comigo mesma, as palavras ecoando no quarto vazio.
No mais profundo do meu ser, tenho a resposta. Estou aqui porque Diego se comprometeu a cuidar de mim, me deu esperança num momento de desespero e confiei em suas palavras, mesmo que pareçam impraticáveis.
Encerro os olhos, inspirando profundamente e buscando forças em algum lugar do meu ser.
Após um tempo, levanto-me da cama em busca de alguma determinação para realizar o que é necessário, limpo as lágrimas do rosto e caminho em direção ao banheiro.
Não posso deixar que o medo me domine, especialmente agora que tenho um pequeno resquício de esperança. É preciso que eu seja forte, tanto por mim mesma quanto por Diego, pois foi ele quem me proporcionou uma visão de futuro quando ninguém mais o fez.
Retiro a roupa que usei no hospital e me envolvo no chuveiro, permitindo que a água quente lave minhas inquietações e receios. Quando deixo o banheiro, sinto um leve alívio.
Seleciono e visto uma das vestimentas que Diego preparou para mim, acomode cada uma delas em meu corpo como um escudo contra o mundo exterior. Observo-me no espelho, buscando a bravura que existe em mim.
O corpo magro e maltratado me causa um leve arrepio, tenho várias cicatrizes na pele, mas as que mais me perturbam são as dos meus lábios. Com passos hesitantes, aproximo-me do reflexo, tocando as cicatrizes com a ponta dos dedos, uma combinação de dor física e emocional me invadindo sem que eu consiga controlar.
Recordo do tormento, das longas horas de tortura, do ruído dos gritos sufocados ressoando na cela escura. Sinto uma forte náusea e respirei profundamente, obrigando-me a encarar a minha própria imagem no espelho. Vejo uma nova chance de futuro, de abandonar o passado.
– Você é mais forte do que imagina, Antonella. – Sussurro para meu reflexo, como se conseguisse convencer a mim mesma de que aquelas marcas não definem quem eu sou.
No entanto, mesmo tentando, a dor ainda persiste aqui dentro de mim, uma lesão que parece nunca se curar totalmente.
Por um instante, fecho os olhos para afastar as lembranças dolorosas que ameaçam me consumir. Quando os reabro, sou compelido a reacender a esperança e permitir que a resolução penetre em minha mente.
Não posso alterar o passado, mas tenho a opção de determinar como vou lidar com o futuro. Neste instante, opto por ser forte e lutar por uma vida mais digna, mesmo que muitas vezes pareça inalcançável.
Termino de me arrumar e desço para o piso inferior da casa, recordando o trajeto que Diego me indicou para a sala de jantar. Ele já se encontra sentado à cabeceira da mesa.
– Antonella, sente-se aqui. – Diego sugere uma cadeira ao seu lado.
– Obrigada – respondo, esforçando-me para manter a voz firme, mesmo que por dentro esteja insegura.
Observo a mesa posta, faz tanto tempo que não preparo uma refeição nesses moldes que me sinto desorientada, sem saber como agir.
Diego parece entender minha hesitação ao me oferecer uma xícara de café e um prato com ovos cozidos e pão. Percebo que ele serviu o que observou que eu comia durante minha estadia no hospital e fico impressionada com o seu cuidado.
Ao longo da refeição, permanecemos em silêncio. Diego parece estar atento a cada um dos meus mínimos movimentos, o que me causa insegurança.
Estou preocupada que ele esteja à procura de um erro qualquer para me expulsar ou até mesmo fazer como Mário e me trancafiar em um cárcere.
Apesar da aparente normalidade, sinto profundamente que minha vida nunca mais voltará a ser como antes. As marcas do passado sempre estarão presentes em mim, recordando as batalhas que superei e indicando que muitas ainda estão a caminho.
Concluímos o café da manhã em silêncio e ele se retira para o trabalho, deixando-me em sua casa sem saber quais são as próximas ações que preciso tomar.
Uma coisa é certa, não posso mais viver aprisionada pelo meu passado, é hora de avançar, mesmo que seja com passos pequenos.
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Nilvan Coiote
muito bem é assim q se fala
2024-12-23
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