Os dias avançam lentamente enquanto continuo no hospital, minha mais recente detenção. Parece que estou em uma nova prisão, sem cercas físicas, mas ainda assim, uma detenção emocional.
Este pensamento pode até parecer desprezível, considerando que estou cercada de assistência: médicos, enfermeiros, remédios, refeições agendadas. Não fico muito tempo sozinha desde que cheguei aqui, mas sinto cada hora passar como se estivesse enredada em uma rede invisível.
Eu não desejava estar aqui, nem em nenhum outro lugar. Diego tinha a capacidade de me libertar, porém me permitiu viver e, assim, me confinou novamente.
Sinto repulsa por ser tão insegura a ponto de permitir que os outros determinem o meu futuro. Desejaria ter mais bravura para agir independentemente, não necessitando de ninguém para realizar meus desejos, para ter a bravura de morrer, agir e fazer o que for necessário, mas não possuo, sou muito vulnerável.
Pedir auxílio a Diego foi apenas mais um sinal da minha vulnerabilidade. Ele rejeitou minha solicitação e eu concordei. Submissão. Silencioso. Como foi ao longo de todos esses anos.
Vivendo a vida que me foi dada.
Agora estou em um local seguro, recebendo assistência médica e o suporte de Diego. Para ser honesto com a minha atual situação, reconheço que ele tem sido extraordinário desde que me tirou daquele caos. Contudo, ainda é desafiador acreditar que estou verdadeiramente segura.
Portanto, o anseio de partir para sempre supera o de continuar vivo.
Permaneço deitada na cama do hospital, contemplando o teto de cor branca que me cerca. Minhas ideias estão confusas, minha existência se transformou numa mistura confusa de sentimentos e lembranças distorcidas.
Liberdade e encarceramento. Atenção e sofrimento. Esperança e angústia. Conflito e paz.
Embora a dor física esteja se atenuando gradualmente, a dor emocional continua muito presente em minha mente.
Como prometi, Diego não me deixou. Está sempre disponível à noite. Ao longo do dia, ele sai para o trabalho. Ocasionalmente, surge em instantes aleatórios, porém esses instantes são extremamente breves.
Ele se estabeleceu como uma presença contínua na minha vida, tanto fisicamente quanto em minhas reflexões. Nos dois primeiros dias, ele permaneceu ao meu lado, alimentou-me, aguardou na porta do banheiro enquanto a enfermeira me auxiliava a tomar banho e permaneceu acordado durante a noite para assegurar que eu me sentisse protegida.
Estou ciente de que você está fazendo tudo ao seu alcance para me auxiliar na recuperação e sou agradecida por isso. No entanto, existe uma parte de mim que se sente desorientada, uma parte que não sabe como prosseguir.
Questiono-me sobre o que irá ocorrer agora. Onde irei após deixar este hospital? Ele me conduzirá de volta à casa onde vivi os piores momentos da minha vida? O que vou encontrar quando voltar?
Que serve a salvação se, dentro de pouco tempo, serei novamente relegada ao inferno?
Meu pai permanece no exterior, representando uma ameaça para mim e todos eles. Ouvi as conversas e sei que ele se evadiu. Também sei que Diego e os outros estão empenhados em localizá-lo e capturá-lo. No entanto, isso não ameniza a minha ansiedade.
E se não for possível capturá-lo? E se ele voltar a me procurar?
Esses pensamentos me atormentam todos os dias, me mantendo vigilante e alerta. Eu sei que Mário virá em minha direção, ele sempre afirmou que eu seria para sempre o seu brinquedo e me machucaria de maneiras que eu jamais conseguiria superar. No final, ele estava correto, pois é assim que me sinto: devastada, quebrada, sem chance de recuperação.
Sinto-me constantemente à beira de um precipício, à beira da insanidade. A psicóloga que está me acompanhando afirmou que devo vencer meus medos e encontrar um caminho para prosseguir. No entanto, é simples falar quando não se vivenciou o mesmo pesadelo que eu.
Por vezes, mesmo sendo insano, me sinto tentado a me agarrar àquela câmara obscura. Pelo menos lá eu sabia o que esperar, estava livre de incertezas. A dor e o desespero já estavam predestinados a mim, e a incerteza do que está por vir me assombra mais do que as atrocidades que experimentei.
Ontem à noite, Diego relatou que a psicóloga lhe disse que eu estava avançando, que eu precisava ter vontade de continuar, que não deveria desistir, pois se já venci o inferno uma vez, posso vencê-lo novamente.
Palavras, muitas palavras... mas, para ser sincera, nenhuma me atinge verdadeiramente. Como posso prosseguir se tudo que vejo é um futuro incerto, um horizonte turvo de sofrimento e dúvida?
Por vezes, questiono-me se estou destinada a permanecer nesta condição para sempre, aprisionada em um ciclo sem fim de medo e desespero. Possivelmente é isso que mereço, por ter me mostrado tão vulnerável e covarde.
Eu raramente falo, respondo sempre de forma monossilábica e apenas quando é absolutamente necessário. Abandonei a tentativa de antecipar o futuro, no momento, tudo que posso fazer é aguardar.
Aguardar o dia em que sairei do hospital, aguardar até descobrirem para onde me levarão, aguardar o dia em que meu pai será detido, aguardar o dia em que me sentirei novamente segura.
Aguardar... Aguardar... Aguardar...
Mais um período de inércia semelhante ao que experimentei nos últimos anos. Uma existência orientada pelos demais, não pelas minhas próprias inclinações.
Talvez eu nunca esteja completamente segura, somente o tempo poderá dizer. Até lá, seguirei vivendo um dia de cada vez, de acordo com as vontades daqueles que me rodeiam e com o que for determinado para mim.
Por enquanto, desejo ardentemente que um dia eu possa alcançar a paz que tanto anseio.
Observo o relógio na parede branca, observando a movimentação lenta dos ponteiros, sinalizando a passagem do tempo. A noite já escureceu o céu com suas cores sombrias e estou ciente de que Diego estará a caminho em breve. Ele sempre aparece após as nove da noite.
Quando se aproxima esse horário, sempre fico mais vigilante, esperando pela sua presença silenciosa. Diego é o único que me dá a sensação de vida, como se ele fosse o único a me proporcionar opções reais.
Diego entra no quarto algum tempo depois, seu rosto sempre apreensivo é iluminado pela luz fraca do quarto. Sempre solicito que as enfermeiras desliguem as luzes.
Sinto-me mais confortável na obscuridade.
Ele se aproxima da minha cama, seus olhos azuis colidindo com os meus, talvez com uma combinação de ira e ansiedade.
– Como vai você? – A sua voz é suave, apesar da tempestade sempre estar presente em seu semblante.
Observo-o por um instante, lutando contra a enxurrada de sentimentos que ameaça explodir. Respondo com um singelo aceno de cabeça, sem conseguir expressar as palavras que se movem em minha mente.
Estou bem, é a resposta à sua pergunta, e sou agradecida por isso, mas também me culpo por estar aqui, aprisionada no abismo mental que eu mesma instaurei.
Diego suspira, a preocupação constante se tornando mais evidente. Ele se acomoda à beira da cama, tão perto que consigo sentir o calor acolhedor do seu corpo. Quero que continue lendo, mas simultaneamente, quero que se afaste.
– Antonella, precisamos conversar. – Ele inicia, com uma voz calma e séria. – Entendo que não tem sido simples, mas você precisa encarar isso. Já disse que estou ao seu lado, não permitirei que nada de negativo te aconteça. Já disse que estou ao seu lado, não permitirei que nada de negativo te aconteça. Você não está desacompanhada, estou sempre ao seu lado, sempre estarei.
Eu o observo, impressionada com a sua autenticidade. Diego é muito reservado, sempre mostrou que estaria comigo, que me auxiliaria a superar a adversidade, mas nunca foi tão explícito.
Por um instante, questiono-me se ele realmente compreende o que estou vivenciando, se consegue compreender a intensidade da minha dor ou se só agora percebeu que eu realmente desisti.
– Entendo que você está com medo – ele prossegue quando continuo encarando-o em silêncio, sua voz se tornando mais suave – e compreendo sua dor. No entanto, como já mencionei anteriormente, você não precisa lidar com isso sozinha. Prometo que farei tudo ao meu alcance para te salvaguardar, para te manter protegida.
As suas palavras reverberam em minha mente, alcançando as camadas de desespero e dúvida. Acredito nele, acredito que ele pode ser a minha luz neste oceano de escuridão e sofrimento. No entanto, nem sempre o desejo se torna realidade e, no momento, o que desejo está em desacordo com a minha realidade.
Gradualmente, estendo as minhas mãos, percorrendo os lençóis frios até que a ponta dos seus dedos se encontre com as minhas. O contato breve, o calor do seu corpo aquece a minha pele instantaneamente.
– Fale, Antonella... tente um pouco mais, sou eu que estou aqui.
Observo o clamor em seus olhos e finalmente abro a boca, após um longo período o observando, numa batalha silenciosa com meus instintos mais básicos.
– O que está por vir? – Minha voz é apenas um murmúrio, quase imperceptível diante do zumbido dos aparelhos ao meu redor. – Para onde vou quando sair deste hospital.
Permito que ele perceba que o futuro me causa medo, a incerteza sobre o que está por vir me deixa apavorado.
– Quando receber alta médica, irei levá-la para um local seguro, onde poderá se recuperar sem temer. – Diego olha para mim, com um olhar sério e decidido. – Asseguro-lhe que Mário nunca mais te ferira, não precisa temer, garota.
Surpreendo-me quando ele envolve a minha mão com a dele. O suave toque das pontas dos dedos sendo trocado por um escudo de calor e proteção. Sinto uma corrente de alívio me envolver, uma fagulha de esperança se acendendo em meu interior.
Diego está dizendo a verdade, é o único que pode me resguardar.
– Agradeço. – murmuro, minhas palavras repletas de agradecimento.
Diego sorri, um sorriso autêntico, talvez por finalmente conseguir extrair de mim uma frase completa após vários dias de silêncio.
Eu percebo, as lágrimas começando a cair em minha face. Ele estende a mão e seca o meu rosto, nossos olhares permanecem fixos por um longo intervalo. Apenas quando a enfermeira surge com o meu jantar em uma bandeja, o momento é interrompido.
Diego se levanta e, da mesma forma que nas noites anteriores, me alimenta em silêncio. Em seguida, começa a arrumar suas coisas na cama para os convidados, local onde tem dormido nos dias recentes.
Fecho os olhos porque me sinto genuinamente protegida e me deixo envolver pela sensação de conforto proporcionada pela sua presença.
E é nesse instante de aparente serenidade que surge uma questão em minha mente, deixando-me ansioso pelo que está por vir: o que mais o destino tem guardado para mim?
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Atualizado até capítulo 49
Comments
Fátima Silveira
tão fofinho igual um urso /Drool//Drool//Drool/
2025-04-01
1
Adriacmacez
Continua batendo ♥️
Porfavorzinhooo... n para de bater meu ♥️
Aí q lindo ele cara 🥹🥹🥹
Parabéns autora linda do meu ♥️ pela história maravilhosa 🫶
Faz mais capítulos urgentemente porfavorzinhooo PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS PLIS 🙏🙏🙏🙏🙏🙏🙏🥺🥺🥺🥺🥺🥺
2024-11-27
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