O som de folhas sendo esmagadas sob botas ressoava pela floresta densa. Movíamo-nos em silêncio, mas não estávamos sozinhos. Cada sombra parecia carregar uma ameaça, cada estalo de galho uma advertência. Lyra caminhava na frente, sua lâmina sempre ao alcance das mãos. Eu a seguia, com o fragmento preso ao meu peito, escondido sob a camisa, mas parecia pulsar como uma batida de tambor, alertando-me para algo que ainda não conseguia identificar.
— Estamos sendo seguidos — ela disse, sem sequer olhar para trás.
Eu hesitei por um momento. Não havia ouvido nada, mas a confiança na voz dela não deixava margem para dúvida.
— Rastreadores? — perguntei.
— Se tivermos sorte — respondeu, com um sorriso amargo.
Continuei a andar, tentando ignorar a sensação crescente de que o perigo estava mais perto do que eu imaginava. A escuridão da floresta parecia fechar-se ao nosso redor, e meu coração acelerou quando percebi um brilho azul nas sombras.
— Lyra — chamei, apontando para a direção.
Ela parou abruptamente, seus olhos fixando-se no brilho.
— Isso não é um rastreador.
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O primeiro ataque foi tão rápido que mal tive tempo de reagir. Uma figura surgiu das sombras, movendo-se com uma velocidade que desafiava a lógica. Lyra bloqueou o golpe com sua lâmina, faíscas iluminando o espaço ao nosso redor.
— Fique atrás de mim! — ela gritou, enquanto lutava contra o atacante.
Ignorei o comando e tentei analisar a situação. O agressor era humano, mas havia algo nele que parecia... errado. Seus movimentos eram desumanos, quase robóticos.
Outro surgiu, dessa vez vindo diretamente para mim. Sem pensar, levantei minhas mãos, e o fragmento no meu peito brilhou intensamente. Uma onda de energia azul foi disparada, jogando o atacante contra uma árvore.
Lyra olhou para mim por um breve segundo, surpresa, antes de voltar a se concentrar no inimigo à sua frente.
— Você poderia ter mencionado que sabe fazer isso! — ela gritou.
— Eu também estou surpreso! — respondi, enquanto tentava entender o que havia acabado de acontecer.
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A batalha continuou por mais alguns minutos, mas finalmente conseguimos repelir os atacantes. Eles desapareceram nas sombras, deixando-nos ofegantes e feridos.
— Quem eram eles? — perguntei, enquanto observava as marcas de queimaduras no chão, evidências do poder do fragmento.
Lyra não respondeu imediatamente. Ela estava examinando os corpos dos atacantes que não haviam conseguido fugir.
— Agentes de Agartha — disse finalmente. — Ou o que sobrou deles.
— O que sobrou?
Ela virou-se para mim, seu rosto sério.
— Agartha tem experimentado com tecnologia e humanos há décadas. Esses são os resultados. Eles sacrificam sua humanidade por eficiência.
Engoli em seco, sentindo um nó se formar no estômago. O que mais eles seriam capazes de fazer para colocar as mãos no fragmento?
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Passamos o resto da noite em um estado de alerta constante. Não havia como saber se mais atacantes estavam a caminho. Enquanto Lyra vigiava a entrada da caverna onde havíamos nos escondido, sentei-me no chão, examinando o fragmento em minhas mãos.
Ele parecia mais quente do que antes, como se estivesse reagindo ao perigo. Quando toquei sua superfície, flashes de imagens invadiram minha mente: cidades em ruínas, um céu vermelho, e uma figura de olhos brilhantes que me encarava com uma intensidade quase insuportável.
— Akin.
A voz de Lyra me trouxe de volta à realidade. Ela estava parada à minha frente, os braços cruzados.
— Você está bem?
— Acho que sim — respondi, embora soubesse que era mentira.
Ela me observou por um momento antes de se sentar ao meu lado.
— Eu sei que isso é muito para carregar, mas você precisa se lembrar do que está em jogo.
— Você fala como se já soubesse como tudo vai terminar.
— Não sei. Mas sei que a escolha está em suas mãos.
Olhei para o fragmento, sentindo o peso de suas palavras.
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Na manhã seguinte, seguimos nosso caminho em direção a uma pequena aldeia no coração de Anunaki. Segundo Lyra, havia um ancião lá que poderia nos ajudar a entender mais sobre o fragmento e seu propósito.
A caminhada foi longa e silenciosa. Eu estava perdido em pensamentos, tentando entender por que havia sido escolhido. Não era o mais forte, nem o mais inteligente. Então, por quê?
Quando finalmente chegamos, a aldeia era diferente de qualquer outra que eu já havia visto. Havia uma energia ali, algo que fazia a pele formigar. As pessoas nos receberam com sorrisos calorosos, mas havia uma seriedade em seus olhares, como se soubessem mais do que estavam dispostas a revelar.
Fomos levados até uma grande tenda no centro da aldeia. Lá dentro, um homem idoso nos esperava, sentado em um trono simples feito de madeira. Seus olhos eram de um azul brilhante, e ele parecia irradiar sabedoria.
— Bem-vindo, Akin Manhiça — disse ele, antes que eu tivesse a chance de falar.
Olhei para Lyra, que parecia igualmente surpresa.
— Como você sabe quem eu sou? — perguntei.
— O Coração de Gaia fala conosco de muitas maneiras — respondeu o ancião. — E ele tem falado sobre você há muito tempo.
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As próximas horas foram um turbilhão de informações. O ancião nos contou sobre a origem do fragmento, como ele era uma manifestação física do poder de Gaia, a força vital do planeta. Ele explicou que, se caísse em mãos erradas, poderia ser usado para destruir o equilíbrio do mundo.
— E por que eu? — perguntei. — Por que não alguém mais qualificado?
O ancião sorriu levemente.
— O Coração não escolhe os mais fortes ou os mais inteligentes. Ele escolhe aqueles com o maior potencial para crescer.
Suas palavras me atingiram de uma forma que não consegui explicar.
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Quando saímos da tenda, o sol estava se pondo, e o céu estava tingido de laranja e vermelho. Lyra olhou para mim, seu rosto mais suave do que eu havia visto antes.
— Bem, parece que você tem um destino a cumprir.
— Parece que sim — respondi, sentindo um estranho misto de medo e determinação.
Mas, no fundo, sabia que essa era apenas a primeira de muitas batalhas que viriam.
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Atualizado até capítulo 21
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