Encarar Lyra era como olhar para um reflexo distorcido de tudo o que eu acreditava ser real. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade que me deixava desconfortável, e, ao mesmo tempo, me prendiam. Ela era real. Mas como isso era possível?
— Você... — comecei, mas as palavras morreram na minha garganta.
Ela deu um passo à frente, as sombras do capuz ainda projetando mistério sobre seu rosto.
— Eu sei o que você sonha, Akin. Sei o que te atormenta.
Meus músculos estavam tensos.
— Como sabe meu nome? Como sabe... sobre os sonhos?
Ela inclinou a cabeça, um sorriso enigmático se formando em seus lábios.
— Porque não são apenas sonhos. São memórias.
Minha mente tropeçou nas palavras, lutando para encontrar sentido. Memórias?
— Você está louca. Eu nunca te vi antes.
Lyra deu uma risada curta, quase zombeteira.
— Não conscientemente. Mas isso não significa que não nos conhecemos.
Dei um passo para trás, minha guarda completamente levantada.
— O que você quer de mim?
Ela suspirou, como se minha resistência fosse esperada, mas ainda assim frustrante.
— Quero te ajudar, Akin. Há coisas que você precisa saber. Coisas que foram escondidas de você... sobre o Coração de Gaia, sobre Anunaki, sobre você mesmo.
O nome "Coração de Gaia" fez meu sangue gelar. Aquilo não era algo que se mencionava casualmente, nem mesmo entre os metahumanos.
— Quem é você, de verdade?
Ela se aproximou mais, a luz da lua finalmente iluminando seu rosto por completo. Era ainda mais deslumbrante do que nos meus sonhos, mas havia uma dureza ali, algo forjado pela dor e pela sobrevivência.
— Meu nome é Lyra Blackthorn. Sou de Agartha.
O choque atravessou meu corpo como um raio. Automaticamente, minha postura mudou, e minha mão foi instintivamente para o cabo da adaga presa ao meu cinto.
— Você é minha inimiga.
Ela não recuou.
— Não, Akin. Sou sua aliada.
— Aliada? — ri, incrédulo. — Você espera que eu confie em você? Depois de tudo o que Agartha fez, de tudo o que vocês tentaram roubar de nós?
Lyra cruzou os braços, sem se intimidar.
— Não sou como eles. Se fosse, você acha que estaria vivo agora?
Não respondi. O peso de suas palavras pairava entre nós.
— O que você realmente quer? — perguntei, minha voz mais baixa agora, mas ainda desconfiada.
Ela hesitou por um momento antes de dizer:
— Preciso te mostrar algo. Algo que mudará tudo o que você acha que sabe sobre Anunaki e o Coração de Gaia.
Meus instintos gritavam para não confiar nela. Mas algo em seus olhos me dizia que ela não estava mentindo.
— Amanhã ao nascer do sol — continuou Lyra. — Me encontre na borda da floresta de Baobás. Se não aparecer, vou entender. Mas se vier... vou te mostrar a verdade.
Sem esperar minha resposta, ela desapareceu na escuridão, movendo-se com a graça de um predador.
Fiquei parado ali por alguns momentos, o coração ainda acelerado. Tudo em mim dizia para relatar o encontro aos anciãos. Mas, ao mesmo tempo, havia algo... algo sobre Lyra que não podia ignorar.
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De volta ao meu alojamento, as palavras dela continuavam a ecoar na minha mente. “São memórias.” O que isso significava? E por que parecia que ela sabia mais sobre mim do que eu mesmo?
Adormeci tarde naquela noite, e quando os sonhos vieram, eles foram mais intensos do que nunca. Lyra estava lá, mas desta vez ela não era uma figura distante. Estávamos lado a lado, correndo por uma paisagem desolada, perseguidos por algo invisível, mas inegavelmente ameaçador.
— Akin, confie em mim! — ela gritou, puxando minha mão.
— Por quê? — perguntei.
Ela olhou para mim, seus olhos cheios de uma urgência quase desesperada.
— Porque sua vida depende disso.
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O nascer do sol encontrou-me na borda da floresta de Baobás, exatamente onde Lyra havia instruído. Meu coração batia como um tambor enquanto eu esperava, cada som na floresta parecendo amplificado.
Então, ela apareceu.
— Achei que não viesse — disse Lyra, um sorriso breve passando por seu rosto antes de desaparecer.
— Contra meu melhor julgamento, aqui estou.
Ela não perdeu tempo com formalidades.
— Me siga.
Caminhamos pela floresta em silêncio, os enormes baobás parecendo vigias antigos. Depois de cerca de vinte minutos, chegamos a uma clareira. No centro, havia algo que eu nunca tinha visto antes: uma espécie de altar feito de pedra negra, coberto por inscrições que brilhavam com uma luz azul pulsante.
— O que é isso? — perguntei, dando um passo à frente.
Lyra estendeu a mão, como se para me parar.
— É um fragmento do Coração de Gaia.
Eu congelei.
— Um fragmento?
— Sim. O Coração em si está em um lugar seguro, mas este... este é um segredo que nem os anciãos de Anunaki conhecem.
Meu olhar se fixou no altar. A luz parecia hipnotizar, chamando-me.
— Por que está me mostrando isso?
Lyra se aproximou, sua expressão grave.
— Porque há algo que você precisa entender. O Coração de Gaia não é apenas uma fonte de energia. Ele é vivo. E está morrendo.
Minha cabeça girou.
— Isso é impossível. O Coração de Gaia é o que mantém Anunaki viva. É o que nos dá força.
— Exatamente — disse ela. — Mas os anciãos estão escondendo a verdade. Eles sabem que o Coração está se deteriorando, e é por isso que Agartha e Calodopseia estão tentando roubá-lo. Não porque querem seu poder, mas porque querem salvar o que resta.
Eu não sabia o que dizer. Cada palavra dela era como um golpe direto no que eu acreditava ser verdade.
— Por que você está me contando isso? — perguntei finalmente.
Ela hesitou, e por um momento, sua máscara de confiança pareceu vacilar.
— Porque... eu acredito que você é a chave para salvá-lo.
— Eu? — ri amargamente. — O que eu poderia fazer?
— Você tem uma conexão com o Coração, Akin. Algo que ninguém mais tem. E é por isso que eles precisam de você.
— Quem?
Lyra olhou diretamente para mim, seus olhos brilhando com uma determinação feroz.
— Todos eles. Agartha, Calodopseia... até mesmo os anciãos de Anunaki. Todos estão te usando, Akin. Mas você é mais do que um peão no jogo deles.
Antes que eu pudesse responder, um som alto veio da floresta, e Lyra imediatamente ficou tensa.
— Estamos sendo seguidos — disse ela, puxando-me para a cobertura das árvores.
De repente, um grupo de figuras encapuzadas surgiu na clareira, cada uma armada com armas que brilhavam com uma luz sinistra. Reconheci imediatamente: eram agentes de Agartha.
— Precisamos sair daqui — sussurrou Lyra.
Mas antes que pudéssemos nos mover, um deles falou:
— Lyra Blackthorn, entregue o fragmento e pouparemos sua vida.
Ela estreitou os olhos.
— Vocês vão ter que me matar primeiro.
O líder do grupo riu.
— Isso pode ser arranjado.
Os agentes atacaram, e tudo virou um caos. Lyra lutava como uma predadora, seus movimentos precisos e mortais. Eu entrei na briga, minha conexão com a terra me permitindo criar barreiras de pedra e raízes para bloquear os ataques.
— Akin, precisamos levar o fragmento! — gritou Lyra.
Eu sabia que ela estava certa. Mas enquanto lutávamos, uma pergunta persistente queimava na minha mente: em quem eu podia confiar?
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Atualizado até capítulo 21
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