Chapter 3

Encarar Lyra era como olhar para um reflexo distorcido de tudo o que eu acreditava ser real. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade que me deixava desconfortável, e, ao mesmo tempo, me prendiam. Ela era real. Mas como isso era possível?

— Você... — comecei, mas as palavras morreram na minha garganta.

Ela deu um passo à frente, as sombras do capuz ainda projetando mistério sobre seu rosto.

— Eu sei o que você sonha, Akin. Sei o que te atormenta.

Meus músculos estavam tensos.

— Como sabe meu nome? Como sabe... sobre os sonhos?

Ela inclinou a cabeça, um sorriso enigmático se formando em seus lábios.

— Porque não são apenas sonhos. São memórias.

Minha mente tropeçou nas palavras, lutando para encontrar sentido. Memórias?

— Você está louca. Eu nunca te vi antes.

Lyra deu uma risada curta, quase zombeteira.

— Não conscientemente. Mas isso não significa que não nos conhecemos.

Dei um passo para trás, minha guarda completamente levantada.

— O que você quer de mim?

Ela suspirou, como se minha resistência fosse esperada, mas ainda assim frustrante.

— Quero te ajudar, Akin. Há coisas que você precisa saber. Coisas que foram escondidas de você... sobre o Coração de Gaia, sobre Anunaki, sobre você mesmo.

O nome "Coração de Gaia" fez meu sangue gelar. Aquilo não era algo que se mencionava casualmente, nem mesmo entre os metahumanos.

— Quem é você, de verdade?

Ela se aproximou mais, a luz da lua finalmente iluminando seu rosto por completo. Era ainda mais deslumbrante do que nos meus sonhos, mas havia uma dureza ali, algo forjado pela dor e pela sobrevivência.

— Meu nome é Lyra Blackthorn. Sou de Agartha.

O choque atravessou meu corpo como um raio. Automaticamente, minha postura mudou, e minha mão foi instintivamente para o cabo da adaga presa ao meu cinto.

— Você é minha inimiga.

Ela não recuou.

— Não, Akin. Sou sua aliada.

— Aliada? — ri, incrédulo. — Você espera que eu confie em você? Depois de tudo o que Agartha fez, de tudo o que vocês tentaram roubar de nós?

Lyra cruzou os braços, sem se intimidar.

— Não sou como eles. Se fosse, você acha que estaria vivo agora?

Não respondi. O peso de suas palavras pairava entre nós.

— O que você realmente quer? — perguntei, minha voz mais baixa agora, mas ainda desconfiada.

Ela hesitou por um momento antes de dizer:

— Preciso te mostrar algo. Algo que mudará tudo o que você acha que sabe sobre Anunaki e o Coração de Gaia.

Meus instintos gritavam para não confiar nela. Mas algo em seus olhos me dizia que ela não estava mentindo.

— Amanhã ao nascer do sol — continuou Lyra. — Me encontre na borda da floresta de Baobás. Se não aparecer, vou entender. Mas se vier... vou te mostrar a verdade.

Sem esperar minha resposta, ela desapareceu na escuridão, movendo-se com a graça de um predador.

Fiquei parado ali por alguns momentos, o coração ainda acelerado. Tudo em mim dizia para relatar o encontro aos anciãos. Mas, ao mesmo tempo, havia algo... algo sobre Lyra que não podia ignorar.

---

De volta ao meu alojamento, as palavras dela continuavam a ecoar na minha mente. “São memórias.” O que isso significava? E por que parecia que ela sabia mais sobre mim do que eu mesmo?

Adormeci tarde naquela noite, e quando os sonhos vieram, eles foram mais intensos do que nunca. Lyra estava lá, mas desta vez ela não era uma figura distante. Estávamos lado a lado, correndo por uma paisagem desolada, perseguidos por algo invisível, mas inegavelmente ameaçador.

— Akin, confie em mim! — ela gritou, puxando minha mão.

— Por quê? — perguntei.

Ela olhou para mim, seus olhos cheios de uma urgência quase desesperada.

— Porque sua vida depende disso.

---

O nascer do sol encontrou-me na borda da floresta de Baobás, exatamente onde Lyra havia instruído. Meu coração batia como um tambor enquanto eu esperava, cada som na floresta parecendo amplificado.

Então, ela apareceu.

— Achei que não viesse — disse Lyra, um sorriso breve passando por seu rosto antes de desaparecer.

— Contra meu melhor julgamento, aqui estou.

Ela não perdeu tempo com formalidades.

— Me siga.

Caminhamos pela floresta em silêncio, os enormes baobás parecendo vigias antigos. Depois de cerca de vinte minutos, chegamos a uma clareira. No centro, havia algo que eu nunca tinha visto antes: uma espécie de altar feito de pedra negra, coberto por inscrições que brilhavam com uma luz azul pulsante.

— O que é isso? — perguntei, dando um passo à frente.

Lyra estendeu a mão, como se para me parar.

— É um fragmento do Coração de Gaia.

Eu congelei.

— Um fragmento?

— Sim. O Coração em si está em um lugar seguro, mas este... este é um segredo que nem os anciãos de Anunaki conhecem.

Meu olhar se fixou no altar. A luz parecia hipnotizar, chamando-me.

— Por que está me mostrando isso?

Lyra se aproximou, sua expressão grave.

— Porque há algo que você precisa entender. O Coração de Gaia não é apenas uma fonte de energia. Ele é vivo. E está morrendo.

Minha cabeça girou.

— Isso é impossível. O Coração de Gaia é o que mantém Anunaki viva. É o que nos dá força.

— Exatamente — disse ela. — Mas os anciãos estão escondendo a verdade. Eles sabem que o Coração está se deteriorando, e é por isso que Agartha e Calodopseia estão tentando roubá-lo. Não porque querem seu poder, mas porque querem salvar o que resta.

Eu não sabia o que dizer. Cada palavra dela era como um golpe direto no que eu acreditava ser verdade.

— Por que você está me contando isso? — perguntei finalmente.

Ela hesitou, e por um momento, sua máscara de confiança pareceu vacilar.

— Porque... eu acredito que você é a chave para salvá-lo.

— Eu? — ri amargamente. — O que eu poderia fazer?

— Você tem uma conexão com o Coração, Akin. Algo que ninguém mais tem. E é por isso que eles precisam de você.

— Quem?

Lyra olhou diretamente para mim, seus olhos brilhando com uma determinação feroz.

— Todos eles. Agartha, Calodopseia... até mesmo os anciãos de Anunaki. Todos estão te usando, Akin. Mas você é mais do que um peão no jogo deles.

Antes que eu pudesse responder, um som alto veio da floresta, e Lyra imediatamente ficou tensa.

— Estamos sendo seguidos — disse ela, puxando-me para a cobertura das árvores.

De repente, um grupo de figuras encapuzadas surgiu na clareira, cada uma armada com armas que brilhavam com uma luz sinistra. Reconheci imediatamente: eram agentes de Agartha.

— Precisamos sair daqui — sussurrou Lyra.

Mas antes que pudéssemos nos mover, um deles falou:

— Lyra Blackthorn, entregue o fragmento e pouparemos sua vida.

Ela estreitou os olhos.

— Vocês vão ter que me matar primeiro.

O líder do grupo riu.

— Isso pode ser arranjado.

Os agentes atacaram, e tudo virou um caos. Lyra lutava como uma predadora, seus movimentos precisos e mortais. Eu entrei na briga, minha conexão com a terra me permitindo criar barreiras de pedra e raízes para bloquear os ataques.

— Akin, precisamos levar o fragmento! — gritou Lyra.

Eu sabia que ela estava certa. Mas enquanto lutávamos, uma pergunta persistente queimava na minha mente: em quem eu podia confiar?

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