Chapter 5

O som do vento era a única coisa que preenchia o silêncio. Estávamos a quilômetros da civilização, rodeados apenas pelas montanhas e pela vastidão de Anunaki. A caverna onde havíamos passado a noite parecia um refúgio temporário, mas minha mente estava longe de descansar.

A luz azul do fragmento pulsava em minhas mãos, quase como um segundo coração. Não importava o quanto eu tentasse ignorá-lo, ele exigia minha atenção. Havia um peso esmagador em ser escolhido para algo que eu mal compreendia, algo que podia mudar o destino do mundo inteiro.

Lyra estava sentada do outro lado da caverna, afiando uma lâmina com movimentos precisos e metódicos. Seus olhos evitavam os meus, mas sabia que ela estava pensando na mesma coisa.

— Você sempre foi assim tão... obstinada? — perguntei, tentando quebrar o silêncio.

Ela ergueu o olhar, arqueando uma sobrancelha.

— Isso é um elogio ou uma crítica?

— Depende da resposta.

Lyra sorriu de leve, mas não respondeu de imediato. Continuou a afiar sua lâmina antes de finalmente dizer:

— Quando você cresce sob a sombra de alguém que perdeu tudo, aprende a lutar por qualquer coisa que valha a pena.

Suas palavras ficaram comigo mais tempo do que eu gostaria de admitir. Talvez fosse isso que nos diferenciava. Lyra tinha um propósito claro, algo pelo qual estava disposta a arriscar tudo. Eu, por outro lado, ainda estava tentando entender por que o fragmento tinha me escolhido.

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O amanhecer trouxe com ele uma nova sensação de urgência. Lyra insistiu que precisávamos nos mover antes que os rastreadores de Agartha nos encontrassem. A cada passo, sentia a pressão do fragmento aumentar.

Enquanto atravessávamos as montanhas, minha mente vagava. Meus pensamentos se voltavam para 2024, o último ano de paz. Lembrei-me dos dias em que minha maior preocupação era esperar o próximo episódio de Arcane. Eu era obcecado por aquela série, pela forma como explorava a luta pelo poder, a dualidade entre tecnologia e magia, e os sacrifícios necessários para proteger o que se ama.

Agora, parecia que eu estava vivendo minha própria versão de Arcane, mas sem as vantagens de ser um personagem fictício.

— Akin, você está bem? — Lyra perguntou, interrompendo meus devaneios.

— Estou... pensando — respondi, sem muita convicção.

— Em quê?

— Em como é irônico que eu tenha passado minha infância sonhando em ser um herói, e agora que tenho a chance, tudo que quero é desistir.

Ela parou de andar e me encarou, seus olhos brilhando com intensidade.

— Ser herói nunca é sobre querer. É sobre precisar.

As palavras dela ficaram gravadas em mim.

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Chegamos a um pequeno vilarejo escondido no vale, onde as casas eram feitas de madeira e barro, e os moradores viviam em harmonia com a natureza. Era como um vislumbre de como o mundo poderia ser se todos seguissem os valores de Anunaki.

Uma mulher idosa nos recebeu com um sorriso caloroso, oferecendo comida e um lugar para descansar. Enquanto comíamos, Lyra explicou nosso objetivo para os moradores, que pareciam mais preocupados do que surpresos.

— Agartha não vai parar até que tenha o controle do Coração de Gaia — disse um homem, sua voz carregada de preocupação. — Precisamos nos preparar para o pior.

Houve murmúrios de concordância entre os moradores, mas percebi que muitos evitavam me olhar diretamente. Era como se soubessem algo sobre mim que eu ainda não sabia.

Depois da refeição, a idosa que nos havia recebido se aproximou, estendendo um colar feito de cordas e pedras.

— Isso é para você, jovem Akin — disse ela, sua voz suave, mas firme.

— Como você sabe meu nome? — perguntei, surpreso.

Ela apenas sorriu e colocou o colar ao redor do meu pescoço.

— O Coração escolhe aqueles que são dignos. E ele escolheu você.

Antes que eu pudesse responder, ela se afastou, desaparecendo entre os outros moradores.

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À medida que o dia avançava, Lyra e eu começamos a nos preparar para partir. Sabíamos que Agartha provavelmente já estava nos rastreando, e não podíamos colocar o vilarejo em risco.

Enquanto arrumávamos nossas coisas, Lyra virou-se para mim, seus olhos sérios.

— Você percebe o que isso significa, certo?

— Que provavelmente vou morrer? — tentei brincar, mas minha voz saiu mais amarga do que pretendia.

— Significa que você tem que decidir quem você é. E rápido.

Suas palavras me incomodaram, mas não consegui rebater. Porque, no fundo, sabia que ela estava certa.

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Quando deixamos o vilarejo para trás, o ar parecia mais pesado, como se o mundo estivesse ciente do que estava prestes a acontecer.

Caminhamos em silêncio por horas, até que Lyra finalmente quebrou o silêncio.

— Se pudesse escolher, o que faria com o poder do Coração?

A pergunta me pegou de surpresa. Pensei por um momento antes de responder.

— Eu... não sei. Talvez tentasse restaurar o equilíbrio.

Ela assentiu, mas havia algo em seu olhar que me fez sentir que minha resposta não era suficiente.

— O equilíbrio não é algo que simplesmente se restaura, Akin. É algo que se cria.

Eu não soube o que dizer.

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À noite, acampamos em uma clareira, cercados por árvores altas que pareciam nos observar em silêncio. Enquanto Lyra dormia, fiquei olhando para o céu, onde as estrelas brilhavam com uma clareza que só Anunaki podia oferecer.

Pensei em tudo que havíamos perdido desde 2024. Pensei nas guerras, na destruição, nas vidas que haviam sido ceifadas. E pensei no fragmento em minhas mãos, na responsabilidade que ele trazia.

Se eu fosse mesmo o escolhido, o que isso significava para mim? E se eu falhasse, o que significaria para o mundo?

O peso dessas perguntas era quase insuportável, mas uma coisa era certa: eu não podia fugir. Não mais.

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