A batalha havia terminado, mas a sensação de vitória era difícil de encontrar. Mesmo quando a poeira começou a assentar, a terra ainda ardia sob nossos pés. O que tínhamos conquistado? Uma cidade em ruínas, a morte de milhares, e a perda de nossa própria humanidade. Mas, no final, vencemos. A Agartha recuou, suas forças dispersas. Contudo, o preço de nossa vitória foi muito maior do que eu poderia ter imaginado.
Enquanto caminhava pelos campos de batalha, o cheiro de sangue e metal queimado enchia o ar. O sol se punha lentamente no horizonte, tingindo o céu com tons avermelhados, como se refletisse o inferno que havíamos enfrentado.
A guerra ainda não havia terminado, mas nossa batalha principal tinha sido vencida. O que viria a seguir, ninguém sabia.
Eu estava exausto. Não fisicamente, não mais. O cansaço que sentia vinha de outro lugar, de algo mais profundo e mais sombrio. A liderança tinha me consumido, cada decisão, cada escolha, cada vida perdida. O peso de tudo isso me esmagava, e eu não sabia como seguir em frente.
— Akin, você está bem? — perguntou Lyra, aproximando-se de mim com um olhar preocupado. Sua expressão estava marcada pela dor, mas ela ainda conseguia sorrir, de maneira cansada, mas reconfortante. Eu sabia que ela também estava sentindo a perda, sentindo o vazio que vinha com a vitória.
— Eu não sei mais — respondi, minha voz soando mais fria do que eu pretendia. Olhei para ela, tentando disfarçar o turbilhão de pensamentos que me consumia. — Eu não sei o que estamos fazendo aqui. Tudo o que fizemos foi prolongar a guerra. Quando vai parar, Lyra?
Ela suspirou, seus olhos azuis refletindo a mesma dor que eu sentia. Mas havia algo mais em seu olhar, uma força silenciosa que eu não conseguia entender.
— A guerra não acaba, Akin. Ela muda de forma, mas nunca termina. As escolhas que fazemos agora vão definir quem seremos depois disso. Mas, mesmo assim, a esperança não está perdida.
Eu olhei para ela, tentando compreender suas palavras. Ela tinha razão, eu sabia disso. Mas isso não tornava o peso das minhas escolhas mais fácil de carregar. E a responsabilidade que eu tinha agora parecia ainda mais insuportável.
Enquanto conversávamos, ouvi os sons distantes de passos apressados se aproximando. Era o Arauto, nosso mensageiro, com uma expressão tensa e urgente.
— Akin, Lyra, vocês precisam ver isso — disse ele, sua voz rouca, como se estivesse tentando conter o pânico. Ele nos conduziu até o centro da cidade, onde uma reunião de líderes da resistência estava prestes a começar.
Quando chegamos, o ambiente estava carregado de tensão. Vários dos comandantes estavam presentes, seus rostos marcados pela fadiga, mas também pela determinação. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o semblante de um dos novos membros, um homem de cabelos curtos e barba espessa, que parecia mais nervoso do que todos os outros.
— O que aconteceu? — perguntei, meus olhos fixando o comandante que parecia estar prestes a desabar.
— A situação está pior do que pensávamos — respondeu ele, a voz tensa. — As forças de Agartha não se retiraram. Eles estão apenas reorganizando suas tropas. E temos uma nova ameaça à vista.
Eu franzi a testa, sentindo o peso daquelas palavras. A Agartha ainda estava por aí? E agora, uma nova ameaça? Isso não fazia sentido. Eu tinha dado tudo de mim para acabar com essa guerra, mas agora parecia que ela nunca teria fim.
— O que exatamente está acontecendo? — insistiu Lyra, seu tom agora mais sério, mais centrado.
— Há uma facção secreta em Agartha, uma facção radical, liderada por um homem chamado Hektor. Eles estão mais do que dispostos a continuar a guerra até que Anunaki seja destruída. E eles têm algo que pode mudar o jogo. Algo que já vimos antes. Algo... muito semelhante ao que você possui, Akin.
Eu congelei. O que ele queria dizer com isso? O poder que eu tinha dentro de mim, aquele poder que me tornava diferente de todos os outros, estava agora sendo relacionado a algo muito mais sombrio.
— O que você está insinuando? — minha voz saiu mais ríspida do que eu pretendia, mas a sensação de perigo me envolvia de maneira avassaladora.
— Eles têm uma versão distorcida de sua habilidade, Akin. Um poder que pode ser manipulado de formas que nem mesmo imaginamos. E Hektor quer usá-lo para dominar tudo. Ele quer que sua habilidade seja a chave para destruir Anunaki.
Lyra olhou para mim com preocupação, seus olhos tentando entender o que estava acontecendo. Eu sentia um nó apertado no peito. O que quer que fosse esse poder que Hektor tinha, ele era uma ameaça muito real. E, de algum modo, ele estava ligado a mim.
Eu me virei para o comandante, tentando controlar o pânico crescente dentro de mim.
— Precisamos agir rapidamente. Se Hektor realmente tem acesso a esse poder, ele será capaz de destruir tudo o que conseguimos construir. Não podemos deixar que isso aconteça.
Os líderes da resistência se entreolharam, como se ponderassem as opções. Sabíamos que, se não conseguíssemos parar essa facção, a guerra se tornaria ainda mais devastadora.
— O que sugere, Akin? — perguntou o comandante da resistência, sua expressão agora mais séria.
— Precisamos atacar agora, antes que eles se reorganizem completamente. Se Hektor está controlando esse poder, não podemos esperar mais.
O silêncio que se seguiu foi pesado, mas, finalmente, os outros líderes assentiram.
— Vamos, então — disse Lyra, sua voz firme, como sempre. — Mas não podemos fazer isso sozinhos.
Eu olhei para ela, e pela primeira vez, senti uma chama de esperança reacender dentro de mim. Juntos, talvez fôssemos capazes de derrotar Hektor e a facção de Agartha. Juntos, talvez ainda houvesse uma chance para o futuro.
Nós estávamos prestes a nos lançar em uma nova batalha, uma batalha que talvez fosse mais difícil do que qualquer outra. Mas uma coisa era certa: a guerra ainda não havia acabado. E o que estava em jogo agora era mais do que o destino de Anunaki. Era o destino de todos nós.
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Atualizado até capítulo 21
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